Os Senhores Reitores das Universidades dizem que se recusam a apresentar orçamentos. Porque, em suma, os cortes determinam a asfixia das escolas. E os Senhores Reitores não querem sossobrar asfixiados lá dentro.
Mas o extenso argumentário é particularmente notável em duas das razões apresentadas: a que diz que "as universidades programam as suas actividades na base de orçamentos aprovados no ano anterior" e a outra que remete para a impossibilidade da investigação.
A primeira é a perfeita tradução do espírito subjacente a muito do funcionalismo público: fazer orçamentos com base na tradição dos anos findos e não com base em objectivos aprovados por quem de direito e, além do mais, dá o dinheiro.
Quanto à segunda, bem gostaria que os Senhores Reitores indicassem quantas patentes foram originadas por tal investigação, quantas delas se traduziram em inovação, quanta da inovação foi concretizada em produtos fabricados e comercializados. Ou, noutro âmbito, que estudos, que análises, que investigações concluíram algo diferente do óbvio e que, talvez há séculos, é matéria dominada?
Ou que explicassem o que vai para além dos estudos tipo cagarras ou golfinhos da sado, da análise da fraude e da economia paralela às centésimas, e daquelas brilhantíssimas e continuadas conclusões sociológicas de que o sujeito que faz ou não faz tem 30 anos, o décimo ano de escolaridade, cabelo preto e olho azul, veste roupa de marca italiana e calça chinelo da feira de carcavelos.
Ou que nos esclarecessem sobre a persistente formatação de doutorandos para bolsas de pós-doc, num insustentável trabalho precário, prejudicial, em primeiro lugar, para os próprios e sem vantagens para ninguém?
Caricatural? Claro que é. Mas não há como uma caricatura para acentuar os traços principais.
14 comentários:
Caro Pinho Cardão,
Penso que os reitores se referiram à investigação como fonte de receita de fundos europeus quando se 'pensou' que estariam limitadas as receitas.
Caro Pinho Cardão,
sendo tambem caricatural, não posso deixar de o esclarecer sobre o real e efectiva contributo pratico das Universidades, nos dias de hoje.
Sem elas, nunca seria possivel, chegar a isto:
"O Governo quer criar um conselho de sábios já em 2011 para analisar o Orçamento do Estado e acompanhar a sua execução."
Onde é que raio vamos arranjar os Sabios, para o Conselho, se não existirem as Universidades ???
Ás "novas oportunidades" será ?
Pelo menos no "Conselho de Sabios" podemos certamente ver a chancela de merito e reconhecimento das Universidades Portuguesas.
Caro Pinho Cardão
Não é um nem dois. São todos.
Tratar o assunto, grave, com a ligeireza, para não lhe chamar outra coisa, com que o Pinho Cardão o faz, chamando de BIRRAS às iniciativas dos reitores que lutam pela dignidade e qualidade das suas Universidades, perante um governo que tudo arrasa sem qualquer racionalidade ou inteligência, não será seguramente muito uma atitude de cariz social-democrata.
são na generalidade uma bela merda os funcionários públicos que às ´vezes até dão aulas
no rectângulo SOCIAL-FASCISTA HÁ CERCA DE 50.000 patentes de processo, 99% estrangeiras
nos EUA existem depositadas mais de 8 milhões
há China deve ter perto de UM MILHÃO de investigadores
Pedro
E que tal, atribuir a missão a um grupo de "trabalho" do circo de S. Bento?
Não têm tempo?
São incapazes?
Não têm chefe, ou é pelo cansaço de reformada?
Caríssimo António,
Esta é enésima vez que abordas o tema entre despesa e resultados da investigação que se faz em Portugal. Concordo inteiramente contigo.
Mas de quem é a culpa? Cada equipa joga o que sabe mas também o que a outra deixa jogar. Ora, neste caso, os investigadores que temos fazem o que sabem mas não há da parte do governo (deste e dos outros) a exigência da prova de resultados.
Por outro lado, em qualquer sociedade organizada e democrática, a crítica dos responsáveis pela direcção dos orgãos do Estado é legítima mas a desobediência a instruções de funcionamento não deveria ser consentida. Quem não estiver disposto a acatá-las deverá ter a dignidade de se demitir.
Que faz o governo? Substitui-se aos orgãos relapsos e mantem-nos em funções. Isto é, chuta para o lado, uma táctica acertada para não fazer golos.
Caro Pinho,
agora sem a parte "caricatural" (sim, comentador Bmonteiro, eu estava a ironizar.)
A titulo de exemplo, a minha irmã, fez investigação, como bolseira, no Instituto de Tecnologia Nuclear.
Como investigadora publicou vários "papers", até mais que os obrigatórios para continuar a usufruir da bolsa.
Participou e deu palestras em Congressos tanto nos Estados Unidos, como na Alemanha.
A "especialidade" dela é o estudo das propriedades radioactivas de vários elementos da tabela periódica, mais concretamente os Actinideos.
Fez o Doutoramento nesta área, investigando as características desses elementos radioactivos por forma a suportar e verificar o desempenho de algumas ligas ( plasmas de vidro) que são utilizadas para conter fugas radioactivas.
Ora, se pudemos achar tratar-se de algo muito especifico e pouco aplicável...relembrando que ainda esta semana a TEPCO no Japão, reconheceu descargas continuadas de agua contaminada no Oceano Pacifico, em Fukujima..de imediato percebemos a potencial utilidade e actualidade universal destas materias e invetigações aparentemente inuteis.
