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domingo, 22 de novembro de 2009

Uma espécie de "jogo do gato e do rato"...

Quando entrei hoje de manhã no carro e abri o rádio estava a decorrer uma entrevista ao líder de um grupo parlamentar. Não estava propriamente para aí virada. Preparava-me para procurar um bocado de música, o que fiz logo de seguida, mas acabei por me reter uns minutos na entrevista por me ter despertado a atenção, quase instantânea, uma troca de perguntas e respostas em que dei comigo a pensar onde eu que já ouvi ou vi isto? Confesso que não me lembro da substância da conversa, pois fiquei presa no vazio das palavras
Assistimos cada vez mais à construção de conteúdos de notícias políticas através, justamente, do seu próprio vazio. Como é possível? Não deveria ser, mas é assim que acontece.
É assim que surgem as perguntas e respostas numa espécie de "jogo do gato e do rato”. O entrevistador ou jornalista faz uma pergunta acompanhada da conveniente resposta, para no final concluir questionando o entrevistado com um concorda ou um confirma. É, então, que o entrevistado responde não concordo nem confirmo.
Então segue-se uma coisa deste género.
. Bem, então, podemos concluir que não?
. Não, eu não disse, que não!
. Então, podemos concluir que sim?
. Não, eu não disse que sim, não quero dizer nem que sim nem que não!
. Bem, mas então podemos depreender das palavras que é possível que seja sim e também é possível que seja não?
. Sim, tudo é possível, mas agora não é o momento de discussão!
. Bem, então, é porque já tem uma ideia ou uma decisão, mas não quer falar?
. Precisamente, agora não é tempo de falar, porque se eu disser que não, os senhores vão concluir que eu não disse bem que não, que disse que sim, ora eu não disse. E como já sei que depois vão retirar conclusões diferentes daquelas que queria dizer, o melhor é não dizer nada!
Esta sucessão do disse que disse e que não disse e do disse que não disse mas que afinal disse, faz-me lembrar as crianças muito pequenas na fase da curiosidade em que não param de fazer perguntas, daquelas que às vezes deixam os pais atrapalhados, querendo saber tudo, mesmo aquilo que ainda é cedo para saberem.
Começam com o porquê? E depois vem uma resposta dos pais, às vezes pouco pensada e cuidada, para logo de seguida a criança voltar a perguntar porquê? E de porquê em resposta e de resposta em porquê a conversa que nunca mais acaba, termina, não raras vezes, em nada, com os pais cansados, mas divertidos, de tantos porquês e respostas e com a criança muito contente com a sua infinita curiosidade.
Às vezes há momentos em que não convêm de todo certas perguntas e certas respostas, mas o fruto proibido é sempre o melhor. Enfim, às vezes o silêncio é mesmo de ouro. O problema é que na era mediática em que vivemos, o direito ao silêncio, que em determinadas circunstâncias deveria ser um dever do silêncio, é cada vez mais difícil de exercer, embora cada vez mais valioso o seu sábio exercício.
Por um lado, os media são incansáveis na sua insaciável “procura da verdade” e necessidade de vender e fazer o futuro e, por outro lado, os protagonistas da política, e os outros que não sendo não resistem aos holofotes, são fazedores de expectativas na busca permanente de afirmação, esquecendo o passado e fazendo do presente o futuro. E assim se reúnem os ingredientes para um bom "jogo do gato e do rato"...

8 comentários:

Bartolomeu disse...

Muitos, creem que vivem na estabilidade lógica, daquilo que julga saber...
Muitos, creem que vivem na estabilidade lógica, daquilo que julgam ser...
Alguns, buscam a lógica da estabilidade, em que desejam viver...
Deve ser esta diversidade que nos atrai, cara Drª. Margarida...
;))

Suzana Toscano disse...

Margarida, o jogo de palavras vazias tornou-se um desporto nacional, gastam-se horas e horas a "dizer coisas" sem dizer coisa nenhuma que valha a pena. E a verdade, como refere, é que em regra quem pergunta só quer mesmo perguntar e não está nada interessado na resposta e quem responde quer passar recados e não esclarecer o que quer que seja. Arte difícil, convenhamos, para quem a exerce, mas muito aborrecida para quem assiste porque fica com essa impressão que aqui nos traz de ser um jogo de escondidas.Eu diria que é uma falta de respeito pelos ouvintes...

jotaC disse...

Bem...depreende-se que era conversa mole, do tipo para encher certos dossiês...
Mas era bem pior se o entrevistado tivesse dito ao entrevistador para ir ler sobre aquele assunto, o que ele tinha dito há três anos atrás!

jotaC disse...

PS:
já me esquecia...adoro a forma como ilustra os seus textos!
:)

Margarida Corrêa de Aguiar disse...

Caro Bartolomeu
Monotonia é mesmo coisa que não tem faltado, mas infelizmente pelas piores razões. Uma diversidade por estas razões é bem dispensável, não acha?

Suzana
A falta de respeito é tal que ficam a falar para o ar. Cada vez haverá menos pessoas interessadas em os ouvir.

Caro jota C
Há três anos atrás? Refere-se a algum entrevistado ou entrevistador em particular?
O assunto é tão aborrecido que uma imagem engraçada sempre desperta alguma atenção.

jotaC disse...

...Depois eu digo-lhe!
;)

Margarida Corrêa de Aguiar disse...

Caro jotaC
Mas que "suspense"!

jotaC disse...

Quem me visse agora a sorrir para o monitor pensaria que não estou muito bom do juízo!…
Não sei bem porquê, cara Dra. Margarida Aguiar, este seu comentário fez-me sorrir imenso... mas criou-me ao mesmo tempo um grande problema! Se eu levantar agora o suspense, corro o risco de não sorrir novamente sobre o mesmo...
Fica para a próxima, quem sabe a nova edição esteja para breve!
:)