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Também não me estava a ver um dia a escrever um post sobre futebol porque quase nada sei sobre esta modalidade, os clubes, os jogadores, os treinadores, os campeonatos, os lances de bola, as transferências e os milhões que se movimentam e muitas outras coisas com certeza importantes para poder falar a sério sobre futebol.
E escrevo este post porque hoje assisti a um episódio engraçado e simultaneamente comovente que já vou contar.
Sempre achei haver um certo exagero no papel que o futebol assume na vida de uma grande maioria dos portugueses. Pode haver crise, pode não haver dinheiro (para comprar jogadores há sempre dinheiro!), pode fazer chuva e trovoada, pode “cair o carmo e a trindade” mas o futebol está imune a todas essas vicissitudes, como que à margem do País real. É algo que se revela muito especial, algo endeusado, algo sobrenatural, algo intocável, algo de magnífico!
Vai muito para além de um espectáculo ou de um desporto. É um fenómeno que tem uma função social importante ao unir as pessoas em torno de uma vontade de vencer, de ser o melhor, que alimenta e provoca muitas emoções e sentimentos individuais que dão lugar a um pulsar colectivo, ora seja de alegria e de festa, ora seja de tristeza e de desilusão. Mas os seus adeptos têm sempre em comum a esperança de ganhar e de conquistar o êxito, em alguns casos, mesmo, de conquistar uma certa “imortalidade”. Sentem que um bocadinho do seu clube ou da sua selecção é parte de si próprio e que o clube ou a selecção também dependem de si!
Pois estava eu a tomar um café de manhã e à saída da pastelaria estavam duas senhoras e um senhor muito idosos - com não menos de 80 anos, mas com um ar fresco e alegre, aparentemente nas suas plenas faculdades – vestidos a rigor de “Portugal”. Quer dizer, estavam vestidos com umas grandes t-shirts até ao joelho onde nas costas se podia ler “OBRIGADO PORTUGAL – PAIXÃO LUSITANA”, com uns barretes enfiados nas cabeças muito bem feitos com as cores nacionais e uns cachecóis pelas costas de malha fina com o escudo da bandeira nacional.
Não resisti ao grupo e abeirei-me de uma das senhoras, a quem comecei por dar os parabéns pela fantástica vestimenta do grupo. Rapidamente me fizeram questão de explicar que a selecção nacional está acima de tudo, que nem tudo está mau e que se Portugal ganhasse seria uma prova de que também somos bons. Que a selecção precisa de ser apoiada, que precisa da força de todos para ganhar. Auto desejei-me e a todos que desta vez os “gregos” não levariam a deles avante!
E depois deste início de dia divertido, fiquei a pensar que não há dúvida que o futebol, em particular a selecção nacional perante o desafio de ganhar o Europeu de 2008, é uma alavanca de esperança de todos, que não tem idades, classes, profissões, cores, partidos, tendo em comum Portugal.
Pena é que no resto, que é o principal, não sejamos capazes de nos mobilizar e lutar por sermos vencedores, para aí colocarmos o melhor de nós, a esperança, vontade e saber de vencer!
4 comentários:
Cara Margarida
É isso mesmo. Uma esperança de vencer e provar que podemos ser os melhores. O futebol simboliza isso, mas o que todos nós desejamos é vencer em todos os outros "estádios" e competições da vida, económica, cultural, social, científica, além da desportiva. No fundo manter a esperança de que um dia seremos os melhores entre os melhores.
Que grande revelação!
Dificilmente a imaginaria, cara Drª Margarida Corrêa de Aguiar a "vibrar" ao som de GOOOOOOOOOLO.
;)))
É obvio que não encontro nenhum motivo especial que justifique esta minha admiração... a menos talvez que... um ligeiro preconceito masculino, nada de quidado, espero eu.
;))
O fenómeno de massas que refere, cara Margarida, estaria certamente longíssimo da imaginação daqueles ingleses que no seculo XIX criaram este desporto a que se passou a chamar futebol.
"Que a selecção precisa de ser apoiada, que precisa da força de todos para ganhar"
Agora, se me permite, vou proferir uma das minhas tradicionais palermices:Então e não é que os alegres anciãos se esqueceram do autocarro da selecção? Se não fôr com a força de todos a empurrar, como é que os bravos regressam da Suíça?
;)))
Cara Dra. Margarida Aguiar:
Permita-me que destaque do excelente post, o seguir mencionado:
“Pena é que no resto, que é o principal, não sejamos capazes de nos mobilizar e lutar por sermos vencedores, para aí colocarmos o melhor de nós, a esperança, vontade e saber de vencer! “
A vitória de Portugal sobre a Turquia enche-nos de orgulho e, até ao próximo jogo, faz-nos sentir tão bons como os espanhóis e franceses, e até como os alemães…
Efectivamente, quando há espírito de equipa consegue-se quase sempre bons resultados, mesmo que não fiquemos em primeiro, pelo menos, não fazemos má figura. É assim no futebol e é assim, também, nas nações que se congregam num objectivo comum.
O problema é que em Portugal, parece não haver esse objectivo comum. Cada um puxa para o seu lado e tenta safar-se o melhor possível, sem ter em conta os interesses dos demais.
Talvez por isso não saiamos da cepa torta, e valha-nos estas pequenas alegrias para nos aliviar da tristeza e das depressões a que alguns nos condenaram.
No futebol o papel dos “mister” é levar as equipa a ganhar; para isso aplica tácticas e estratégias para consumar o objectivo. Se não o consegue, ele próprio se demite, ou é demitido, e vem outro...
Na política a coisa é mais ou menos idêntica. Escolhemos os governantes de acordo com as tácticas e estratégias de que se dizem sabedores, e que nos garantem que são eles os únicos capazes de nos levar à vitória.
Infelizmente, nos últimos tempos, a única vitória a que temos assistido é à vitória “deles”, ao seu bem-estar, em geral…
Há cambada resta-lhe, por agora, estar com a selecção, e depois pode ser que aconteça um milagre!
Parabéns à selecção e ao seu “mister” que soube incutir o objectivo ganhador na equipa!
Caro Professor Massano Cardoso
A esperança é muito importante mas de pouco servirá se não trabalharmos para vencermos.
Caro Bartolomeu
Acho piada a esses preconceitos masculinos. Alguma coisa nos tem que distinguir!
Ainda hoje acho graça aos relatos de futebol na telefonia em que o esférico é falado a alta velocidade com pormenores incríveis e uma linguagem "contabilística" muito pitoresca. E quando é GOOOOOOOOOLO o locutor quase que perde a respiração para o manter a acontecer durante minutos! Quem é que pode ficar indiferente a uma tal proeza?
Caro jotaC
De facto quando uma equipa conhece bem os objectivos, é competente e competitiva e tem liderança os resultados tendem a ser bons. Para se vencer no futebol tem que ser assim. Não é possível pensar que se vence porque as outras equipas não estão preparadas. Não, é exactamente o contrário. É preciso ter sempre presente que são tão ou mais competentes e que constituem uma ameaça credível.
A receita aplica-se a todas as organizações. Diz o Caro jotaC que na política a coisa é mais ou menos idêntica. Tem muita razão. O nosso problema é que nos têm faltado líderes. E que falta nos fazem!
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