Primeiro, o Plano Tecnológico era a poção mágica para o desenvolvimento da economia, em contraponto à teoria “obsoleta” da redução da despesa e do combate ao défice. Foi assim que correu na campanha eleitoral, foi a pedra de toque do discurso pela positiva, foi a solução tornar credível aos eleitores a manutenção das regalias sociais e da dimensão do Estado.
Depois, foi criada uma Unidade de Missão, supostamente credenciada para exprimir em bom português o que deveria ser o tal Plano ou seja, para traduzir uma boa ideia em termos práticos.
Chegámos a Novembro, e nada de documento. Eis senão quando, o responsável pela Unidade de Missão e todos os seus membros demitiram-se com estrondo, deixando bem claro que a fonte de problemas resultava das perspectivas inconciliáveis de dois Ministros.
O estrondo foi abafado de duas maneiras. Nomeando imediatamente outro responsável, e fazendo crer que afinal já estava tudo a ser feito, nós é que andávamos distraídos…
O Ministro da Economia chegou a dizer que os agora nomeados é que são adequados à nova fase – a da execução – uma vez que a da concepção estava prontíssima.
Concluímos portanto que a anterior equipa se demitiu em boa hora, ainda que seja legítimo estranhar a ausência dos elogios do costume. Se o trabalho foi bem feito, porque é que a equipa saíu assim? Adiante.
Foi desmentido o desentendimento entre os Ministros, nada disso!, que ideia!, a prova é que estava já tudo no terreno e em plena execução.
Últimas notícias: o “dossier” passa a ser tutelado directamente pelo Primeiro Ministro porque “entrou numa nova fase – a da execução das medidas” enquanto o novo coordenador da sobrevivente Unidade de Missão”aguarda ainda a definição das novas funções” (D.Económ. de 25/11). Além disso, foi criado um Conselho Consultivo que é composto por todos-os-que-contam na sociedade civil (cerca de 40 pessoas) e que aplaudiram, na generalidade, o dito plano!! É claro que cada um faz uma leitura própria do dito e todas as leituras lá cabem. Mas, à cautela, e porque ainda não estaríamos todos devidamente esmagados com a dimensão do Plano, eis que sai o último (??) coelho da cartola – o Governo contratou por dois anos uma equipa de Harvard para controlar a execução do PT!
Temos, pois, uma Unidade de Missão (versão I), grande tarefa do Ministro da Economia; uma Unidade de Missão (v. II), à espera de saber o que lhe cabe em sortes, um Conselho Consultivo com 40 individualidades, uma equipa de Harvard por 2 anos, tudo controlado pelo 1º Ministro, assessorado pelos 3 Ministros que correspondem aos 3 eixos(Ciência, Educação e Economia). Para apimentar ainda mais este caldeirão, há que coordenar os três “pilares da estratégia da Agenda de Lisboa”, a saber, o Plano Tecnológico propriamente dito, o Programa de Estabilidade e Crescimento e o Plano Nacional de Emprego.
Aguarda-se ansiosamente a indicação do Super Coordenador, que há-de depender do 1º Ministro, mandar nos Ministros dos Pilares, nos Ministros dos Eixos, na equipa de Harvard, no Coordenador da Unidade de Missão e, claro, tomar o conselho das 40 Individualidades.
Lembram-se da história da formiguinha que ficou com o pé preso na neve? Pediu ao sol que derretesse a neve, mas este mandou-a para as nuvens, as nuvens para o vento, o vento para o muro ... numa lengalenga sem fim. E o pé sempre preso.
3 comentários:
1. Alguém devia ser generoso ao ponto de explicar ao ministro da Economia que há uma diferença substancial entre um plano e uma lista de tarefas. Que um plano é um encadeamento cronológico de tarefas e não um séria avulsa de boas intenções.
2. Alguém devia ser generoso ao ponto de explicar ao ministro de Ciência que despejar dinheiro sobre os mesmos agentes só vai resultar em despejar mais dinheiro, que nunca na economia portuguesa a investigação estatal gerou um cêntimo e que isso só vai fazer afugentar as empresas do desígnio. A ideia é o quê, que as empresas se juntem aos insitutos e às universidades? Só para rir de certeza...
3. Se as 40 personalidades realmente contam para o 'campeonato' porque é que não somos um país no topo da tecnologia? Isto vai ser feito com os mesmos inúteis de sempre? Curioso...
Enfim, o Plano Tecnológico não vale o papel em que foi impresso. mas também não podia ser assim tão complexo, senão quem é que geria aquilo?
Enfim! Com tanta trapalhada nada de bom irá ocorrer. Infelizmente. É um velho hábito tentar pincelar e esconder o que é perfeitamente visível. Querem-nos convencer de que aquilo que ocorreu foi bem pensado e inseria-se em qualquer estratégia. Como está a nascer torto, tarde ou nunca irá endireitar-se… É fatal como o destino, como diz o povo.
Caro Pinho Cardão,
O plano não é assim tão extenso. Tirando a inventariação daquilo que existe, e que produziu os resultados que hoje se conhecem, fica-se reduzido aos miúdos estagiários, ao centro de Braga e às medidas da educação( essas sim, estruturantes ).
As empresas, de facto, não precisam que o estado gaste mais que já gasta hoje, pelo contrário. Dos 40% do orçamento das universidades que hoje se considera como investimento na investigação, as empresas só precisavam de aceder a esse montante na forma de tempo dos professores/investigadores. Logo, bastava que a carreira universitária fosse condicionada à investigação nas empresas e não à produção de papers que não interessam nem ao menino jesus...
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