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segunda-feira, 2 de junho de 2008

O Atlântico aqui tão perto, mas cada vez mais longe...

Confesso que não conheço verdadeiramente os problemas da pesca portuguesa e as razões que, para além da escalada de aumento do preço dos combustíveis, conduziram os armadores e os pescadores a entrarem em greve. Não deixa, no entanto, de causar perplexidade que um país como Portugal virado ao mar não tenha lutado por valorizar este activo, conferindo-lhe um sentido estratégico. O Atlântico tem muitas actividades económicas para oferecer, incluindo a riqueza natural do pescado. Portugal regista uma elevada dependência do exterior no que respeita a bens alimentares de primeira necessidade. Num momento em que há (aparentemente) escassez alimentar para fazer face ao aumento da procura mundial, maior perplexidade causa que Portugal não invista fortemente na actividade piscatória, não apenas para satisfazer a procura interna, melhorando a qualidade da "mesa" dos portugueses e o rácio de autonomia alimentar, mas também para contribuir para a actividade exportadora e a notoriedade do País em produtos de qualidade.
Independentemente das razões que mobilizam esta greve e da necessidade de ambas as partes "grevistas" e governo chegarem a um acordo, não me parece politicamente correcto que o ministro da agricultura faça chantagem nesta fase do campeonato ao afirmar que está disponível para negociar "a partir do momento em que haja paz social". Terá sido uma tirada politicamente infeliz ou é mesmo uma questão de estilo? Não seria mais importante que o ministro da agricultura se preocupasse em dar a volta aos problemas lutando pelos nossos interesses na UE?

16 comentários:

Anónimo disse...

Tem razão, Margarida. Como já vi escrito algures, o Ministro tenta comprar a paz social com o produto dos nossos impostos.
Ou bem que há razões para que o Estado - depois de décadas a incentivar o abate da frota - mantenha uma política de redução progressiva do esforço de pesca, seja por razões de sustentabilidade dos recursos pesqueiros ou qualquer outra. Ou pretende agora infletir essa política. Se se tratar do primeiro caso, então não há subida do preço dos combustíveis que justifique o trading que o ministro anunciou querer fazer com os pescadores.

PintoRibeiro disse...

Mas temos a Europaaaa....

C. Alexandra disse...

Tenho algum conhecimento dos problemas da pesca portuguesa, uma vez que vivo numa terra que já foi "de pescadores" e onde acutalmente só são pescadores os homens mais velhos, homens cuja idade, superior a 40 anos, impede de mudar de profissão.

Antes de o preço do petróleo começar a subir desmesuradamente já os recursos pesqueiros portugueses estavam em declínio.

Os lucros da pesca foram diminuído pelo motivo da cada vez maior escassez de recursos e por motivo da descida do preço do pescado no vendedor - o pescador - (há peixes cujo preço pago aos pescadores anda pelos 1/2/3 euros o Kg e geralmente o preço não passa dos 5 euros Kg).

A subida do preço de petróleo foi para os pescadores a gota de água. Se os lcuros já eram pequenos e por diversas vezes nulos (devido ao mau tempo) agora chegou-se ao ponto de não só não haver muitas vezes lucro, como também de haver dívidas para pagar (impostos, seguros, por via de exigências da ASAE, arranjos por via de avarias), que são pagas com os ordenados das mulheres dos pescadores que trabalham noutras actividades.

O ministro da agricultura teve um comportamento muito estúpido para com os pescadores desde o início da greve, acusou-os de fazer chatagem, disse que não iria haver falta de pescado e que esperava que os preços não subissem, só aceitou a proposta da linha de crédito quando para já essa medida é insuficiente.

E por causa do comportamento do ministro todos os portugueses vão pagar. Os pescadores vão continuar em greve por tempo indeterminado porque a resposta que os políticos burocratas lhes deram é que se está a pensar nas soluções quando os problemas não são nem de 2008, nem de 2007, nem de 2006.

O ministro bem pode esperar pela tal "paz social". Não foi por atitudes como a do ministro português que os pescadores de outros países pararam a greve, foi por actos, foi pela aplicação de medidas de emergência.

MC disse...

