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quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Notas soltas sobre a inovação...

Em tempo de crise financeira, económica e social falar de inovação parece fazer todo o sentido. “Discutir” o futuro passa necessariamente por falar de inovação. Não me refiro à inovação tecnológica que é também fundamental, mas sim à inovação social, o parente normalmente pobre da inovação. Mas é um estigma injusto, se acreditarmos que na inovação social podem estar respostas para alguns dos problemas da modernidade.
Não sei se por razões ideológicas ou preconceituosas ou porque não descobrimos e não investimentos o suficiente no assunto ou andamos distraídos com coisas mais importantes, ou talvez por todas as razões em conjunto, o certo é que a inovação social não está nas agendas.
O envelhecimento da população nas economias ocidentais coloca às nossas sociedades e economias desafios de mudança nas respostas a questões tão importantes como qual o modelo económico, qual o modelo de organização da sociedade, qual o modelo de relacionamento entre o sector público e a sociedade civil e qual a dimensão e o papel do Estado e do sector não lucrativo, apenas para dar alguns exemplos.
Com efeito, o envelhecimento da população – com o aumento da esperança de vida e a redução da taxa de natalidade - terá grandes implicações económicas e sociais, quer ao nível da própria capacidade das economias gerarem riqueza e, em simultâneo, de fazer face ao aumento crescente da despesa pública com pensões e cuidados de saúde e bem assim de melhor gerir os recursos disponíveis – humanos e materiais - quer ao nível da ocupação das pessoas mais velhas, ainda muito novas para se “reformarem” da vida, no sentido de se manterem e sentirem úteis e a comunidade beneficiar do seu saber e da sua experiência e em troca fornecer apoios que contribuam para o seu bem estar económico e social.
Esta inexorável nova realidade obriga-nos, quanto mais cedo melhor, a apostar na inovação no sector público e na inovação social, incentivando o sector social a prestar serviços públicos em domínios tão variados como a educação, a saúde, serviços para a infância e juventude, serviços para a terceira idade, combate à pobreza e exclusão social, ambiente, cultura, desporto ou actividades lúdicas.
Trata-se de alargar os serviços públicos ao sector social, serviços tradicionalmente prestados por estruturas do Estado, criando incentivos e enquadramento adequado para o seu desenvolvimento. O Estado ao apostar neste modelo de prestação de serviços públicos liberta-se de actividades que tem dificuldades acrescidas de oferecer e gerir a custos eficientes com proximidade e qualidade.
Desta forma, poderiam abrir-se condições para o crescimento do empreendedorismo e da inovação social, para o trabalho de proximidade e a melhoria dos níveis de coesão social, para o desenvolvimento regional alicerçado em respostas locais, para a mobilização do trabalho voluntário e a entreajuda organizada em redes sociais e para a participação activa e útil das pessoas mais velhas na vida da comunidade, enfim, para o aumento da capacidade de resposta com economia de despesa.
A inovação no sector público precisa-se e recomenda-se e a inovação social parece ter um potencial grande de resposta. Será que estamos perante uma mudança de paradigma? É difícil dizer que não...

3 comentários:

Suzana Toscano disse...

Margarida, as dificuldades que os enormes problemas sociais hoje apresentam exige essa inovação e ela tem aparecido quase sob a forma da multiplicação de pães!Sabe bem, porque conhece e participa, como há projectos ditados pela imaginação e pela vontade de chegar onde nao se imaginaria possível ir tão longe, a esperança está aí, sem dúvida,nessa capacidade de conseguir chegar sempre um pouco mais longe do que parecia possível.Ou, como se diz menos cientificamente,fazer das fraquezas forças.

Bartolomeu disse...

Cara Drª. Margarida, não será a ausência dessa necessária inovação social, fruto de uma inexistência cultural?!
Não me refiro a cultura académica, obviamente, mas sim a cultura cívica e humana. Não passará essa cultura, por conhecer bem as origens, assumir o passado e visionar o futuro numa linha de progresso coerente com as aptidões presentes?
Não será essa cultura, também um exercício de respeito mútuo e de cooperação?
Poderemos desejar um futuro resplandecente, firmando os pés no eterno lodaçal que se teima em não querer ver... nem limpar?!

Margarida Corrêa de Aguiar disse...

Suzana
É verdade o que diz, embora pudéssemos ter um quadro legal/regulamentar bem mais propício às actividades do sector social. A inovação social teria, por esta via, um estímulo adicional que bem preciso é.
Caro Bartolomeu
A inexistência cultural de que fala, com a qual também concordo, pode e deve ser corrigida. Com o meu texto pretendia justamente reflectir sobre as condicionantes existentes e as virtualidades ainda por potenciar.