Esta época de crises e mais crises, e também de escolhas políticas para o futuro, é particularmente propícia a balanços, relatórios, análises e sentenças de toda a ordem. E é muito curioso repararmos na quantidade de pessoas que se colocam na confortável posição de “treinadores de bancada” quando na verdade são protagonistas plenos da vida política, económica e social, cada um no seu espaço. Mais estranho ainda é que esses grupos reclamam em geral um papel mais activo, o direito de serem ouvidos e de de serem chamados a participar nas decisões, mas o facto é que, quando chega a hora de olharem o que foi feito, excluem-se por completo da acção, é como se nunca tivessem estado na fotografia que analisam. Só isso explica como de tantas análises e balanços de analistas e da sociedade civil, resulte apenas um dedo acusatório apontado a todos os azimutes, menos aos próprios. Parece que tudo tem que mudar á sua volta, onde é que estaria o País se os outros fizessem tudo bem feito? Maravilha!Oiçam-se os empresários, os sindicatos, os docentes, os alunos, os directores, os empregados, os desempregados, os pobres, os ricos, os lideres, os magistrados, os polícias, etc. , todos ansiosos por que os outros se corrijam. O próprio Governo acha que fez tudo na perfeição, talvez uma ligeira sombra na cultura, rapidamente afastada pela próprio titular da pasta (em entrevista ao Público de hoje). Numa época em que tanto se discute a avaliação e os seus infinitos meandros, a auto avaliação parece o parente muito pobre, o único a quem nunca calha nada.
Hoje vi no Expresso notícia de mais um estudo, desta vez sobre o Índice de Perspectiva Profissionais (IPP), que dita a morte serôdia aos gloriosos yuppies, jovens cheios de titulos académicos e competências técnicas mas que fizeram história por serem impiedosos, competitivos e individualistas, para não ir mais longe. E que as empresas procuravam a todo o custo, não regateando salários nem prémios de resultados. Há muito tempo que se viu o resultado, mesmo muito antes da crise, lembro-me até que começou a ser recuperado, ao menos na teoria, um tímido Quociente Emocional (QE), como desejável adjunto do celebrado QI, para temperar as características do colaborador XPTO.Pois bem, agora, a pretexto da crise –e, claro, como remédio sine qua non – conclui-se que os hard skills, até agora conhecidas como competências técnicas e científicas, afinal não são tudo, e muito menos que devam concentrar as atenções das Universidades. Não, agora o fundamental é trabalhar as soft skills, anteriormente conhecidas pelas banalissimas capacidades de relacionamento humano, e esta é, insista-se, reconhecida como uma urgência para que as empresas passem a tirar pleno proveito das pessoas que tem ao seu serviço. Moral da história: “As Universidades não preparam os estudantes com as capacidades que as empresas procuram urgentemente”. Pois claro, e as empresas não desenvolvem esse ambiente porquê? Só agora é que notaram? Não recrutam pelas notas mais altas? Pela melhor preparação técnica? Não contratam os jovens com recibos verdes, com salários baixos (a geração mileurista, por cá reduzida a menos) exactamente o que convida a que não se envolvam, não arrisquem decisões, não invistam no médio prazo? Será que as empresas estão preparadas para valorizar os tais soft skills? Nada, sobre isto, nada. Seguro, seguro, é que os garotos não saem das universidades pronto-a-vestir, ora competentes, ora simpáticos, ora competitivos, ora solidários, ao sabor dos estudos, das análises e, sobretudo, da capacidade de encontrar sempre, mas sempre, alguém que devia ter pensado no assunto e não o fez. Um culpado, portanto. Assim, não vamos longe.
Hoje vi no Expresso notícia de mais um estudo, desta vez sobre o Índice de Perspectiva Profissionais (IPP), que dita a morte serôdia aos gloriosos yuppies, jovens cheios de titulos académicos e competências técnicas mas que fizeram história por serem impiedosos, competitivos e individualistas, para não ir mais longe. E que as empresas procuravam a todo o custo, não regateando salários nem prémios de resultados. Há muito tempo que se viu o resultado, mesmo muito antes da crise, lembro-me até que começou a ser recuperado, ao menos na teoria, um tímido Quociente Emocional (QE), como desejável adjunto do celebrado QI, para temperar as características do colaborador XPTO.Pois bem, agora, a pretexto da crise –e, claro, como remédio sine qua non – conclui-se que os hard skills, até agora conhecidas como competências técnicas e científicas, afinal não são tudo, e muito menos que devam concentrar as atenções das Universidades. Não, agora o fundamental é trabalhar as soft skills, anteriormente conhecidas pelas banalissimas capacidades de relacionamento humano, e esta é, insista-se, reconhecida como uma urgência para que as empresas passem a tirar pleno proveito das pessoas que tem ao seu serviço. Moral da história: “As Universidades não preparam os estudantes com as capacidades que as empresas procuram urgentemente”. Pois claro, e as empresas não desenvolvem esse ambiente porquê? Só agora é que notaram? Não recrutam pelas notas mais altas? Pela melhor preparação técnica? Não contratam os jovens com recibos verdes, com salários baixos (a geração mileurista, por cá reduzida a menos) exactamente o que convida a que não se envolvam, não arrisquem decisões, não invistam no médio prazo? Será que as empresas estão preparadas para valorizar os tais soft skills? Nada, sobre isto, nada. Seguro, seguro, é que os garotos não saem das universidades pronto-a-vestir, ora competentes, ora simpáticos, ora competitivos, ora solidários, ao sabor dos estudos, das análises e, sobretudo, da capacidade de encontrar sempre, mas sempre, alguém que devia ter pensado no assunto e não o fez. Um culpado, portanto. Assim, não vamos longe.
