Volta e meia aparecem umas notícias nos jornais, meias desgarradas, que denunciam deficiências do SNS. Aparecem e depois desaparecem. Essas notícias relatam normalmente fragilidades graves do SNS. Mas depois ninguém fala nelas. As contas que são prestadas sobre o funcionamento do SNS, a qualidade do serviço prestado ou o nível de acessibilidade vão sendo feitas pela constatação daqueles que a ele recorrem e que perante a necessidade o ficam a conhecer. A ideia que está instalada é que o SNS funciona mal, foram feitos investimentos importantes em equipamentos mas não há médicos para os utilizar, foram-se embora para os hospitais privados. E, depois, há que acrescentar a gestão economicista, contra à qual nada tenho, muito pelo contrário, não fosse o facto de por causa dela os doentes não terem acesso em tempo, qualidade e custo aos serviços médicos necessários. Certo é que muitas dessas notícias denunciam situações graves, mas depois são inconsequentes, nada mais acontece. Mas o que relatam deveria merecer bem mais atenção.
Num deses rides mediáticos, o jornal Público dava conta esta semana da denúncia da Ordem dos Médicos de que há administrações hospitalares que estão a recusar o tratamento a doentes com cancro em fase terminal. Refere a notícia que as administrações dos hospitais de Santa Maria, S. João e da Universidade de Coimbra admitiram estar a restringir a entrada de medicamentos mais recentes para os tratamentos de doentes oncológicos, devido ao seu alto preço, como forma de conseguirem cumprir limites de aumento de despesa. É também relatado que agora é moda as comissões de farmácia e terapêutica dos hospitais recusarem ou não darem resposta à prescrição de novos medicamentos menos tóxicos e, por isso mesmo, mais caros. Fiquei, sinceramente, chocada com estes comportamentos.
Esta actuação coloca-nos perante problemas muito graves. O primeiro é o de saber como pode uma decisão administrativa impedir ou interferir na aplicação de uma determinada terapêutica estabelecida pelo médico. Ou seja, como pode uma decisão de administração sobrepor-se à decisão médica? Como pode uma política economicista impedir as melhores práticas médicas? Coloca-se, então, a questão de saber em que consiste a defesa do interesse do doente e da sua qualidade de vida?
É legitimo que a cura e a esperança de vida de um doente oncológico estejam dependentes não de critérios clínicos, mas antes de critérios estritamente financeiros? Que concepção é esta dos direitos do doente, que não defende o primado da saúde? Mas que ÉTICA é esta que rege os tratamentos oncológicos em função da poupança de mais uns milhares de euros com a vida de um doente? Mas que monstro de injustiça estamos a construir? Que lotaria é esta que o sistema obriga os doentes a jogar?
São muitas as vozes que agora apontam a falta de ética como uma das causas da falência do modelo do sistema financeiro mundial. Mas a falta de ética também está presente em muitos outros domínios da vida, alguns deles bem mais tangíveis que o mundo das activos financeiros. E a saúde é um deles. Mas será que há coisas que mereçam mais importância do que aquelas que vão ao mais fundo da essência humana?
Num deses rides mediáticos, o jornal Público dava conta esta semana da denúncia da Ordem dos Médicos de que há administrações hospitalares que estão a recusar o tratamento a doentes com cancro em fase terminal. Refere a notícia que as administrações dos hospitais de Santa Maria, S. João e da Universidade de Coimbra admitiram estar a restringir a entrada de medicamentos mais recentes para os tratamentos de doentes oncológicos, devido ao seu alto preço, como forma de conseguirem cumprir limites de aumento de despesa. É também relatado que agora é moda as comissões de farmácia e terapêutica dos hospitais recusarem ou não darem resposta à prescrição de novos medicamentos menos tóxicos e, por isso mesmo, mais caros. Fiquei, sinceramente, chocada com estes comportamentos.
