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quinta-feira, 10 de setembro de 2009

“Terapêuticas de choque”

Há poucas semanas, surgiu numa praça nova-iorquina um outdoor publicitário com dois rapazes e uma jovem numa pose sugestiva de ato sexual a três. Publicidade a quê? A um perfume, salvo erro. Muitos passeantes ficaram chocados com a imagem, devido à mensagem que transmitia. A reportagem televisiva também encontrou transeuntes que acharam “cool” aquela representação. O debate, ao abordar a ética publicitária, considerou este exemplo como sendo provocatório, excessivo, obrigando a olhar e fixar o nome do produto. Objetivo: vender uma marca.
Não é a primeira vez, nem será a última, que os publicitários utilizam a técnica de choque para chamar a atenção e vender, vender muito. Acontece que, quando começam a utilizar esta técnica, acabam, invariavelmente, num caso ou noutro, por provocar reações muito intensas. Mas, enfim, trata-se de publicidade comercial cuja ética deixa muito a desejar, mesmo naqueles casos em que não há choques à base do sexo ou da discriminação sexual ou étnica. Basta pensar nas aldrabices subjacentes a um chavão tão comum como: “está cientificamente provado que...”.
Esta pequena introdução prende-se com mais uma polémica ao redor das campanhas contra a sida. Na Alemanha está a ser apresentado um vídeo de um casal em pleno ato sexual e um cartaz no qual surge a cara de Hitler como sendo a cara do vírus da sida: “assassino de massas”. Claro que já está a provocar polémica, e por várias razões. Em primeiro lugar não consigo compreender a ideia de dar faces ou imagens humanas a vírus, ou quaisquer outros micro-organismos. Neste caso, querem transmitir a mensagem de que o VIH é tão assassino como Hitler. Disparate. Os micro-organismos têm a sua estratégia e querem sobreviver. Claro que incomodam e até matam, mas também fazem parte da vida, podendo contribuir para a evolução das espécies, incluindo a nossa. Há tempos, passou na nossa televisão um spot publicitário em que um homem bem-parecido com asas, um “anjo”, andava a transmitir o VIH. Face à imagem “hitleriana” do vírus, os seus portadores não deverão sentir-se muito confortáveis com esta associação ao exterminador nazi. Mas não será também uma forma de propagandear a imagem de Hitler, alimentando ideologicamente os seus seguidores? Valerá a pena continuar com terapêuticas de choque para mudar comportamentos? Penso que não. Se assim fosse, os fumadores já deveriam ser uma espécie em extinção, as guerras já teriam acabado, os raptos e os homicídios, que nos são constantemente mostrados, uma raridade, os fogos criminosos uma reminiscência do passado, os alcoólicos só beberiam salsaparrilha ou capilé, isto só para falar de algumas situações que cavalgam sobre os comportamentos de muitos seres humanos. Não têm qualquer efeito. Os que apresentam comportamentos de risco são praticamente insensíveis a este tipo de mensagens, enquanto os que são de baixo risco não necessitam deste tipo de publicidade e, até, acabam por evitar vê-los.
Muitas campanhas publicitárias têm sido criadas com a ideia de “vender” mensagens preventivas. Acontece que as mensagens preventivas não se vendem, ao contrário dos perfumes, camisolas, águas mineromedicinais e quejandos. É preciso educar, informar e investir em mudanças de comportamento de forma a evitar situações graves como aquela que estamos a observar, através de técnicas e métodos que levam anos ou décadas para dar frutos.
Quem é que ganha com esta situação? Os criadores dos burburinhos. E não deve ser nada pouco.
Entre nós também há campanhas. Já foram ensaiadas algumas terapêuticas de choque. No entanto, apesar de todas as campanhas já realizadas até hoje, não vislumbramos redução deste fenómeno. Poderão contra-argumentar que se não houvesse campanhas a situação seria muito mais grave. Não digo que não, embora tenha dúvidas sobre a eficiência de muitas delas, que deverão ter sido muito lucrativas para muita gente.
Só espero que não copiem o cartaz do “HIV-Hitler”, adaptando-o à nossa realidade. Ponho-me a pensar quais seriam as figuras que poderiam dar a cara ao HIV em Portugal? Hum... É melhor acabar por aqui.

1 comentário:

Bartolomeu disse...

Ora, caro Professor, foi terminar o seu post, na altura precisa em que ele se tornava mais... mais... mais emocionante, prontes!
:(
Mas, voltando a "agulha" para o tema central, lembro-me de um amigo, rapaz liberalíssimo, que encontrava frequentemente de olhar perdido em lado nenhum, pensando como diziam os "antigos" «na morte da bezerra».
Um dia, encontrando-o como habitualmente perdido em cogitações, atirei-lhe com um frase que me repetiam quando era pequeno e entrava de cabeça pelos enredos de Júlio Verne, ou de Emílio Salgári " Em que pensas tu cardeal? - Penso em como é diferente o amor em Portugal". Vim a apurar mais tarde, tratar-se de um verso de Julio Dantas, da peça "A Ceia dos Cardeais.
Bom, voltando ao meu amigo lunático.
Depois da minha pergunta, o "caramelo" manteve-se por uns momentos ainda pensativo e por fim respondeu-me: Não tens um sonho que gostásses de realizar?
Bahhh...
-Um sonho?! Não man, só sonho com aquilo que tem hipoteses de se realizar, logo...
- Hã?! Nunca somhaste assim com uma coisa irrealizável?
- Oh pá, tás tolo ou quê?! Achas que tem algum interesse perder tempo a sonhar com o irrealizável?
Voltou a "enfiar-se" no reino dos sonhos e eu voltei às perguntas:
-Mas, diz-me lá, tens um sonho irrealizável?
Fez um esgar que até parecia um sorriso e confessou:
-Sabes?! Gostava de fazer amor com um mulher linda, montados num cavalo branco a galope numa praia deserta e quando terminasse, deixar-me cair para o meio das ondas e esparar que o mar me levásse.
Confesso que senti um arrepio na espinha, perante esta confissão e, só me ocorreu responder-lhe:-Pois... eu prefiro quartos de hotel, de preferência com jacuzzi.
Ha dias, por coincidência lembrei-me deste episódio e reflecti: Afinal, eu sou um grande bronco, um quarto de hotel! mas isso é o maior lugar-comum, a par do banco trazeiro do automóvel, do apartamento do amigo solteiro, da mata isolada. O sonho do meu amigo é afinal a sublimação de um acto que termina invariávelmente no preâmbulo da morte.
Depois, desviei o pensamento para pormenores mais comezinhos e satélites do assunto maior e reflecti assim à laia de apaziguador de consciência: Tá bem, pode ser uma forma muito bonita e até superior de idealizar o "assunto" mas, e como é que o "conjunto" se iria equilibrar sobre o cavalo a galope?! e... onde é que íam encontrar uma praia deserta com extensão suficiente para o completo desenrolar da acção? Só se fossem para a Califórnia, ou assim...
Bahhh!!!
;))