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sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Crise do DUBAI e a economia mundial

1. Os mercados financeiros foram abalados, neste final de semana, pela inesperada decisão das autoridades financeiras do DUBAI de suspender, até final de Maio de 2010, o pagamento de dívida externa da principal Holding estatal, a DUBAI World e de uma participada desta para o mercado imobiliário, a Nakheel.
2. A cidade do DUBAI era até agora considerado um caso de sucesso no Médio Oriente e em particular nos Emiratos Árabes, em termos de desenvolvimento económico, nela tendo sido lançados nos últimos anos projectos de investimento “fabulosos”, atraindo capitais externos em grande escala em busca de rentabilidades muito generosas.
3. Esta atractividade do DUBAI e dos grandiosos projectos que caracterizavam o seu modelo de desenvolvimento conduziu a uma situação de elevado endividamento, que segundo as fontes noticiosas atingiu mais de USD 80 mil milhões (1/3 do PIB português), tendo recentemente aumentado bastante apesar da crise internacional e da quebra no mercado imobiliário.
4. Muito provavelmente esta situação vai requerer, como noutros casos do passado, uma reestruturação global da dívida, envolvendo negociações extremamente complexas com o mundo de financiadores daquelas entidades, incluindo talvez uma parcial transformação de créditos em capital ainda que remível a prazo.
5. Os próximos 6 meses que dura a moratória imposta pelas autoridades do DUBAI deverão envolver frenéticas negociações, devendo constituir uma fértil fonte de notícias para a imprensa especializada.
6. Este acontecimento, pela enorme repercussão que teve nos mercados financeiros e de mercadorias, vem colocar nova questão no processo de recuperação económica a que se vem assistindo um pouco por todo o Mundo: a sustentabilidade dessa recuperação.
7. Com efeito, uma boa parte dessa recuperação deve-se à noção de que os sistemas financeiros das economias mais desenvolvidas atingiram uma fase de estabilidade, graças nomeadamente aos apoios oficiais recebidos, gerando expectativas de que, com essa estabilidade, a economia teria condições para crescer de forma mais sustentada.
8. Se fenómenos com este vierem colocar novas dúvidas sobre a saúde dos sistemas financeiros, isso pode rapidamente por termo às expectativas de retoma económica.
9. Por outro lado, esta situação pode vir a perturbar os planos da chamada “exit strategy” anunciada pelas autoridades financeiras e monetárias das principais economias e que consiste na retirada gradual dos apoios concedidos em especial pelos bancos centrais aos sistemas bancários...se, de um momento para o outro, essa “exit strategy” tivesse que ser revista – adiada “sine die” por exemplo - isso pode estimular bolhas especulativas em mercados de activos de risco, suscitando novos riscos de uma “buble burst”, com todo o seu cortejo de implicações económicas. Nouriel Roubini bem tem avisado...
10. Para países como Portugal, os efeitos desta “mini-crise”, combinados com problemas internos bem conhecidos, pode vir a traduzir-se num agravamento do custo da nossa dívida ao exterior que é a última coisa de que precisávamos neste momento...
11. Esperemos pois que esta crise fique o mais possível confinada ao DUBAI e seus credores, deixando-nos com os problemas que temos e que nos bastam...

13 comentários:

Manuel Brás disse...

O anticiclone glacial do Dubai

O paraíso artificial
de luxuosa opulência
origina um ar glacial
de imprevista violência.

Os Prozacs encaixotados
sobre terrenos arenosos
produzem ideais untados
por agiotas pantanosos.

José Meireles Graça disse...

Se o reescalonamento de uma dívida de um terço do nosso PIB é suficiente para lançar ondas de choque pelo Mundo fora; e se a n/ dívida externa é de à volta de 100%do nosso PIB: então encaro sèriamente a hipótese de transformar uma parte do meu improdutivo jardim numa horta. Nabiças, couves, ervilhas, etc. não me hão-de faltar. E tenho ainda espaço para um galinheiro, uma coelheira e talvez uma corte para um réquinho. Desculpem lá o salto de raciocínio.

Pinho Cardão disse...

Sábia decisão, caro JMG. Eu já vou nesse caminho...

Bartolomeu disse...

Não brinquem, meus amigos, não brinquem. Olhem que este exemplo que o caro Dr. Tavares Moreira, aqui apresenta, é mais um sinal que o capitalismo se está a desmoronar e que ~estão esgotadas aquelas fontes de investimento que ha muito pouco tempo pareciam inesgotáveis.
Alguns mais previstos, ou mais sensíveis, laboram já num novo modelo de capitalismo. Pela minha parte, não vejo qual possa ser, a menos que nos reportemos ao filme do "mad max" e entendamos uma espécie de caos controlado por uns barões mafiosos com mercenarios a soldo e um domínio completo de tudo o que gere capital.
Mas isso é uma ficção que, apesar de se poder tornar real, basta-nos lembrar dos carteis de droga na américa do sul, de diamantes em áfrica, de petróleo na arábia, de contrafacção no oriente, etc. para com facilidade antevermos um mundo onde impere a guerrilha armada, sem governos nem exercitos.
Novos modelos de economias, é claro que será possível encontrar, modelos capazes de gerar maior sustentabilidade dos estados sociais, modelos mais justos e equilibrados, que visem o bem comum e o progresso social, mas que rjeitem o capitalismo, o mega capitalismo, e os gigantes multinacionais.
Não vejo outra forma de as sociedades se equilibrarem.
De resto e, pelo sim, pelo não, é bom que estejamos prevenidos com umas franganitas e umas hortaliças... eu tb já pertenço ao clube.