Esta actuação coloca-nos perante problemas muito graves. O primeiro é o de saber como pode uma decisão administrativa impedir ou interferir na aplicação de uma determinada terapêutica estabelecida pelo médico. Ou seja, como pode uma decisão de administração sobrepor-se à decisão médica? Como pode uma política economicista impedir as melhores práticas médicas? Coloca-se, então, a questão de saber em que consiste a defesa do interesse do doente e da sua qualidade de vida?
É legitimo que a cura e a esperança de vida de um doente oncológico estejam dependentes não de critérios clínicos, mas antes de critérios estritamente financeiros? Que concepção é esta dos direitos do doente, que não defende o primado da saúde? Mas que ÉTICA é esta que rege os tratamentos oncológicos em função da poupança de mais uns milhares de euros com a vida de um doente? Mas que monstro de injustiça estamos a construir? Que lotaria é esta que o sistema obriga os doentes a jogar?
São muitas as vozes que agora apontam a falta de ética como uma das causas da falência do modelo do sistema financeiro mundial. Mas a falta de ética também está presente em muitos outros domínios da vida, alguns deles bem mais tangíveis que o mundo das activos financeiros. E a saúde é um deles. Mas será que há coisas que mereçam mais importância do que aquelas que vão ao mais fundo da essência humana?
11 comentários:
Concordo consigo cara Margarida, eticamente e deontologicamente não deveria haver causas mais importantes que aquelas que vão ao mais fundo da essência humana. Mais. Se o país se hipoteca para relançar a economia, para manter indústrias em funcionamento, para manter postos de trabalho, seria plausível que se hipotecasse para manter os serviços de saúde a responder dignamente aos problemas da população.
Afinal, o estado somos todos e os problemas de saúde que afectam a sociedade, assim como a forma como são tratados, são um problema de todos.
Eu iria mais longe, tentando chegar à origem das doenças que afectam a sociedade e que a meu ver está nos hábitos, nas técnicas, tecnologias e produtos que são produzidos pela sociedade para consumo da sociedade. Essas produções que visam produzir lucro, utilizando técnicas geneticamente manipuladas, que utilizam fertilizantes que fazem crescer antes de tempo e fora de tempo, as indústrias que produzem as tecnologias e que poluem o ar, a terra e água, são a origem de grande parte das doenças que afligem a sociedade actual e que atiram os seres humanos para a dependência de medicamentos e máquinas.
A sociedade cegou pelo o brilho extremo do cúmulo monetário e agora anda desorientada às apalpadelas, de olhos esbugalhados, ansiosa por que suceda um milagre.
Mas ainda não é o milagre da reconversão que é pedido, não. O milagre que todos esperam é o da retoma. A maioria dos cegos não entendeu ainda que o cavalo estoirou, mantem-se sobre as patas mas está exangue e, por muito que o esporeiem e o vitaminem, o pobre vai precisar de muito tempo para voltar andar.
Cara Margarida:
O facto de as administrações dos hospitais de Santa Maria, S. João e da Universidade de Coimbra estarem a restringir a entrada de medicamentos mais recentes para os tratamentos de doentes oncológicos, devido ao seu alto preço, como forma de conseguirem cumprir limites de aumento de despesa só comprova a chegada em força ao poder de um socialismo saloio e tecnocrático,mal formado que pretende mostrar que lê pelos melhores livros de gestão. Nem lê nem, muito menos, sabe interpretar.
Para além dessa grosseira tecnocracia, verifica-se que o Estado quer chegar a todo o lado. Quem quer estar em tudo, não está em nada.Desbarata dinheiro no supérfluo e não o tem para o essencial. Uma vergonha!...
