O que somos em cada momento é sempre um somatório do que fomos. O passado explica quem somos e porquê, o que somos capazes de fazer e as nossas dificuldades, o que nos distingue dos outros e porquê. Para nos conhecermos e perspectivarmos o futuro não devemos ignorar o passado. Temos que com ele conviver, porque ele faz parte da nossa personalidade e identidade. Podemos, isso sim, actuar sobre ele, por exemplo aprendendo com os erros e repetindo os sucessos. Se tudo isto é verdade na vida de uma pessoa, funciona também na vida de uma nação e de um povo.
Vem tudo isto a propósito da entrevista de António Barreto hoje publicada no jornal i. António Barreto chama a atenção para as marcas do passado do País no traçado do presente e do futuro, não apenas numa perspectiva histórica e factual que é fundamental conhecer, mas também numa perspectiva transformadora em que a compreensão da herança do passado é fundamental para operar as mudanças necessárias e urgentes:
Vem tudo isto a propósito da entrevista de António Barreto hoje publicada no jornal i. António Barreto chama a atenção para as marcas do passado do País no traçado do presente e do futuro, não apenas numa perspectiva histórica e factual que é fundamental conhecer, mas também numa perspectiva transformadora em que a compreensão da herança do passado é fundamental para operar as mudanças necessárias e urgentes:
(...)
- Qual a falta mais gritante?
- Qual a falta mais gritante?
Parece-me óbvio que há uma falta de empresários, de capitalistas. Será um problema ancestral? Vem da nossa maneira passada de viver e de gastar? Dos desperdícios? Do facto de os ricos portugueses terem vivido à sombra do Estado durante 200, 300 ou 400 anos? De o Estado ter ocupado tudo desde os Descobrimentos? Não quero ir por aí, mas o resultado é este. Há poucos empresários, poucos capitalistas com capitais, as elites são fracas e têm uma noção medíocre do serviço público. É raríssimo encontrar ricos, poderosos, famílias antigas, com um sentimento forte do contributo que podem dar à sociedade.
- Que mais falta?
Falta literacia. Tínhamos há 30 anos a mesma taxa de analfabetismo que a Inglaterra de 1800. Em matéria de alfabetização havia 150 anos de atraso. Porque é que os portugueses não lêem jornais? A falta de hábito de ler os jornais é muito importante, porque o jornal é a fonte de informação que mais está virada para o raciocínio, o pensamento, a participação.
Quem vê televisão está geralmente em posição passiva.
- Mas hoje a imagem é rainha. O apetite por um jornal nunca igualará o da televisão...
Mas quem tem como informação exclusiva a televisão subordina o raciocínio, o pensamento, o estudo, o lápis que toma as notas, às emoções. É mais fácil ser livre e independente com um papel na frente do que diante de uma imagem que é fabricada com som e se dirige às emoções e aos sentimentos e não à razão - ou pouco à razão. Sou consumidor de televisão e da net, mas o que quero dizer é que, ao contrário de todos os países europeus, quando os portugueses começaram a aceder à escola e a aprender a ler, nos anos 50 e 60, já havia televisão. Não se fez o caminho que todos os outros países da Europa fizeram, que foi dois séculos a lerem jornais e só depois com uma passagem gradual para a rádio e para a televisão.
(...)
No mundo sem fronteiras em que estamos integrados, abertos à concorrência e entregues à nossa capacidade de criar riqueza aproveitando as oportunidades que a economia global tem para oferecer, as marcas do passado, algumas delas bem pesadas, continuam a pesar muitíssimo por não termos sido capazes de antecipar os problemas e perceber as mudanças necessárias e em alguns casos a sua urgência. O tempo passou e muito lentamente sem quase nos apercebermos disso fomos empobrecendo. Diz António Barreto que agora estamos a iniciar um percurso para a irrelevância e o desaparecimento.
