1. Foi este o pensamento que me acudiu quando ontem acompanhava o decurso da noite eleitoral: o PSD parecia ter o pássaro na mão, no rescaldo das eleições europeias, mas deixou-o fugir – como foi isto possível?
2. A resposta a esta questão leva-nos em 1º lugar à análise dos prognósticos eleitorais do 4R, pelos quais sou responsável e que repetiram o erro das europeias: tendo errado nestas, ao prever uma vitória do PS, embora escassa, também agora erramos, ao prever uma vitória do PSD, é certo que por margem pouco folgada.
3. Comecemos pela comparação do nosso prognóstico e dos resultados:
Prognóstico Resultado
Abstenção 45 40
PS 27-31 36,5
PSD 30-34 29,1
CDS-PP 8-11 10,5
BE 8-11 9,9
CDU 8-11 7,9
4. Como é fácil verificar, a principal falha no prognóstico esteve no PS cujo resultado superou largamente o limite superior do intervalo que lhe estava “reservado”. Já quanto aos restantes e para além de uma abstenção algo inferior, o prognóstico bateu quase certo, embora tanto PSD como CDU tenham ficado suavemente abaixo do intervalo de previsão.
5. Passando a uma indagação das razões para estas divergências, cabe em 1º lugar olhar para o insucesso do PSD que, de acordo com as sondagens, a escassos 10 dias das eleições era ainda dado como tecnicamente empatado com o PS.
6. Tenho para mim que a parte final da campanha do PSD foi demasiadamente má, cheia de episódios desfavoráveis habilmente explorados pelo seu principal adversário (com a preciosa ajuda do Bloco e de alguns prestimosos)...o caso das escutas aos “pasteis de Belém”, não tendo sido o único, terá sido todavia fatal, afectando uma mensagem de credibilidade esforçadamente construída (com algumas falhas...).
7. Mas também me pareceu que o PSD desde o início se deixou embalar pelo resultado das europeias, partindo do princípio que tendo o pássaro na mão este já não lhe fugiria... e não encontrou um programa de campanha, com uma meia dúzia de questões concretas, facilmente perceptíveis pelo eleitorado, que constituíssem tema diário e obrigatório das suas mensagens...os temas generalistas escolhidos (asfixia, endividamento, etc) acabaram por se esfumar na confusão da luta eleitoral e dos casos pouco auspiciosos que apareceram, sem glória nem proveito.
8. O PS aproveitou bem os casos que surgiram (se participou também na sua fabricação pouco adiantará agora indagar...), remetendo o seu adversário, que devia jogar sempre ao ataque, para uma defensiva incómoda.
9. Particular destaque para os péssimos resultados do PSD no Porto e em Braga, em termos relativos bem piores que o resultado nacional.
10. O CDS-PP foi sem dúvida uma surpresa, embora dentro do intervalo de previsão do 4R, pois ninguém lhe augurava o estatuto de 3ª força política, podendo vir a representar, mais uma vez, o papel de fiel da balança – quem sabe se a coligação PS-CDS/PP que aqui auguramos na última 5ª Feira, com tons de algum humor, não vai mesmo tornar-se uma realidade?
11. Aguardemos agora pelos resultados das autárquicas que podem ajudar a clarificar o cenário das próximas soluções governamentais.
12. E aguardemos também as primeiras “provas de fogo” da nova Assembleia – votação do programa do Governo e, sobretudo, discussão e votação do Orçamento do Estado para 2010...
7 comentários:
O PSD perdeu as eleições no debate com Socrates.
Manuela apresentou-se sem programa, sem equipe, sem partido, sem preparação, sem passado.
Não conseguiu usar a sua arma e explicar minimamente a questão do estado das contas públicas e do endividamento do País.
Não deu confiança e os portuguese não lha deram.
A questão que se coloca é: porque é que as coisas foram assim?
António Alvim
O maior derrotado destas eleições fui eu. Mas isso estava garantido à partida. Porque, bem ou mal, a diferença deste resultado para outro resultado, estava na quantidade de militantes que se colocam debaixo do rol de salários e favores que vou pagar. Não é TGV é aeroporto, não é aeroporto vai ser outra porcaria qualquer que não preciso mas vou ter que pagar, que é para o roubo não ser muito descarado.
