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quinta-feira, 27 de julho de 2006

11 de Setembro era evitável ?

Na edição da revista The New Yorker (www.newyorker.com), de 10/17 de Julho, encontra-se um artigo fascinante acerca dos antecedentes do 11 de Setembro.
Trata-se de um trabalho notável de jornalismo de investigação, modalidade muito frequente nesta revista.
Segundo o relato que aí é feito, os ataques terroristas/suicidas de 11 de Setembro em Nova Iorque foram perpetrados (como se sabe) por um grupo pertencente à Al Qaeda e com uma ligação estreita aos organizadores de um outro acto terrorista/suicida, ocorrido menos de um ano antes, a 12 de Outubro de 2000, no porto de Aden no Yemen, contra um navio de guerra americano (Cole) que se encontrava ancorado naquele porto.
No ataque de Aden foi utilizado um pequeno barco a motor, carregado de explosivos e com dois tripulantes suicidas, que foi de encontro ao Cole, causando uma tremenda explosão e abrindo uma cratera no casco do Cole de 12 X12 metros.
Esse atentado causou a morte a 17 membros da tripulação do navio.
Na sequência desse ataque, o FBI destacou para o Yemen uma equipa de investigação que incluía a I-49, unidade que no Bureau era responsável pela investigação da Al Qaeda e na qual trabalhava um jovem agente de origem libanesa, chamado Soufan, cuja excepcional capacidade de investigação viria a ser decisiva para os resultados do trabalho subsequente.
Com efeito, essa equipa desenvolveu um trabalho intensivo em Aden, tendo conseguido revelações importantes acerca da preparação dos atentados e das ligações entre os seus organizadores e executores.
Assim, ficou a saber-se que o atentado de Aden tinha sido planeado numa reunião de executivos da Al Qaeda realizada em Kuala Lumpur, Malásia, em 5 de Janeiro de 2000.
Nessa reunião participaram, entre outros, dois dos principais executores dos atentados de 11 de Setembro, Khaled al-Mihdhar e Hazmi, tendo nessa mesma reunião sido acordado, muito provavelmente, o plano de ataque às torres de Nova Iorque.
Estes dois operacionais da Al Qaeda viajariam pouco tempo depois da reunião de 5.Jan.2000 para Los Angeles, onde iniciariam a preparação dos atentados de 11 de Setembro.
O mais bizarro nesta história é que a CIA recebeu informações sobre a viagem de Mihdhar e de Hazmi para Los Angeles mas nunca as forneceu ao FBI, nomeadamente à equipa que se encontrava em Aden na investigação do outro atentado, apesar de várias tentativas desta para obter informações sobre aqueles e outros agentes da Al Qaeda ligados aos atentados.
Inúmeras peripécias são contadas nesse artigo de 12 páginas, explicando a dificuldade de troca de informações classificadas entre a CIA e o FBI.
Tivesse a equipa do FBI responsável pelas investigações em Aden acesso às informações da CIA, a preparação do 11 de Setembro teria sido travada. Esta é a extraordinária conclusão do artigo.
Ou seja, caso o FBI tivesse sabido que Mihdhar e Hazmi estavam nos EUA, teria sem dúvida investigado profundamente as suas actividades e por certo descobriria os planos de preparação do 11 Setembro. Mas a CIA foi sempre relutante e a tragédia acabaria por acontecer.
Dentro de poucos dias irão correr rios de tinta acerca do 5º aniversário do 11/09.
Poucos saberão que se tratou de uma tragédia evitável, como tantas outras quem sabe.

7 comentários:

Anthrax disse...

Olá dr. TM, há muito tempo que não comentava nada nos seus posts (mas convenhamos que economia não é, propriamente, o meu forte e para dizer asneiras mais vale estar calado).

No entanto, este seu post já está mais dentro da minha área pelo que, tive de aqui vir meter o nariz.

Teorias da conspiração à parte - até porque não há muita paciência para aquilo - se calhar, os atentados do 11/9 podiam mesmo ter sido evitados mas, tal como é do conhecimento geral, os EUA têm tantos serviços de informações (em que um é sempre mais secreto do que o outro que está logo ao lado), que aquilo que inicialmente poderia ser controlado, acaba por se tornar completamente descontrolado e pior, não é passível de coordenação. Além disso, também é de conhecimento geral que, demasiada informação rapidamente se transforma em desinformação e quando esta anda espalhada por ali e acolá então, é tudo muito pior porque às tantas sabem tudo, mas na realidade não sabem nada.

Depois ainda há que considerar outras variáveis. É que além deles terem uma quantidade absurda de serviços "secretos", cada um tem a sua jurisdição e se o A precisa de intervir na zona do B aquilo acaba em chapadaria na certa porque, eles não trabalham uns com os outros. Eles competem uns com os outros.