Meus Caros,
Recentemente um familiar próximo faleceu com cancro. Pelo que me disseram quer o hospital, que deveria fornecer cuidados paliativos, quer todos os hospitais públicos (normais) mandaram embora a dita pessoa. Soube que um hospital dedicado a cuidados paliativos recusa a entrada de novos doentes (apesar de ter camas vazias). É pois um facto que há capacidade instalada mas que para poupar dinheiro não se cuida das pessoas. Neste caso particular até havia capacidade financeira para recorrer ao privado. Mas ficou o escândalo de quem paga impostos (e não são poucos) e quando chega a "hora da verdade" o estado é o que se vê. Eu pergunto-me como é que as coisas são com o português médio que ganha 1k€ por mês?
Há no entanto um ponto importante. Portugal nunca poderá ter serviços médicos como um país rico. Aliás o nosso PIB permitirá certos serviços e não outros. Acho que qualquer português perceberá isto. Quais são então os serviços que o nosso PIB permite? Não conheço a resposta. Deve ser dada uma resposta e explicar isso aos portugueses. Se calhar poupavam mais...
O Bartolomeu lança um ponto muito importante. Não são os serviços de saúde um subsistema económico de maior valor acrescentado que o betão? Porque é que Portugal não é uma espécie de Cuba ou Flórida da Europa?
Cumprimentos,
Paulo
No sábado passado relaizou-se um Forum sobre Saúde promovido pelo Partido Socialista, o mesmo é dizer, que a campanha eleitoral já está na estrada.
Pela importância dos temas (que incluiem o Montijo) e de algumas afirmações feitas neste evento, aqui ficam três artigos publicados num jornal local do Barreiro, para vosso conhecimento
A arte do cinismo nas políticas de saúde.
Como se pode falar de um projecto humanista, depois de efectuado o maior ataque profissional, à classe de médicos e enfermeiros, congelando a progressão nas carreiras e de manter centenas de profissionais de saúde, numa situação laboral indefinida, em termos futuros
1º artigo
http://www.rostos.pt/inicio2.asp?cronica=81388&mostra=2
2º artigo
http://www.rostos.pt/inicio2.asp?cronica=81389&mostra=2
Diz neste artigo o responsável pela Serviço de Urgência, do Hospital do barreiro, que a urgência qualquer dia rebenta. O que não é verdade. Porque a Urgência já rebentou há muito tempo.
Quantas utentes terão morrido por mau atendimento ?
Quantas utentes mal atendidos ? E tarde e a má hora ?
Não sabemos. Nem sabemos muitas outras coisas que se têm passado. O "bunker" está bem guardado.
3º artigo
http://www.rostos.pt/inicio2.asp?cronica=81390&mostra=2
Meus Caros Amigos é surreal o que ouvi. É preocupante. principalmente pela perspectiva de que a vitória dop PS nas próximas eleições dará continuidade a este estado de coisas na área da saúde.
Muitos de nós morreremos por isso mesmo ...
Não, não estou a exagerar.
Tenho uma enorme noção da realidade que se passa. Senti na pele essa realidade.
É por isso que tudo isto me preocupa. MUITO !
Quem tiver boas condições económicas escapará a esta degradação do serviço público de saúde. Mas quem não tiver ...
Pense-se no entanto que ninguém está livre de ter um acidente de viação e de ir parar na primeira hora de socorro a uma qualquer urgência.
E aí tudo pode acontecer....
Fiz-me entender ?
PS - Só uma nota:
Neste evento confirmei o que há algum tempo sei, e que tb ajuda a este status quo:
- a classe médica está desunida.
Donde:
- Está sem força.
Bom Dia !
Contaram-me há dias o caso de uma jovem mulher que está a morrer com um cancro, mandaram-na para casa porque já não há nada a fazer, está num sofrimento horrível e a mãe tem que faltar ao trabalho para ficar com ela. Vão ao hospital quando ela já não pára de gritar, fica lá um dia e mandam-na de volta para casa, andam nisto há meses, desde que lhe disseram que não tem salvação.
