Há muito tempo que não ouvia tantos elogios ao discurso de um político como tenho ouvido e lido sobre o já quase canonizado “Discurso de Denver”. Brilhante, emocionante, sentido, capaz de mobilizar, de electrizar, de arrastar multidões, o rol de adjectivos há muito votados à poeira das redacções foi recuperado, polido e aplicado como metal refulgente.
Agrada-me assistir ao renascimento da oratória como arte apreciada, é bom ver que as pessoas ainda se comovem com palavras, com gestos, com entoações e com tiradas sentimentais. Mas não deixa de ser surpreendente ver como tanta gente tão exigente quanto ao concreto, às certezas absolutas, às promessas realizáveis e à garantia de que um político tem que assegurar que o futuro fica preso nas suas mãos, olhe embevecida as lágrimas a correr pelas faces dos congressistas, estremeça perante os relatos de origens humildes, subida a pulso, famílias destroçadas superadas com amor, enfim, tudo o que julgaríamos condenado à troça e e ao crivo impiedoso dos planos estratégicos, fudamentos e meios para os por em prática. Ao crivo da realidade, em suma, tão seca, tão pouco poética, tão maçadora.
Devo dizer que me fascina a personalidade assumida por Obama, adoro vê-lo em palco, tão elegante, tão à vontade, aquele sorriso aberto, aquele olhar directo, como se nem lhe passasse pela cabeça o fracasso. “Não sou eu que estou em causa, são vocês”, diz ele, num gesto genial que o confunde com os eleitores, que o funde com os eleitores, que parece humilde – faça-se em mim a vossa vontade – mas que é afinal de uma imensa e irresistível soberba, eu sou o vosso salvador.
Notável, aquela mistura de religião, de comunicação, de manipulação, de sentimento, uma combinação explosiva que se entende bem na América, mas que me causa a maior perplexidade quando vejo os que aqui cativa. Obama fala da mãe, do pai, da avó branca e do avô negro, exibe família, a mulher e os filhos como núcleo indestrutível e fonte primeira da sua força e da sua fiabilidade, põe a testemunhar por ele os meios irmãos, os cunhados, sublinha que sem a família não era nada. A família é a raíz de tudo e a razão para continuar.
Agrada-me assistir ao renascimento da oratória como arte apreciada, é bom ver que as pessoas ainda se comovem com palavras, com gestos, com entoações e com tiradas sentimentais. Mas não deixa de ser surpreendente ver como tanta gente tão exigente quanto ao concreto, às certezas absolutas, às promessas realizáveis e à garantia de que um político tem que assegurar que o futuro fica preso nas suas mãos, olhe embevecida as lágrimas a correr pelas faces dos congressistas, estremeça perante os relatos de origens humildes, subida a pulso, famílias destroçadas superadas com amor, enfim, tudo o que julgaríamos condenado à troça e e ao crivo impiedoso dos planos estratégicos, fudamentos e meios para os por em prática. Ao crivo da realidade, em suma, tão seca, tão pouco poética, tão maçadora.
Devo dizer que me fascina a personalidade assumida por Obama, adoro vê-lo em palco, tão elegante, tão à vontade, aquele sorriso aberto, aquele olhar directo, como se nem lhe passasse pela cabeça o fracasso. “Não sou eu que estou em causa, são vocês”, diz ele, num gesto genial que o confunde com os eleitores, que o funde com os eleitores, que parece humilde – faça-se em mim a vossa vontade – mas que é afinal de uma imensa e irresistível soberba, eu sou o vosso salvador.
Notável, aquela mistura de religião, de comunicação, de manipulação, de sentimento, uma combinação explosiva que se entende bem na América, mas que me causa a maior perplexidade quando vejo os que aqui cativa. Obama fala da mãe, do pai, da avó branca e do avô negro, exibe família, a mulher e os filhos como núcleo indestrutível e fonte primeira da sua força e da sua fiabilidade, põe a testemunhar por ele os meios irmãos, os cunhados, sublinha que sem a família não era nada. A família é a raíz de tudo e a razão para continuar.
Não percebi bem qual era a posição dele quanto aos temas "fracturantes" que por cá se agendam, mas peos vistos não terá importância. Muito politicamente correcto na arte de não ferir susceptibilidades, nem para que sim nem para que não, cada palavra milimetricamente escolhida para só poder significar o que cada um quiser ouvir.