Srª Drª Margarida Aguiar
É comum a todos os Governos indisponibilizarem-se para negociar durante os períodos de greve (ou lock out). Não começou com este nem consigo acabará. Acresce o facto de, pelo que tenho lido, não ser líquido que o sector seja inviável devido ao preço dos combustíveis. Outros são muito mais afectados do que o das pescas. Estaremos disponíveis para os subsidiar a todos? A necessidade de reestruturação do sector é recorrente. Mas é também assumida pelos armadores?
O sector em causa, aliás, não teve qualquer contemplação relativamente aos comerciantes com "pescado" já adquirido quando barrou o acesso aos armazéns. Pareceu-me um claro caso de sequestro, a merecer uma intervenção policial mais pronta.
Os armadores não vão entrar em greve por tempo indeterminado. Vão usar a sua força para adiar a reestruturação, e serem mais subsidiados entretanto.
Cumprimentos

jotaC disse...

Cara Dra. Margarida Aguiar:
Eu também confesso que dos armadores e dos pescadores e do negócio que os envolve, pouco ou nada percebo.
E o pouco que percebo, que é "nada", foi quando nos anos 80, os juros atingiram 28% e tive que procurar um emprego nocturno ( o de dia já tinha, precisava era de ganhar mais dinheiro), e pensei que só podia ser uma coisa relacionada com papéis, porque servir copos não diz muito bem comigo.
Então, num dia de sorte, li um anúncio de um grossista de peixe a pedir três pessoas para facturação, no período da 1 às 7 da manhã. Bom , naquela idade aguenta-se tudo e ganhava mais naquelas horas, em termos líquidos, que no período do dia.
Tudo isto para lhe dizer que o dito grossista que tinha o armazém aqui nas docas, todos os dias, à 1 da manhã, fixava o preço do peixe, "mas só depois de fazer dezenas de telefonemas para os diversos portos do País". Sempre achei tudo isto estranho, mas a verdade é que o homem tinha sempre um certo cuidado em não ser escutado...
Desde essa altura que fiquei com a sensação de que, este negócio do peixe, não é só navegar em águas salgadas...

Anthrax disse...

Olá olá Dra. Margarida,

Pois a bem dizer eu não percebo «um boi de pescas», mas percebo uma coisita ou outra de estratégia e essa coisita de Portugal aproveitar ou não o Atlântico tem a ver, unicamente, com uma questão de estratégia. Ou se tem, ou não se tem.

No caso Português, o posicionamento é, claramente, continental. Haverão muitos que dirão que este é um excelente posicionamento, no entanto, na minha perspectiva é um posicionamento que está - absolutamente - errado e isso acaba por se reflectir em políticas como, por exemplo, as pescas, a gestão dos portos, a segurança costeira e por aí fora até à questão dos submarinos versus aviões.

Mais grave do que não saber aproveitar o que o Atlântico nos dá é convencerem-nos que devemos ser a ser aquilo que não somos. Normalmente dá mau resultado, pois vejam lá se os Ingleses e os Noruegueses foram na cantiga.

CCz disse...

Pois para mim, o programa Prós e Contras de ontem foi o meu sinal mental de "basta!".
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Estou farto, estou farto de um país de pedintes, de subsidio-dependentes, de normandos que passam a vida a inventar novas formas de saquear os saxões, os impostados.
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Se uma actividade não é rentável, fecha-se a porta.
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A Natureza tem horror ao vazio, alguém há-de pescar, alguém há-de distribuir, alguém há-de comprar.
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Agora estou farto de baboseiras e de advogados e deputados que entram no parlamento aos 25 anos de idade, nunca trabalharam na vida real, em empresas em que é preciso competir e criam baboseiras monumentais como a "Estratégia do Mar", ou o "Horizonte 2008" do IDT, autênticas masturbações mentais.
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Pensam que eu estou a delirar, proponho 2 exemplos, vão ao Google e pesquisem o CV do presidente do governo regional dos Açores e o CV do presidente da câmara de Guimarães... vejam a que idade entraram no parlamento, vejam quantos anos estiveram no parlamento e questionem-se como é possível gerir com essa escola de vida...
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Só sacando e sacando e sacando mais e mais os impostados.
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Eu por mim estou a ficar farto, vou começar a pensar seriamente em mudar de ares. No entretanto, vou pôr as minhas economias num banco alemão na Alemanha, não quero ganhar dinheiro com essas economias, só as quero pôr a salvo das asneiras da classe política portuguesa a mais o rol de corporações que com elas desgoverna este país. O escudo vai voltar, mas nessa altura espera já estar noutras paragens.

Anthrax disse...

Eh Lecas!!