No mundo sem fronteiras em que estamos integrados, abertos à concorrência e entregues à nossa capacidade de criar riqueza aproveitando as oportunidades que a economia global tem para oferecer, as marcas do passado, algumas delas bem pesadas, continuam a pesar muitíssimo por não termos sido capazes de antecipar os problemas e perceber as mudanças necessárias e em alguns casos a sua urgência. O tempo passou e muito lentamente sem quase nos apercebermos disso fomos empobrecendo. Diz António Barreto que agora estamos a iniciar um percurso para a irrelevância e o desaparecimento.
Fica, contudo, a velha questão sobre porque fomos incompetentes para compreender as nossas fragilidades e debilidades e para fazer as correctas opções? Se os nossos parceiros europeus, em particular os de Leste, melhor ou menos bem, o fizeram porque persistimos em ficar para trás? A falta de liderança parece ser, a meu ver, a resposta para o ponto a que chegámos. Refiro-me também à "liderança" colectiva no sentido da existência de uma clara consciência e de uma vontade assumida capazes de impor a mudança.
13 comentários:
A luz no fim do túnel está mesmo muito difícil de se vislumbrar.
E se as condições não são adequadas, não são propícias ao desenvolvimento económico (e não só) de cada indivíduo, a tendência é procurar outros espaços, outros lugares (no estrangeiro) para concretizar os seus sonhos profissionais e pessoais. Mas nem todos o poderão fazer e os que ficam continuarão a lutar por uma sobrevivência minimamente digna.
Há muito que os portugueses andam numa constante montanha russa e embora se verifiquem melhorias em certos sectores, a base, os alicerces continuam muito frágeis. Sou, honestamente o digo, uma leiga no que concerne políticas, liderança a nível governamental e não só - apenas sinto e observo como um elemento da população em geral. E fico abismada, descrente... duvidando, por vezes, das minhas competências auditivas, quando oiço comentários/observações de certos membros do governo português que nada dizem... que nenhuma substância têm. Faz-me lembrar alguns testes de filosofia: para alguns professores, desde que enchessemos umas quantas páginas e fizessemos o mínimo de sentido, tudo bem! Por vezes, nem esse “sentido” eu detecto.
É de lamentar, profundamente, a situação presente. A população vive sem esperança de dias melhores. Por favor, corrija-me se eu estiver errada nesta observação.
É necessário alguém (um grupo de “alguéns”) com “pulso forte”, um grande amor pela nação e muita determinação e competência para tornar o cantinho português num lugar agradável onde as pessoas vivam com as amenidades a que têm direito.
A Educação seria um sector onde tantas reformas poderiam ser feitas, mas reformas com cabeça, tronco e membros, seguindo as directrizes de países vizinhos. A iliteracia, de facto, continua a ser um problema. E não percebo por que é que em 2009 ainda continua a ser problema. Palavra que não entendo como a situação se tem arrastado por tantos anos. Aliás... é fácil de perceber!
Quando era miúda lembro-me perfeitamente de que os estrangeiros que vinham passar férias a Portugal andavam sempre com livros. Liam na praia, nos transportes, etc. Verifiquei isso mais tarde nos países que visitei: as pessoas têm gosto pela leitura.
Quando leio estatísticas que englobam vários países, já tenho visto Portugal nos primeiros lugares desse ranking! Mas pelas razões erradas. E desnecessário é mencioná-las.
Esperemos que não chegue uma altura (ou será que já chegou?) que dê razão ao velho ditado: “Casa onde não há pão, todos ralham e ninguém tem razão”. Desculpe o coloquialismo. E vou parar mesmo agora de escrever... É que... não sei se já teve a oportunidade de se aperceber [ :) ] .. quando começo a escrever... parece que nunca mais acabo!
Cara Dra. Margarida Aguiar:
Há uma coisa que me enerva sobremaneira e que é o facto de sermos excepcionalmente bons a diagnosticar as causas do nosso atraso, a todos os níveis “endémico”, e não sermos capazes de arrepiar caminho, seguindo um trilho diferente.