Entretanto terminou a bolsa (x11 meses)...podendo ainda candidatar-se mais uma vez. Mas com os PEC's a iniciarem-se e a crise a chegar, a incerteza... ela teve a possibilidade de ingressar nos quadros do Instituto onde estava a investigar.
O "cargo" era inferior as qualificações, com vencimento certa de 1100 euros (x14), e com contrato efectivo - vrs 1500 (x11) a prazo
Ela, com 37, decidiu "pelo seguro" aceitou, e passados 3 anos continua a investigar, nesta area, no mesmo local - recebe cerca de 1100 Euros, menos os todos os "cortes" que entretanto ocorreram na função publica.
Este é só um caso. Sendo uma particularidade permite perceber um bocdinho do "para que serve a investigação?"...e tb para perceber um bocadinho "a BIRRA dos Reitores".
Pode estar convicto que a lutas das Universidades será no mínimo não só mais do que justa...mas principalmente essencial para que se posso melhorar este pais, com qualificação, com rigor, com produtividade. Doutra forma será já demasiadamente impossível mudar alguma vez este pais.
Caro Rui:
Claro que os governos têm culpa e redobrada, pois vão concedendo verbas sem controle ou, muitas vezes, sem objectivo útil. Os Ministros responsáveis até ficam bem vistos, nos media, nas Universidades e nos Laboratórios do Estado ou Centros de Investigação. E fazem gala de que atribuíram mais umas centenas de milhões para investimento na ciência. Se lhes perguntarmos para quê, para que programas objectivos e sua utilidade, como eu já fiz, passam adiante e não respondem. Ou então repetem, para investimento na investigação. Que investimento? Continuam a não responder.
Mas nós pagamos a irresponsabilidade de uns e outros.
Caro Pedro:
Esse caso é um dos que me dá toda a razão. Quando se pagam inutilidades, não chega o dinheiro para o que é relevante. No fim, paga o justo pelo pecador. E deixe-me que lhe diga: todos estes programas de doutoramentos de valor normalizado (sem valor acrescentado) de que se está a usar e abusar só vão causar precariedade e insatisfação em quem os faz. Por norma, são pouco inclinados a trabalhar nas empresas, pelo que o Estado tende a ser o único empregador. Nessas condições miseráveis da sua irmã. Por mim, não concebo como é que um doutorado pode ganhar tão pouco como o que o Rui diz.
Mas é o sistema implantado. E, pelos vistos, é o que as pessoas gostam.
Caro pinho Cardão, nós somos assim, um dia comovemos-nos com a saída de pessoas qualificadas para outras palavras, lamentamos a perda do investimento e da riqueza que eles vão criar noutros países e, de vez em quando, contamos orgulhosos as cabeças dos cientistas portugueses que integram as melhores equipas fora de portas, ganham prémios e são reconhecidos. No outro dia consideramos que por cá não se faz nada que valha a pena, que é melhor desistir de tudo e passar a tratar as instituições todas como burocracia e desperdício, não há nada que mais nos custe do que semear e aguardar o fruto, não há nada mais tentador do que desqualificar quando nos compete reconhecer e apoiar o esforço e o mérito. Por estas e por outras é que os melhores se vão embora ou, se não podem fazê-lo, se acomodam e desistem.
..." Para outras paragens" e não "palavras", era o que eu queria dizer, esta mania de as máquinas se anteciparem à escrita não é nada simpática :)
Expliquem aos senhores reitores o que é o "orçamento zero". Logo perceberiam o ridiculo em que caíram.
Cara Suzana:
Muitos partirão sempre, porque, por óptimas que pudessem ser as condições locais, haverá sempre alternativas melhores, por uma ou outra razão, num local ou noutro.
Mas quando não se dá aos melhores as condições mínimas, para distribuir o que há por bons e medíocres, aí está a fomentar-se o êxodo.
É o que acontece entre nós. Por isso me rebelo. E o comentário da Suzana só me dá razão.
Caro Luís Moreiora:
Não sei se os Reitores têm ou não razão. Mas a argumentação utilizada tira-lhes toda a razão. Ridícula argumentação. Se a qualidade do ensino é igual à da argumentação, estamos feitos. Mas penso que não. Apesar de tudo, ainda há alguns professores para além dos senhores reitores.
Chego tarde mas gostaria de deixar uma pergunta. Quanto poupariam as universidades se acabassem com uma série de cursos da treta que por aí há? Olhando para o catálogo do ministério deparo-me com licenciaturas em "Tecnologia de Habitação e Inclusão", "Tecnologias da Madeira", "Ciencia Política", "Ciencias Sociais" (sic, só assim, sem mais), "Arte e Multimedia" e com mestrados em "Inovação em Artes e Ciencias Culinárias", "Desenvolvimento Comunitario e Empreendedorismo", "Enfermagem Veterinária em Animais de Companhia", "Animação Artística", e vários outros. Para que servem estas patetices? Isto são cursos superiores? Isto permite a alguém governar uma casa? Quanto se pouparia acabando com estas maluquices todas?
Os resultados de hoje da entrada no ensino superior são ilustrativos.
Suponhamos que os estudantes já colocados reflectem a dimensão razoável do E.S. público.
Calculemos as vagas sobrantes e usando o racio docente/estudantes médio do E.S. teremos as posições a mais do sistema.
Calculemos o salário médio de cada posição e temos a gordura que será necessário cortar. O valor é muito razoável.
Consequências -- eliminação de muito do politécnico interior e um emagrecimento das instituições que restam competitivas.
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