Uma grande vénia ao Ccz. Já somos 2 a pensar em mudar de ares. Realmente não há paciência para aturar as barbaridades que por aqui grassam e se o Ccz acha escandaloso a "experiência de vida" dos políticos, havia de procurar informar-se sobre os ordenados, regalias e idade da reforma dos funcionários do Banco de Portugal (que aliás desde que aderimos ao euro têm tido uma trabalheira desgraçada). Aí sim, não só tinha vontade de mudar de ares, como também ficaria com uma enorme vontade de se atirar do cimo daquela que está no Parque das Nações.

Pois é meu amigo, tanto almejámos alcançar a Sociedade do Conhecimento que, finalmente, conseguimos. Ou se conhece alguém, ou estamos muito lixados com um "F" grande.

jotaC disse...

Permita-me anthrax, que dê o merecido relevo:
"Pois é meu amigo, tanto almejámos alcançar a Sociedade do Conhecimento que, finalmente, conseguimos. Ou se conhece alguém, ou estamos muito lixados com um "F" grande."

Pois é, é por isso que um homem tabalha dia e noite, e está sempre lixado com esse ef...
:))))

antoniodasiscas disse...

Cara Margarida
O tema abordado vem lembrar agora, que relativamente às condições da pesca, cada vez mais se deterioradas, se torna premente o estabelecimento de um código que regule todos as variáveis que jogam no contexto em causa. É evidente que o problema já vem de trás e parece complexo, mas o certo é que estes senhoritos que nos governam, que só "apregoam postas de pescada",como se costuma dizer, não só não têm revisto em baixa os interesses do estado, como também só têm agravado as condições em que se desenvolve o circuito comercial, onde se integram vários intermediários, cujo valor acrescentado é nulo e que estão na base de o peixe à entrada em terra custar 1 e ser vendido ao consumidor por 7,5. Somos o país da europa que mais peixe come, verdade ou mentira?

Margarida Corrêa de Aguiar disse...

Caros Comentadores
De novo volta à superfície a questão da falta de estratégia e visão de futuro e a economia da subsídio dependência, fenómenos que não são de agora. São aspectos que estando presentes em muitos sectores da actividade económica, estão impregnados no nosso código genético.
O nosso Caro José Mário Ferreira de Almeida faz um excelente apontamento sobre a facilidade das "piruetas" políticas no sector das pescas.
Não admira que muitos de nós expressemos que estamos "fartos", tal é a desilusão e a falta de esperança no futuro. Caros Anthrax e CCz se eu fosse mais nova era bem capaz de encarar uma "mudança de ares" como está a acontecer com os nossos jovens.
Cara Carina seja muito bem vinda. Lembrou muito bem que o sector das pescas há muito que está em declínio. E o que foi feito para alterar este estado de coisas? Como é possível manter artificialmente actividades económicas que não são rentáveis? Como refere o Caro Manuel a "necessidade de reestruturação do sector é recorrente". É a ideia que também tenho há muito tempo. Pergunto porque é que não somos capazes de ter um sector das pescas economicamente viável, competitivo e maduro como acontece em muitos outros países?
Caro antoniodasiscas a falta de concorrência explica que em muitas actividades económicas os intermediários retenham (demasiados) ganhos que poderiam reverter em beneficio dos consumidores.

Anthrax disse...

Grécia...
A Grécia parece-me um bom sítio... esses, ao menos, tiveram o Aristóteles Onassis e nós temos o quê?... Temos o Belmiro de Azevedo e viva o velho!... Grande coisa... Eles têm o George Soros, uma Companhia aérea de Low cost, "Jaquinzinhos fritos" (blah!)e gasolina a 1,14 €.

A língua é que é tramada, mas os portugueses sempre tiveram facilidade em aprender línguas novas.

Enfim...

Bartolomeu disse...