Vem isto a propósito das reflexões de António Barreto, aqui replicadas pela cara Dra. Margarida Aguiar, sempre com aquela preocupação de contribuir de alguma forma para que se debatam estas questões até à exaustão, tal é a preocupação pelo estado em que o país se encontra. É uma atitude de cidadania, a todos os títulos louvável.
Mas, diagnosticadas que estão todas as causas deste nosso atraso face a países da Europa desenvolvida, chegou a hora de não estarmos constantemente a estabelecer paralelismos com o período decorrido até ao 25 de Abril, porquanto, aquela geração já foi julgada e enterrada. Hoje, somos os donos do nosso destino.
Então porque será que, sendo nós próprios os timoneiros da nossa barcaça, chegámos a este beco sem saída? Porque não evoluímos? Porque nos mantemos neste ostracismo expectante?
Estas são, a meu ver, as grandes questões que importa discutir.
Claro que a resposta mais óbvia será dizer que a classe política actual é deficitária, talvez! Quando se ouve noticiar que o staff presidencial, composto por vinte elementos (incluindo o mordomo, imagine-se(!)…mas afinal somos uma monarquia ou uma república!?) vai ficar instalado, durante a cimeira, num hotel do Estoril a escassos quilómetros de Belém…
Com pulso forte, encabeçada por alguém ou por um grupo de alguéns, talvez uma Junta Militar para pôr isto na ordem e educar o povo... E para que este viva com as amenidades a que tem direito.
zédotelhado
Essa do satff presidencial, no total de 20 elementos, incluindo o mordomo, instalado num hotel do Estoril, não será boca do Sócrates ou do Teixeira dos Santos? O Lima também faz parte da comitiva? Hummm, cheira-me a boca doPS...
Interpretação com conotação absolutista.
Interpretação errada.
Quando não se tem a certeza do que se lê e há um interesse irreprimível naquilo que se leu, basta colocar uma pergunta. Quem sabe se a resposta não virá com todas as explicações necessárias!
P.S. Será que isto reflecte uma vontade de “aproximação”?
A certeza do que leio tenho eu. O que não sei é se alguns escritos que leio relevam de certezas ou de inseguranças.
Do que não quero aproximar-me é do tal "alguém" ou do "grupo de alguéns" com "pulso forte" e com "grande amor pela nação".
Fora isto, aceitam-se todas as explicações...
Cara Catarina
Sinto quando a leio que tem sempre muito para dizer e que fica sempre muito por escrever. Acho que não estou enganada!
Às vezes penso que ainda não batemos no fundo, tendo em conta o nível de passividade e aceitação por parte da população em relação à situação. Temos cada vez mais pessoas e famílias preocupadas, é um facto, mas não vejo uma intervenção cívica com aquela força que seria necessária para mudarmos de vida, exigindo mais a nós próprios e aos outros, incluindo a classe política, e participando com consciência e vontade nas mudanças que precisamos de fazer. Mudanças que estão dependentes da mudança de mentalidade e de cultura social e política. E aqui reside, a meu ver, um dos problemas.
A falta de esperança que a Cara Catarina refere deveria ser suficiente para aceitar, mobilizar e participar numa mudança.
O défice de leitura de que fala António Barreto é um desastre. A televisão não ajuda nada, quando temos uma população que não é propriamente apaixonada pela leitura, nem de jornais nem de livros. Vivemos no reino da televisão. O pequeno, mas grande, ecrã é o educador do País mas pelas piores razões. Os seus reality shows vendem comportamentos ilusórios. A mensagem do poder pelo dinheiro e do vale tudo para lá chegar explora sentimentos e emoções perigosos. Num País com elevada iliteracia esta mensagem encontra eco e dificulta a mudança da mentalidade instalada.