Alguma vez viu o «Blackhawk down»? É um excelente filme de guerra que retrata a queda de 2 blackhawks em Mogadishu (no filme só aparecem 2, mas na verdade e senão estou enganado, creio que caíram 3), nesse filme dá perfeitamente para ver várias coisas (além dos «amaricanos» a levar no toutiço)e uma delas é exactamente a questão da jurisdição. Ou seja, os amiguinhos que estavam nos helicópteros estavam a ver os outros amiguinhos, que se escangalharam lá em baixo, a levarem na cabeça e simplesmente não podiam intervir porque estavam fora da zona deles. Normalmente, é aqui que a ideia de "democracia" em situações de conflito começa a dar confusão, porque em situações como a de cima, a decisão não pode estar dependente do ir conversar com o amiguinho do lado para ver se ele nos deixa entrar no seu feudo.

Com os serviços de informação é a mesma coisa. As coisas não páram só porque os moços precisam de tempo para conversar todos uns com os outros e como não páram, depois acontecem coisas como o 11/9.

Adriano Volframista disse...

A resposta à pergunta é não.

Alêm de subscrever, em grau género e núemro o que escreveu Anthrax apenas algumas notas para complementar:
a) Antes 9/11 qualquer menção de "coordenação" de serviços de recolha de informação seria violentamente atacado pela esquerda como um ataque aos direitos fundamentais.Assim, para alêm da rivalidade natural, existia um ambiente pouco propício a "colaborações pró activas" entre serviços.
Deixo ao seu critério o desenvolvimento desta linha de raciocínio.
b) Até ao 9/11 o acto em si mesmo: colaboração activa de 19 (20?) homens num pacto suicida concertado, era uma possibilidade teórica, mas uma improbabilidade estatística.
Deixo ao seu critério esta linha de raciocínio. Explore a via "custos decorrentes de acções de contenção, como incremento exponencial da segurança nos aeroportos e correlativo atraso nos voos".
c)Por último e para não ser "pesado", nunca poderiam ser abatidos pela aviação militar. No seguimento dos acontecimentos do 9/11, foi dado aos pilotos militares um treino suplementar de 3 semanas para os condicionarem a atirar sobre alvos civis sob ordens expressas.
Deixo ao seu critério explorar esta linha de raciocínio.

Cumprimentos
Adriano Volframista

Anthrax disse...

Caro Adriano,

Estou de acordo com as suas alíneas e nutro um carinho especial pela a) e pela c). Embora no caso da alínea c) é da minha opinião que 3 semanas é pouco tempo para condicionar os pilotos militares a atirar sobre alvos civis. E isto não tem tanto a ver com o «pô-los a fazer» algo que em circunstâncias normais eles não fariam, tem mais a ver com o aprenderem a lidar com a situação depois de o «fazerem». Mas também, não é nada que não se resolva.

Tavares Moreira disse...

Caros Comentadores,

Permito-me sugerir-lhes que leiam o artigo de que me servi para este post.
Admito que algumas das reservas expressas pelo ilustre Volframista tenham fundamento, mas a descrição feita na New Yorker é muito impressionante e leva-me a concluir que não teria sido impossível CIA e FBI adoptarem uma colaboração mais activa - até em atenção ao tremendo aviso que foi o atentado de Aden.
Mas leiam, se não se importam, e digam depois de Vossa justiça.

Adriano Volframista disse...

Irei ler.
Como li,na íntegra, o relatório elaborado pela Comissão de Inquérito do Senado sobre o 9/11; esses cenários estão equacionados no relatório e, concluo que não era possível.(Ah. Sim a Comissão tambêm).
As conclusões plasmaram-se nas alterações ao sistema de informações e de coordenação das diferentes agências.
Aliás, podemos sempre afirmar que se poderia ter evitado desde que, com a visão que a prospectiva dos acontecimentos permite, se tivesse explorado as virtualidades do atentado de 93. Mas isso é, para ser modesto, farfetched...
Cumprimentos
Adriano Volframista

Nuno Nasoni disse...

Segundo Ann Coulther, havia uma lei que impedia esse tipo de colaboração, e elaborada por Bill Clinton (o mesmo que recusou a entrega de Bin Laden por parte do Sudão,na sequência dos atentados às embaixadas dos EUA neste país e no Quénia).

Anthrax disse...

Ó! Não consigo encontrar o artigo!

Mas tirando isso, perguntar, à posteriori, se uma coisa daquela dimensão podia ter sido evitada parece-me um tanto ou quanto estranho independentemente dos resultados da investigação.

A mim parece-me que é muito mais fácil ver, agora, onde é que as coisas falharam, do que ter consciência dessas falhas à data em que sucedeu o evento. Acredite, Dr. TM, que se eu pudesse prever quais são os números do euromilhões que vão sair no final desta semana, não estava aqui a trabalhar de certezinha absoluta.

É claro que, também podemos pegar nos números que saíram a semana passada e arranjar uma justificação matemática para saber se íam mesmo sair aqueles ou se podiam ter saido outros. Só que independentemente dos resultados dessa investigação matemática, a verdade é que os números já sairam e houve alguém que ganhou montes de guito e não fui eu!

Ver onde é que as coisas falham (seja onde for e em que tópico for), é sempre um exercício extremamente útil que serve para nos fazer melhorar e, acima de tudo, para fazer com que não se cometam os mesmos erros. Mas não muda o passado.