Caro Bartolomeu
Não sendo especialista em sistemas de saúde, observo pelos relatos que tenho de muitas pessoas amigas que recorrem ao SNS que há enormes deficiências, não nos actos médicos em si, mas nas condições de acesso, de atendimento, de acolhimento e de internamento. Há problemas crónicos de organização da prestação de serviços de saúde. Os exemplos são imensos, desde a falta de médicos de família, às longas filas de espera para consultas e cirurgias de diversas especialidades, à desorganização dos serviços de urgência, à falta de médicos e por aí fora.
Falhas grandes de gestão, organização e planeamento, aliadas à moda das teorias economicistas impedem, isso sim, uma resposta de qualidade às necessidades das pessoas. Nada que não explique também os problemas de outros serviços públicos, como a educação e a justiça.
Caro Dr. Pinho Cardão
Tem muita razão nas observações de que o Estado quer chegar a todo o lado, gasta no supérfluo e não tem para o essencial. Um País que é pobre deveria preocupar-se, por maioria de razão, em melhor gerir os seus escassos recursos.
Caro Paulo
É duplamente penalizador fazer investimentos em capacidade instalada que depois não é rendibilizada, porque não há dinheiro para a explorar ou porque não há recursos humanos para a utilizar. Uma situação absurda paga pelos contribuintes, os mesmos que quando precisam de cuidados de saúde enfrentam graves dificuldades de acesso.
Cara Pézinhos n' Areia
Acompanho as suas preocupações. Infelizes daqueles que estão dependentes do SNS para uma operação às cataratas, para fazer uma cirurgia oncológica ou um tratamento de quimioterapia. São sempre os mais pobres os mais penalizados, quando são estes cidadãos que mais esperam do SNS. Todos esperamos, porque todos pagamos impostos, mas quem não tem capacidade financeira para recorrer a alternativas fica na dependência de um serviço que não dá resposta satisfatória.
Suzana
Assim vai a assistência que o SNS presta a quem precisa, aos doentes e às suas famílias. Tem que ser assim? Não é tempo de alterarmos este estado de coisas?
Faz doer o coração!
Cara Dra. Margarida, desculpe de colocar esta notícia aqui, mas é de tal modo importante para todos (e para mim,pessoalmente, nem imagina quanto ...)
Isto é só a ponta do Iceberg.
A Magistratura não dispôe de todos os meios necessários para enfrentar este Iceberg.
Falta um tribunal da Saúde com especialistas para o efeito.
Pedidos de indemnização por erro médico
24-Mar-2009
Os pedidos de indemnização aos hospitais públicos em acções judiciais por assistência clínica alegadamente deficiente ultrapassaram os 29 milhões de euros, entre 2005 e 2007, contabiliza a Inspecção-Geral das Actividades em Saúde (IGAS), numa avaliação preliminar sobre esta matéria. Estimativa feita por médico refere que o número de doentes internados nos hospitais portugueses que morria devido a erros clínicos rondava os três mil por ano.
Um montante "não negligenciável", considera a inspecção, que pela primeira vez fez um inquérito sobre este tema, inquirindo os hospitais que nos últimos anos têm sido mais visados nas reclamações dos utentes. Esta verba diz respeito a um total de 155 processos, a maior parte dos quais são de natureza administrativa, incluindo pedidos cíveis de indemnização.
Saber quantos destes casos resultaram em condenação é impossível, porque a maior parte ainda estará em fase de julgamento e este tipo de sentenças não está desagregada nas estatísticas judiciais. Mas basta ler as notícias dos jornais para se perceber que não é fácil estabelecer nexos de causalidade e responsabilizar profissionais e hospitais por falhas clínicas. As condenações "são em número reduzido", atesta Cristina Costa, chefe da Divisão de Segurança do Doente, da Direcção-Geral da Saúde (DGS).
As especialidades mais visadas nas acções judiciais contra os hospitais públicos aqui identificadas são a Obstetrícia, a Ortopedia, a Cirurgia Geral, a Ginecologia, a Oftalmologia e a Medicina Interna. E os estabelecimentos mais demandados situam-se sobretudo na faixa litoral urbana, com destaque para hospitais de Coimbra, Setúbal e Lisboa.
