1. É tema a que aqui temos dedicado atenção, com frequência: a viragem fundamental no comportamento da economia portuguesa, que estamos a testemunhar, traduzida na anulação do défice da Balança de Bens+Serviços com o exterior, depois de anos a fio - a partir de 1996 com especial intensidade - termos acumulado défices crónicos e elevadíssimos, que nos conduziram ao estado de sobre-endividamento que constitui a grande restrição da política económica actual...
2. No seu Boletim Económico do Verão, ontem editado, o BdeP confirma a expectativa de um excedente de 0,4% do PIB (subindo para 2,5% do PIB em 2013), no corrente ano, para o saldo conjunto das Balanças de Bens e de Serviços...e avançando mesmo a previsão de um excedente para a Balança Corrente+Capital, em 2013, de 0,8% do PIB.
3. Curiosamente, no seu Boletim do Inverno o BdeP já tinha previsto um excedente nas Balança de Bens e Serviços em 2012 (de 0,3% do PIB), mas no Boletim da Primavera deste ano tinha corrigido essa previsão para um défice de -1% do PIB...o que dá nota de alguma oscilação nesta previsão, sendo a previsão actual certamente ditada pelo andamento muito favorável das exportações (de bens e de serviços) e pela queda acentuada das exportações (de bens, sobretudo) que se registou até Maio do corrente ano.
4. Trata-se da mudança mais radical do comportamento da economia portuguesa, nos últimos 20 anos, e uma condição sine qua non da normalização das condições de financiamento da economia – tanto das empresas como do Estado...
5. ...financiamento que, como bem sabemos, se encontra ainda numa fase de quarentena depois de termos sido obrigados, como resultado de uma política económica verdadeiramente DELIRANTE, a recorrer a uma operação de resgate financeiro com credores internacionais.
6. Os grandes protagonistas desta mudança são as empresas privadas – empresários e trabalhadores - sobretudo aquelas que se encontram voltadas para a exportação de bens e de serviços, as quais, face à inevitável contracção da actividade económica interna - consumo e investimento – na sequência do imperioso programa de austeridade, não hesitaram um segundo e lançaram-se por esse Mundo fora, em busca de novas oportunidades de negócio...
7. ...e conseguindo, em pouco tempo, operar uma reviravolta que há pouco mais de um ano parecia quase impossível!
8. Paradoxalmente, o mesmo sector privado que os sectores mais retrógrados da sociedade portuguesa pretendem agora castigar - supostamente com um agravamento da carga fiscal - em nome de um nebuloso e imoral princípio de igualdade constitucional, para proteger os funcionários públicos (muitos deles vítimas do desemprego, como sabemos, na sequência da falência de muitos serviços públicos...) da suspensão do pagamento de subsídios...
9. Portugal é hoje um País perfeitamente “virado do avesso” no pior sentido: aqueles que, arrostando contra todas as dificuldades, em condições extremamente adversas, puseram mãos à obra, contribuindo decisivamente com o seu esforço e engenho para tirar o País do “buraco” em que foi metido por uma política económica quase INSANA, deverão agora, para satisfação de mentes constitucionais, suportar acrescidos encargos em benefício de um Estado gastador e perdulário, que arrastou o País para uma situação de quase insolvência...
10. Que País estranho, este!
34 comentários:
Caro Dr. Tavares Moreira, não entendi, da leitura do ponto 8 deste post, o sentido que atribui a "paradoxalmente".
Paradoxalmente, porquê?
A não ser que esteja a referir-se ao paradoxo de o governo estar a agravar cada dia mais, os cortes de salários, de subsídios, de pensões, etc. aos funcionários públicos, ou seja, aos empregados do estado; e a manter as sobvenções, as multiplas reformas, os abonos e outras benesses a gestores, a ex-presidentes, a ex-deputados, a ex-trinta-por-uma-linha, a continuar a subsidiar fundações, institutos e outras instituições de brincar...
de resto, caro Amigo, se não forem estas as razões; não entendo o sentido de "paradoxalmente".
Caro Bartolomeu,
Admito que tenha razão (mais uma vez, de resto), o "paradoxalmente" não será o melhor étimo para exprimir a ideia subjacente: talvez "absurdamente" traduza mais fielmente a ideia que se pretende transmitir. Que acha?
