Prisioneiros ingleses e portugueses - La Lys
Nestes dois últimos dias estive no Porto em provas académicas. Hoje de manhã, ao dar uma volta pela cidade, chamou-me a atenção um aglomerado de pessoas numa praça. Verifiquei que circundavam um monumento aos mortos da Grande Guerra. Lembrei-me que estavam a comemorar o armistício. Desviei-me da minha trajectória e fui ver a cerimónia. Com muita dignidade, militares dos diferentes ramos das forças armadas e autoridades locais prestavam homenagem aos heróis nacionais. Entretanto, várias pessoas paravam nos passeios com ar meio surpreso interrogando-se sobre o que estaria a acontecer. Uma senhora meia idosa com o saquito de compras interpelou-me perguntando o que era aquilo. Expliquei-lhe que estavam a comemorar o armistício. – O quê? – O final da Primeira Grande Guerra. – Guerra? Mas qual guerra? – A guerra onde andámos há muitos anos e onde morreram muitos portugueses. – Mas já acabou, não acabou? As guerras não são coisa boa. Olhe, hoje é dia de São Martinho, não se esqueça de comer umas castanhas. Eu levo aqui meia dúzia. – Obrigado.
“No dia de S. Martinho
Rabusca o teu soitinho
Faz o teu magustinho
Encerta o teu pipinho”
À hora do almoço comi umas castanhas, recordando os nossos compatriotas mortos na longínqua Flandres...
“No dia de S. Martinho
Rabusca o teu soitinho
Faz o teu magustinho
Encerta o teu pipinho”
À hora do almoço comi umas castanhas, recordando os nossos compatriotas mortos na longínqua Flandres...
2 comentários:
É verdade sim senhor!
Aliás, os ingleses há (+ ou -) 1 semana que já andavam com a papoila na lapela e hoje o google também tinha uma papoila no "L".
Nós por cá é que nunca recordamos nada (com a excepção de uma meia dúzia de gatos pingados). Em "La Lys" as baixas portuguesas foram muito pesadas, já para não dizer que foram apanhados no fogo cruzado entre os alemães e os ingleses, cujos resultados foram uma verdadeira catástrofe. Mas isso não interessa nada, acho que é por causa deste género de coisas que somos culturalmente tão fracos.
Como diriam os «amaricanos», "Those who do not remember the past are condemned to repeat it".
Caro Anthrax
Lembro-me desde muito pequeno dos relatos sobre a GG feitos pelos meus avós. Alguns familiares andaram pelas aquelas bandas. Acabaram por morrer doentes, vítimas dos gases. Tenho presente, histórias contadas não pelos próprios, porque já não os conheci, mas pelos irmãos e filhos. Fazem parte do meu “passado” acabando por deixar marcas.
Sabendo do meu interesse, acabou por chegar às minhas mãos alguns pentes de munições utilizados por um tio na batalha de “La Lys”, algumas das quais foram certamente disparadas nesse 9 de Abril de 1918. Garanto que sinto uma sensação estranha quando as toco.
Os britânicos, e outros povos beligerantes, dão um significado muito especial a este dia. A memória colectiva está sempre viva e presente. Entre nós, as comemorações são quase em família e meramente simbólicas. É pena. É triste.
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