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terça-feira, 17 de julho de 2012

Os pinheiros estão a morrer!

Confrange-me ver o estado a que chegaram os nossos pinhais, doentes, moribundos, mortos, sem vigor, sem alegria, sem cor, sem as ramas frondosas de outros tempos, autênticos palitos espetados na terra como se tivessem sido acabados de utilizar por algum alarve monstruoso no final de uma refeição copiosa. Não fazem mal a ninguém, mas são vítimas de maus tratos e abusos, o fogo ou então larvas esfomeadas que se alimentam da sua seiva. Não se queixam, não sentem dor, sempre calados, apenas desejosos de que os deixem absorver os raios do sol, no fundo vivem no Nirvana. Há algo que os corrompe, a doença migra e destrói-os. São muitos? Sim, e vulgares, tão vulgares que poucos olham para eles com olhos de ver. Conhecemos alguns pessoalmente, com os quais estabelecemos laços de amizade, até porque crescemos com eles. Há dias olhei para os condenados e recordo-me de em tempo andarmos à disputa a ver quem crescia mais rapidamente, perdi, como é óbvio, mas agora perdi-os de outra forma, o que não me parece tão óbvio. Estão a ser corrompidos por outras formas de vida, sequiosas, tão sequiosas que nem dão conta de que estão a matar a sua fonte de alimentação. A corrupção é mais ou menos isso, crescer, conquistar, dominar, multiplicar sem respeito pelos direitos dos outros. E certos outros, neste caso os pinheiros, não sabem como defender-se e ali estão, altos, decadentes a servirem de pasto a formas minúsculas de vida. A vida alimenta-se da vida dos outros. Na sociedade as coisas não são muito diferentes, certos humanos comportam-se como verdadeiras larvas, sugando o máximo de seiva que consigam. A natureza é eminentemente corrupta, vive da corrupção, sempre que pode uma espécie qualquer liquida quem a alimenta, e tanto se lhe dá como não que a outra desapareça, mesmo que isso condicione o seu futuro. A consciência deste fenómeno fez despertar a necessidade de o contrariar, como se isso fosse possível, mas muitos continuam a acreditar e fazem todos os esforços nesse sentido, embora pessoalmente esteja convicto de que nunca iremos atingir esse fim, um fatalismo anunciado. A única coisa boa é a sensação poética de que poderíamos mudar a ordem do universo, mas é apenas uma sensação, a realidade é outra. Nós os vulgares, os equivalentes a belos e frondosos pinheiros, estamos a ser atacados por larvas terríveis que se alimentam todos os dias da nossa seiva, levando-nos à morte anunciada, lenta, mas certa, roubando-nos dignidade, tirando brilho aos nossos ramos, desfolhando-nos, até que um dia, quem sabe, alguma alma se lembre de matar as larvas contaminantes, matando primeiro os pinheiros.

7 comentários:

Bartolomeu disse...

O primeiro pinheiro a desaparecer, que me recorde, chamava-se Azevedo, era general e um dia quis ser presidente da república do país dos pinheiros, passou-lhe a perna um outro general, de seu nome Eanes, mas não pinheiro, apesar de alto e esguio.
Ao pinheiro, celebrizou-o a frase "é só fumaça".
E era; tal como hoje, tudo não passa de fumaça, A diferença está em que a fumaça de hoje causa cegueira... uma cegueira colectiva, uma cegueira que já Saramago tinha previsto, iria afectar a sociedade portuguesa.
Mas não são todas as espécies de pinheiro que estão a ser dizimados pela «lagarta processionária». Uma lagarta peluda que constitui uma ameaça não só para a espécie "Pinus" como também para a animal e ainda para a humana, podendo chegar a acausar a morte a quem nela tocar.
E esta lagarta tem a designação de processionária, precisamente devido ao facto de se deslocar em fila ininterrupta, como se de uma procissão se tratasse, uma procissão de lagartas, rumo à destruição.
Mas, não são todas as árvores pertencente à família das "Pinaceae", afectadas pela "processionária". Somente os pinheiros bravos se deixam corromper por esta espécie que se desloca em procissão, os mansos, resistem-lhe, ou então, ingénuamente, acreditam que sim.
Será que a lagarta processionária está a usar um método selectivo para levar a cabo, com êxito, a sua missão destructiva, enfraquecendo a espécie mansa, começando por dizimar a brava e no final, saciar-se com ela?!
;)))

Anónimo disse...