“9. Portugal é hoje um País perfeitamente “virado do avesso” no pior sentido: aqueles que, arrostando contra todas as dificuldades, em condições extremamente adversas, puseram mãos à obra, contribuindo decisivamente com o seu esforço e engenho para tirar o País do “buraco” em que foi metido por uma política económica quase INSANA, deverão agora, para satisfação de mentes constitucionais, suportar acrescidos encargos em benefício de um Estado gastador e perdulário, que arrastou o País para uma situação de quase insolvência...
10. Que País estranho, este!”
E o que é que os funcionários públicos (professores, médicos, arquitectos, enfermeiros, calceteiros, administrativos etc.) têm a ver com isso? Não serão eles, também, vítimas das inteligências pardas que têm governado, desde sempre, este país!?
Será justo pôr o ónus da crise nos ombros de tanta gente que concorreu para os quadros do estado de forma legal e transparente, cumprindo as regras vigentes!?
O discurso imaginativo e ao mesmo tempo viperino que apareceu do nada para justificar que os f.p. deviam ser os únicos espoliados dos subsídios, não tem qualquer sustentação, pois se o governo soubesse fazer as reformas que se impõem, talvez fosse suficiente para minimizar o problema.
Afinal o que é que o governo já fez de positivo para além de gerir a crise!?
;)))
Caro Dr. Tavares Moreira,
Apesar de absurdo também poder significar paradoxo, eu, prefiro o primeiro.
É que... apesar de adjectivo, pode ser conjugado em qualquer tempo e em qualquer pessoa, como se de um verbo se tratasse.
Caro Bartolomeu,
Tem a minha concordância, de forma absurda ou absurdamente parece casar melhor com a temática do ponto em questão.
Para que não subsistam dúvidas, quero dizer-lhe que tb fiquei privado dos subsídios em questão, enquanto pensionista.
Não, não, não... peço desculpa caro Dr. Tavares Moreira; dúvidas não subsistem, por um motivo essêncial, que é; não ter particularizado no meu comentário, as situações que referenciei.
Mas certamente concordará o meu estimado Amigo, que o absurdo não reside nos subsídios que auferia pelos cargos de administração que ocupou, assim como dos cargos políticos mas, essencialmente num ponto, que é: estarem os funcionários públicos e os pensionistas na primeira linha dos pagadores de uma crise de que o governo, a justiça e a sociedade em geral conhecem os responsáveis, conhecem os beneficiários e não decidem outra solução que não seja "ir ao bolso" daqueles que não tem forma de exigir justiça, nem de travar as injustiças de que são vítimas.
Caro Bartolomeu,
A pensão que aufiro pelos cargos políticos que ocupei (poucos, por sinal) é incompressível, uma vez que o seu valor é igual a zero...
Quanto ao facto de se conhecerem os responsáveis, como bem diz, o que é que isso adianta, pode esclarecer-me?
Alguém lhes pede responsabilidades para além de os apelidar de responsáveis?
Já reparou que em Portugal, para além da atribuição do epíteto "responsáveis", aqueles que praticaram as maiores atrocidades no campo da política económica, deixando-nos entregues a esta vil tristeza em que nosa encontramos, não só não assumem qulquer passivo pelo que fizeram e ainda se dão ao luxo de dar lições em N palcos que os media generosamente lhes proporcionam?
Acha que adianta alguma coisa esse queixume?
Nem tampouco tem impacto no défice orçamental...
Não é preciso ser economista para saber que o ainda hipotético saldo positivo da Balança de Bens e Serviços, em cenário de quebra do investimento e do consumo e de recessão, pode ter uma leitura diferente da que está a servir para que o governo o apresente como bandeira de sucesso da sua política, esquecendo todos os indicadores negativos.
Caro Tavares Moreira,
Há o esforço dos empresários que exportam e há o dos que não exportam, assim como há o de milhares de profissionais do sector público que muito contribuem para a saúde, para a educação, pra os transportes, para muitos sectores da economia de que dependem igualmente as condições para os empresários trabalharem em condições.Confesso que tenho a maior dificuldade em "dividir" sectores, como se uns pudessem funcionar sem o contributo dos outros.
