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terça-feira, 2 de agosto de 2011

Exames, um bicho antidemocrático!

O ministro Nuno Crato já anunciou que irá reforçar os exames ao longo do percurso escolar dos alunos. Completamente de acordo. Nunca me queixei dos exames que nos tempos da escola me foram exigidos. Muito pelo contrário. À distância constato que o nível de exigência de estudo e de trabalho contribuiu em muito para uma aprendizagem responsável e sólida.
Mas alguém se admira com as críticas do Bloco de Esquerda e do PCP? O Bloco de Esquerda argumenta que os exames mostram "falta de confiança" no trabalho realizado pelos professores ao longo do ano. O PCP afirma que a "injustiça" dos exames é "evidente" enquanto o Governo não puder garantir "condições iguais", transformando "escolas em centros de formação profissional" e professores em "treinadores" de alunos para responder aos exames.
Argumentos próprios de quem defende o nivelamento por baixo. A ideologia do facilitismo provou o pior. Agora é tempo de mudar de vida. Mais do que nunca precisamos de um sistema de ensino que ajude a preparar os jovens para os desafios do futuro. Não basta fazer contas de somar com máquina de calcular. O que precisamos, mesmo, é de alterar métodos de trabalho, incutir exigência e empenho e promover uma cultura de responsabilidade.

16 comentários:

Rantanplan disse...

Defendo uma escola dual. De um lado ficava a esquerdalhada, com alunos de esquerda, pais de esquerda, professores de esquerda, passagens administrativas, aulas de sexualidade, droga, avaliação de esquerda, papelada, burrócracia, cultura de facilitismo e do coitadinho. Dou outro o oposto de tudo o que citei. O problema é que em dois anos não havia professores nas escolas de esquerda.

Bartolomeu disse...

Talvez o Senhor Ministro já tenha na sua posse a varinha mágica do Harry Potter.
Se não tiver... não estou a ver de que forma poderá o ensino fazer baixar as taxas de insucesso escolar...
É que, para que os alunos saibam as matérias, não basta que se reforcem os exames.
Aliás, como o Senhor ministro, disse no domingo à noite, quando foi convidado do Prof. Marcelo, referindo-se ao sucesso do jovem que ganhou a medalha de ouro nas olimpíadas de matemática; que aquele resultado, foi o culminar de diversas acções do passado que foram desenvolvidas.
Então, é óbvio que no ensino, em Portugal, ha imensas medidas a tomar, antes das provas finais que são os exames, mesmo que essas provas se efectuem faseadamente durante o ano lectivo.
Se não; é como termos um terreno fértil e decidirmos atirar-lhe para cima com umas sementes raquíticas e ficarmos à espera que floresçam umas plantas fortes e brilhantes. Até pode ser que suceda nascerem algumas, mas pelo meio, não deixarão de rebentar em grande quantidade, também, umas todas desconchavadas.

Tonibler disse...

Confesso que sempre tive mixed fillings sobre Nuno Crato. É verdade que pelo facto de ser matemático ainda por cima dedicado à economia, tinha esperança que a pasta fosse adicionada de alguma racionalidade. Por outro lado, a sua posições sempre foram centralistas e isso dava-me a sensação de que iríamos entrar n' "Uma Aventura". Outra.

Até agora só a parte má se mostrou. Fazer exames ou não fazer exames não é um bem em si mesmo. Importante é o que se faz e não faz com os verdadeiros objectos da educação que são os miúdos e, lógica imbatível, os exames não ensinam ninguém. Podem trazer os miúdos mais dotados a estudarem mais, mas para isso, também não precisamos de ministério da educação para nada.


Um exame é sempre um acto central. Tal como um esquema de avaliação de professores. Até agora Nuno Crato é uma Alçada com variações. Podemos ser bonzinhos a admitir que está a a tomar balanço ou ser realista a assumir que os seus 3 meses de impulso vão acabar em breve. Infelizmente, parece-me que vão ser mais 4 anos perdidos.

Fartinho da Silva disse...

Cara Margarida,

Mudar a cultura instalada não se faz num ano, nem em dois e tomara o país que a resistência à mudança viesse apenas do PCP e do BE...

Fartinho da Silva disse...

