Em dia de mais uma greve de professores, o Diário de Notícias mostra-nos alguns dados do absentismo no nosso sistema educativo que é revelador do estado de coisas.
Comecei por achar gigantesco o número de 7,5 milhões de horas de aulas que não foram dadas no ano lectivo 2004/2005.
Mas a verdadeira dimensão desta desgraça está em dois números bem pequenos:
- cada aluno teve 3 "furos" por semana;
- a percentagem de horas de aulas que não foram dadas ascende a quase 10%.
A experiência que tenho com os meus filhos (um no 9º e o outro no 11º ano) encaixa perfeitamente no retrato apresentado.
Afinal quem é responsável por isto?
O Secretário-Geral da FENPROF justifica de forma magistral esta situação: "os números em bruto significam menos que os motivos que levaram os professores a faltar".
Fiquei esclarecido!
10 comentários:
http://great-portuguese-disaster.blogspot.com/
Postal de Apoio do "Major" Valentim Loureiro ao Grande Timoneiro de Boliqueime
Professor:
Escrevo-lhe de Gondomar, antes de mais, para lhe dar um sentido abraço de parabéns pela sua candidatura.
É de homens como você que Portugal precisa, homens de valor, prontos para surgir no momento certo, e com um verdadeiro carisma nacional.
Como sabe, juntos fizémos várias maiorias absolutas, e não são as minhas, mais modestas, que poderiam fazer sombra às suas, mas uma coisa é certa, o que une este Homem do Norte, EU, a você, Homem do Sul, é, antes de mais, uma mesma coragem e determinação.
Ela uniu-nos, durante muitos anos, e, deixe-me dizer-lhe, nada as separará, a partir de agora.
Professor, eu sei que a sua campanha, como a minha, também vai ser difícil. Como diz a minha filha, "há muita -- desculpe-me a expressão -- muita trampa neste país, muita gente que não vale nada, muitos zé-ninguéns, muitos domequins-caralhetas, a ocuparem postos importantes", e é essa gente que vai ser capaz de ser a primeira a apontar-nos o dedo a nós, homens honestos, trabalhadores do nosssa área, amigos de sempre de empurrar este nosso Portugal para a frente.
Professor, antes de tudo, entenda este postal como uma forma de respeito e amizade, mas quero dizer-lhe ainda mais: nós ganhámos Gondomar, distribuindo fogareiros, televisões e micro-ondas. Digo-lhe do fundo do coração: se precisar de algumas dessas coisas aí em baixo, é só escrever-me, que eu envio imediatamente todos os electrodomésticos que forem necessários para pôr a gentalha aí de baixo a votar no Homem de Portugal, no nosso Cavaco Silva, no Presidente que todos nós trazemos no coração.
Graças a Deus que fundos não nos faltam, e saiba que está consigo a Liga, e o Metro do Porto e todos os cabedais que lá fomos acumulando, justamente para as necessidades destes dias difíceis.
Vai-me perguntar por que é que este Lutador do Norte lhe escreve hoje este postal tão sentido e inflamado: professor, quem lho escreve é um homem injustiçado, um homem sério, honesto e honrado, cujo nome foi arrastado na lama por uns quaisquer badochas que andam a piolhar pelo Terreiro do Paço. Professor, eu sei que quando for eleito, a 22 de Janeiro, me poderá ajudar a descobrir os nomes dessa escumalha, do Ministério Público, da Judiciária, dos Tribunais, dessa gente que não recuou perante nada, para me transformar num homem de maus costumes.
Professor, cá em cima, em Gondomar, terra modesta, mas de portugueses honrados e homens fortes, há quem receba 50 € para partir um braço, 100 € para lhes desmanchar os pés, 500 € para os pôr para sempre numa cadeirinha de rodas, 1000 € para deles darem baixa, de vez, nas listas eleitorais.
Essa é gente brava, gente que é paga para cumprir o seu dever.
Cá espero, em cima, em Gondomar de Portugal, que irá em peso votar no Grande Aníbal Cavaco Silva para Presidente, que me envie essa lista de merdosos, mal seja eleito. E outra coisa aqui lhe prometo: quando também precisar de mandar algum para o galheiro, é só escrever-me o nome e a morada, que dois dias depois já o tem em coma.