Caros, sobre funcionários públicos vs. privados,
Não é aquilo que os funcionários públicos fazem que justifica o seu salário. Como não é o de qualquer funcionário privado. Eu posso amanhã investir o DOBRO na educação, basta para isso passar para METADE o ordenado dos professores. Aquilo que fazem em nada justifica aquilo que recebem, pelo contrário.
sobre a divisão dos sectores, o que faliu foi o estado português. Não foi Portuga. Este pelas contas feitas pela BoP está de grande saúde financeira e económica. Porque é que há uma divisão de sectores? Porque há um que faliu e outro não...
sobre a culpa dos funcionários públicos, tem a mesma que todos os contabilistas de todas as empresas que faliram e hoje estão no desemprego. O facto de não estarem no desemprego depois da sua "empresa" ter falido, deveria dar aos funcionários públicos um enorme sentimento de gratidão para com os accionistas da empresa - os demais portugueses- por estarem a consumir do seu próprio capital para aguentarem uma "empresa" cujo valor é cada vez menor. A começar por uns semi-analfabetos a quem deram o poder de decidir acima do voto dos cidadãos usando os seus próprios critérios valorimétricos para decidir sobre "equidade". Vá lá que não "aumentaram" os impostos de 1/2 para 1/3....
Caro Edgar Carneiro,
Qual é então a leitura que faz do reequilíbrioda balança de bens e serviços - a compreensão da qual, usando as suas próprias palavras nem requer ser economista?
É capaz de nos proporcionar essa interpretação?
De resto, comop terá reparado, neste Post não existe uma única referência ao Governo - apenas ao BdeP que confirma esta viragem e aos empresários e trabalhadores dos sectores transaccionáveis, os grandes responsáveis por esta mudança...
Já reparei que existe uma certa fixação de meter o Governo em tudo...deixe lá o Governo entregue às suas fadigas!
Cara Suzana,
Se alguém se entregou a essa piedosa tarefa de dividir sectores, que compreendo a incomode, foi certamente a iluminada mente dos constitucionalistas, quando manifestam o entendimento - julgando sobre assunto em que são directamente interessados como ainda ontem à noite o polémico Bastonário dos Advogados denunciou no seu estilo tremendista - que os imensos desperdícios de recursos que o sector público administrativo nos tem vindo a impor, com graves consequências ao nível dos desequilíbrios da economia e custos muito elevados para a generalidade dos cidadãos, devem continuar a ser suportados por quem já pagou em excesso para os suportar...
A pretexto de um princípio de igualdade que, em boa verdade, vale por uma tremenda falácia...não é possível equiparar o que tem sido a imensa vaga de custos que se tem abatido sobre o sector privado da economia, exposto à concorrência - a vaga de despedimentos, a emigração em larga escala, as falências e insolvências que se vão multiplicando por esse País fora, os atrasos no pagamento de salários, etc,etc - à segurança e tranquilidade dos empregos públicos...
Invocar a igualdade, neste contexto, parece-me uma "brincadeira" de muito mau gosto, confesso-lhe...
Caro Dr. Tavares Moreira,
Não tem impacto no défice orçamental... mas poderia ter, deveria ter, se o governo e os tribunais se empenhassem em repor a justiça.
Mas não. Soubemos recentemente do Acordão do TC que declara a inconstitucionalidade do corte dos subsídios de férias e de Natal dos trabalhadores da Administração Pública e verificamos com espanto que apesar disso, não só tudo se manterá igual, como serão agravados alguns impostos, para "compensar" o prejuízo que representará para as contas públicas, a retoma do pagamento dos mesmos.
Ora caro Dr TM, que poderão esperar os cidadãos portugueses empregados do estado, ou não, de um governo que se não os sodomiza de uma forma, sodomiza de outra?!
1.Chocam-me, profundamente, os comentários aqui espelhados dos caros Tavares Moreira e Tonibler, pela forma redundante como analisam esta questão, como se os f.p. não fossem,também , trabalhadores por conta de outrem, como se todos auferissem pelo índice de director-geral, com carro e gasolina paga sem limite, também aos fim de semana, pois claro, para passear a famelga e o cão. Não meus amigos. Há imensa gente na f.p. que aufere o ordenado mínimo e trabalha a sério: limpam-nos o rabo e dão-nos a comida na boca, quando sofremos a desgraça;
2.Sabemos que a despesa do estado é excessiva, mas será empobrecendo os que lá trabalham, ou não pagando condignamente se resolve a situação? Não me parece. 3. A solução é reformar e/ou racionalizar tanto quanto possível, mesmo que seja necessário despedir;
4.O problema, como sempre, está na inoperância dos governos que não são capazes de resolver com seriedade estas questões. Mas nós sabemos bem porquê...