Caro Tonibler,

"Até agora só a parte má se mostrou. Fazer exames ou não fazer exames não é um bem em si mesmo. Importante é o que se faz e não faz com os verdadeiros objectos da educação que são os miúdos e, lógica imbatível, os exames não ensinam ninguém. Podem trazer os miúdos mais dotados a estudarem mais, mas para isso, também não precisamos de ministério da educação para nada."

É por isto e que temos a "escola" pública que temos! E é por isto que tenho imensas dúvidas que uma personalidade como Nuno Crato dure muito tempo à frente deste Ministério. Sejamos claros, a grande maioria da população não quer exames e quer uma escola que se centre no entretenimento dos miúdos... Esta é que é a dura realidade.

Rantanplan disse...

A grande maioria dos portugueses tem uma enorme aversão à escola. Em Portugal e em qualquer país do mundo. São os que nos dizem as taxas de abandono e reprovação da comunidade portuguesa espalhada por esse mundo fora.

O ano passado das piores escolas em termos de resultados nos exames nacionais foi a escola portuguesa de Luanda.

Não me venham falar em pobreza e dificuldades de toda a ordem. Chama-se falta de trabalho e de exigência por parte de alunos e pais. Os professores até foram escolhidos pela direcção da escola.

Fartinho da Silva disse...

Caro Rantanplan,

Tem toda a razão, veja os resultados na Suíça e no Luxemburgo. Parece que o problema é mesmo muito luso... gostamos é de uma espécie de escola que entretenha os miúdos porque nós temos mais que fazer na vida que educar os próprios filhos... O ministro do ensino vai ter muitas resistências... a começar pelos eleitores.

Margarida Corrêa de Aguiar disse...

Caro Rantanplan
Mas acha mesmo que o problema se divide entre esquerda e direita? A falta de exigência e de rigor não olha a cores. Estamos confrontados com os efeitos de uma cultura de facilitismo e que não valoriza a responsabilização. É geral, é transversal.

Caro Bartolomeu
Infelizmente não há varinhas mágicas. Destruir é rápido, mas construir leva muito tempo.
Os exames são uma gota de água no oceano. Escrevi este texto porque o reforço dos exames é uma medida que vai contra a maré do facilitismo e logo se levantam vozes, a começar pelos políticos que para defenderem falsas ideologias da igualdade de oportunidades atacam tudo o que privilegie o mérito.

Caro Tonibler
Vamos aguardar mais algum tempo. Não podemos esperar que Nuno Crato resolva em dois ou três meses os erros que se acumularam durante muitos anos. Considero importantes as preocupações que tem manifestado relativamente a questões da qualidade do sistema de ensino. Esperemos que trabalhe para a qualidade e não se deixe seduzir pelos falsos "encantos" da estatística.

Caro Fartinho da Silva
Folgo em o reencontrar. Vamos levar muitos anos a reorientar princípios e valores, comportamentos e hábitos, ambições e vontades. A nossa crise não é apenas económica. Também temos um problema moral para resolver, que foi alimentado por políticas que transmitiram sinais errados às pessoas, levando ao estabelecimento de uma cultura assente no facilitismo. É realmente uma dura realidade.
Quer partilhar as suas dúvidas sobre a permanência de Nuno Crato? Quem teria então condições para estar à frente do Ministério da Educação?
Deixo-lhe aqui uma passagem de um artigo que escrevi no princípio do ano sobre a desalavacagem da sociedade portuguesa, que não mudaria uma vírgula se o escrevesse hoje:

----- Mas as dificuldades só se ultrapassam fazendo por isso, corrigindo os problemas e os erros que estiveram ou estão na sua origem e adoptando novas estratégias e reorientando comportamentos e escolhas. Mas é seguro que nem um caminho nem outro terão sucesso se as pessoas não tomarem consciência da realidade e não formarem uma vontade sobre como fazer para o futuro. Por necessidade imediata, as famílias serão, de um modo geral, obrigadas a redimensionar os seus estilos de vida e a alterar as suas prioridades, aspectos que se farão sentir pelas limitações financeiras impostas por reduções nos rendimentos disponíveis e pela insegurança face ao futuro, como é o caso da eventualidade do desemprego. (…)
Sendo uma tarefa de toda a sociedade, é fundamental que a educação, numa concepção mais alargada de ética, cidadania e responsabilidade social e através dos vários núcleos em que a sociedade se encontra organizada – famílias, escolas, organizações – e dos vários canais de comunicação – comunicação social e redes sociais - ganhe um novo quadro de referência de princípios e valores que confira às pessoas confiança, autonomia e capacidade crítica. -----

O reforço dos exames é uma peça deste grande puzzle que temos de construir…

Bartolomeu disse...