8 comentários:
Grande análise, cara Drª Suzana Toscano.
Quanto aos "treinadores de bancada" portugueses, estou como dizia a minha avózinha «não é defeito, é feitio».
Alás, eu próprio não me excluo desse síndrome. Também me "pelo todo" por "botar letra" sobre assuntos gerais e até alguns mais específicos (que o digam os pobres Drs. T.Moreira e Massano Cardoso, que têm demonstrado uma paciência infinita para me aturar).
Mas, ha sempre pelo menos uma justificação para este "desbocamento" geral, o direito de opinião para quem comenta e o estigma de intolerância para quem não o suporta... c'est la vie dans une societé democratique. (hoje deu-me pró franciu, deve ser efeito produzido pela tagarelice que tive de aguentar a uma família de "abéques" que apanhei à la plage, méme à mê cotê. Manôel viens ici tout de suite... Manêl viens... Manôel... vem cá já Manel... se me fazes ir aí apanhas dois bofetões... e mais umas coisas que não vou aqui reproduzir.
Relativamente aos «hard e aos soft skills»... em minha opinião e voltando a citar uma frase popular «são fruta da época» cada um da sua obviamente e que infelizmente servem um propósito efémero, pena é que nunca seja o propósito de uma maioria, ou seja, que venha a produzir bons efeitos para a sociedade.
Que se pode fazer!? sinais imutáveis dos tempos...
Empresas que precisam que os estudantes já venham com as capacidades que procuram urgentemente? O que merece alguma reflexão é a razão porque ainda existem...
É a velha história de apenas se pensar no curto prazo. Recibos verdes sim, porque torna custos fixos em custos variáveis esquecendo que quem trabalha a recibos verdes está sempre à espreita de outra oportunidade noutro local, esquecendo que quem trabalha a recibos verdes é obrigado a olhar para o seu local de trabalho como algo temporário e é obrigado a olhar para si próprio como alguém a descartar...!
Como é natural estes assuntos que de algum modo têm a ver com o bem-estar das pessoas, por via do sucesso económico dos países, interessam-me. Fui espreitar e encontrei logo, em primeiro lugar, a análise estrondosa deste Sr Simon Dolan que em meia dúzia de linhas, com genialidade, aponta os males e os remédios para resolução de alguns problemas que afligem as empresas e as pessoas. É caso para lembrar o que alguém escreveu: “o génio faz o que é preciso, o talento faz o que pode”.
-“SIMON DOLAN Há três aspectos a reter do estudo. Primeiro que a oferta de emprego vai recuar nos próximos seis meses e acompanhar a quebra da economia. Segundo, a maioria das empresas não vai substituir 60% das pessoas que se reformam. Terceiro, não são apenas necessárias hard skills (competências técnicas), mas também soft skills (relacionamento interpessoal, capacidades de comunicação, trabalho em grupo, etc.). E a maioria das organizações queixa-se que as universidades não preparam os estudantes a esse nível.”
Tem graça, a cartomante a quem recorri para saber do meu futuro, tirando os nomes confusos e as percentagens, disse-me mais ou menos a mesma coisa...De facto parece que estas alminhas vierem de Marte, nunca antes andaram por cá, não contribuíram também elas com os seus “bitaites” para este atoleiro de confusão…
Resta-me subscrever, com a devida permissão, o comentário do caro tonibler.
Suzana
O mundo parece estar cada vez mais cheio de grandes especialistas, de gurus que em cada momento criticam o que está mal para logo de seguida defenderem coisa diferente. No momento seguinte, se for preciso, voltam tudo ao contrário. Fazem pela vida, facturando milhares de euros à hora, porque assim todos os querem ouvir. Promovem o seu próprio mercado e apresentam-se a vender as chaves para os problemas. Nunca ficam a falar sozinhos…
Agora decidiram falar das virtudes da inteligência emocional. Mas é alguma novidade? Por onde é que têm andado este tempo todo?
Caro bartolomeu,os seus comentários e os seus pontos de vista não se confundem com as "sentenças" dos gurus, uma coisa é estarmos aqui na conversa, a trocar ideias e opiniões e também na má língua (saudável, claro), outra é dar sentenças como se os outros fossem todos burros e só os próprios fossem iluminados, faz muita diferença.
Caro Tonibler, é como diz,realmente as empresas dignas desse nome têm uma parte importante na formação,sobretudo na capacidade de integrar as pessoas no ambiente e de as deixar desenvolver-se de acordo com as capacidades que lhes detectaram ao admiti-las.Se dantes se lamentava que os jovens fossem pouco qualificados, porque o acesso ao ensino superior era muito restrito, hoje há licenciados para todos os gostos,o que eu estranho é que continuem a queixar-se porque afinal não é bem isto que é preciso.E já aqui falámos inúmeras vezes que os nossos jovens vão para fora e têm sucesso, muitos deles foram simplesmente desprezados pelas nossas empresas e pelo nosso mercado de trabalho.
margarida, talvez tenham andado distraídos á procura do imediato, isso de valorizar as qualidades humanas e capacidade de realcionamento implica que se esteja atento ao que não é imediato, não é compatível com o lucro fácil nem com o chico espertismo, para usar a expressão de José Gil no seu notável livro sobre a Identidade.
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