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quarta-feira, 30 de setembro de 2009

"Vai-se andando"...

Hoje deu-me para dar uma especial atenção às respostas repetitivas que recebi ao cumprimentar várias pessoas a quem telefonei.
Acontece todos os dias, obviamente, mas hoje, vai-se lá saber porquê, decidi esmiuçar o assunto e pus-me a pensar porque é que somos assim, porque é que tem que ser assim.
Com efeito, todos nós nos damos conta que à pergunta “Como é que vais?" a resposta é quase invariavelmente “Cá se vai andando” ou “Vai-se andando” ou “Assim, assim, cá se está”!
Será que estas respostas são apenas um hábito ou costume ou será que são um reflexo de um fado triste que transportamos na alma?
Do que conhecemos da nossa ”identidade” este fado está gravado no nosso ADN e tenho para mim que nos tem sido altamente prejudicial. Porque “vai-se andando” é, afinal, uma atitude comportamental no pensar e no fazer.
O País está permanentemente em crise, as coisas não estão a andar bem, as pessoas vivem com dificuldades, o pessimismo está instalado e a esperança foi-se esfumando depois de anos e anos de reformas mal sucedidas e promessas de melhores tempos adiadas. O “vai-se andando” não contribui para lidar, muito pelo contrário, com as situações difíceis com o optimismo e a confiança que se impõem. Não é uma atitude positiva e vencedora.
De que nos adiantam as lamentações e o conformismo? Se não formos capazes de mudar a forma de pensar, de reagir e de encarar as situações também não seremos capazes de deitar mãos à obra e arregaçar as mangas, de confiar na capacidade que temos para resolvermos problemas e sermos bem sucedidos.
Aprender com as falhas e os erros cometidos e tomar consciência da necessidade de alterar a forma de agir para não os repetir faz-nos falta. É essencial para não encolhermos os ombros e aceitarmos o fado “vai-se andando” que, por experiência, já sabemos que não leva a lado algum. Quando é que será que vamos acabar com este “vai-se andado”?

9 comentários:

Fartinho da Silva disse...

Infelizmente o "vai-se andando" é a resposta óbvia para quem deixou de acreditar em melhores dias!

Até 2004, todos consideravamos que os nossos filhos teriam uma vida melhor que a nossa, hoje quantas pessoas ainda acreditam nisso? E, sinceramente, depois de ter sido oferecida a oportunidade do povo escolher entre a forma (José Pinto de Sousa) e o conteúdo (Drª Manuela Ferreira Leite) e o mesmo povo ter escolhido a forma, que podemos nós fazer? Desejo apenas que o PSD não entre no populismo fácil de substituir a líder outra vez e desejo ainda mais que não entre no facilitismo de procurar substituir alguém com conteúdo por alguém apenas com a forma...

Bartolomeu disse...

"... com a cabeça entre as orelhas", cantava melancolicamente Sérgio Godinho o seu "Coro das Velhas"(talvez não conheça... ainda é muito jovem)
Peço sinceras desculpas pelo trocadilho e pela brincadeira.
;)
Bom cara Dr.ª Margarida, Senhora que muito prezo e respeito... deixe-me sentar aqui um bocadinho ao seu lado e conversar calmamente acerca desta reflexão que como calculará, muito atrai a minha atenção.
Em primeiro lugar, verifico que já aderiu ao termo e ao conceito do esmiúce...
Em segundo lugar, verifico que colocou a primeira interrogação no plural «porque é que somos assim».
Eu sei que conhece os dados desta incógnita, alguns dos quais faz assomar no seu texto.
No domingo passado, assisti no canal 2 da TV ao programa do Professor José Hermano Saraiva" A Alma e a Gente". Foi gravado na ala poente dos Jerónimos, no museu, versou o percurso do homem ao longo da história e finalizou com a seguinte afirmação: "Os Portugueses não são uma raça, são uma anti-raça”
Para ouvidos menos cautos, esta afirmação teria a ver unicamente com diferenças de língua e tom de pele, mas não, tinha a ver com algo mais profundo algo que se encontra dentro da nossa gene. Um pouco atrás no programa, dizia ainda o Professor que vivemos numa época de iconoclastias, em que se deseja destruir tudo para construir de novo, julgando que o novo será o bom, aquilo que nos elevará, que nos distinguirá e acrescentava: A civilização é como uma enorme escada, precisamos dos degraus de baixo, para conseguir chegar aos degraus de cima.
E é!
Aliás, foi assim que fomos construindo aquilo que somos com todas as boas, assim-assim e… menos boas qualidades.
Bom, e agora tenho de ir, que o patrão é exigente e não vê com muito bons olhos o facto de estar aqui sentado à “palheta”, mesmo sendo com alguém tão distinto e… esmiuçador.
;))))