Somos um País de extremos. Somos capazes de estar nos primeiros lugares do ranking das taxas mais baixas de mortalidade infantil, competindo com os países mais desenvolvidos, e ao mesmo tempo estamos nos últimos lugares do ranking dos países com mais elevado nível de corrupção, contemporizando com os países menos desenvolvidos. Esta dupla faceta deixa-nos a esperança de que é possível fazermos mais coisas bem feitas. Haja liderança. A melhoria da taxa de mortalidade infantil não aconteceu por acaso. É um caso de liderança.
Caro zédotelhado
Há muita gente que acha que as reflexões dos “antónios barretos” já cansam, que são alarmistas e pessimistas, que só apresentam problemas, porque soluções não é com eles. Não estou nada de acordo. É por isso que volta e meia me dá para reflectir sobre essas reflexões, procurando fazer delas bons pontos de observação e de conversação.
Não sei se somos excepcionalmente bons a diagnosticar. Passo a explicar. Somos bons na quantidade, fazemos muitos diagnósticos, toda a gente faz diagnósticos sobre tudo e mais alguma coisa. Mas quanto à sua qualidade é que já não será bem assim, porque se assim fosse as opções políticas teriam bons resultados. Ora, não é, com efeito, o que se tem passado. Opções sobre maus diagnósticos não podem resultar bem.
Todos achamos, não é de agora, há décadas que é assim e vai continuar a ser, que devíamos ter investido mais e melhor na qualificação dos portugueses. E o que fizemos? Não teremos feito as opções mais correctas, pois se assim fosse não estaríamos hoje onde estamos .
Tem muita razão quando refere que "Hoje, somos os donos do nosso destino". Com efeito, já passou o tempo suficiente para continuarmos a encontrar desculpas no passado. A desculpabilização e a desresponsabilização são aliás técnicas muito utilizadas. Repare, Caro zédotelhado, que governos sucessivos explicam os seus fracassos e as suas dificuldades apontando o dedo para as legislaturas e os governos que os antecederam. É, realmente, um péssimo exemplo.
Caro António Transtagano
Citando António Barreto: ” Se não houvesse a Europa e se ainda houvesse Forças Armadas, já teríamos tido golpes de Estado".
Partindo do princípio de que o termo “forte” é sinónimo de “firme, não vacilante” sem qualquer conotação de absolutismo e que “nação” “é um conjunto de indivíduos habituados aos mesmos usos, costumes e língua e que é um Estado que se governa por leis próprias”, eis o que penso em termos simplistas e desprovidos de qualquer tendência “megalómana” de saberes:
- os líderes de uma nação deverão ser cidadãos honestos, que não usam os cargos para benefícios pessoais e com uma vontade manifesta de desenvolver, melhorar o nível de vida das populações; os problemas existentes deveriam ser examinados de raíz: por que existem? Qual a melhor forma de os eliminar? E não “tapar fendas” continuamente, sem a preocupação de se criar boas bases, bons alicerces. Olhar em nosso redor e ver com olhos de ver o que se passa nas outras nações que no decorrer dos anos criaram políticas adaptáveis às suas características e que conseguiram elevar o nível de vida dos seus cidadãos; eliminar certos aspectos da burocracia que só atrapalham e erguem entraves; focar em políticas que permitam as populações a um maior acesso à educação, ao ensino pós-secundário quer seja académico ou vocacional; continuar a “informar” a população, a desenvolver métodos ou estratégias de forma a que se tornem participantes bem informados na evolução do seu país; não esquecer os que, por várias razões, estão numa situação precária ao fim de tantos anos de labuta. De orçamentos e endividamentos eu não entendo; orçamento só o doméstico – o meu! E mesmo assim...
