1. A mudança de rumo evidenciada pela economia portuguesa no 2º trimestre do corrente ano – após 10 trimestres em marcha-atrás, voltou a andar em frente – suscita naturalmente a questão de saber o que poderá acontecer nos trimestres mais próximos.
2. Para os estimados Crescimentistas, em fase de recomposição após o duplo abalo sofrido com as notícias relativas ao comportamento do desemprego e do PIB, só poderá haver um sentido que é o regresso à marcha-atrás...
3. ... pois da política “neo-liberal” ainda em curso outra coisa não se poderá esperar: o que aconteceu no 2º trimestre, à luz dum padrão de análise que não consente alternativa, foi um daqueles factos anómalos que a história por vezes regista, mas sem repetição...
4. Mas as coisas não serão assim tão simples e óbvias quanto os Crescimentistas as pretendem ver: as indicações mais recentes apontam a continuação de alguma recuperação da actividade, tanto no âmbito interno como na zona Euro, não sendo pois motivo de grande surpresa que, lá para meados de Novembro, se venha a constatar que o PIB voltou a ter evolução positiva no 3º trimestre.
5. Bem sei que 2 trimestres seguidos de variação positiva do PIB, em cadeia, poderá ser um acontecimento muito cruel para os simpáticos Crescimentistas, mas manda a verdade dizer que não fui eu quem lhes meteu na cabeça (1º) que esta política é neo-liberal e (2º) que existe uma causalidade necessária entre tal política e o desempenho negativo da economia...
6. Crescimentistas à parte, voltando-nos para o 4º trimestre, aí as coisas colocam-se com mais reservas; ou me engano muito ou o 4º trimestre deverá ser um período de alguma turbulência interna, com a conjunção dos seguintes factores (i) a dificílima 8ª avaliação do PAEF, (ii) a exigentíssima proposta de O/E para 2014, (iii) a emissão jurisprudencial pelo TC, com um potencial de dano significativo para a estabilidade financeira, (iv) o regresso, em força, dos ruidosos protestos por parte dos milhares de Mesarios do Orçamento quando forem defrontados com uma ementa que nada lhes vai agradar, (v) o esperado início do famoso tapering dos estímulos monetários, há muito prometido pelo FED...
7. ...em suma, os condimentos adequados para fazer do 4º trimestre, com alguma probabilidade, um período de retorno do PIB à sua anterior trajectória contraccionista...a menos que os nossos parceiros do Euro mais Angola, o Brasil, a China, Marrocos, os EUA e outros parceiros comerciais nos presenteiem com um nível de compras capaz de contrariar os efeitos negativos daquele factorial...não vai ser nada fácil!
7 comentários:
Com o nível de turismo que temos já cá cantam, Jul/Agos/Setembro.Positivo. Em Nov temos a devoluçõ dos subsídios Positivo. Jan/Fev/Mar orçamento. negativo.Abril/maio/Jun turismo. Jul/Ag/Set- QREN - investimento e emprego. Se as exportações se mantiverem e a Zona Euro continuar a crescer estamos no bom caminho.2014 pode ser mesmo o ano. O tal!
Nos meses quentes do PREC 74/75, adoptei uma imagem:
O plano inclinado atingirá um dia o fundo. Invertendo então o declive.
A ver vamos.
Caro Luís Moreira,
Para além dos "se" que destonificam seu saudável optimismo, não deixo de notar essa curiosa crença no impacto da esperada devolução do subsídio de Novembro sobre a actividade do 4º trimestre.
Crença que, saliento, encontrei também num famoso comentador de TV dominical...
Lembraria que as decisões de consumo são tomadas muito com base em expectativas, não necessriamente numa base de "caixa"...
Quero com isto dizer que a influência dessa esperada devolução do subsídio, em Novembro, já influenciou e estará neste momento a influenciar muitas decisões de despesa, não aguardando pela efectiva percepção do subsídio...
Assim, é difícil dizer se o trimestre mais beneficiado por esse factor, em termos de actividade económica, foi o 2º, é o 3º ou será o 4º...
Caro BMonteiro,
Imagem muito sugestiva, essa do plano que se inclina para um lado..até que passa a inclinar-se para o outro.
Veremos então se estamos na altura dessa inversão do movimento, não precisaremos de esperar mais do que 6 meses...
Caro Tavares Moreira,
Um dia em discussão com um crescimentista sobre o estado e o PIB, mostrei-lhe a fórmula de calculo do PIB. E está lá +"Government Spending". Encontrar uma relação linear entre PIB e gastos do estado, não é ciência, é definição. O que interessa é o crescimento económico de facto, não a porcaria do PIB. Isto para ir de encontro ao seu ponto 5. e para comentar os demais. O resto dos factores que possam influenciar o PIB são relativos, podemos vender mais ou menos, mas estamos a continuar a vender. Se vendermos mais, ganhamos mais, se vendermos menos ganhamos menos. Do ponto de vista económico estou certo que vamos continuar a crescer, desde que o estado pare de gastar dinheiro em coisas parvas, como TC's e coisas do género.
Está a tocar num ponto que é especialmente sensível para os Crescimentistas, caro Tonibler...
Essa (GS) é a mais cara componente do PIB para os ditos, a qual podem manipular - e manipularam, em grande estilo, ao longo de anos -quase a seu bel-prazer, produzindo belos efeitos nas contas nacionais...
O problema é que depois vem a componente "exportações líquidas", que estraga o impacto inicial positivo conseguido com a variação da GS...com todo um cortejo de consequências nefastas resultante do excesso de endividamento.
Mas isto são preconceitos nossos, não somos capazes de entender os perigos do neo-liberalismo...
Dizem os crescientistas:
"Pois, mas isso deveu-se aos empresários e não ao Governo".
Não percebendo que foi por o Governo em vez de atirar dinheiro para a economia, como queriam (e fez o Socrates sem qualquer resultado no crescimento), ter encolhido o mrecado interno que obrigou os empresários a fazerem-se à vida...
António Alvim
O que diz faz bastante sentido, caro A. Alvim, mas não se esqueça, faz favor, do mérito da Troika...Sem o PAEF e seus vigilantes, não sei onde estaríamos por esta hora...
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