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segunda-feira, 21 de novembro de 2005

Liderança e cidadania - Um grande exemplo

Num momento em que tanto se fala do papel do Estado na promoção da justiça e da igualdade social e na insuficiência dos recursos disponíveis para acorrer a todas as necessidades, o tema da responsabilidade social e o modo como deve ser praticada ganha especial relevo. Para além de exigirmos ao Estado que faça bem o que lhe compete, é preciso perguntar - e o que fazemos nós? -como contribuimos, com os nossos meios e capacidades, para promover essa sociedade de bem estar e equilíbrio que tanto ambicionamos?
Haverá certamente muitos exemplos de como se pode e consegue contribuir, pondo ao serviço dos que mais precisam uma parte do que dispomos, seja riqueza, tempo, conhecimentos, aptidões.
Um dos exemplos mais notáveis é o do Banco Alimentar Contra a Fome, uma verdadeira lição sobre o que é possível fazer a partir de uma ideia aparentemente simples - fazer chegar aos que precisam aquilo que outros podem dar. A organização liderada por essa mulher notável, Isabel Jonet, não fala de caridade mas sim de luta contra o desperdício, fazendo chegar a centenas de instituições de solidariedade toneladas de produtos que, por razões de mercado, seriam atirados para o lixo pelos produtores ou distribuidores.
Mas o exercício de cidadania é levado muito mais longe e inclui a sensibilização de todos para a importância de ser solidário, reparando no que se tem a mais e que nem se tinha dado por isso, estimulando as pessoas para serem parte activa desta cadeia que cresce e que assume proporções tão grandes quanto o desperdício e a necessidade. Por isso o BA promove campanhas de recolha junto dos supermercados, porque a mediatização promove a iniciativa e abre caminho a uma maior consciência social.
As pessoas que trabalham para esta organização são voluntárias, também aí combatendo o desperdício do tempo inútil, da solidão de quem tem para dar, de quem pode e quer mas não sabia como.
Os impressionantes números da actividade do Banco Alimentar contra a Fome mostram à evidência a capacidade de liderança de quem o dirige com uma simplicidade, uma energia e um entusiasmo que são certamente uma parte importante deste êxito. Porque não impõe nem exige - explica o que quer e leva os outros a quererem o mesmo, construindo uma vontade colectiva.

Banco alimentar contra a Fome (publicado no Expresso de 19/Novembro)
- pessoas apoiadas diariamente - 207 mil
- refeições servidas/ano - 35 milhões
- alimentos recolhidos em 2005 - 14 toneladas
- supermercados aderentes -525

4 comentários:

Adriano Volframista disse...

Não tenho bem presente, mas a actividade do Banco iniciou-se vai para mais de dez anos.
Infelizmente continua a ser necessária uma obra social como esta, pena é que não tivesse desaparecido ou que a sua contribuição fosse marginal....
Criamos riqueza mas aumentamos as desiguladades, com o tamanho da filândia e não copnseguimos os mesmos níveis...
Cumprimentos
Adriano Volframista

Anónimo disse...

É de facto uma obra notável que todavia nos divide. Por um lado prova que a sociedade civil pode organizar-se e dispensar o Estado, fomentando aliás fortes sentimentos de solidariedade, coisa que o Estado jamais será capaz.
Mas por outro lado é lamentável que tenha de existir um banco para combater a fome...

Suzana Toscano disse...

O facto é que a realidade está lá, por muito que nos custe, seria bem pior ignorá-la ou tratá-la de forma casuística. O que o BA faz é muito mais do que alimentar, é promover uma atitude de intervenção social que dê condições de dignidade à vida de muitas pessoas que sofrem carências, temporárias ou não.Sem isso, a miséria seria ainda maior.

Suzana Toscano disse...

Tens toda a razão Ricardo, o voluntariado suporta imensas instituções e é exactamante através delas que o BA distribui o que recolhe. A visibilidade desta iniciativa também contribui muito para que as outras ganhem o merecido relevo.