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quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Riscos de comparar desempenho de Governos em função do PIB...

1. Tendo assistido a parte do muito esperado e razoavelmente frustrante debate entre MFL e JS no último sábado, pude aperceber-me de que o PM em exercício se valia bastante de estatísticas que, na sua opinião, mostravam a fraca performance em matéria económica do Governo de que MFL fez parte entre Abril de 2002 e Junho de 2004 – 4 anos, nas contas “subtis” que apresentou.
2. Pondo de parte a questão de saber que méritos e deméritos devem ser apontados aos Governos de países como o nosso pelo desempenho melhor ou pior da economia, no curto prazo – importa lembrar que a nossa economia está ainda sofrendo, intensamente, efeitos de erros fundamentais de política dos finais da década de 90 – importa dizer que o PM foi um homem com sorte naquele debate.
3. E a sorte que atribuo ao PM tem a ver com a facto de a sua opositora não se ter recordado de referir os “fortes” trunfos do Governo ainda em exercício, na matéria de desempenho da economia...
4. Com efeito, tomando os resultados do PIB no quadriénio 2006-2009 (não faria sentido imputar ao Governo o resultado de 2005 pois entrou em funções em Abril, com o “comboio em pleno andamento”), apuram-se os seguintes valores:
2006 = + 1,4%
2007 = + 1,8%
2008 = + 0,0%
2009 = - 3,5% (Mais recente previsão oficial)

Total = - 0,3%

5. Se me perguntarem o significado que atribuo a estas estatísticas como elemento de avaliação do trabalho dos Governos, direi que para mim significam muito pouco: existem outros factores internos (estruturais) e externos que influenciam estes resultados muito mais do que a acção dos Governos (no curto prazo, repito).
6. Todavia o que está aqui em causa não é a minha opinião, que nada conta, mas a do PM em exercício que, pelos vistos, diverge radicalmente da minha atribuindo uma importância fundamental à acção do Governo.
7. Assim sendo, constata-se que a folha de serviços do PM e do seu Governo neste particular domínio é bem medíocre...e não apresenta vantagem, bem pelo contrário, quando comparado ao mandato de MFL em 2003-2004, que se saldou por um resultado nulo, de -1,1% em 2003 e +1,1% em 2004...e não estou a considerar 2005 no palmarés de MFL (deixou o Governo em meados de 2004) pois nesse caso o resultado global seria até positivo embora pouco expressivo (+0,3%).
8. Ou seja, o PM em exercício deveria, na minha modesta opinião, ter mais cuidado quando usa este tipo de comparações, pois, como há muito se diz, “quem tem telhados de vidro...não deve atirar pedras ao próximo”.
9. E de pouco vale o argumento dos efeitos da crise internacional em 2009 uma vez que 2002/3 foi também tempo de ressaca da crise internacional que eclodiu em 2001/2...não tão grave mas também crise séria.

6 comentários:

Anónimo disse...

Meu caro Tavares Moreira:
Os debates eram a oportunidadede de confrontar o PM com esta e outras verdades. Desperdiçada esta oportunidade, creio bem que o ruido e os habituais disparates que se dizem com enorme à-vontade nas campanhas eleitorais, não permitirá que os portugueses ponderem nestes dados.
Duas notas, mais. Não creio que os debates televisivos favoreçam o esclarecimento cabal destas questões. A luta da verdade contra a ilusão não se faz nem nas pré-campanhas e muito menos na campanha. Faz-se com um trabalho continuado e bem fundamentado na oposição, no parlamento e nos media.
Segunda nota. Estou consigo. Cada vez é mais evidente o carácter redutor da análise que atribui aos governos as responsabilidades maiores pelo desempenho de uma economia como a nossa. Uma questão que gostaria de ver um dia tratada com a profundidade que merece...

Adriano Volframista disse...

Caro Tavares Moreira

Sobre os riscos que os políticos podem correr com as análises de desempenho eles (riscos), (podem) e, realmente, existem; Em Portugal, porque (os políticos) não estão habituados a escrutínio e avaliação públicas, nem a "verem" as suas "obras" avaliadas pelas consequências, as análises são temidas.
Considero que os nossos políticos adoptam uma postura demasiado paternalista face ao eleitorado o que, no limite, pode virar-se conta eles.
Quando saímos do círculo em que nos movemos e vamos para os que se estão mais longe da política, o que desejam de um político é o seguinte:
primo, que seja credível,porque vão entregar um voto que só quatro anos depois podem retirar;
secundo, que seja simples, porque de "truques" estão fartos, a "lábia" já não tem o mesmo efeito, (talvez, porque não somos serpentes...)
Acho que a Dra MFL conseguiu o pleno no primeiro item e apenas parcialmente no segundo.

O PM não consegue o primeiro e, porque não consegue este, do segundo não pode retirar todas as vantagens que, virtualmente, estão ao seu alcançe.
No debate que importava, como, aliás, nos outros, MFL alcançou o máximo em credibilidade e perdeu em simplicidade; somos um país emocional e matriarcal, pode ser (mais do que) suficiente.

O eleitorado português tem demonstrado que é sábio, pelo que pode bem optar por uma solução menos má e que já provou no passado: uma coligação para evitar a maioria absoluta, mas não a "governabilidade". Será a versão do Sc XXI da "sol na eira e chuva no.."
Cumprimentos
joão

Tavares Moreira disse...

De acordo, caro Ferreira de Almeida, cabe dizer que eu não esperava grandes esclarecimento do debate em causa...mas confesso que mesmo assim ficou aquém da minha modesta expectativa...
Quanto à responsabilidade de governos (deste ainda em funções de modo muito vincado) pelo desempenho da economia, ela assume o valor 0 quando as coisas correm mal ou 1 quando as coisas parecem correr bem...e quando correm mal, são sempre imputaveis a terceiros...

Caro João,

Espero bem que a versão do século XXI que refere venha a ser de "sol na eira" e de chuva, muita chuva, granizo, neve, ventos ciclónicos, uma verdadeira tormenta sobre o...tgv!

André disse...

CAro Tavares Moreira

Eu julgo que o debate foi francamente medíocre. Desde a prestação engasgada e trémula de Ferreira Leite, à encenação de Sócrates de que antes dele era o inferno e agora estamos "on road to" paraíso, meu deus!

Quanto à questão MFL vs JS, eu acho que a primeira merece mais o voto que o segundo, pelo simples facto d'ele ter tido uma governação desastrosa a nível económico-financeiro, pelo que MFL é uma pessoa infinitamente mais sabedora, devendo assim ocupar a posição de chefe de um futuro governo.

Tavares Moreira disse...

Muito bem, caro André, aqui fica registado o veredicto de um meretíssimo Dragão!
E que veredicto...certamente vai influenciar muita gente e a votação de 27 ainda vai surpreender!

António Transtagano disse...

Pois! Não foi este Senhor que, enquanto esteve no governo, ganhou num concurso, um automóvel da Renaul?