Professor, Aníbal -- permita que o trate assim -- MEU AMIGO, esta luta é nossa e é dificil, mas unidos venceremos.
Abração deste seu
Valentim
Caro Vitor Reis
Eu sou professor, e também sou encarregado de educação.
Estou indignado. Fico indignado quando os professores do meu filho faltam. Os motivos nunca se sabem, mas podem ser os mais diversos.
Mas estou também indignado pelos títulos e pela forma como notícias como esta são dadas.
Sou apresentado como faltando muito, uma vez que sou professor.
Pois bem, para um professor que durante um ano lectivo inteiro falta habitualmente 1 a 3 dias, e normalmente para participar em COngressos e Encontros profisisonais ou académicos, isto é uma afronta. (NO ano passado faltei um dia, e para participar num Seminário no estrangeiro; cheguei a Lisboa às 17 horas e fui trabalhar das 19 às 23).
É lamentável que sejamos todos metidos no mesmo saco. E ficamos todos mal vistos. E vamos ser todos tratados pela tutela da mesma forma.
É triste e frustrante.
O absentismo dos professores recai na ausencia de aulas dos nossos filhos, o que provoca matérias por dar. Sinto isso nos meus filhotes. Eles são bem prejudicados.
Mas será que esses absentismos são justificados corretamente?
Os médicos são os grandes culpados desta situação pois passam atestados médicos a torto e a direio. Depois qundo se falta, mesmo por motivo de doença, somos todos metidos no mesmo saco e sentimo-nos injustiçados com as estatisticas.
Não querendo alarmar ninguém, está aberta a época de caça aos professores. É chato bem sei, mas a verdade é que os próprios também contribuiram para isso.
Nestas alturas não há bons, nem maus, são todos iguais e levam todos por tabela.
Têm razão aqueles que criticam o facto desta notícia colocar todos os professores no mesmo saco.
De facto, a verdadeira média não se fica pelos 10% de aulas que ficaram por dar. Se retirarmos desta média os professores que são assíduos, então teremos um resultado assustador.
Como pai, tenho verificado que as faltas recaem normalmente sobre um ou dois dos professores dos meus filhos.
Mas então, que andam a fazer os sindicatos que são os primeiros a colocarem todos no mesmo saco?
Será que a lógica !?CORPORATIVA?! só serve quando convém?
Caro Vítor Reis,
Dividir para reinar. São demasiados sindicatos que entre eles não se entendem e embora andem todos a dizer o mesmo, anda cada um para seu lado. São demasiado desorganizados para qualquer lógica do tipo corporativo. Fazem é muito barulho, nada mais.
O absentismo é de facto preocupante, ao ponto de eu achar que dar aulas pode prejudicar a saúde quase tanto como fumar um maço de cigarros e eu, não me canso de repetir a experiência que tive no Norte, quando numa conferência a maior parte dos professores presentes - confrontados com a possibilidade de questionar os seus congéneres europeus sobre os diferentes sistemas educativos - só perguntaram como é que era com as faltas.
As respostas é não devem ter sido bem aquilo que esperavam, porque nos países que ali estavam representados os professores faltosos eram bastante penalizados, sendo que em alguns casos, ao fim de 3 eram mesmo despedidos e não estou a falar de escolas particulares.
Basicamente, eu estou convencido que o nosso sistema de ensino é demasiado permissivo e flexível neste aspecto.
Caro fr,
Há aí um erro de raciocínio. Não é a tutela que trata todos da mesma forma, somos nós(cidadãos). E, neste momento é a única forma de os tratar.
As causas são, obviamente, várias e com décadas. Mas o fr, como pai, não aceita os furos dos seus filhos, como não aceita que a EDP lhe corte a luz 3 vezes por semana. Há causas para as faltas, certamente. Mas o fr tem alguma coisa que ver com os cortes de luz? Então porque carga d'água havemos nós de ter alguma coisa que ver com as causas das faltas?
Todos os serviços têm trabalhadores que faltam, é verdade, mas o serviço não pode parar por isso. Claro que tudo isto é um problema de gestão do serviço, mas a única forma que o cidadão tem de dirigir-se aos professores é pelo saco.
