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terça-feira, 17 de julho de 2012

"E o sumo sacerdote, rasgando as suas vestes, disse: para que necessitamos de mais testemunhas?" (Marcos 14:63)

Sou dos que entende que a Igreja Católica, a par de muitas outras instituições, perdeu influência na sociedade portuguesa. Perdeu demais. A Igreja como instituição desempenhou um papel relevante em períodos como o que vivemos, não só por afirmar valores morais em épocas dominadas pelas materialidades, mas também pela ação social de apoio aos mais desprotegidos e esquecidos.
Nunca me afligiram as posições políticas assumidas pela Igreja. Sempre as julguei um imperativo. Sobretudo quando claras e coerentes com a sua doutrina social.

Vem isto a propósito das afirmações do senhor bispo Januário Torgal Ferreira ontem na TVI 24, amplamente difundidas na imprensa de hoje. Diz o senhor bispo que "este governo é profundamente corrupto" e que não acredita "nestes tipos, em alguns destes tipos, porque são equívocos, lutam pelos seus interesses, porque têm o seu gangue".
Eu, que tantas vezes aqui me choquei com trivialidades não posso deixar de registar a minha indignação por palavras como estas. Por serem dirigidas contra este governo? Não, porque sempre me chocaram acusações gratuitas, fugidias, infundamentadas e por isso a roçar a cobardia porque dirigidas a todos sem particularizar pessoas ou situações. E choca-me também a linguagem usada, ainda que compreenda que a condição de bispo das forças armadas o aproxime da caserna.
Mas o senhor bispo não peca por incontinência verbal. Não. O senhor bispo, como muitos dos novos justiceiros que acumulam momentos de glória à custa de acusações tão bombásticas quanto gratuitas, peca porque não diz, em concreto, que razões tem para considerar este governo corrupto. E devia dizê-las face aos efeitos espalhadores da ventoinha, pois não creio que lhe tenha sido dito em confissão aquilo que lhe permite julgar como corrupto todo um governo.
Como também não diz quem em concreto são "os tipos" que pertencem ao "gangue" e era obrigação que o revelasse por amor a Deus e ao próximo.

Basta ler o que ao longo dos anos aqui escrevi para perceber que a indignação que manifesto não tem que ver com este governo. Quando os anteriores estavam em funções sempre me indignei e me insurgi contra a caça às bruxas, métodos inquisitoriais ou assassinatos de caráter tentados ou perpretados por gente que não exibia provas, lançava atoardas, injuriava, caluniava, cavalgando o politicamente correto, o ódio latente sobre algumas classes, aproveitando a sede de escândalo dos media.
Neste caso, como muitas vezes aconteceu ao longo da História da Igreja, o senhor bispo esqueceu os ensinamentos do Senhor: "não cometereis injustiça no juízo, nem na vara, nem no peso, nem na medida" (Levítico 19:35).  A Igreja não merece os danos que provocam este tipo de intervenções dos seus mais altos dignatários, porque ao contrário do que pode passar pela cabeça do senhor bispo não será a destilar ódios e a acusar desbragadamente que a Igreja recupera o prestígio que lhe vai faltando pela falta de denúncia de outros males e misérias, esses interiores, sobre os quais a voz dos bispos raramente se faz ouvir.


20 comentários:

Bartolomeu disse...

Isso da linguagem utilizada por membros do clero, dou de barato, caro Dr. José Mário. A partir da altura em que começaram a chegar ao conhecimento público, em crescendo, actos de pedófilia, praticados por homens da igreja... a linguagem que empregam é relegada para segundo, ou até mesmo para terceiro plano.
Contudo, a apocrisia que indigna o Sr. Bispo, é comum a um sem número de portugueses.
Também não concordo de forma alguma, com a generalização e a vulgarização impressa nas palavras do Sr. Bispo mas, também não consigo fazer, como o meu caro Amigo tão excelentemente faz, enquadra-las em citações dos evangelhos (trabalho cirúrgico de causídico).
;)
Mas pronto, considero no entanto, que da situação poderá ser retirado algo capaz de se lhe atribuir algum préstimo; o de ser mais uma vóz com peso a juntar a tantas outras, que reflectem (não da melhor forma) o descontentamento e o sentimento de indignação geral, para com esta governação.

jotaC disse...

Assim ditas da boca para fora, sem fundamentação, deixam-me a sensação de um certo tipo de aleivosias de café, impróprias de um bispo...

Anónimo disse...

Meu caro Bartolomeu, insatisfação, descontentamento, indignação, revolta, são tudo manifestações compreensíveis e legítimas. Que se esperavam, até, pois por mais brandos que sejam os costumes só um país de gente dormente é que não reagiria às provações a que está a ser sujeito. Isso é uma coisa. Outra coisa é a acusação feita pelo senhor bispo que a todos encharca de ignomínia, avolumando a suspeita de desonestidade geral especialmente injusta para quem ainda se dispõe a servir o país. Ainda. Pergunto-me até quando é que gente boa, séria e honesta se dispõe a participar na gestão da res publica sujeitando-se a tantos Torquemadas...

Anónimo disse...

Meu caro jotaC, impróprias de gente íntegra, bispo ou não bispo. Mas já que se pede aos políticos que se comportem com o acréscimo de responsabilidades que os cargos exigem, talvez faça sentido chamar a atenção do que se espera daquelas vestes que simbolizam tudo menos injustiça.

Massano Cardoso disse...

