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terça-feira, 7 de julho de 2009

Crise económica: "fim à vista" será para valer?

1. Há poucos dias foi dada grande ênfase mediática a declarações de responsáveis governamentais em Portugal – quem havia de ser...- anunciando o fim próximo da crise económica.
2. Em diversos tons, alguns de verdadeiro êxtase outros nem tanto, os nossos “media” lá foram cumprindo o seu patriótico papel de emprestar eco às declarações oficiais de “fim-da-crise”.
3. Na corrente semana, todavia, as notícias sobre a economia mundial parecem ter entrado numa fase de arrefecimento...até de uma reunião de ontem dos Ministros das Finanças dos 27 saiu uma ténue declaração segundo a qual a crise ainda estará a meio do caminho...parece assim que teremos de aguardar mais tempo do que se pensava para se poder proclamar o seu fim...
4. Também nos USA as expectativas de uma recuperação próxima - ou de um fim próximo da crise – sofreram algum recuo depois de os últimos dados da actividade económica sugerirem que, apesar de a intensidade da recessão ser agora bem menor, a actividade económica ainda está em contracção, reduzindo as probabilidades de uma recuperação se iniciar no corrente ano.
5. Não vou ao ponto de subscrever a opinião de Wolfgang Munchau, habitual cronista do Financial Times, que em artigo ontem publicado considera “infinitamente piores” as perspectivas de recuperação na União Europeia do que nos USA...sem prejuízo de, neste último caso, só prever uma genuína recuperação económica depois de 2011...
6. Quer dizer que na douta opinião de Munchau uma recuperação económica a sério na União Europeia só lá para 2013-2014 e na melhor das hipóteses...
7. Para além de outras razões, Munchau entende que o sector bancário europeu não foi ainda objecto de medidas de reestruturação suficientemente profundas, pelo que a sua capacidade para funcionar como alavanca de combate à crise se encontra muito debilitada.
8. Tenho para mim que Munchau encara as coisas com um cepticismo excessivo, embora me pareça que uma recuperação económica – retoma, na expressão celebrizada por Eduardo Catroga em 1994 - dificilmente poderá acontecer antes de 2010 e já com este ano bastante avançado...
9. No meio de todas estas dúvidas, fica-nos a expectativa de que pode ser desta vez que a economia portuguesa vá finalmente apontar o caminho da recuperação aos nossos parceiros, em especial aos da União Europeia...será mesmo desta?
10.Alguma vez teria de ser...esperemos que a mensagem da semana passada, de anúncio do fim próximo da crise, não seja mais uma para esquecer...no envelope das promessas eleitorais ou pré-eleitorais!

4 comentários:

Daniel Geraldes disse...

Caro Dr. Tavares Moreira,

estava eu a ler o seu post e a concordar relativamente com todos os pontos que escreveu até chegar ao ponto 9.

Convenhamos que a economia portuguesa é uma mentira, eu até vou mais longe, neste momento o país de Lisboa e Vale do Tejo são uma enorme mentira, porque o resto do país já não é economicamente relevante.

Basicamente o país neste momento não produz nada, a nossa mão de obra é cara, a nossa educação pauperrima,e a nossa esquerda é inconsequente. E a Direita, tirando uma pequena franja, é uma coisa não socialista e assim intitulam-se de direita, que não querem reformas porque a partir do ultimo momento político relevante em Portugal nos ultimos 35 anos, reformaram-se.

Tendo em conta a S&P em 2004"relatoriou" que o nosso país para ser competitivo com os nossos principais adversários de leste tinha de baixar os ordenados uma média de 30%. Em 2009, depois da crise financeira presumo que este relatório ainda seja verdadeiro, com a agravante de que os países de leste na sua grande maioria tem uma moeda própria e um controlo sobre a sua politica monetaria.

Assim olhe, subscrevo o que um dia alguem intemporalmente disse: " Para Angola e em força".

Da ultima vez que vi,o nosso país era mais ou menos este:

2 milhões de reformados
1,5 milhões de estudantes*
700 mil funcionários publicos( sem contar com os serviços militares)
600 mil desempregados

* para mim, contam como um sector que não produz riqueza e que consome uma importante parte dos nossos recursos.

E para terminar, a Europa neste momento é demasiado terciarizada, é um erro enorme que nos vai custar muito dinheiro no sector da energia e no sector alimentar, por isso a recuperação nos mercados vai começar pelo sector das
comodotties, e nós europeus não temos nada disso.

Tavares Moreira disse...