Em rigor, o cidadão devia exigir isso da escola, não da porcaria da tutela. Mas pode a escola escolher o seu quadro? Alguém pode ser responsabilizado pela escolha do professor tirando uma lista quilométrica de regras onde até a residência do conjuge é mais importante que o aluno?
Então, enquanto não fôr possível a escola escolher quem lhe apetece, enquanto não fôr possível responsabilizar a escola, são todos farinha do mesmo saco. Como é óbvio. Agora não está à espera que se responsabilize a gestão da escola quando não teve, nem tem, qualquer poder sobre os seus recursos.
Vitor Reis escreveu que "Como pai, tenho verificado que as faltas recaem normalmente sobre um ou dois dos professores dos meus filhos."
Pois é, essa é que é a verdade, e não a estatística lançada, desta forma e nesta data, pelo ME, com a colaboração dos títulos bombásticos de alguns jornais...
É lamentável que um assunto tão sério seja tratado assim pelos média.
QUanto aos sindicatos, eu não concordo com a sua actuação, mas ao Anthrax que fala da confusão dos sindicatos, posso dar um esclarecimento:
Há muitos sindicatos, de facto. E só um ou dois são verdadeiramente representativos. Porque razão há então tantos? Porque o sindicato mais forte não é da cor dos dois maiores partidos, que quando estão no poder se socorrem e apoiam os sindicatos pequenos, para conseguirem os acordos que pretendem. Nem na negociação o ME é honesto...
Dividir para reinar, tem sido a política do ME em relação aos sindicatos nos últimos 30 anos.
Sem querer puxar a brasa à minha sardinha, gostaria que se fizesse uma leitura atenta do que se diz em http://professorsemquadro.blogspot.com/2005/11/o-absentismo.html , uma vez que se repete até à exaustão algo que, afinal, não era verdade. Para elucidar os menos esclarecidos sobre o absentismo dos professores, cá ficam alguns dados sobre a notícia do DN:
1. Não é dito que durante o mês de Setembro e parte dos meses de Outubro e Novembro milhares de professores não estavam colocados, por incompetência da anterior equipa governativa - e no entanto, tais faltas foram contabilizadas;
2. Não é dito que os Professores são obrigados a fazer formação contínua, o que os leva a faltar justificadamente - e no entanto, tais faltas foram contabilizadas;
3. Não é dito que se um Professor fizer uma visita de estudo tem falta a todas as turmas ao longo do dia, ainda que esteja a trabalhar 10 ou 12 horas (ou mais, quando pernoita) ainda que ganhe exactamente o mesmo que ganharia se ficasse em casa; trata-se, portanto, de trabalho não remunerado - e no entanto, tais faltas foram contabilizadas;
4. Não é dito que se um Professor chegar atrasado ao primeiro tempo de nada lhe vale ir ao segundo, pois é-lhe marcada falta na mesma, numa das mais aberrantes e irracionais medidas de que há memória - e no entanto, tais faltas foram contabilizadas;
5. Não é dito que os Professores não têm direito a acompanhar filhos doentes se estes tiverem mais de dez anos ;
6. Não é dito que uma enorme fatia dessas faltas são compensadas à custa dos dias de férias a que todos os trabalhadores têm direito;
7. Não é dito que se os Professores estiverem em serviço de exames podem ser dispensados da componente lectiva, pelo que, mais uma vez, têm falta embora estejam a trabalhar;
8. Não é dito que se forem marcadas reuniões para o mesmo período em que decorrem as aulas, a reunião se sobrepõe às ditas aulas, pelo que mais uma vez o Professsor está a trabalhar embora tenha... falta;
9. E não é dito que esses nove milhões estimados, dos quais 7,5 são confirmados, correspondem, afinal, a 5% do total de horas previstas
Valia a pena discutir isto.Há muitas coisas que não foram ditas na notícia... Porque será?
Caro Prof. David Justino,
Agradeço-lhe o reconhecimento. É que só assim o debate poderá ser sério, coisa que a demagogia mediática nem sempre permite.
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