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quarta-feira, 30 de novembro de 2005
Soda cáustica
Recentemente fiz parte de um júri de doutoramento. A candidata portou-se de uma forma brilhante e, numa das provas, de forma simples, mas cientifica e pedagogicamente correcta focou a problemática das intoxicações infantis com produtos cáusticos.
Após o primeiro ano de idade e até cerca dos quatro anos o risco de uma criança sofrer os efeitos terríveis de alguns produtos é muito elevado. Corresponde ao período de autonomia motora e à curiosidade em explorar o meio ambiente sem que tenha qualquer noção do perigo.
Começou com um caso dramático, devidamente documentado, de uma criança que ingeriu soda cáustica sofrendo lesões do esófago com consequências muito graves para o futuro, quer sob o ponto de vista orgânico quer sob o ponto de vista comportamental, além dos efeitos na própria família.
A soda cáustica, incolor, inodora, muitas vezes é colocada, indevidamente, em garrafas de plástico, constituindo um convite natural a uma criança que procura matar a sede. Mas, por vezes são os próprios pais que lhes dão o veneno, esquecendo-se de a ter guardado na embalagem. Imagino o horror e o sentimento de culpa de um pai ou de uma mãe que provoca tamanha desgraça num filho.
As nossas casas são um verdadeiro depósito de venenos. Muitos de nós desconhecem os reais perigos. É preciso uma nova consciência ambiental doméstica. É preciso muita informação e sobretudo formação. No caso vertente da soda cáustica, utilizada em limpezas em supermercados, mercados, restaurantes, cafés e afins, a compra da mesma é feita de uma forma livre. A embalagem de cinco litros torna-se pouco funcional o que origina o seu transvaze para embalagens mais pequenas, utilizando para o efeito garrafas de plástico de água vazias, as tais que estão na base de tantas desgraças.
A preocupação com a saúde pública tem de tomar em linha conta muitas situações que não se esgotam na luta contra a sida, contra a tuberculose ou contra a profética gripe das aves, entre outras, mas também as que acabei de referir. Os casos tem vindo a aumentar de ano para ano o que não abona a nosso favor, como ainda nos coloca a nível de um qualquer país terceiro-mundista, para não falar nos dramas infantis e no cortejo de verdadeiros calvários.
Uma das formas de prevenir e reduzir estas situações prende-se com medidas de carácter legislativo. De facto, uma simples medida legislativa pode ter um impacto extraordinário. No caso vertente, a proibição de venda livre de soda cáustica assim como a disponibilidade de embalagens mais funcionais e anti-criança seriam determinantes à preservação da saúde de muitos catraios e da felicidade dos pais. Portugal não dispõe de legislação nesse sentido, tal como acontece, por exemplo, na Finlândia. Deste modo, apelo aos deputados que promovam a feitura de um projecto-lei com o objectivo de proibir a venda livre da soda cáustica, que possibilite a informação adequada aos compradores e, naturalmente, estabeleça as respectivas punições e responsabilidades aos promotores das tragédias infantis.
Imaginem o número de crianças que iriam beneficiar desta medida.
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1 comentário:
Caro Prof Massano Cardoso, li o seu post com o interesse e o proveito do costume. Mas, sem querer tirar seriedade ao que tão bem explicou, não resisto a contar que uma vez fui com a minha mãe visitar uma amiga dela e estava um dia de calor intenso. Cheguei cheia de sede e a senhora disse-me para eu ir ao frigorífico buscar água, era só servir-me. Vi a garrafa, enchi o copo e dei logo um golo enorme, sequiosa. Era aguardente, ou bagaço, nem sei!! Fiquei sem respirar uns momentos, nem conseguia pedir socorro!E ainda hoje não consigo nem provar essas bebidas. Ainda bem que não era soda cáustica, não estaria aqui para contar a história e deliciar-me com os seus posts!
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