Caro jotaC,
continua a ver coisas sob uma perspectiva que nada tem a ver com o problema. A sua cozinheira também trabalha muito mas só pode ganhar aquilo que o meu caro pode pagar. Não tem cozinheira? Porquê? Acha que as senhoras não fazem um trabalho válido?
O estado é a cozinha do país. Se pode pagar uma cozinheira, bom para si. Senão vai ter que ir cozinhar. E o poder pagar a cozinheira não tem nada a ver se os cozinhados dela são maravilhosos ou não.
Agora, uma coisa é certa e não há como andar a esconder: a cozinheira NÃO está na mesma posição que o jotaC. Há quem trabalhe para pagar o trabalho da cozinheira e quem receba. O jotaC ganha para pagar a cozinheira e por isso NÃO SÃO iguais no problema só porque ambos trabalham.
Quanto ao despedir, voltemos à cozinha. Eu percebo alguma coisa de cozinha? Eu não faço a menor ideia porque é que o prato vem uma porcaria. Sei que vem caro e a saber mal. Mandei uns políticos à cozinha para ajustar o dinheiro que eu gasto à porcaria de prato que me é servido. O resto é problema para se resolver na cozinha, não sou eu que vou resolver isso, nem vou contratar outros que saibam. O dinheiro que há é este, a cozinha que se arranje.
Os governos "não operam nada". Não é para isso que existem. Para isso estão lá 700 mil especialistas lá nas coisas que fazem, desde contratos de mísseis a limpar rabos. Essa ideia republicana de que eu ando aqui para me responsabilizar por aquilo que se faz na cozinha não me impingem. Eu mando para lá políticos para MANDAREM o estado fazer, se o estado não faz, não quero que operem porra nenhuma. Quero que fechem. Se há uma operação do estado que não serve para aquilo que pago, não quero que o político dê uns toques naquilo, quero que feche.
Desculpe lá, mas essa ideia soarista de que o estado somos todos nós para que os soaristas de vida fiquem cada vez mais gordos e o resto do país cada vez mais pobre, é coisa que não me impingem e, principalmente, é coisa que não pago.
Caro jotaC,
Vítimas dessas inteligências pardas somos nós todos, nisso tem razão...e eu então fui incluído nesse rol de vítimas pela medida maior que é possível imaginar...
A verdade porém é que a infeliz realidade da situação em que nos encontramos não pode ser superada apenas com lamentações, exige medidas que desagradam, compreensivelmente, a muita gente...
Também é verdade que estamos a testemunhar muitos casos de pagamento do "justo pelo pecador", alguns bem infelizes episódios, mas, como bem sabe, essa é uma triste sina da história da humanidade...
E ainda não é desta vez que nos vamos livrar dessa sina.
Caro Tonibler,
Acho interessante a sua visão, sei com certeza que é um cidadão exemplar e cumpridor, agora não consigo sequer imaginar o "sofrimento" por que passa cada vez que vai a uma repartição de finanças...
Pois eu também me sinto muito bem com a forma como analiso estas questões, mas quando tudo confluir no modo como o meu amigo vê as coisas, lá estarei também... :)
Caro jotaC,
eu e as repartições de finanças somos almas gémeas. Eu sofro, mas eles sofrem comigo...:) Aliás, já experimentou usar a frase "como é que eu sei que não é você que me está a enganar para me levar mais dinheiro???" Além do pânico que lança sobre os funcionários da repartição, gera uma bela onda de solidariedade entre os demais contribuintes :D
:)))
Caro Tonibler,
O cenário que descreve - de um Estado falido, realmente falido, sem que qq dos seus assalariados tenha, por esse facto tão comezinho, caído no desemprego - deveria ter sido decisivo na avaliação do Tribunal Constitucional.
Mas, como disse ontem o truculento Bastonário dos Advogados, o que estava em causa nessa avaliação era o encanto do "pilim", dos "sestércios"...e o Tribunal não resistiu a tal encanto!
Caro Dr Tavares Moreira
O que quero dizer é que este reequilíbrio pode ser temporário, não sustentado e pode não representar o sucesso que lhe está a ser atribuído.