Mortes podiam ser evitadas
Percebe-se também que só uma minoria dos hospitais (7,58 por cento) detém seguros de responsabilidade profissional. O inquérito da IGAS pretendeu ainda monitorizar o erro médico em 68 hospitais do Serviço Nacional de Saúde. E as conclusões não são animadoras: mais de metade dos estabelecimentos admitiu não ter protocolos escritos de prevenção de erros médicos e só um terço disse possuir sistemas informatizados de alerta e prevenção de riscos.
A problemática do erro médico (fenómeno frequente e inevitável e que é diferente da negligência, em que há uma violação das regras e deficiente prestação de cuidados) está estudada e é devidamente monitorizada em vários países, mas em Portugal não existem dados, apenas estimativas. Há cinco anos, o médico José Fragata, no livro Erro em Medicina, escrito em co-autoria com Luís Martins, estimava que o número de doentes internados nos hospitais portugueses que morria devido a erros clínicos deveria rondar os três mil por ano, extrapolando a partir das estatísticas internacionais. Mais de metade destes erros poderia ser evitada, acentuava então.
Em Portugal, a este nível, ainda há um grande caminho a percorrer: num diagnóstico nacional da situação feito em 2008 pela Direcção-Geral da Saúde (DGS), a que responderam 70 hospitais, apenas 20 afirmavam ter programas de gestão de risco clínico e segurança do doente. A DGS acaba, aliás, de criar a Divisão de Segurança do Doente, que vai operacionalizar um programa que promoverá a notificação de erros clínicos nas unidades de saúde, previsivelmente até ao final deste ano, adianta Cristina Costa, chefe do departamento. Cristina Costa destaca a importância de programas de prevenção do erro médico, notando que o Conselho da Europa recomendou a todos os países que organizassem este tipo de sistemas, mas de maneira a não penalizar os profissionais de saúde. "O enfoque deve ser posto no sistema e não no profissional", frisa.
A IGAS destaca as limitações desta avaliação e defende que o trabalho deve ser aprofundado com a maior brevidade possível.
Compressa esquecida
Uma equipa médica do Hospital de Santo André (Leiria) deixou em 2001 uma compressa no corpo de Celeste Pereira, durante uma operação aos ovários. Com 54 anos na altura, Celeste avançou para o tribunal que, em primeira instância, condenou o hospital a pagar 37.500 euros de indemnização. Posteriormente, a Relação de Coimbra - para onde a administração do hospital tinha recorrido - confirmou a sentença, mas baixou a indemnização para 25 mil euros. E o hospital voltou a recorrer para o Supremo onde o processo ainda se encontra.
http://ultimahora.publico.clix.pt/noticia.aspx?id=1370600&idCanal=62
Será bom lembrar o que diz o Professor José Fragata:
O cirurgião alertou ainda para as condições em que o pessoal da saúde trabalha e que «condicionam os resultados». «Um serviço com menos meios humanos não pode exigir aos seus funcionários bons resultados», disse, estendendo a ideia à capacidade de quem lidera e ainda às condições técnicas.
Perante o erro, José Fragata lembrou que este «faz sempre duas vítimas: o utente e o médico».
http://diario.iol.pt/sociedade/medicos-erro-cirurgiao-oms-medicina/992711-4071.html
Cara Pézinhos n' Areia
Estive a ler atentamente as notícias. É grave que o erro médico tire a vida por ano a três mil doentes internados nos hospitais portugueses, quando mais de metade dos erros poderia ser evitada. O estado da arte em relação à monitorização do erro médico é pré-histórica e explica, segundo entendi, um tal elevado número de mortes por erro médico.
É interessante verificar que é um organismo público da saúde, a Inspecção Geral das Actividades em Saúde, que chama a atenção para a urgência de os hospitais portugueses adoptarem programas de prevenção do erro médico.