Tem razão car Daniel Geraldes, se este Post tivesse sido escrito por outra pessoa eu esbarraria igualmente no ponto 9...
Este ponto 9 tem de ser entendido "cum granu salis", não para ser levado à letra - e é melhor nem me perguntarem a opinião sobre o ritmo de recuperação expectável para a economia portuguesa.
Pior ainda se me perguntassem se admito mesmo que a economia portuguesa pode antecipar-se às restantes no que respeita ao momento da recuperação...
Mas sonhar não custa...custa sim se acreditamos nas histórias dos sonhos...

Adriano Volframista disse...

Caro Tavares Moreira

Sem que isso seja necessariamente um motivo de "demasiado" orgulho somos a segunda nação mais antiga da Europa, antes de nós só França.
Mas somos um dos países mais ileterados da Europa e um dos últimos a alcançar os 100% de taxa de alfabetização, só o realizámos entre 1975 e 1980.
No entanto, algumas das nossas regiões foram das primeiras a descritianizar-se e das primeiras a realizar o planeamento familiar.
Sem alongar muito, somos um país de contrastes e contradições que, por ser (mal) educado, esqueçe que tem história e que essa mesma (história) tem efeitos duradouros no nosso quotidiano. Os anos de 1975 a 1995 não se compreendem sem recurso aos efeitos das medidas políticas e educativas tomadas entre 1963 e 1970.
1985 a 1995 é uma década em que os efeitos do marcelismo se fizeram sentir.
1995 a 2005 é a década em que se faz sentir os efeitos das medidas políticas e educativas que foram adoptadas nos anos de 1974 a 1979.
se não tivessemos entrado na zona euro, provavelmente já teríamos um novo regime, a quarta republica de presidencialismo musculado; o motivo é simples de se enunciar: após o final do consulado do Prof Cavaco Silva, sem a moeda única, teríamos sofrido dois ajustes cambiais violentos e, o eleitorado, ao segundo teria compreendido que chegava de tomar a purga que aliviava a dor, mas não eliminava a origem dos sintomas.
(Não tenha qualquer dúvida que, o consulado Guterres terminaria numa violenta desvalorização apimentada por um caos social elevado; este cenário foi evitado pela moeda única).
Entre 2010 e 2015 vamos passar por um ajustamento violento e, em certa medida, brutal, porque será imposto de fora e, ao contrário do que se passava noutros tempos, não vamos conseguir trocar o emprobecimento geral por paz e coesão social.
Vamos dividirmo-nos como não sucedia desde 1820, vamos sofrer de modo diverso e desigual, como não sucedia desde 1820. Teremos de mudar e passar por uma série de epifanias que destruirão mitos, preconceitos e ideias feitas.
O nosso passado não indica que tenhamos realizado as opções mais correctas, antes pelo contrário: nos momentos limite, optámos pelo fácil e priveligiámos o distributivismo igualitário e empobrecedor: antes todos pobres e igualitos, do que ricos e muito desiguais.
Podemos, no final do período que acima lhe menciono, ter ajustado o país para um modelo "Mississípi", o lanterna vermelha do pelotão, sem concorrentes, nem melhoria possível. Pobres, desiguais, assimétricos, alforbe de recrutamento de mão de obra (escassa) mas muito qualificada, um clima razoável e, o que é muito importante com reservas de água que viabilizam a miragem de consideramos que, bem vistas as coisas, não estamos muito mal.
Não vem mal ao mundo este estado semi rural, suportado por uma narrativa onírica que encobre pobreza de um pedinte profissional.
A nossa ideia de grandeza está epitomizada no tempo que se perdeu com a apresentação de C Ronaldo no Real de Madrid. Entre estar no centro do mundo e recolher os frutos desse trabalho no final do perído, mesmo que isso signifique ser um semi primeiro e ser um primeiro por uma/duas épocas num recanto solarengo, mas não o primeiro; isto é entre viver na capital ou voltar para a província, escolheu esta última.
Como pertenço ao décimo da população mundial que não se recorda dos sonhos, sonhar só se for acordado e não vejo motivos para tal.
Cumprimentos

Tavares Moreira disse...

Belo pedaço de prosa, caro João - e que premonitório está o Senhor...
Receio bem que esteja cheio de razão no que toca a essa componente premonitória do seu discurso...
O percurso que a economia portuguesa continua a prosseguir não tem saída mesmo...ou tem a saída que indica em tons bem pouco estimulantes para o Povo Português.
Quanto ao Mississipi, creio que usa este exemplo com um forte grão de sal, recordando um lamentável discurso de Fevereiro de 2000... - ou não é assim?