Estive tentado a escrevinhar sobre este "desabafo" do senhor bispo, mas contive-me, não fosse o diabo tecê-las, por isso mudo a agulha para o lado clínico, sempre é mais simpático e compreensível. A idade provoca em muitos alguma desinibição mental, por destruição, atrofiamento de determinadas estruturas do neocortex, talvez seja o caso somado à sua componente humana e religiosa.

Bartolomeu disse...

Não precisamos do exemplo espanhol, caro Dr. José Mário. Em Portugal, tivemos no tempo de Pombal, um outro padre, Malagrida de seu nome, que após o terramoto, teimou em convencer o povo, que a origem da desgraça ocorrida, se achava na promiscuidade dos costumes, enquanto o Marquêz evocava as causas naturais como explicação.
Lixou-se o padre, ardeu no Rossio a mando do Marquêz, que conseguiu implica-lo no atentado ao Rei D. José.
Imagine, caro Dr. José Mário, se nos entra pela porta, um fenómeno composto de "causas naturais", tão devastador como o de 1755...
Já faltou mais... já faltou mais.

Anónimo disse...

Rezo para que não aconteça uma coisa nem outra. Que não queimem o bispo - seria pouco católico - e que não sucumbamos aos sucessivos abalos telúricos :)

Bartolomeu disse...

Dou-lhe razão, caro Dr. José Mário.
Só se for com rezas; não vejo outra forma, de "a coisa ir ao sítio"...
;)

Pinho Cardão disse...

Caro Bartolomeu:
Diz que a voz do Bispo D. Januário tem o mérito " de ser mais uma vóz com peso a juntar a tantas outras, que reflectem (não da melhor forma) o descontentamento e o sentimento de indignação geral, para com esta governação".
Não, caro Bartolomeu, não reflecte. PROMOVE O DESCONTENTAMENTO!
Além do mais, o Bispo das Forças Armadas deveria lembrar-se de um dos Dez Mandamentos, que seguramente esqueceu: não levantarás falsos testemunhos.

Tonibler disse...

Ah, a ética republicana... Então acabou-se com a monarquia há tanto tempo e vem agora um governo qualquer tirar as dízimas devidas ao clero e à nobreza(e, pior, ao clero que acompanha a nobreza)???

Corja de corruptos, é que o são todos!! Qualquer dia tem que um bispo que andar a fazer compras nos supermercados e andar de transportes...

Bartolomeu disse...

Não, senhor Dr. Pinho Cardão, o meu estimado Amigo, não leu correctamente aquilo que escrevi.
Se quiser ter a bondade de reler, confirmará que não utilizei o termo "mérito", mas sim, préstimo.
Apesar de à primeira vista o significado de ambos os substantivos poder parecer significar o mesmo, existe entre eles uma diferença espiritual que as torna quase antagónicas.
Quanto à questão da promução do descontentamento, causado pelas opiniões do Senhor Bispo... imagino que se trate de uma brincadeira sua. Se não for o caso... então estará o meu caro Amigo a servir-se de um pleonasmo, com um fim que não sou capaz de imaginar qual possa ser.
Dizer-me que as palavras do Bispo, acirram as opiniões públicas e políticas, tornando-as mais descontentes, é o mesmo que dizer « o Bispo, usando uma força sobrenatural, conseguiu fazer com que chovesse no molhado».
Quanto aos dez mandamentos... é bem possível que o Sr. Bispo já não se encontre de posse da totalidade das suas faculdades; aliás, o nosso estimado Amigo, Professor Massano Cardoso, apresentou já, aqui, a explicação clínica para aquilo que entende por "desinibição mental". Para mim, essa desinibição, pode resultar em situações como a presente, numa maisvalia de valor inestimável, na medida em que torna a pessoa... o idoso, mais apto a ver a realidade, a reflectir sobre ela e a agir em conformidade com a sua consciência... para quem a possui, obviamente.
;))

(c) P.A.S. Pedro Almeida Sande disse...

Pinho Cardão

O tempo em que as pessoas não pensavam com a própria cabeça já lá vai.
O povo é sereno, mas não é burro nem influenciável (pelo menos na minha geração que não tirou as licenciaturas, mestrados ou doutoramentos em universidades privadas) com médias de 11...

(c) P.A.S. Pedro Almeida Sande disse...

...quando as tirou, digo eu, que isso de falar em emulação sem a exercer...é feio e pouco cristão!

Suzana Toscano disse...

Completamente de acordo, caro Zé Mário, e já se percebeu que certas formas de falar são lugar garantido nas capas dos jornais.

Massano Cardoso disse...

Sempre justificava o "sabe a bispo".,,

Massano Cardoso disse...

Fazia-lhes muito bem...

Anónimo disse...

Peço desculpa a Bartolomeu pela supressão do seu último comentário que se referia a outro que entretanto desapareceu.

Bartolomeu disse...

Compreendi a intenção caro Dr. José Mário.
;)

Margarida disse...

bom... ele pelo menos teve o mérito de dizer o que muita gente pensa dos politicos, sem papas na língua e isso não agrada à classe politica. Além de não ser politicamente correcto. Talvez fale em causa própria... a organização religiosa a que pertence, também não é perfeita e padece de muitos males dos humanos não religiosos.

alberico.lopes disse...

O bispo Torgal é um troglodita!Só envergonha a Igreja!E os militares!Estranho como as chefias militares não o expulsam do cargo que ocupa,lá essa de general ou capelão ou lá o que é, e lhe dá bom pecúlio ao fim do mês, a que acrescem as mordomias inerentes!Que,pelos vistos,não distribui nem pelos pobres nem dá à mãe-igreja!
Para mim um verdadeiro terrorista mal educadop,odiento,numa palavra,um grunho!