Tonibler disse...

O Dubai é só um dos emiratos árabes unidos e estamos a falar de uma empresa pertencente a um dos emiratos. Quando, há uns dez anos foi um país inteiro da América do Sul. a Argentina, e o maior país do mundo, a Rússia, a fazer a mesma coisa ninguém reagiu desta forma. Não sei se é por uma questão de igualdade, mas ter um sistema financeiro a reagir a qualquer evento no mercado como um bando de barbies histéricas parece-me muito mais preocupante que qualquer evento real.

Margarida Corrêa de Aguiar disse...

Muito avisado o seu post, Dr. Tavares Moreira.
O Dubai e a Islândia são exemplos que mostram bem que os países também podem entrar em falência.
São exemplos que mostram a insustentabilidade do crescimento do endividamento para além do nível de riqueza que as economias são capazes de gerar para saldar as dívidas contraídas.
Esperemos que a moratória anunciada pelo Dubai não passe de um susto e que Portugal, em particular, não seja afectado. Já temos bem com que nos ocupar, incluindo, também, os problemas do endividamento e do défice.

Suzana Toscano disse...

Reconheço que também não percebi qual a importância "sistémica" (para recuperar um conceito) da dívida do Dubai na economia internacional. E também não percebo como é que os financiadores andavam todos tão distraídos que não reparavam no absurdo daquele tipo de desenvolvimento (?),será que pistas de gelo em centros comerciais eram um investimento seguro? Ou florestas de prédios mais altos do mundo? No Dubai? Não acredito que estejam assim tão surpreendidos mas, se a economia mundial depende de loucos então o melhor é mesmo deixarmos de tentar perceber o que quer que seja e seguir o exemplo do caro JMG, uma horta, galinhas e candeia de azeite.

Insatisfeito disse...

Pistas de gelo e florestas de prédios são peanuts no caso.

Veja-se como era faraónico :

http://www.dubai-online.com/real/video-nakheel.htm

http://video.google.com/videoplay?docid=3205299137616012822#

Adriano Volframista disse...

Caro Tavares Moreira

Apenas um "acrescento" ao seu ponto 11
Na 6ª feira correu um rumor que o Banco Central do Quénia estava sem liquidez.
Foi prontamente desmentido.
O ponto é que os nervos estão à flor da pele e, qualquer pequena comoção pode desencadear uma tempestade...

Cumprimentos
joão

Insatisfeito disse...

Mais do mesmo :

http://www.5min.com/Video/Dubai-Skyscraper-with-Rotating-Floors-4272393

Adriano Volframista disse...

Caro Tavares Moreira

Apenas uma adenda ao meu comentário:

Uma parte do "sucesso" do investimento no Dubai,advinha do facto deste emirato ser um dos membros de uma parceria, os Emiratos Arábes Unidos, onde um dos membros o Abu Dabi é um importante produtor de petróleo.
(Neste momento supõe-se que as reservas de divisas do Abu Dabi ronde os USD$ 650 Bi).
Uma outra parte advinha de um optimismo desmesurado no capitalismo e no crescimento ininterrupto da economia mundial.
A outra parte advinha da suposição que, em caso de incumprimento, o Dubai seria "salvo" pelo parceiro mais forte, sempre estávamos a falar de uma união...
Ora, nem o crescimento é ininterrupto, nem o Abu Dabi vai "pagar", (nem sequer está disposto a avalizar) a integralidade da dívida.
A "chantagem" moral sobre o emirato rico, em especial do nome dos EAU, correr o risco de ficar "manchado";o risco sistémico global que, a decisão do parceiro rico pode causar; não parece ter impressionado o Abu Dabi...

Agora, vamos substituir EAU por União Europeia, Dubai por Portugal e/ou Grécia e Abu Dabi por Alemanha e podemos ver que temos tudo a ver com o que se passa no Dubai, para além dos abalos financeiros que experimentamos

Cumprimentos
joão

Tavares Moreira disse...

Caro João,

Interessante a sua adenda...sabe que o custo de cobertura do risco de default das obrigações da dívida grega é actualmente igual a risco similar da Turquia? Situação impensável há pouco tempo?
E que o "novo" risco da Grécia resultou simplesmente de uma mudança de governo que descobriu um defice 3 vezes igual ao anterior?
Já viu quanto nos pode custar uma mudança de governo? Mais vale ficar com este para o resto da vida...

Adriano Volframista disse...

Caro Tavares Moreira

Possivelmente vai tarde, mas sempre lhe informo.
Hoje, 02/12/09, o jornal grego Ekathimiri, divulgou uma carta "secreta" do Presidente do Euro Grupo, Sr Juncker, ao Ministro das Finanças Grego. Esta carta é da passada 5ª feira.
Basicamente, o Sr Juncker, informa o Ministro Grego que a Grécia apenas tem um caminho: reformular a sua política económica,disciplinar as finanças e criar as condições para um aumento da competitividade da economia.
Para quem segue a Grécia, significa "arrepiar caminho".
O sentimento em Bruxelas é de não "facilitar" os mal comportados.

Ora, para a Grécia, as coisas podem não estar de feição, porque nem os mais ricos querem pagar a crise, nem a "chantagem" é eficaz:neste momento alguma instabilidade na zona euro (desde que controlável) até podia "ajudar" a fazer cair a cotação do euro....????!!!!

Cumprimentos
joão