Como salientou, o reequilíbrio corresponde a uma expectativa para este ano e a uma previsão para o ano.
Só falei no Governo por ter considerado que na discussão do "Estado da Nação", perante um cenário de maus resultados e de agravamento da situação, este indicador tenha sido utilizado para comprovar que "estamos no bom caminho" como parece agora ser moda afirmar.
Caro Edgar Carneiro,
A dúvida que manifesta - e está no seu pleno direito de duvidar - em relação à sustentação desta viragem no comportamento da economia pode ser manifestada em relação ao comportamento de qualquer variável (macro)económica, em qualquer momento: pela sua natureza o comportamento destas variáveis é mutável, nunca se podendo dar por assegurada uma determinada previsão da sua evolução.
Mas o que é importante, extraordinariamente importante mesmo, é que este reequilíbrio da economia portuguesa tenha acontecido ou esteja na iminência de acontecer pela elementar razão de que sem a sua verificação (e manutenção futura, claro) nunca mais as condições de financiamento da economia portuguesa poderão voltar à normalidade.
E, sobre este ponto, devo confessar-lhe que tenho ouvido e lido as maiores barbaridades, proferidas/escritas com um à vontade desconcertante, como é o caso de pretender que a política económica dê prevalência ao crescimento em detrimento da austeridade...
É caso para perguntar: crescimento como, com que meios, se nos encontramos em quarentena financeira e dela não sairemos enquanto não corrigirmos os desequilíbrios fundamentais da economia (incluindo o das contas públicas)?
Quanto à utilização desta realidade por apoiantes ou membros do Governo para fins políticos, lamento, caso o tenham feito sem terem sabido reconhecer os verdadeiros protagonistas desta mudança: as empresas, os empresários e seus trabalhadores.
E, sublinhe-se, as empresas expostas à concorrência,produtoras de bens e de serviços transaccionáveis, não as que vivem de rendas certas e seguras, em mercados altamente regulados, tranquilamente protegidas da concorrência.
Caro Dr Tavares Moreira,
Como é óbvio, não partilho das suas opiniões e embora reconheça que o reequilíbrio é importante não me parece que possa ser feito com esta austeridade e em recessão.
A ONU já alertou para os perigos evidentes desta austeridade que corta serviços públicos essenciais e ataca fortemente os rendimentos do trabalho.
Na minha modesta opinião, não estamos perante uma qualquer política de reequilíbrio orçamental, ou de recuperação da economia, mas, pelo contrário, de uma estratégia de concentração de capital e de redução de salários para compensar a queda da taxas de lucro.
No nosso caso, o aumento do défice (sem as operações extraordinárias)e o agravamento da dívida e respectivo serviço (cerca de 9.000 milhões, se não estou em erro) parecem demonstrar claramente que os objectivos principais são outros.
E, se me permite, mais uma opinião: estou plenamente convencido que, quando os objectivos deste plano estratégico forem cumpridos, Portugal, tal como a Grécia, Irlanda, Chipre etc, vão sair do euro, de uma forma ou de outra.
Caro Tavares Moreira
Sobre o acordão do TC apenas os seguintes apontamentos: o TC optou por uma interpretação formal do texto, é uma versão que, ou muito me engano, agrada à maioria da população (é curioso que não existem inquéritos sobre sentenças constitucionais, porque será?);
o que me leva ao problema de fundo:atrás da argumentação formal escamoteia a responsabilidade material, tratando-a (a responsabilidade) de modo desigual.Em Portugal o ónus (conceito jurídico com o qual convivemos mal) deve ser sempre público e neutro para melhor ilidir a responsabilidade individual.
Na verdade o financiamento do estado é realizado numa larga proporção pelo setor privado por isso, a igualdade deveria ser medida pelo contributo líquido para o financiamento e não pela equiparação formal dos instrumentos jurídicos utilizados.
Entregando a um coletivo a responsabilidade de julgar, o mínimo que se deve ter é respeito pelo seu trabalho; nesse sentido, tenho dificuldade em assacar as responsabilidade ao TC, dado que, este, não sentenciou no vazio mas com base num texto e numa determinada concepção social que, provavelmente, é partilhada pela grande maioria da população.
O que me leva à terceira e última questão: estamos, enquanto nação e país, sintonizados com as novas circunstâncias ?