altitude disse...

"Vai-se andando!" respondem. Em si esta resposta pouco revela, e, descansados, seguimos sem tentar aprofundar o seu significado. O conhecimento compromete, suscita reacção, e muitas vezes acção. Que alívio obter uma resposta que não responde ao que, muitas vezes, perguntamos sem querer saber.
Conhecer o que se passa com os que nos rodeiam pode ser cansativo. Mas muitas vezes é importante perguntarmos e querermos saber. Importante para quem necessita de atenção. A começar pelos que nos rodeiam. Em casa e no "trabalho". Aos primeiros damos sempre atenção. Aos segundos tento sempre não me esquecer. Por mim e por eles. Ainda ontem verifiquei a alegria que um telefonema para uma ausente por doença trouxe. Foi muito bom.

jotaC disse...

Cara Dra. Margarida Aguiar:

Vai-se indo, cá se vai andando com a Graça do Senhor!

Esta expressão é-me familiar, sempre a ouvi desde muita criança, era assim que as pessoas resignadas à sua sorte respondiam à saudação dos vizinhos.
Ontem como hoje, continuamos na mesma: olhe, cá se vai indo…

Suzana Toscano disse...

O caro Altitude tem muita razão, uns não querem contar, outros não querem saber, e uma resposta vaga parece que conta e quem a ouve finge que ficou a saber.
Por mim, Margarida,nunca uso essa expressão, é uma espécie de disciplina pessoal ou, como dizia uma amiga há uns tempos, é o meu minúsculo contributo pessoal para mudar o ambiente.E insisto na pergunta quando a resposta é vaga: - "só andando? Mas bem ou mal?"

Margarida Corrêa de Aguiar disse...

Caro Fartinho da Silva
O problema é que andamos há décadas à espera de acreditarmos em melhores dias. Às duas por três já nem distinguimos o bom do mau e vai tudo pela mesma bitola!

Caro Bartolomeu
Obrigada pela brincadeira! Não conhecia o Coro das Velhas. às vezes sou apanhada em dificuldades culturais. Mas fui à procura e gostei imenso dos versos:

Ia eu pelo concelho de Caminha
quando vi sentada ao sol uma velhinha
curioso, uma conversa entabulei
como se diz nuns romances que eu cá sei

Chamo-me Adozinha, disse, e tenho já
os meus 84 anos, feitos há
mês e meio, se a memória não me falha
mas inda vou durar uns anos, Deus me valha

Com esta da austeridade, meu senhor
nem sequer da para ir desta pra melhor
os funerais estão por um preço do outro mundo
dá pra desistir de ser um moribundo

Rabugenta, eu? Não senhor
eu hei-de ir desta pra melhor
mas falo pelos que cá deixo
não é por mim que eu me queixo

Ó Felisbela, ó Felismina
ó Adelaide, ó Amelinha
ó Maria Berta, ó Zulmirinha
vamos cantar o coro das velhas?

