José Miguel Júdice abandonou a liderança da sociedade de gestão da zona ribeirinha antes mesmo de tomar posse, apesar de ser o rosto de um projecto de reabilitação onde se promete gastar as centenas de milhões de euros que o País não tem para comemorar condignamente os 100 anos de implantação da nossa esbanjadora república.
Apesar de ser um indiscutível especialista em assuntos ribeirinhos, Júdice saiu para gaúdio de muitos.
Não pode, antes de todos, deixar de estar satisfeito o Zé "faz falta", esse que, segundo a Al Jazeera é mais herói de Lisboa que o entalado Martim Moniz. O Zé foi claro em rejeitar desde a primeira hora a hipótese de Júdice coordenar qualquer obra que não fosse na qualidade de capataz.
Satisfeitos ficaram também Helena Roseta e os seus cidadãos por Lisboa que igualmente não hesitaram em expressar a sua discordância pela escolha - Júdice não se cansa de o repetir para afastar veleidades de misturas indevidas! - do Senhor Engenheiro José Sócrates.
Mas aqueles que sentiram que a fortuna finalmente lhes sorriu foram António Costa e Manuel Salgado que já desesperavam perante a resistência de Júdice às mais evidentes demonstrações de que o consideravam um estorvo. A mais evidente foi a abstenção do Presidente da Câmara na votação sobre o plano apresentado pelo seu mandatário nas eleições, que cedo surpreendeu em Júdice um indominável elefante em loja de porcelana. E não esqueçamos que Costa foi também célere em fazer saber que a Câmara não entraria com um tusto no capital social da empresa "Frente Tejo".
Até que enfim, António Costa, Manuel Salgado e Sá Fernandes puderam concelebrar. E ontem mesmo patentearam esta nada desprezível afirmação de poder face a Sócrates, borrifando-se nos planos do Governo para a zona e apresentando aos jornalistas as suas ideias para a frente riberinha, numa viagem pelo rio entre a zona de Alcântara e a Expo, agora que foi promulgado o diploma que viabiliza a transferência de poderes sobre o domínio público marítimo para o município.
Quer-me parecer que este episódio faz parte de um plano para outras, futuras, transferências de poderes... Mas é só uma ribeirinha impressão.
9 comentários:
"que, segundo a Al Jazeera é mais herói de Lisboa que o entalado Martim Moniz", fantástico! :)
Já agora, caro JMFA, quer retomar aquela sua opinião de que a transferência da zona ribeirinha para a câmara era favorável aos munícipes e não mais uma bocado na coutada dos autarcas? eheh...
Não retiro uma vírgula do que escrevi então, Tonibler.
Continua a não fazer sentido que as áreas sobre jurisdição portuária, em especial aquelas que nenhum interesse, real ou potencial, actual ou futuro, têm para a actividade portuária sejam "cidades" à parte.
O problema da gestão destas áreas não se coloca só em Lisboa. Por isso a única coisa censurável no diploma é justamente não ter alargado o que estatui a todos os municípios ribeirinhos.
Neste episódio, como o meu caro bem sabe, a questão é outra...
Caro Ferreira de Almeida, efectivamente a questão é toda outra, sem dúvida e a um nível superior. A questão é todo o modelo de gestão territórial existente e as competências que as autarquias têm e, para mim, não deviam ter. Não concordo com as competencias das autarquias no ordenamento do território, muito menos concordo com a transferência das frentes ribeirinhas para as autarquias. Dada a experiência Portuguesa intuo que é mexer com o fogo. Por mim tudo isso estaria nas mãos das CCDR, desde o urbanismo à gestão territorial.
Judice demitiu-se!? humm a vida está a ficar mal para este governo. Será que o PSD vai ganhar as próximas eleiçoes?
Caro JMFA,
Como disse hoje o Costa, "há coisas que podem arrancar desde já, como os vários projectos privados que esperam aprovação da câmara..."
Aproveito para corrigir. No meu comentário ao comentário do Tonibler onde está "sobre jurisdição portuária" deveria estar, obviamente "sob jurisdição portuária"
Meu caro Zuricher, estamos em profundo desacordo. Tornou-se politicamente correcto ser contra as competências das autarquias, mesmo aquelas que fazem mais sentido como é manifestamente o caso do urbanismo (o ordenamento do território é outra coisa, mais complexa, onde as competências devem ser repartidas entre o Estado e as autarquias). Na senda, aliás do discurso diabolizante dos poderes locais.
Sem ir mais longe, bastará observar os exemplos de todos os Eatados - sem excepção - do nosso espaço geopolítico para perceber que se há coisa onde não somos originais é nesta matéria.
Compreendo, contudo, quem analisa estas questões pelo lado de algumas das conhecidas patologias. Não é, a meu ver, o melhor método. Mas, repito, compreendo.
A alternativa de concentrar essas competências nas actuais CCDR seria, creia, uma solução bem pior. Já foi, de resto, testada num tempo em que pouco se podia fazer sem os pareceres obrigatórios e vinculativos destes serviços. E nesse período não consta que a situação fosse muito diferente.
Tema para uma conversa bem mais alargada que aquela que é possível neste espaço. Mas vamos "falando".
Meu caro Tonibler:
Estou em crer que na zona ribeirinha só aparecerão mesmo projectos privados, porque ou muito me engano ou os projectos públicos que por aí se anunciam no famoso plano de requalificação ficarão por aí mesmo, no plano. Ou então estamos todos enganados, a crise é uma ova, há dinheiro a rodos!
Agora uma coisa é certa. O facto de esses projectos serem privados não significa que não sejam bons para o propósito de revivescência e requalificação das zonas marginais ao rio. Devo aliás dizer que regresso a esta hora de um jantar num desses "projectos" à beira-rio plantado. E, meu caro, EXCELENTE! Venham mais desses. Privados ou não.
Meu caro Jorge100:
Pois! São cada vez mais os sinais de que as coisas não estão a ser o que se julgariam poder vir a ser há uns tempos atrás...
Jantar, caro JMFA ??? Por isso é que o Santana Lopes está a discursar com aquele ar sofrido. Quando ele discursa os militantes aproveitam para ir jantar...
Meu caro Tonibler, é a única coisa de que ainda sou militante: de um bom jantar!
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