Ao ler um interessante artigo sobre o “Transtorno do défice de atenção com hiperactividade”, que é considerado como uma doença, pelo menos está contemplado no “Diagnosis & Statistical Manual for Mental Disorders”, o autor coloca a seguinte situação: É verdade que muitas crianças com este transtorno têm problemas nas sociedades modernas. Mas o que aconteceria se a sociedade fosse diferente? Com base num interessante estudo, em que foram estudados membros de uma tribo Queniana, os Ariaal, parte sedentarizou-se enquanto a outra continua na sua vida nómada, e através de uma determinada variante genética, que está ligada a “apetites” e tendências para consumir alimentos e drogas, à procura de novidades e sensações (novelty-seeking) e aos sintomas do “Transtorno do défice de atenção com hiperactividade”, o articulista conclui que os que apresentam a tal variante apresentam melhores índices de status nutricional entre os nómadas mas piores nos sedentários. Além do mais, especula que a presença da tal variante genética propicia aos portadores aumentar os impulsos, manifestar agressividade e revelar violência face a situações difíceis de prever, quando põem em causa a sua segurança, assim como outros tipos de comportamento que lhes permitem obter alimentos. Os próprios rapazes têm tendência em transformarem-se em guerreiros e aprendem mais depressa (mesmo sem escolas) num ambiente dinâmico. Perante esta análise, a situação descrita como doença poderá ter uma explicação evolutiva ao possibilitar que os nómadas se adaptem às circunstâncias ambientais.
O nomadismo constituiu a forma mais prevalente de vida ao longo da maior parte da nossa existência. O advento da agricultura, muito recente, cerca de 13.000 anos, modificou, radicalmente, esta forma de viver, mas os genótipos continuam a andar por aí.
No primeiro capítulo do “O Livro que Desceu do Céu”, de Ahmad ´Abd al – Waliyy Vincenzo, o autor, depois de apresentar o jovem Zayd, o rapaz que escreveu a primeira cópia do Alcorão, descreve a relação entre nómadas e sedentários, afirmando que “é um elemento fundamental da história de todas as civilizações tradicionais, e não só da islâmica”. Segundo este professor da Universidade de Nápoles “O nomadismo representa a condição ancestral, dos homens antigos, de natureza desprendida dos bens terrenos. O povo de Israel foi nómada até à construção do templo de Salomão, e o próprio Cristo afirmou: Os lobos têm covis e os pássaros do ar ninhos, mas o Filho do Homem não tem onde pousar a cabeça”. Chamou-me particular atenção o facto de, na Arábia, os povos sedentários pagarem aos nómadas um “imposto da fraternidade”, em virtude de um antigo “pacto”. Poderia ser considerado como um tributo a pagar para não serem incomodados, mas não. Tratava-se de “uma verdadeira homenagem dos sedentários aos seus irmãos do deserto que davam continuidade à vida nobre dos antepassados, mantendo viva a sua memória”.
Afinal, quem sabe se aquilo que passámos a considerar como doença, e que é tratada vigorosamente, não é mais do que um desajustamento entre uma herança, de nobres antepassados, e uma sociedade não prevista? Quem sabe se um modelo de ensino, dinâmico, menos convencional, mais adequado às crianças com estas características não poderia ajudar a resolver os casos que por aí abundam? Quem sabe? No fundo, seria uma forma de aplicar, nos tempos modernos, o equivalente do “imposto da fraternidade”...
O nomadismo constituiu a forma mais prevalente de vida ao longo da maior parte da nossa existência. O advento da agricultura, muito recente, cerca de 13.000 anos, modificou, radicalmente, esta forma de viver, mas os genótipos continuam a andar por aí.
No primeiro capítulo do “O Livro que Desceu do Céu”, de Ahmad ´Abd al – Waliyy Vincenzo, o autor, depois de apresentar o jovem Zayd, o rapaz que escreveu a primeira cópia do Alcorão, descreve a relação entre nómadas e sedentários, afirmando que “é um elemento fundamental da história de todas as civilizações tradicionais, e não só da islâmica”. Segundo este professor da Universidade de Nápoles “O nomadismo representa a condição ancestral, dos homens antigos, de natureza desprendida dos bens terrenos. O povo de Israel foi nómada até à construção do templo de Salomão, e o próprio Cristo afirmou: Os lobos têm covis e os pássaros do ar ninhos, mas o Filho do Homem não tem onde pousar a cabeça”. Chamou-me particular atenção o facto de, na Arábia, os povos sedentários pagarem aos nómadas um “imposto da fraternidade”, em virtude de um antigo “pacto”. Poderia ser considerado como um tributo a pagar para não serem incomodados, mas não. Tratava-se de “uma verdadeira homenagem dos sedentários aos seus irmãos do deserto que davam continuidade à vida nobre dos antepassados, mantendo viva a sua memória”.
Afinal, quem sabe se aquilo que passámos a considerar como doença, e que é tratada vigorosamente, não é mais do que um desajustamento entre uma herança, de nobres antepassados, e uma sociedade não prevista? Quem sabe se um modelo de ensino, dinâmico, menos convencional, mais adequado às crianças com estas características não poderia ajudar a resolver os casos que por aí abundam? Quem sabe? No fundo, seria uma forma de aplicar, nos tempos modernos, o equivalente do “imposto da fraternidade”...
2 comentários:
Bonito texto, para lá da sua oportunidade.
Um abraço.
AEF
Caro Professor Massano Cardoso:
Muito agradável de ler. Este "regredir" desde uma doença tão moderna como esta ("Transtorno do défice de atenção com hiperactividade"), até ao nomadismo/sedentarismo, com todas as interrogações que levanta pelo final, torna este texto extremamente bonito.
É também curioso o facto de na Arábia os povos sedentários pagarem aos povos nómadas...Vistas bem as coisas há uma certa semelhança na nossa atitude face aos ciganos, pois contribuímos para que tenham casas (aqueles que se sedentarizam) e aos ainda nómadas, permitimos que acampem nos nossos terrenos...
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