Porque é a resposta a esta pergunta que poderemos avaliar se, os sacríficios, "valem" a pena.
Cumprimentos
joão
Caro Edgar Carneiro,
Está perfeitamente à vontade para não partilhar das minhas opiniões, como é óbvio.
Simplesmente, para conseguir recuperar o equilíbrio das contas com o exterior e travar a espiral de endividamento, eu não conheço outra forma senão a de uma forte contracção da despesa interna (de consumo, sobretudo) e de uma simultânea reorientação dos recursos para a produção de bens transaccionáveis, permitindo uma expansão das exportações de bens e de serviços como de resto está a acontecer.
E, insisto, se não travarmos o endividamento ao exterior - e repare que estamos cada vez mais dependentes do "ventilador" do BCE - nunca mais a economia portuguesa poderá voltar a ter crescimento - nunca mais.
Se o ilustre Comentador conhece uma outra solução que com menos custos produza idêntico resultado, agradeço que a enuncie pois tal seria de extrema utilidade para todos nós que trabalhamos neste Blog (felizmente o Blog não nos cortou os subsídios de 13º e 14º meses, uma vez que são apenas virtuais...).
Caro João Jardine,
Certamente que a decisão do TC agrada a muitas centenas de milhares de pessoas no imediato, a começar pelos próprios autores do veredicto em causa e seus estimadíssimos familiares, nisso estamos de acordo...
Agora saber se assenta em fundações de justiça e equidade, que nesta matéria deveriam ser o grande referencial para um pronunciamento deste tipo, é que claramente me parece que não...Bem pelo contrário, em minha opinião claro.
Caro Tavares Moreira
A decisão do TC quer se queira, quer não é o espelho do país e, o país, revê-se no mesmo.
Repare, em nenhum momento se alude a esforço, sempre a sacríficio; nem se equaciona a questão em termos da origem material dos direitos, apenas se comparam direitos formalmente consagrados.
Na essência, é esta diferença de perspetiva que diferencia de uma parte importante dos que se encontram a noroeste dos Pirinéus.
É por isso ( e mais algumas coisas) que, numa parte dos países do sul, fazer o melhor e fazer o que tem de ser feito são comportamentos equivalentes.
É um "mero" erro de paralaxe.....
Cumprimentos
joão
Caro Tavares Moreira
A decisão do TC quer se queira, quer não é o espelho do país e, o país, revê-se no mesmo.
Repare, em nenhum momento se alude a esforço, sempre a sacríficio; nem se equaciona a questão em termos da origem material dos direitos, apenas se comparam direitos formalmente consagrados.
Na essência, é esta diferença de perspetiva que diferencia de uma parte importante dos que se encontram a noroeste dos Pirinéus.
É por isso ( e mais algumas coisas) que, numa parte dos países do sul, fazer o melhor e fazer o que tem de ser feito são comportamentos equivalentes.
É um "mero" erro de paralaxe.....
Cumprimentos
joão
Caro Dr. Tavares Moreira,
A realidade é que nada disso está a acontecer, tirando o expectável futuro crescimento acentuado e sustentado das nossas exportações, cenário duvidoso no actual panorama de profunda crise europeia e internacional.
À semelhança de anos anteriores, nem com habitual recurso a receitas extraordinários se conseguiu controlar o défice; o serviço da dívida é já superior ao orçamento do SNS ou da Educação; a dívida continua a aumentar e, mesmo que seja possível retomar as taxas de crescimento do PIB dos anos anteriores à crise, não se vislumbra como poderá ser liquidada nas condições que estão negociadas; a forte redução do consumo e do investimento está a destruir a ritmo acelerado milhares de empresas e postos de trabalho e, por isso mesmo, não conheço qualquer reorientação de recursos para a produção de bens transacionáveis.
Acresce ainda que, ao contrário do exemplo, referido pelo Primeiro-Ministro (do amigo a quem se pede que nos empreste dinheiro porque tem acesso ao crédito) é o Estado que está a endividar-se para emprestar à banca, transformando dívida privada em dívida pública, com todas as implicações que daí resultam.
E, sobre esta situação que se repete e que pode vir a agravar-se muito mais com o famigerado Mecanismo Europeu de Estabilização Financeira que nos pode obrigar “automaticamente” e “de forma obrigatória” a injectar os montantes que nos exigirem em programas que não controlamos, há uma dúvida cada vez mais pertinente: será que não vai aparecer mais lixo tóxico, que não há ainda outras bolhas para rebentar, que não há mais BPNs escondidos?
