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segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Não há instituição que escape...

... à voragem de uma campanha eleitoral onde, como se previra, passou a valer tudo.
Venho aqui, como muitas vezes, para desabafar. Desta feita lastimando a instrumentalização em curso do Conselho Superior de Magistratura (CSM) por razões que não são programáticas mas decorrem de actos que, não sendo isentos de sindicância pública, não podem - e sobretudo não devem - ser envolvidos na campanha eleitoral por pessoas que não me passaria pela cabeça comparar ao Dr. Louçã...
Não me canso de louvar a atitude da Dr.a Manuela Ferreira Leite (MFL) ao recusar fazer campanha à custa da exploração frontal ou subreptícia de casos em apreciação nas instâncias de investigação ou na justiça. Para quem julgue que nas campanhas eleitorais não há lugar para a elevação, seria justificável que MFL o fizesse, existindo como existe a consciência que explorar muitos dos casos que por aí andam pode render junto de camadas da população sedentas de escândalo.
Mas do mesmo modo que se aprecia esta conduta que só dignifica a líder do PSD, não se pode deixar de lamentar esta tentativa de associar as deliberações do CSM a propósito da notação de um juíz (cujos actos estão a ser objecto de apreciação judicial com vista a apurar da existência de erro grosseiro de privação pelo menos ilicita da liberdade) à campanha eleitoral. Para além de se lançar um labéu intolerável sobre as pessoas que compõem este órgão, a suspeita sobre a sua partidarização é mais uma machadada em instituições que deveriam viver acima da suspeita. Com a gravidade adicional de estas lamentáveis associações partirem de quem, querendo ser poder, ter obrigatoriamente de pensar que, caso lá chegue, inexoravelmente se confrontará com o aproveitamento que fez, ou, o que ainda é pior, vai ter se retratar. Tratando-se do órgão que superiormente corporiza a soberania dos tribunais, fácil é concluir que em qualquer dos casos entrar a governar assim seria, no mínimo, pouco dignificante...
Dir-se-á que existe um problema com o modelo de auto-governo das magistraturas judiciais tal como ele está configurado na Constituição e funciona. Pois se é assim, discuta-se o problema do modelo do auto-governo da magistratura programaticamente e não a propósito de um caso concreto da notação de um juíz, porque esse juiz julgou um político e o político reagiu contra o que considera ser o mau julgamento de que foi alvo.
Discuta-se o programa, neste domínio, que os partidos apresentam, até porque a próxima AR terá poderes ordinários de revisão constitucional e é dever de todas as formações com representação parlamentar ter ideias seguras sobre a reforma constitucional que pretendem no campo da justiça. Mas, a bem do País, poupe-se responsavelmente a instituição à conjuntura eleitoral, sendo certo que - convém lembrá-lo - a sua composição reflecte uma decisão partilhada dos partidos do arco governativo feita no parlamento.
Falta, definitivamente, sentido de Estado a alguns intervenientes na campanha. Mas a campanha não pode ser sempre um alibi para toda a irresponsabilidade.

7 comentários:

Bartolomeu disse...

Perante as grandes privações, os grandes desafios e as grandes resoluções da vida, devemos orar.
Orar dizem muitos que é uma forma de saírmos de nós e comunicarmos com a entidade reguladora do universo, colocando-lhe as nossas dúvidas, as nossas inquietações, os nossos anseios e esperar que de Lá nos chegue a iluminação, o descernimento que necessitamos para entender o mundo com maior clareza.
Oremos então:
Senhor;
Garante-me a serenidade para aceitar as coisas que não posso alterar, a coragem para alterar o que puder e para viver um dia de cada vez.
Dá-me a sabedoria que me permita conhecer a diferença, alegrando-me com o momento presente e não com aquele que virá.
Permite-me Senhor que aceite as dificuldades como sendo o caminho para a paz. Que aceite o mundo como é e não como queria que fosse.
Ajuda-me Senhor a confiar na razão universal, rendendo-me à tua vontade, sentindo-me imensamente feliz, por ser teu filho.
Amen!

Tonibler disse...

Caro JMFA,

É um orgão doe estado e logo passível de ser discutido numa campanha. Aliás, face ao poder que tem, deveria ser sempre discutido numa campanha. Porque o que é elevação para o meu caro, não o é para mim (novidade...) e, desta discussão sobre o CSM já percebemos que o juiz sobre investigação de erro grosseiro foi classificado com "muito bom" e que o orgão em questão em vez de mandar a avaliação às urtigas e chamar o avaliador, anda a engonhar. Sabendo nós que a composição do dito é decidida pelos partidos do "arco governativo", isso não é irrelevante quando se está exactamente a decidir o que é isso de "arco governativo". E se realmente é importante como diz, o eleitor deveria escolher outros partidos que não aqueles que decidiram a sua composição.

Anónimo disse...

Lamento, meu caro Bartolomeu, mas tenho de lhe confessar que o Senhor não me concedeu a graça de me conformar ou de, como diz na sua oração, de aceitar as coisas que não posso mudar. Ou então fez-me assim, inconformado com esta "paz". Prefiro pensar que me abençoou desta última forma.

Meu caro Tonibler, se quer saber considero que o modelo de governo das magistraturas está esgotado, deve ser profundamente revisto. O que me recuso é a discutir isso, que é o importante, a propósito da questão da notação de um juiz. Tão só. E não é pouco.

jotaC disse...

“Não há instituição que escape...
... à voragem de uma campanha eleitoral onde, como se previra, passou a valer tudo”

Sem dúvida. Mas há que evitar dar o mote, o pretexto, senão corre-se o risco de ir parar a um beco sem saída. E se inadvertidamente se favorece tudo isto, por acção ou omissão, há que atempadamente colocar os pontos nos “is”.
Só para dar um exemplo de como actuar atempadamente evita muitos “engulhos”, lembro-me que há uns anos atrás, era o actual Presidente da República PM, a imprensa começou a comentar Belém, dizendo sempre - segundo fontes de Belém…Bom, está visto que a coisa a prolongar-se ia resvalar para um beco sem saída… Mas antes que tal acontecesse, numa atitude própria de quem tem poder e no tempo certo, disse então o PR da altura, mais ou menos isto:
-A única fonte de Belém sou eu ou o meu Chefe da Casa Civil, quando por mim devidamente autorizado! Foi remédio santo...
Peço desculpa por este desabafo...tal é o estado de nervos que tudo isto me anda a causar!

Bartolomeu disse...

Compreendo-o caro Dr. J.M. Ferreira de Almeida... Night is so much darker.
http://www.youtube.com/watch?v=QwCPAo5e_F8&feature=player_embedded#t=81

Anónimo disse...

Meu caro jotaC:
Não posso estar mais de acordo!

Francisco disse...

Mas afinal proposta de suspensão partiu de Laborinho Lúcio, membro do CSM indicado pelo PR.
A que nível desceu o PSD.