Lidar com a doença, com o sofrimento e a morte não são coisas fáceis, mesmo para médicos com longos anos de atividade. Surpreendemo-nos sempre que um ser humano nos toca e transmite as suas dores e angústias. Absorvemo-las, contra a nossa vontade, como se quisessem dizer que valemos pouco ou quase nada. Uma sensação estranha e devastadora das nossas crenças, mesmo dos que não creem. E quando conhecemos as pessoas, e partilhámos os mesmos espaços e tempos, então, o amargo da existência transforma-se em nódoas que nunca mais conseguiremos limpar.
Filho de gente humilde, trabalhou arduamente desde criança, cedo demais, sendo expropriado do direito a viver como qualquer outra. Via-o passar e a crescer com dois baldes no prolongamento dos seus braços e que iam aumentando à medida que se tornava mais volumoso. Não tinha dias santos nem feriados, porque os animais precisavam daquele sustento e havia que os respeitar. Colhia, de porta em porta, os restos para serem transformados em carne, trocava cheiros nauseabundos em leite e em delicioso pedaços de carne assada, numa alquimia ecológica subordinada ao esforço e determinação.
Lutou, cresceu, acabando por satisfazer as necessidades da fome intelectual a um nível muito elevado, e, apesar da sua formação académica, continuou a usar os seus poderosos braços no transporte de restos alimentares para os animais, algo, para ele, tão natural como respirar.
Estranha combinação, pouco usual, para não dizer raríssima, que, aliada a um fervor religioso, acabou por reforçar o respeito e a admiração por parte da comunidade. Esta última característica não se compaginava a ajudas e complementos dos ritos e cerimónias. Mostrou o alcance e o significado do que é ser-se cristão através da vida pessoal, para gáudio de todos, religiosos e não religiosos, porque os princípios de Cristo não são domínio de nenhuma religião em particular, são pertença dos homens, quer tenham nascido antes ou depois Dele.
A doença não respeita ninguém, nem tem que respeitar, apenas nos faz lembrar que um homem pode ser destruído a qualquer momento, mas nunca pode ser derrotado, como diz Hemingway no livro “O velho e o mar”. E aí está ela, mais uma vez, na sua eterna façanha, cruel, cega, desejosa em provocar sofrimento, indiferente ao fazer o bem, desprezando o altruísmo e ignorando a filantropia e a caridade, marcas que lhe são próprias. A doença sabe rir, sardonicamente, com um prazer difícil de entender, talvez queira vingar-se da sua impotência perante os homens, seres capazes de amar. Talvez esse seja o seu objetivo, transformar-se e sentir algo que nunca alcançará. Pode alimentar-se da vida dos seres humanos, mas nunca conhecerá o sabor do amor.
A doença transporta em si o sofrimento e a morte e quer derrotar-nos, mas nunca conseguiu, nem conseguirá, limitar-se-á apenas a destruir, é o que está a fazer neste preciso momento...
Lutou, cresceu, acabando por satisfazer as necessidades da fome intelectual a um nível muito elevado, e, apesar da sua formação académica, continuou a usar os seus poderosos braços no transporte de restos alimentares para os animais, algo, para ele, tão natural como respirar.
Estranha combinação, pouco usual, para não dizer raríssima, que, aliada a um fervor religioso, acabou por reforçar o respeito e a admiração por parte da comunidade. Esta última característica não se compaginava a ajudas e complementos dos ritos e cerimónias. Mostrou o alcance e o significado do que é ser-se cristão através da vida pessoal, para gáudio de todos, religiosos e não religiosos, porque os princípios de Cristo não são domínio de nenhuma religião em particular, são pertença dos homens, quer tenham nascido antes ou depois Dele.
A doença não respeita ninguém, nem tem que respeitar, apenas nos faz lembrar que um homem pode ser destruído a qualquer momento, mas nunca pode ser derrotado, como diz Hemingway no livro “O velho e o mar”. E aí está ela, mais uma vez, na sua eterna façanha, cruel, cega, desejosa em provocar sofrimento, indiferente ao fazer o bem, desprezando o altruísmo e ignorando a filantropia e a caridade, marcas que lhe são próprias. A doença sabe rir, sardonicamente, com um prazer difícil de entender, talvez queira vingar-se da sua impotência perante os homens, seres capazes de amar. Talvez esse seja o seu objetivo, transformar-se e sentir algo que nunca alcançará. Pode alimentar-se da vida dos seres humanos, mas nunca conhecerá o sabor do amor.
A doença transporta em si o sofrimento e a morte e quer derrotar-nos, mas nunca conseguiu, nem conseguirá, limitar-se-á apenas a destruir, é o que está a fazer neste preciso momento...
3 comentários:
Caro Profº Massano
Após ter assistido ás suas magnificas aulas de Epidemiologia e Medicina Preventiva, cheguei á conclusão que a vida é uma doença sexualmente transmissível, que tem cem por cento de taxa de mortalidade!
A vida parece uma doença porque avança por crises e deterioração progressiva e tem melhoras e agravamentos quotidianos. Porém, ao contrário das outras doenças, a Vida é sempre mortal. Não admite tratamento! E a morte? Essa troça das palavras. A doença teme a palavra, mas a morte está-se nas tintas!
Caro Professor Massano Cardoso
Uma limitação que será sempre devastadora porque o sofrimento é incompreensível tal é degradação e a destruição física e mental que provoca. Um castigo que por mais voltas que se dê não faz sentido...
Castigo acho que não é, cuata-me muito aceitar que o sofrimento ou a felicidade sejam as respostas determindas ao que quer que seja que se tenha feito na vida. Pode ser, quanto muito, justo ou injusto do ponto de vista do previsível curso das coisas, dentro do que cada um pode controlar. A saúde, por mais que se faça, é dificilmente controlável e, à medida que os anos avançam, a máquina tem, inexoravelmente, que ir dando os seus sinais. A tristeza que isso causa e, tantas vezes, a raiva perante a incapacidade de salvar, não são atenuadas se a isso se juntar o sentimento de revolta por injustiça.
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