Em termos clubísticos, o PSD perde porque sim. Aliás, a vitória nas europeias é que foi anómala. Nem percebo como é que, com listas de candidatos que são autênticos sacos de gatos, alguém consegue ver um motivo sério para uma vitória ou uma derrota. Terá sempre que ser por uma futilidade qualquer, porque é isso que é hoje um partido político. Uma futilidade qualquer. Não percebo como um liberal qualquer do PSD consegue votar numa lista com ultra-conservadores do tipo Nogueira Pinto, a não ser que veja o partido como algo completamente fútil.
No fim do dia, há favores para serem feitos com o meu dinheiro e vão acabar por ser feitos, ganhasse quem ganhasse.
Mais uma vez o PSD prepara-se para ter uma "representação" na Assembleia que não condiz com a liderança do partido.
Vale a pena discutir porque é que isso acontece?
Caro Tavares Moreira
Subscrevi as suas previsões e, no caso do PS e do PSD enganei-me.
Quando as sondagens indicavam um empate técnico há quinze dias e uma descolagem no final da campanha o mérito e o demérito tem de ser assacado aos autores da estratégia.
Apresentar-se como alternativa moral e não fazer cumprir dentro de casa é meio camninho para perder.
Assentar a estratégia na asfixia democrática e não "rejeitar" o modelo madeirense, é um quarto do caminho para perder as eleições.
Posto isto, o resto da responsabilidade recai sobre imponderáveis que não pode controlar.
Em 35 anos o eleitorado português nunca se equivocou no momento da votação. Acho que, pela primeira se equivocou, porque não concedeu, ao PS ou ao PSD, a votação que permitisse, um ou outro, governar em sistema de maiorias flexíveis.
Numa época muito complicada, vamos ser governados por uma maioria fraca e sem ideias para o futuro.
De aqui em diante, só pode piorar e vai piorar.
Cumprimentos
joão
Hoje acordei bem cedo e vi, ao longe, uma neblina para além do Tejo.
Logo pensei, o S. Pedro não tolera esta asfixia democrática, certamente vai chover.
Despudor dos despudores, o sol, indiferente, despontou vigoroso como nos últimos dias.
Apesar de tudo, palpita-me que o tempo, neste inverno, vai ser mais inclemente.
Ao PSD só é necessário sair do limbo em que se colocou e, se possível, passar do papel de analista à condição de actor, isto é, sair do geral e abstracto para o operacional e concreto.
Parece simples, mas talvez não seja. À cautela é melhor encontrar um novo orquestrador que seja capaz de harmonizar os ritmos com as melodias. Para tanto não basta o maestro ter um bom sentido musical, são também necessários bons intérpretes.
Dr Tavares Moreira:
Parecia ter o pássaro na mão...
Parecia-lhe a si, mas não foi.
Errou nas europeias, errou nas legislativas...é melhor não fazer prognósticos para as autárquicas.
Mas o Dr. Tavares Moreira tem inteira razão: "A principal falha no prognóstico foi o PS..."
Não me levará a mal, mas Jacques de Lapalisse não diria melhor.
Caro António Alvim,
Não sendo tão radical nas conclusões, há que reconhecer que o staff de MFR não teve realmente um desempenho primoroso nesta campanha...
Caro Tonibler,
Até posso concordar com o cepticismo que exprime quanto à qualidade das políticas e os nossos reais interesses. O problema é saber se e quando esses interesses serão tidos em devida conta...o caminho optado agora oferece as maiores reservas...
Caro Francisco,
Sem deixar de considerar curiosa a questão que suscita, admito que essa análise será mais oportuna quando o Parlamento entrar em funções...
Caro João,
É sempre judicioso em seus comentários, defacto registaram-se alguns equívocos na estratégia adoptada, mas agora é tarde para os corrigir, paciência...
Caro Felix Esménio,
O PSD terá muito com que se "entreter" se estiver disposto a fazer oposição a sério - não a si próprio,como tantas vezes tem acontecido - oposição construtiva mas a doer, não só para marcar presença...
Enviar um comentário