Esta falha grave contribui para o baixo índice de desenvolvimento humano do nosso País, que, aliás, tem sido evidenciado em estudos e indicadores europeus.
O caso da compressa deve ser muito comum. Aconteceu com a minha Mãe, numa cirurgia ortopédica. Esteve muito mal. Teve que se submeter de urgência a uma nova cirurgia, ainda não tinha recuperado da primeira, para remover a compressa que ficou no interior do corpo. Mas o mais espantoso é que quer o operador quer o hospital apresentaram uma factura de serviços médicos e hospitalares a dobrar. Para além do erro médico, não faltou imoralidade e falta de ética!
Cara Dra. Margarida, não poderia deixar de lhe enviar a minha opinião sobre o que escreveu.
Quando falamos de erro médico, falamos do Professor e Cirurgião José Fragata.
Do pouco que li que este Senhor defende, fiquei com a seguinte ideia:
- A Medicina é uma Ciência. E como ciência que é, erra como todas as outras Ciências erram.
- Um médico pode errar. Porque os médicos são seres humanos. Errar é humano.
Agora, Dra, o problema coloca-se e é, creio, a tese do citado Senhor Professor, quando o erro apesar de ser médico, tem no seu nexo de causalidade, razões que não são médicas, ou seja, tem por exemplo, razões de má gestão, má organização.
Um pequeno exemplo:
Se o nº de médicos é insuficiente, os médicos terão que trabalhar mais horas, tal facto irá causar-lhes cansaço físico e intelectual.
O cansaço origina erro.
Percebe Dra. ?
Com os enfermeiros passar-se-á o mesmo.
O erro é médico, mas começa num erro de gestão. O serviço não está dimensionado para as necessidades que impôe.
E eu acredito por experiência pessoal em duas coisas:
- temos excelentes médicos. 100% !!
- a negligência que grassa nos nossos hospitais não é um problema de incompetência médica, mas sim de errada política de saúde, e de gestão hospitalar muito pouco competente.
Vou mais longe...
Os médicos são hoje um dos elos mais fracos desta cadeia. Tristemente.
Fico por aqui.
Cumprimentos
PS - O caso que a Dra. relatou presumo que terá sido no sistema privado. Contrariamente, tudo a que me refiro anteriormente, é relativo ao SNS. Apenas.
Cara Pézinhos n' Areia
Temos excelentes médicos, com certeza, conheço muitos. Como em todas as profissões há bons e maus profissionais.
Não sei se os erros médicos a que alude a IGAS são os mesmos a que a Cara Pézinhos n' Areia se refere no seu texto quando cita o cirurgião José Fragata. Creio que estaremos a falar de coisas diferentes. Quando a IGAS chama a atenção para a urgência dos hospitais portugueses adoptarem programas de prevenção do erro médico não creio que esteja a falar de corrigir o sistema de gestão hospitalar, nem a falar do erro médico proveniente de um acto médico o qual pode ter, aliás, diversos graus de gravidade.
Estou convencida que os problemas do SNS resultam , como aliás acontece com outros serviços públicos, do modelo de funcionamento e do défice de gestão, incluindo planeamento.
Permita-me que transcreva o que a este propósito comentei mais acima:
"Caro Bartolomeu
Não sendo especialista em sistemas de saúde, observo pelos relatos que tenho de muitas pessoas amigas que recorrem ao SNS que há enormes deficiências, não nos actos médicos em si, mas nas condições de acesso, de atendimento, de acolhimento e de internamento. Há problemas crónicos de organização da prestação de serviços de saúde. Os exemplos são imensos, desde a falta de médicos de família, às longas filas de espera para consultas e cirurgias de diversas especialidades, à desorganização dos serviços de urgência, à falta de médicos e por aí fora.
Falhas grandes de gestão, organização e planeamento, aliadas à moda das teorias economicistas impedem, isso sim, uma resposta de qualidade às necessidades das pessoas. Nada que não explique também os problemas de outros serviços públicos, como a educação e a justiça."
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