Cara Margarida felicito-a por mais este oportuno e objectivo post.
É efectivamente importante que haja uma reestruturação de fundo no sector das pescas, para que o mesmo saia do impasse em que se encontra. Também prestei muita atenção à opinião colocada pela comentadora Carina.
Os nossos ministros, secretários de estado, presidentes de associações, de confederações, ainda não ganharam o habito de, face à necessidade de tomar decisões adequadas, despir o fato, tirar a gravata, deixar o BMW no ministério, limpar bem o interior dos ouvidos e reunir com responsáveis, técnicos e profissionais e escutar com atenção as queixas e as sugestões.
Parece que está estabelecida a infalível prática de sacudir do capote com os dedos da democracia a aborrecida água da responsabilidade.
Os problemas que afectam o sector das pescas necessitam, tal como a cara Margarida refere, ser encarados com firmeza, com objectividade e sem demagogia tanto do lado do governo, como dos técnicos, e ainda dos próprios pescadores. É imprescindível "pegar" nos estudos técnicos e científicos, elaborados pelo instituto de biologia marítima e aplica-los num projecto futurista, dimensionado de acordo com as potencialidades da nossa costas. É fundamental construir e equipar técnica e humanamente, uma frota pesqueira eficaz. É importante suspender a captura de peixe através de técnicas de arrasto durante o período de tempo necessário para que as espécies se reproduzam e seja garantida a sua necessária sustentabilidade. É importantíssimo que os acordos de pesca sejam renegociados. Havendo uma frota pesqueira operacional, passa a ser ridículo que Portugal permita que frotas de países estrangeiros explorem as suas águas e os seus recursos.
Por fim, e não menos importante, é necessário restabelecer e recompor a tradição que é nossa desde há séculos, somos um país de pescadores e de navegadores e devemos sentir-nos orgulhosos por isso, valorizando a actividade, retirando daí dividendos, enriquecendo a economia do país.

Margarida Corrêa de Aguiar disse...

Caro Bartolomeu
Revejo-me na sua leitura da situação. Com efeito, a resolução dos problemas das pescas deveria ser inserida na construção de uma aposta ganhadora, sustentável no futuro.
Não é com medidas avulso que criamos um quadro estável e atractivo para a actividade da pesca e outras actividades que a montante e a jusante lhe estão associadas e que são igualmente importantes. E poderíamos ser mais ambiciosos apostando numa estratégia "atlântica"!

Caro Anthax
A sua escolha fez-me lembrar o desabafo popular "Vemo-nos gregos com eles"!

Bartolomeu disse...

Estou em crer, cara Margarida, que neste nosso Portugal, coabitam mas digladiam-se diferentes ambições, todas elas tropeçando em si mesmas, apesar de se dirigirem em direcções opostas.
Por vezes os nossos governantes parecem demonstrar mais cuidado e interesse na defesa dos interesses estranjeiros, em deterimento dos nacionais. Os sindicatos e associações, em defender os interesses patronais e governamentais e os trabalhadores que a todo o custo são tentados manter na ignorância dos processos e na distracção dos assuntos e decisões que verdadeiramente lhes dizem respeito, desrespeitam-se e desrespeitam a classe de que fazem parte.
Tal como no sector das pescas, tambem o sector da agricultura se vê ensarilhado numa monumental falta de coordenação. Apesar de existirem cooperativas agrículas munidas de técnicos agrários capazes de aconselhar aos agricultores as melhores práticas e a melhor escolha daquilo que devem semear, a cedência aos lobies e aos poderes instituídos, é gritante, contribuindo para manter subjugado a uma miséria quase existêncial aqueles pequenos lavradores que investem o que têm e que não têm em sementeiras que na altura da colheita não têm escoamento para o mercado, recebendo por elas valores que não cobrem as despesas. Passa-se isto com a maioria das culturas, no extracto a que pertencem aqueles que verdadeiramente retiram da terra o sustento das suas famílias e que por desconhecimento ou ainda por se defrontarem com burocracias diversas, não auferem de subsídios comunitários.
Sentimos que o país está profundamente enfermo, sofre de um terrível mal-de-alma, provocado por uma cegueira atroz e progressiva. Ainda temos recursos e as gerações actuais ainda sabem como os utilizar, a minha grande dúvida consiste no futuro. Será que as gerações mais jovens vão conseguir subsistir quando a actividade no nosso país estiver reduzida a serviços?

Margarida Corrêa de Aguiar disse...

Caro Bartolomeu
Apreciei muito a sua reflexão. Não somos nem melhores nem piores do que os outros, mas o que é certo é que temos uma enorme dificuldade em afinal de contas sabermos exactamente o que queremos. Não basta que cada um saiba o que quer, faz falta um querer colectivo. Não temos sido capazes de unir esforços em torno de um projecto de país. E parece que cada vez é mais difícil. A confiança tem-se desvanecido. Se somarmos as dificuldades económicas e sociais compreendemos que o futuro não se apresente realmente muito risonho. Confio e tenho esperança nas gerações mais novas. Espero que tenham a inteligência suficiente para compreender os erros e aprender os bons exemplos!