Cá se vai andando
c'o a cabeça entre as orelhas

Não sei ler nem escrever mas não me ralo
alguns há que até a caneta lhes faz calo
é só assinar despachos e decretos
p'ra nos dar a ler a nós, analfabetos

E saúde, eu tenho p'ra dar e vender
não preciso de um ministro para ter
tudo o que ele anda a ver se me pode dar
pode ir ele p'ro hospital em meu lugar

E quanto a apertar cinto, sinto muito
Filosofem os que sabem lá do assunto
Mas com esta cinturinha tão delgada
Inda posso ser de muitos namorada

Rabugenta, eu? Não senhor
eu hei-de ir desta pra melhor
mas falo pelos que cá deixo
não é por mim que eu me queixo

Ó Felisbela, ó Felismina
ó Adelaide, ó Amelinha
ó Maria Berta, ó Zulmirinha
vamos cantar o coro das velhas?

Cá se vai andando
c'o a cabeça entre as orelhas

E se a morte mafarrica, mesmo assim
me apartar das outras velhas, logo a mim
digo ao diabo, não te temo, ó camafeu
conheci piores infernos do que o teu

Rabugenta, eu? Não senhor
eu hei-de ir desta pra melhor
mas falo pelos que cá deixo
não é por mim que eu me queixo

Ó Felisbela, ó Felismina
ó Adelaide, ó Amelinha
ó Maria Berta, ó Zulmirinha
vamos cantar o coro das velhas?

Mas gostei, também, da parte séria.
Antes de mais, vamos às suas observações. Confesso que me deixei levar (propositadamenet) pelo esmiuçar, uma palavra que tem uma certa graça nos tempos que correm... Daqui a uns tempos já não se vai poder usar de tanta utilização que está a ter...
Sobre a sua segunda observação, não quis esmiuçar o plural, para não ter que identificar as minorias...
Também tenho a sensação que vivemos numa época em que parece que o que é velho é mau, não serve, e que é preciso construir o novo. É uma grande asneira. O que somos (no plural) vai-se construindo. Deveríamos valorizar a nossa identidade, a nossa história, aprender com as coisas boas e os erros e avançar para fazer melhor!
Espero que o patrão tenha sido compreensivo e que tenha achado bem que o Caro Bartolomeu tivesse esmiuçado coisas tão interessantes...

Caro atitude
Muito bem visto. "Vai-se andando" é a resposta merecida a quem pergunta sem querer saber. Não merece outra coisa, assim fica sem saber coisa alguma. Acredito que aconteça muitas vezes. Mas não deveria ser assim, com muito bem explica o Caro atitude.

Caro jotaC
"...com a Graça do Senhor" é também muito português! Uma expressão popular, que como muitas outras, diz muito da sabedoria popular...

Suzana
Se as pessoas fizessem o mesmo o ambiente mudaria. Não custa nada, sendo uma questão de disciplina é também uma questão de boa convivência.

Bartolomeu disse...

Fico feliz porque gostou cara Drª Margarida.
Estes versos do Godinho merecem que se lhes dedique alguma atenção, assim como ao Concelho de Caminha, do qual gosto imenso (eu e o Marco Fortes, que fez questão de dizer publicamente que com ele é na caminha...)
;))
Relativamente ao patrãozinho... "no problem" desde que não lhe metam suspeitas na cabeça... a maior parte dos dias nem se dá por ele.
De qualquer modo, se um dia vier a ser despedido, conto com amigos que de certo me íam empregar, olhe por exemplo, o nosso amigo Professor Massano, que quando for eleito, vai precisar de um motorista. E para lhe ser muito sincero, não conheço ninguem que conduza melhor que eu, com uma vantajem, estou apto a conduzir em terra e no mar.

Margarida Corrêa de Aguiar disse...

Caro Bartolomeu
Se há coro que se mantém actual é o "Coro das Velhas". Não faltará uma oportunidade para lhe dar o merecido desenvolvimento aqui no 4R.
Sem demérito para os seus dotes de conduzir, na terra e no mar, os talentos que o Caro Bartolomeu já nos habituou a admirar fazem imaginar outras conduções bem mais proveitosas...
Que me desculpe o Professor Massano Cardoso...

Bartolomeu disse...

Quase me deixa envergonhado, perante tão grande manifestação de simpatia, cara Drª Margarida.