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Finalmente, foi dado um passo muito importante, para permitir a integração profissional de médicos imigrantes que tenham obtido a licenciatura fora da União Europeia, em países com os quais Portugal não tem acordos de reconhecimento automático de habilitações, e que sejam portadores de experiência na prática da medicina
Trata-se de uma orientação política do mais elementar bom senso, em que para além de ajudar a concretizar a tão apregoada política de imigração inclusiva, traduz-se no reconhecimento e valorização das capacidade e aptidões dos médicos imigrantes e ajuda a resolver as carências que se verificam no âmbito da prestação de cuidados de saúde.
O governo aprovou recentemente o programa “Integração profissional de médicos imigrantes”, que vai abranger 150 médicos imigrantes. Creio que a população médica imigrante residente é bastante superior. Mas, enfim, já é um passo. E apesar da infindável burocracia que é colocada na instrução das candidaturas e de discutíveis alguns aspectos relativos aos critérios de admissão definidos e à exigência de provas e apoios monetários que serão concedidos ao médicos imigrantes, o facto de a Fundação Calouste Gulbenkian assumir a coordenação geral do programa é uma garantia de que o programa vai ser correctamente gerido e serão cumpridos os objectivos.
Sempre me questionei porque razão esta decisão política e outras da mesma natureza com idêntico alcance tardam em acontecer. Se há sector em que ambas as partes saem inquestionavelmente beneficiadas é o da saúde. Com a integração profissional dos médicos imigrantes ficamos todos a ganhar.
Lembro-me de ter contactado, já lá vão alguns anos, com um pintor ucraniano numa ida a casa de uma das minhas irmãs que estava então a fazer umas obras de remodelação. O homem tinha sido recomendado por uns amigos por ser de confiança, cumpridor e primoroso no trabalho que fazia. Era um homem dos seus 40 anos, educado, culto e de trato simpático e respeitador, médico licenciado na Ucrânia, especialista em cardiologia com uns bons anos de exercício da medicina. Tinha chegado a Portugal há pouco tempo, mas já falava português. Lembro-me perfeitamente de me invadir um sentimento de pena e uma ideia de injustiça por ver aquele médico a cumprir uma profissão que não era a sua, pelo simples facto de ter que sobreviver e de não lhe serem reconhecidas em Portugal as suas habilitações médicas. Contudo, gostava dos portugueses e era aqui que pretendia viver com a mulher. A mulher era licenciada em música e tinha sido professora na Ucrânia. Falou-me, se a memória não me falha, de uma filha pequenita que queria ver crescer a falar português. Apreciei a sua modéstia mas também o seu orgulho de médico quando me disse que os seus conhecimentos e experiência de médico poderiam aproveitar o nosso sistema de saúde.
Oxalá tenha a sorte de ser contemplado no programa agora aprovado e que os seus sonhos tenham agora uma possibilidade de se tornar realidade!
6 comentários:
Para não repetir, relatei um caso semelhante. Bastante chocante (para mim) ver mãos de cirurgião a cortar madeira e a montar cozinhas.
Ver Aqui:
http://quartarepublica.blogspot.com/2008/08/pobre-pas-pobre-sade.html#comments
Não consigo perceber porque se passa isto, porque têm estas pessoas de ir trabalhar para obras, e outros serviços, se há escassez de uma determinada profissão, neste caso, médicos, porque é que estes profissionais não são imediatamente integrados no mercado de trabalho, após (obviamente) a aferição das habilitações que afirmam possuir ?
Não dá mesmo para "entender"....
Cara Pézinhos n' Areia
É totalmente inadmissível. Assim vemos a prioridade e a dimensão política que é atribuída a assuntos da maior relevância.
E assim vemos também como é grande a distância entre o que se anuncia e o que se faz. E assim se vê a pobreza de ideias sobre como resolver problemas concretos ou até mesmo uma total ausência de conhecimento da sua existência. Seja o que for, é muito mau!
Cara Pézinhos
Já tenho uma resposta do Presidente da Secção Regional do Centro relativamente ao assunto dos médicos anátomo-patologistas. A situação, de facto, não é nada brilhante.
esperemos que do leste europeu apareçam médicos com esta especialidade, caso contrário vamos ter problemas no futuro.
se quiser que lhe envie a opinião do presidente é só dizer para onde.
Muito bem, Caro Professor, agradeço muito, e farei chegar à Dra. Cristina Vieira (do Hospital Fernando Fonseca) e à Dra. Sofia Loureiro dos Santos.
web.diana@hotmail.com
Cara Margarida
Mais uma daquelas "bacoradas" bem próprias de um país cheio de complexos de altivez e bem pequeno em provas dadas. A política seguida até agora, radicou sempre no princípio que todos somos competentes, magníficos e inteligentes, só que nós portugueses somos mais. Conheci, a seguir à segunda guerra mundial, era eu um rapaz novo, um repórter de guerra chamado Jules Sawervein que após o fim desta, veio viver para Lisboa. Escrevia para o então Diário Popular, artigos de muito interesse. Era um homem muitíssimo inteligente e com uma experiência humana enorme. Tinha andado por toda a parte e em condições muito difíceis. A respeito do povo português dizia ele uma coisa que na altura achei incrivelmente injusta, mas que com o passar dos anos cada vez a acho mais correcta e objectiva, " um povo de anões em bicos de pés " . É triste mas é assim. Precisamos de médicos, sim, e deixemo-nos de idiotices, pois as universidades do antigo leste europeu, sempre produziram neste capítulo, excelentes profissionais. E deixemo-nos de ser invejosos.
Caro antoniodasiscas
Nem para nós próprios somos bons! Como é que nos podemos dar ao luxo de ignorar os médicos imigrantes que vivem na porta ao lado da nossa? Que afinal têm para dar o que nos faz falta. Não faz qualquer sentido!
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