Pelo Inquérito Parlamentar, o Banco de Portugal foi ilibado de responsabilidades no acidente do BPN. O facto fez-me lembrar a história que me contaram, quando militava na Sorefame, do inquérito a um descarrilamento de grandes proporções de um comboio da CP, num qualquer ano das décadas de cinquenta ou sessenta. Aqui vai.
No seu plano de averiguações, o inquiridor ouviu o chefe da estação, o maquinista e o ajudante, o homem que batia com um martelo nas rodas antes de o comboio partir, o controlador que autorizou a partida, o agulheiro do local, o revisor, o electricista e o mecânico, o serviço de manutenção, o engenheiro-chefe da via e obras e os engenheiros-chefe dos mais diversos departamentos da empresa.
Dos depoimentos recolhidos, verificou que o comboio partira no segundo exacto, que a via estava desimpedida, que a manutenção das linhas e travessas tinha sido efectuada no mês anterior, que a máquina e carruagens estavam como novas, que a sinalização tinha impecavelmente funcionado, que o maquinista e ajudante tinham descansado bem na noite anterior e cumprido escrupulosamente a lista de tarefas e, nomeadamente, não tinham excedido a velocidade, que o agulheiro não trocara o trajecto, enfim, que tinham sido cumpridos todos os procedimentos regulamentares.
Ficou perplexo o inquiridor, que pediu um adiamento de prazo para novas averiguações. Consultado o Governo do Prof. Salazar (nesse tempo e agora, as coisas são iguais…), foram-lhe concedidos mais três, tempo para reflectir e redigir as conclusões. Depois de profunda meditação, escreveu a conclusão final.
“Ouvidos os departamentos e responsáveis envolvidos, as direcções, chefias e sub-chefias e demais pessoal, inquiridos nomeadamente o chefe da estação de partida e os chefes das estações imediatamente anterior e posterior ao acidente, o agulheiro de serviço, o controlador da via, os operários da manutenção, os electricistas, os mecânicos e o maquinista, e tendo todos evidenciado e comprovado de forma exaustiva o integral cumprimento das as normas em vigor, conclui-se: Não houve acidente!...
Idêntica foi a conclusão da Comissão de Inquérito da Assembleia da República quanto à actuação do Banco de Portugal: não houve acidente!...
Dos depoimentos recolhidos, verificou que o comboio partira no segundo exacto, que a via estava desimpedida, que a manutenção das linhas e travessas tinha sido efectuada no mês anterior, que a máquina e carruagens estavam como novas, que a sinalização tinha impecavelmente funcionado, que o maquinista e ajudante tinham descansado bem na noite anterior e cumprido escrupulosamente a lista de tarefas e, nomeadamente, não tinham excedido a velocidade, que o agulheiro não trocara o trajecto, enfim, que tinham sido cumpridos todos os procedimentos regulamentares.
Ficou perplexo o inquiridor, que pediu um adiamento de prazo para novas averiguações. Consultado o Governo do Prof. Salazar (nesse tempo e agora, as coisas são iguais…), foram-lhe concedidos mais três, tempo para reflectir e redigir as conclusões. Depois de profunda meditação, escreveu a conclusão final.
“Ouvidos os departamentos e responsáveis envolvidos, as direcções, chefias e sub-chefias e demais pessoal, inquiridos nomeadamente o chefe da estação de partida e os chefes das estações imediatamente anterior e posterior ao acidente, o agulheiro de serviço, o controlador da via, os operários da manutenção, os electricistas, os mecânicos e o maquinista, e tendo todos evidenciado e comprovado de forma exaustiva o integral cumprimento das as normas em vigor, conclui-se: Não houve acidente!...
Idêntica foi a conclusão da Comissão de Inquérito da Assembleia da República quanto à actuação do Banco de Portugal: não houve acidente!...
5 comentários:
O falhanço branqueado
desta forma escandalosa,
o rigor é flanqueado
numa exposição ardilosa.
A verdade morre solteira
neste oásis tão rosado,
quem faz tanta besteira
nem sequer é avisado.
O triunfo da canalhice
nas cúpulas do Estado,
é sinal da trapalhice
num país amarrotado.
"não houve acidente". E que se poderia esperar, que houvesse?...Somos useiros e vezeiros na fuga à responsabilidade e na "simplificação" de tudo. Aplica-se òbviamente à ilibação dos grandes, direi maiores, responsáveis porque os pequenos, até mesmo sem responsabilidades, levam sempre.
Este caso do comboio trouxe-me à memória algo que testemunhei, no idos de 1967.
Numa viagem de comboio, do Barreiro para Beja, saiu a composição, conforme o previsto e à hora exacta, da estação do Barreiro. Passados "meia dúzia de metros" e antes de chegar a Barreiro A, a composição imobilizou-se e assim ficou durante duas horas e meia, sem que alguém nos desse uma explicação. Passado esse tempo. sentimos uns movimentos, um encontrão no comboio e lá seguimos ao nosso destino. Durante o percurso e enquanto no pequeno átrio de entrada da carruagem fumava um cigarro, entabulei conversa com o cobrador, indaguei das razões da paragem e fui esclarecido:
a locomotiva disponível para a viagem estava inoperacional e era responsabilidade do Chefe da Estação não ter material circulante em condições para garantir o cumprimento dos horários.Optou-se assim, num supremo esforço da "máquina" avariada e provàvelmente nigligenciada, fazer sair a composição da estação na hora exacta. O que aconteceu depois, foi um imponderável. Qualquer máquina é susceptivel de avariar "no caminho". Não há culpas ou responsabilidades a atribuir. As duas horas e meia de espera, foi o tempo necessário para esperar a chegada de um comboio oriundo da Linha do Sado que cedeu a locomotiva ao "avariado"
Cantando e rindo...
Saudações
Caros
Diz-me a minha experiência profissional que a maneira mais inócua de repreender uma pessoa é contar-lhe uma história em que outros são os responsáveis por uma asneira, ou um comportamento ridículo. E se for verídica, tanto melhor.
Portanto agradeço-lhes poder reunir estas duas belas histórias à minha antologia. A cereja em cima do bolo seria saber o local, e o ano, em que ocorreu o acidente ferroviário.
Caro De Profundis:
Seria interessante, mas não lhe posso valer. No entanto, na Sorefame, que era um dos principais fornecedores da CP, A HISTÓRIA ERA CONTADA COMO ABSOLUTAMENTE VERÍDICA.
Bem vistas as coisas...
... não houve sequer Comissão Parlamentar de Inquérito!
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