Como já afirmei anteriormente, estou plenamente convencido que, de uma forma ou de outra, Portugal vai sair do euro. Poderá ser apenas pessimismo de septuagenário desiludido com a propaganda da “Europa Connosco”, da falsa inclusão no “Pelotão da Frente” e a sistemática destruição do espírito do 25 de Abril. Mas, se não for, negociar a saída antes de atingirmos o ponto de ruptura e não-retorno poderá ser a melhor alternativa a este lento agonizar.
Onde é que o ponto de não retorno já foi... Algures no verão de 1998, quando orgulhosamente assistimos à fixação definitiva do câmbio entre o escudo português e o ECU em 200,482. Esse foi o ponto de não retorno.
Tonibler, tem toda a razão quanto ao câmbio que em grande parte é responsável pela situação actual.
O ponto de não retorno a que me refiro é o que acontecerá quando nos deixarem cair, sugado que estiver o que ainda nos resta, por considerarem mais vantajoso para eles.
Só por ingenuidade é que se pode pensar que os mesmos "mercados" (são efectivamente os mesmos) que especulam com as dívidas soberanas, sem qualquer limite ético ou moral, possam estar preocupados com os problemas causados aos portugueses ou com a recuperação da nossa economia.
Estes violentos planos de austeridade, eufemisticamente chamados de ajustamentos, não são obviamente para ajudar os países em dificuldade e quem os impõe sabe isso muito bem.
Caro Edgar Carneiro,
O ilustre comentador será caaz de explicar a razão pela qual há países - e não são poucos - que mantêm as suas economias perfeitamente equilibradas dentro da zona Euro e continuam a registar crescimento embora modesto por esta altura?
Será uma maldição portuguesa esta de não conseguir viver com estabilidade financeira e cambial?
Anotei, entretanto, que não nos quis fornecer uma solução alternativa da que se encontra em execução, com as suas virtudes e defeitos, para resolver o endémico desequilíbrio da economia portuguesa...
Está no seu direito de não o fazer mas, como compreenderá, essa falta de alternativa enfraquece, irremediavelmente, todo o seu argumentário, lamento constatar...
Caro Tonibler,
Se me permite gostaria de acrescentar que esse foi o ponto de não retorno mas também do lançamento, em ambiente muito festivo, de todos os delírios em matéria de política económica...e da aceleração da decadência sem que (quase) ninguém tivesse percebido!
Até houve, como bem sabe, quem, com voz autorizadíssima, nos viess lembrar que essa coisa da preocupação com o endividamento ao exterior era uma fantasia e uma manifestação de ignorância, uma vez que tínhamos ganho um estatuto idêntico ao do Mississipi...
Caro Dr. Tavares Moreira,
Poderia responder-lhe citando José Régio – não sei por onde vou, não sei para onde vou, sei que não vou por aí – sem que perdessem validade os meus argumentos contra este colete-de-forças que nos estão a impor, até porque é a posição que merece consenso social cada vez mais alargado.
E não vou por aí porque a receita que está a ser aplicada é semelhante à das últimas décadas, em dose redobrada, com os mesmos argumentos de que é indispensável para recuperar o emprego e aumentar a produtividade e a competitividade, criando condições para que as nossas exportações sejam o motor da economia, da recuperação e do crescimento económico.
Anos e anos a ouvir os mesmos argumentos, com maior ou menor sofisticação, com mais ou menos eufemismos, à medida que se vai sobrepondo a demagogia à democracia.
Foi assim que se desencadeou a febre das privatizações a qualquer preço e se retiraram direitos e salários, agravando as injustiças e as desigualdades, atirando para a pobreza mais de 20% dos portugueses e para o desemprego mais de 1 milhão de trabalhadores, ao mesmo tempo que se destruíam milhares de empresas comerciais e industriais e sectores como a agricultura ou as pescas.
Como calcula, as alternativas que proponho vão no sentido inverso; recuperar empresas estratégicas que permitam ao Estado controlar as alavancas do desenvolvimento económico que o sector privado já demonstrou exaustivamente não ser capaz de fomentar; desenvolver o mercado interno e apoiar as micro, pequenas e médias empresas, base de sustentação de crescimento equilibrado e de criação de emprego; restituir aos trabalhadores os direitos que lhes foram retirados à revelia da Constituição da República.