Há 40 /50 anos quando os portugueses emigraram quase que em massa, dedicaram-se ao trabalho e toda a sua família contribuia para o mealheiro; reconhecidos em todo o mundo (creio que não erro em generalizar) como bons e dedicados trabalhadores; a iliteracia era elevada; os filhos apenas frequentavam a escola até, legalmente, poderem abandonar os estudos. Nos últimos anos a emigração reduziu mas os que emigraram continuam a ter um índice baixo de literacia; não há grande representação portuguesa a nível universitário (ainda!!!! ), não há grande representação portuguesa (ainda) nos vários organismos governamentais; uma percentagem demasiado elevada de crianças portuguesas têm necessidade de programas de apoio nas escolas – resquícios do passado? Algum factor hereditário? O abandono escolar em Portugual é do conhecimento de todos. Há que fazer algo – e já – para melhorar a situação; os cidadãos instruidos “criam” uma nação de peso.
Não há que dissecar cada palavra, cada frase, cada período que escrevi. Trata-se apenas de um resumo, “bem resumido” do que penso, sem a veleidade de “saber”.
Dra. Margarida Corrêa de Aguiar
Também li o artigo de António Barreto, que, no parágrafo que "me é dedicado", faz uma constatação: "Se não houvesse a Europa e se ainda houvesse Forças Armadas, já teríamos tido golpes de Estado".
Às vezes, António Barreto (de quem muito gosto e aprecio) tem destes arroubos nacionalistas, querendo dizer aquilo que não deseja nem para ele nem para o País. "Se não houvesse a Europa" ... não haveria Portugal, tal como o conhecemos. Portugal, sem a Europa, talvez à deriva no Atlântico em qualquer jangada de pedra, como no livro de Saramago...
"Se houvesse Forças Armadas..." Acontece que temos Forças Armadas. O que talvez não tenhamos são Forças Armadas capazes de qualquer cuartelada à boa maneira da velha tradição da latino-americana.
Neste "arroubo nacionalista", Barreto, sem se dar conta, traz à colação o velho sonho sebástico de muitos nacionalistas patrioteiros que não pensam noutra coisa, embora se revistam do chamado verniz democrático com que enfeitam a fachada!
Mas António Barreto não disse só isso. Diz, por exemplo, que o que mais o aflige é a justiça e passo a citá-lo:
"Pelos grandes grupos profissionais: o dos magistrados, dos procuradores e dos advogados, que são quem ordena e quem comanda a justiça, os operativos, os agentes (...) Agora até já há sindicatos, que são uma espécie de infantaria avançada de cada um destes grupos." E, mais adiante: "(...) Em Portugal há uma confusão profunda entre independência e autogestão. A independência dos juízes é aquela com que, no tribunal, diante das partes, julgam e ditam a sentença, e não pode haver a menor beliscadura a essa independência. No entanto, isso não quer dizer autogestão, que significa organizar as carreiras, os dinheiros, as comarcas, as promoções, fazer nomeações e avaliações. Ora isto está totalmente em autogestão(...)" Ai se o Palma e o Martins lessem este artigo e não estivessem entretidos com outras coisas...
Pois. Aparte uma ligeira confusão entre Nação e Estado (nada de relevante, de resto), do que eu gostava de saber era como, no momento político que atravessamos, com um Governo legitimado pelo voto e no princípio do seu mandato, pode surgir "alguém" ou um "grupo de alguéns" com pulso "firme" ou "forte" (tanto monta) para dar ao povo as tais amenidades de que este tanto carece, sem o recurso a situações de força. Alguém me pode explicar?
Caro António Transtagano
Mas alguém pode discordar do mau funcionamento da justiça? Mas alguém tem dúvidas sobre a importância da boa administração da justiça, por exemplo, de um tribunal? Mas haverá alguém ou alguma empresa que não tenha razões de queixa? Se existe que levante a mão!
Estou em crer que muitos operadores da justiça, designadamente os juízes, não andam satisfeitos com o nível de descredibilização do sistema de justiça e gostariam de ter condições para realizarem o seu trabalho com normalidade e celeridade.
Sobre este tema, sugiro, Caro António Transtagano, a leitura da entrevista de Freitas do Amaral ao Diário de Notícias (em http://dn.sapo.pt/inicio/portugal/interior.aspx?content_id=1433727 ).