Duas pragas que ameaçam não só o pinhal português mas, porque desaparecem os pinheiros, a biodiversidade associada aos correspondentes sistemas naturais: os fogos florestais e o nemátodo. Há uns anos li que as universidades portuguesas tinham descoberto a solução para a doença. Nunca mais ouvi falar do assunto. O que é certo é que em muitas zonas a razia é bem visível. Mais um fator de empobrecimento do País.

Bartolomeu disse...

Os fogos postos, caro Dr. José Mário, que tinham até ontem a classificação de crime, passaram com a aprovação da lei, a ser um método para o reflorestamento, com eucalíptos. A nova lei, desobriga o proprietário da floresta ardida, a reflorestar com árvores da mesma espécie, mesmo que aquelas pertencessem a um grupo nobre e/ou protegido. A nova lei, permite ainda o plantio de eucaliptos em áreas inferiores a 5 hectares. Ou seja: em deterimento da protecção dos solos, das reservas freáticas e do ambiente, promove-se a produção massiva de uma espécie reconhecidamente nociva, com o fim único do negócio da pasta de papel.
Já no tempo de Salazar, contra o parecer dos agricultores, foi decretada a monocultura de cerais nos vastos e férteis solos alentejanos. Parece que erro identico se irá repetir, em prol, provávelmente do engrossamento do número estatístico de exportações...

Tavares Moreira disse...

Caro Massano Cardoso,

Não são apenas os pinheiros, são também os sobreiros, que atingidos por uma doença ou praga cujo tratameno ainda não foi divulgado,em certas regiões do País - Alto Alentejo, por exemplo -estão morrendo às muitas centenas, quiçà milhares...
E o MP ainda não se lembrou de abrir um inquérito para determinar a origem da praga...

Anónimo disse...

Caro Professor, em tempos, ainda ia vivendo a meias em Portugal, vivia numa zona com muitos pinheiros. À minha conta tinha 42. Foi isto no início da processionária ou nemátodo na região de que ainda cheguei a ver vários exemplares. Esses bicharocos preocupavam-me de duas maneiras, uma pelos meus pinheiros, outra pela minha cadela. Observei porém que no meu sítio não havia nem uma ao passo que vários pinheiros dos vizinhos iam começando a secar. Apenas havia uma diferença entre mim e o que eu fazia no meu sitio, na parte de trás, e os meus vizinhos: todos os anos ou a cada dois anos, algures a meio da Primavera, fazia uma queimada, controlada mas à séria (uma queimada à séria que dadas as temperaturas atingidas queimava tudo o que estava em cima e uma boa profundidade abaixo da terra). Posso estar errado mas sempre supus que seria essa a chave para não ter os incomodos bichitos no meu sitio. Agora... o caro professor falou também da corrupção. Qual será o equivalente civilizado humano para a corrupção?

Massano Cardoso disse...

O verbo corromper significa "tornar pútrido".
Uma espécie, em termos evolutivos, faz tudo ao seu alcance para sobreviver, nem que para isso tenha de eliminar outra, até mesmo a que a alimenta ou a suporta. Nós, humanos, somos uma só espécie, em termos biológicos, mas devido à aquisição da cultura e de tudo o que está relacionado com a mesma, demos origem a várias espécies culturais. De acordo com a definição de espécie só elementos da mesma é que podem reproduzir-se. Sendo assim, sob o ponto de vista cultural não somos capazes de acasalar uns com outros, sobretudo se pertencermos a espécies culturais diferentes. Há "espécies culturais humanas" capazes de tudo e mais qualquer coisa, são verdadeiras larvas equivalentes às dos nematódos que andam a fornicar os pinheiros. São formas de vida capazes de corromper outras formas de vida, culturais, as mais consentâneas com as aspirações humanas, mas, infelizmente, muito mais poderosas do que elas, bonitas, apetitosas e eticamente desejáveis, mas não passam disso, porque a brutalidade inerente à corrupção humana estará sempre presente, independentemente de todos os esforços e aspirações, mesmo que digam pertencer à maioria dos honestos, cumpridores e respeitadores de princípios. "Equivalente humano civilizado"? O homem civilizado está sempre condenado. Vai sobrevivendo, a custo, muito a custo, e na perfeita ilusão de que alguma vez consigará este desiderato. Pelo menos tenta. Mas não sai disso...

Cristian disse...

Eu acho que nós temos que salvar todas as espécies, de árvores para os animais, começaram a tratar a natureza com o respeito que merecem realmente para que você possa viver melhor com o nosso planeta que fizeram tanto dano, espero que aqui em Pinheirostomar alguma iniciativa para estas coisas.