1. Quem porventura ouça/leia as grandes linhas do programa eleitoral de governo (um programa prenhe de promessas de apoios) que tem sido muito comentado nestas últimas horas e não conheça a história política do País dos anos mais recentes, ficará por certo com a noção de que esse programa é apresentado por alguém que há muito aspira ser governo...e quer a todo o custo lá chegar!
2. Neste programa eleitoral abundam as promessas de felicidade para os cidadãos, oferecendo-lhes toda uma série de benefícios, nomeadamente na esfera social, que o executivo em funções deveria ter já implementado – caso evidentemente delas se tivesse recordado a tempo e horas e dispusesse de recursos para tal...
3.Nós, que temos o privilégio de conhecer a perfeita identidade entre os autores deste programa e os responsáveis do executivo desde há mais de 4 anos, naturalmente interrogamo-nos sobre as razões que terão levado um executivo em funções há tanto tempo a só agora se aperceber da importância de medidas que poderia muito bem ter aplicado – tanto mais que cerca de ¾ desse mandato (de 2005 até meados de 2008) decorreu em ambiente que não foi de todo de crise económica internacional...
4. Se boa parte desse mandato decorreu em ambiente não dominado pela crise e estas excelentes promessas foram olvidadas – ou não houve tempo nem recursos para as executar - como imaginar que as mesmas venham a ser executadas num período em que a crise vai ter uma influência dominante nas políticas e os recursos financeiros disponíveis vão atravessar o período de maior escassez de que há memória?
5. Agora que a crise económica, cuja duração efectiva se desconhece mas que poderá afectar seriamente a economia portuguesa – e as finanças públicas muito em especial – durante boa parte da próxima legislatura, torna-se muito estranha, incompreensível mesmo, a apresentação, pelo candidatura “incumbente”, de um programa social muito mais exigente em recursos...que todos sabemos não existirem!
6. Uma explicação para este enigma poderá estar num efeito Proust, sintetizado no título de uma das suas mais emblemáticas obras “A LA RECHERCHE DU TEMPS PERDU”...
7. Os autores deste programa – ou seja os mesmos que tiveram a incumbência de governar ao longo de mais de 4 anos – mostram súbito arrependimento por não terem concretizado um tão belo programa de governo durante o tempo que a Providência generosamente lhes concedeu...e aí estão eles, empenhadamente, A LA RECHERCHE DU TEMPS PERDU...
5 comentários:
Outro dia ouvia uma notícia sobre o 1025º caso de "D. Branca" em que uns quantos espertos que emprestavam dinheiro a juros altíssimos ficaram (obviamente) sem ele. E lembro-me de ter pensado "isto é mesmo a assinatura do português".
Agora, se quisesse eu, fazer de mim primeiro-ministro o que é que eu faria perante um povo destes? Exactamente, prometer juros altíssimos para depois fugir com o bolo. Há coisa mais portuguesa que esta?
Excelente observação, Tonibler...por sinal vaoms mesmo ter juros altíssimos, não agora evidentemente,mas quando a famosa "recuperação", a que tanto aspiramos, ensaiar seus primeiros passos...
é desnecessária a promessa, neste caso, a dádiva está bem garantida...
Caro Tavares Moreira,
Uns dias o programa não tem nada de novo, é cópia do de há 4 anos. Outros dias é um novo rol de promessas.
Uns dias não fez nada em quatro anos, outros dias mostramos o nosso desacordo com as coisas que fez. Então fez ou não fez? Afinal fez, só que não concordamos.
Em que ficamos?
Se ao fim de 4 anos de governo ainda consegue avançar com um rol de promessas,eu diria até que é sinal que não está esgotado. Ainda tem energia e novas ideias. E se são "cópia" das anteriores é até um sinal de coerência.
Onde é que está escrito que um governo ao fim de 4 anos tem a obrigação de ter feito tudo, não havendo mais nada para fazer?
Esta abordagem só entento na perspectiva do taxo: já comeram durante 4 anos agora é preciso dar a vez a outros. Se andaram a "berregar" e não comeram comessem!
É esta a virtude alternativa?
É que a minha questão agora é a de saber o que é que os outros querem fazer. Deste já sei, é mais do mesmo. E o homem até mostra energia e determinação. Parece mesmo que acredita naquilo!
E dos outros só vejo malhar no homem...
O mote esta excelente!:)
Caro SC,
Uns dias...outros dias...onde é que encontrou isso neste Post? Confesso-lhe que não entendo essa observação...
E o ponto não é ter feito ou deixar de fazer: o ponto é prometer-se executar um tipo de política muito mais social, obviamente (muito) mais consumidora de recursos, precisamente num período em que estes vão sorer uma escassez histórica...
O problema não é ter energia e determinação, o problema é saber o que se pode fazer ou não fazer com os recursos disponíveis...
Reparou por acaso no anúncio de mas um "downgrade", na última 6ª Feira, da maior instituiçao financeira privada em Portugal?
Sabe o que isto significa?
Acha razoável prometer políticas socais ambiciosas num período que antecipadamente se sabe vai ser de grande erto de recursos?
É este o ponto.
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