Sobre a sua última pergunta, não creio que tenhamos um problema de falta de “pulso firme”. Temos um problema de falta de entendimento alargado sobre o que queremos para o País e como é que podemos e devemos lá chegar. Tem-nos faltado, deste ponto de vista, estabilidade e previsibilidade. Refiro-me a grandes linhas de actuação e não a medidas de carácter conjuntural ou de conveniência política. Refiro-me a temas, como por exemplo, modelo de desenvolvimento económico, papel do Estado, justiça, educação e saúde.
Dra. Margarida Corrêa de Aguiar
Também li a entrevista de Diogo Freitas do Amaral ao DN de hoje. Mas a diferença que eu não faço entre Barreto e Freitas! Barreto não se quer impor absolutamente a ninguém. Não pretende prebendas nem marca territórios. Não gere silêncios nem os interrompe. Está sempre onde esteve, isto é, consigo próprio; nem ambiciona outra coisa que não seja ser aquilo que é: um sociólogo, aliás brilhante e perpicaz e, por via das suas acertadas análises, ser útil à sociedade portuguesa.
Freitas, distinto jurista e eminente professor de Direito, fala ao País. Faz "proclamações". É um político ambicioso (que não é um defeito, acrescente-se) e de cada vez que aparece, não sei porquê, adivinho-lhe sempre uma certa "face oculta". Vejo, por de trás desta entrevista, um apalpar de terreno para uma putativa candidatura presidencial...
Vai dizendo que o actual Presidente tem governado bem mas... depois de um "match nulo", não sendo "bruxo nem adivinho (...) ainda falta quase uma ano e meio para as eleições presidenciais. Muita coisa pode acontecer, mas é um facto, provado pelas sondagens, que o Presidente sofreu uma quebra da popularidade maior do que é normal com o episódio" (infeliz, no seu entender, acerca da pretendida leviandade de Belém invocada pelo entrevistador). Em todo o caso vai dizendo que "se o Presidente tiver o azar de fazer mais três ou quatro coisas assim, naturalmente afectará as oportunidades de uma recandidatura".
Nem se dispensa de aconselhar o Presidente, naquilo que, em seu juízo, o Presidente devia fazer. Em suma: ainda lhe dá algumas chances! Como a de intervir sobre a crise da justiça mas "sem se deixar entalar pelos seus conselheiros juristas(...)".
E no que à justiça se refere, Freitas do Amaral fala do combate à corrupção e na violação do segredo de justiça sem aportar ao tema qualquer coisa que não tenha sido já ventilada: criminalização do enriquecimento útil, adopção do pacote Cravinho, etc. Ah! A criação de uma cadeira de educação cívica obrigatória para os alunos do ensino básico e secundário, com um capítulo dedicado à corrupção.
Barreto insurge-se contra o sindicalismo nas magistraturas e sobre este mais que momentoso problema, nem uma palavra de Freitas se leu... Do meu ponto de vista, esta é a diferença que faz toda a diferença entre Barreto e Freitas.
Dra.Margarida Corrêa de Aguiar: com todo o respeito que tenho por si, não fui eu que levantei a questão da "falta de pulso firme"...
Mas o que eu perguntava é como, estando o País no estado em que está, com um Governo legitimado pelas urnas e no início do seu mandato, como é possível, sem o recurso a soluções de força, aportar aos portugueses "as amenidades" a que têm direito?
Caro António Transtagano
Partilho de um modo geral dos retratos que fez - António Barreto e Diogo Freitas do Amaral - e das diferenças que apontou. O calculismo e o oportunismo são traços que os distinguem muitíssimo. Sobre António Barreto já manifestei o interesse que as suas intervenções me despertam.
Bem sei que a necessidade de um "pulso forte" foi levantada pela nossa Cara Catarina, mas como o Caro António Transtagano voltou a pegar no assunto, achei por bem dar uma achega, sem qualquer pretensão, naturalmente, de o esgotar, até porque nestas coisas não há respostas categóricas...
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