Certamente que temos propostas muito diferentes e até antagónicas e dir-me-á que as minhas são irrealizáveis até por não haver dinheiro. Recordo-lhe que enquanto se diz que não há dinheiro para apoiar a economia, a Banca opta por reforçar os depósitos no BCE em contradição com o argumento de corte ao crédito por falta de liquidez.
E, a propósito de crédito e de dívidas das famílias e dos países, permita-me uma comparação com a situação dos seringueiros da selva amazónica, de que nos fala Ferreira de Castro, permanentemente endividados como meio de os obrigar à submissão.
Caro Edgar Carneiro,
Sem prejuízo do muito respeito que me merecem as suas opiniões, continuo a aguardar que nos esclareça quanto às medidas de política que, em alternativa ao modelo actual, serão susceptíveis de repor o equilíbrio da economia portuguesa, normalizando as condições do seu financiamento, sem ser necessário recorrer à contracção da procura interna.
A citação de José Régio, grande escritor de quem sou quase conterrâneo e que conheci pessoalmente nos já longínquos anos do Liceu Nacional da Póvoa de Varzim - Régio era grande amigo do meu professor de Filosofia, Orlando Taipa, de quem conservo a memória de uma pessoa de excepcional honestidade intelectual - pode impressionar como figura de retórica mas, na verdade, não acerscenta nada à clarificação deste tema.
E permita-me dizer-lhe, com o devido respeito, que comparar a situação de dívida dos seringueiros da Amazónia ao actual estado de sobreendividamento de alguns países da zona Euro resultante de políticas económicas absolutamente disparatadas, é, no mínimo, de muito mau gosto...
Caro Dr Tavares Moreira,
Estamos ideologicamente tão separados que a continuação desta agradável conversa não conduz a nada.
A minha interpretação da criação e repentina agudização do problema das chamadas dívidas soberanas e da crise europeia é também muito diferente.
Há uns anos Kissinger afirmou que “ a globalização é realmente um outro nome para o papel dominante dos Estados Unidos”. Se fosse eu a dizê-lo seria provavelmente acusado de antiamericano.
Quanto ao resto:
A Alemanha insiste em impor um resgate à Espanha e à Itália.
Já há demasiada gente a falar na saída da Grécia a curto prazo e de Portugal logo a seguir.
A situação económica está a degradar-se de tal modo que são mais do que evidentes as rupturas dentro do próprio governo e entre os signatários do memorando.
O défice não é controlado mesmo com receitas extraordinárias, a dívida continua a aumentar, o desemprego e as falências atingem números assustadores.
Perante tudo isto, quem acredita na possibilidade de se cumprir o acordo e regressar aos mercados.
Os rumores que certamente também lhe chegam, indicam que em Agosto a troika poderá “conceder” mais tempo. A que preço? Vai resolver alguma coisa?
Estou plenamente convencido que, por iniciativa própria, alheia ou pela força dos acontecimentos, Portugal vai sair do euro.
Nestas condições, a alternativa que considero mais importante e que condicionará tudo o resto é negociar a saída, nas melhores condições, enquanto temos algum poder de negociação e antes que a situação se degrade irreversivelmente.
Que eu saiba, nenhum partido político defendeu até agora esta solução.
Vamos ver o que acontece.
Desejo-lhe, Dr. Tavares Moreira, umas boas férias
Cordiais cumprimentos
Caro Edgar Carneiro,
A separação ideológica que menciona é uma coisa, as receitas para a correcção dos desequilíbrios da economia portuguesa são outra...
Os problemas económicos actuais não se resolvem com receitas ideológicas mas com medidas que reponham o bom-senso na gestão dos recursos colectivos.
A história da nossa crise é uma história de COLOSSAL falta de senso na gestão de recursos públicos, anos a fio, que conduziu o País para uma situação insustenbtável de endividamento...
Ignorar essa realidade quando se analisam os caminhos possíveis para a saída desta crise - e, pior ainda, enchendo essa análise de cargas ideológicas - é o primeiro passo para nunca mais dela sairmos.
Agradeço seus amáveis votos de boas férias, que retribuo com o maior gosto.
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