Cara DRª Margarida; Está na "moda" comparar o ensino na Finlândia com o Português, apontando os resultados Finlandeses como modelares.
Não se pode comparar o incomparável.
Ou seja: a diferença entre o ensino na Finlândia e em Portugal, não reside somente no facto de como as matérias são ministradas, nem em como o rigor é aplicado a alunos, pais e professores.
A grande diferença entre o nosso ensino público e o de qualquer outro país europeu, reside no facto de em portugal residirem comunidades de emigrantes de várias origens, algumas das quais, não se resignam a aceitar os critérios de avaliação e de disciplina aplicados. E alguns (muitos) pais de crianças de origem cigana, africana, brasileira e protuguesa, resolvem o problema, dirigindo-se aos estabelecimentos de ensino e agridem professores e restante pessoal, partem equipamento e vandalizam as viaturas particulares.
A finlândia está livre destes problemas, o que, associado a uma gestão do ensino noutros moldes, lhe possiblita obter níveis de aproveitamento escolar, muito superiores aos nossos.
É sobre este aspecto que qualquer ministro da educação, precisa a meu ver, de se debruçar, tentando encontrar uma forma de reeducar e responsabilizar os pais, garantindo aos professores, condições que os estimulem e os levem a readquirir o gosto de ensinar.

Tonibler disse...

Bartolomeu,

As diferenças são todas e mais algumas. No dia em que a educação em Portugal deixar de ser discutida pelos professores e para os professores e começar a ser gerida como bem público que é, então podemos ir às comparações. Até lá a educação é apenas uma desculpa para termos uns milhares valentes de pessoas a viver à conta de uma abstracção. Uns milhares valentes + 1, se continua assim.

Não é por causa dos ciganos, dos exames, da violência, do.... essas são as desculpas. Em rigor, a culpa disso tudo é minha, porque à conta de ministros como aparentemente o Crato vai ser, tenho um quadro de pessoal, tenho equipamentos do melhor, tenho programas, tenho um monte de palhaços, tenho os maiores custos do mundo civilizado. Só não tenho educação.

Mas se for ver melhor, essa é a história de tudo o que o estado português produz.

Bartolomeu disse...

É claro que sim, Tonibler.
Mas ha que começar por algum lado. Então que seja por um lado fundamental, não sendo no entanto fundamentalista.

Fartinho da Silva disse...

Cara Margarida,

Concordo inteiramente consigo. Tentei apenas sublinhar os meus receios de que Nuno Crato não tenha paciência para aturar as inúmeras armadilhas que os lobbies que vivem à custa do status quo se preparam para montar. Nuno Crato foi uma escolha feliz e desejo-lhe muita paciência, coragem e sorte.

Caro Bartolomeu,

Enquanto não se responsabilizarem efetivamente os pais pelos atos, por vezes bárbaros, dos seus rebentos não será possível mudar a cultura do facilitismo, da indisciplina e da violência.

Rantanplan disse...

Cara dra. Margarida

Já apanhei governos de esquerda, de direita, de esquerda outra vez e de direita de novo. Em Portugal a esquerda é muito muito mais facilitista que a direita. A esquerda nem dá luta. A direita ainda vai disfarçando.

Tiago Barbosa disse...

Completamente de acordo com a exigência, com os exames e com a diferenciação, mas temos de repensar os conteúdos.

http://www.youtube.com/watch?v=hkPvSCq5ZXk

Tiago

Margarida Corrêa de Aguiar disse...

Caro Tiago Barbosa
Muito obrigada pelo vídeo. Não conhecia. É uma excelente síntese da complexidade da tarefa!

Tiago Barbosa disse...

Acrescento apenas uma extraordinária palestra do Sir Ken Robinson em 2006, que embora tenha alguns elementos comuns é inesquecível!

http://www.youtube.com/watch?v=iG9CE55wbtY

Bem haja,

Tiago