Alvim Toffler, sociólogo e futurólogo, disse em entrevista à SIC que não acredita em nenhuma das promessas de Obama (nem de nenhum político), que seria impossível, ainda que ele o quisesse, cumprir o que anuncia,uma vez que teria que recolher apoios, financiamentos, e ganhar o processo político de elaboração das leis, tudo muito difícil e demorado. Portanto, não é por acreditar no que ele diz que vai votar nele, nem espera nenhuma mudança na política global americana. Vai votar nele porque acha importante mostrar ao Mundo que a América elegeu um negro para Presidente e, com isso, pedir perdão aos negros pelo que a América lhes fez. Segundo Alvim T.,”é um dever de todos os americanos que os redimirá de uma história de relações inter-raciais difíceis.”
Pareceu-me essa afirmação bastante racista em si mesma mas, além disso, duvido que o Mundo, no estado em que está e com as graves crises que o atormentam, fique impressionado com essa lição da América. Terá que haver outro motivo qualquer para votar Obama. A menos que seja por exclusão de partes, por comparação com o outro candidato, mas isso não explica a “obamomania” que entusiasma tanto a nossa esquerda moderna e bem pensante.
Alvim Toffler, sociólogo e futurólogo, disse em entrevista à SIC que não acredita em nenhuma das promessas de Obama (nem de nenhum político), que seria impossível, ainda que ele o quisesse, cumprir o que anuncia,uma vez que teria que recolher apoios, financiamentos, e ganhar o processo político de elaboração das leis, tudo muito difícil e demorado. Portanto, não é por acreditar no que ele diz que vai votar nele, nem espera nenhuma mudança na política global americana. Vai votar nele porque acha importante mostrar ao Mundo que a América elegeu um negro para Presidente e, com isso, pedir perdão aos negros pelo que a América lhes fez. Segundo Alvim T.,”é um dever de todos os americanos que os redimirá de uma história de relações inter-raciais difíceis.”
Pareceu-me essa afirmação bastante racista em si mesma mas, além disso, duvido que o Mundo, no estado em que está e com as graves crises que o atormentam, fique impressionado com essa lição da América. Terá que haver outro motivo qualquer para votar Obama. A menos que seja por exclusão de partes, por comparação com o outro candidato, mas isso não explica a “obamomania” que entusiasma tanto a nossa esquerda moderna e bem pensante.
4 comentários:
O discurso de Obama tem que se adaptar ao contexto. Os hábitos nas eleições americanas são, ao que se vê, muito diferentes dos nossos.
Outro ponto, que aliás referi aqui, é que grande parte dos "apaixonados" por Obama não percebe realmente o que ele diz. A imagem de salvador é muitíssimo mais criada por esses fãs do que fomentada por ele próprio. O que é que ele há-de fazer para evitar isso, concretamente? Por mais que ele foque o papel de cada uma das pessoas, há sempre quem espere um Messias. Mesmo cá em Portugal se suspira por um "Obama Português", quando isso é precisamente o contrário daquilo que o Obama original defende...
Lembro-me de ouvir Toffler dizer isso e concordo com ele em absoluto. Como li algures, vamos ver quando Obama mandar bombardear umas quantas aldeias afegãs...
Mas muito me surpreende, cara Suzana, que lembre Toffler sobre acreditar em políticos :)
Caro TAF, obrigada pelo link, já fui ver "ao vivo", só tinha o texto.É verdade que o discurso dele é muito responsabilzador das pessoas, o apelo ao espírito da Nação, ao papel das famílas na transmissão de valores e na educação, até os limites ao individualismo versus o interesse social. Um discurso notável em retórica e construção mas, na verdade, muito pouco concreto quanto às políticas efectivas. E, se é visto como um salvador, é porque na verdade o que ele pede é que acreditem nele, o sigam "entrem" com ele na Casa Branca. Está lá tudo, experimente ler sem imagem, sem saber se ele é negro ou branco, jovem ou velho, se é Obama ou Smith. Depois diga-me.:)
Caro Tonibler, ainda bem que consigo surpreendê-lo de vez em quando, já estava a desanimar :)) Eu também não acredito em muitos políticos, mas nalguns tenho que acreditar, para manter a esperança e para combater sem ser sozinha aqueles de que desconfio. Se descrer de tudo e de todos, o terreno fica livre para os que não querem sequer saber da nossa opinião!
A Obamania espalha-se à esquerda e à direita, já que no PSD também tem fãs o homem.
Pela minha parte, Ron Paul com eles!
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