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quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Por terras da Eslávia do Sul-Palácio de Diocleciano-VIII



Volto a Split e ao Palácio de Diocleciano referido no meu último post.
Muitas vezes temos a ideia de que o planeamento de obras é coisa recente. E que data do tempo em que os economistas, engenheiros e matemáticos construíram as teorias do caminho crítico e os grafos, apoiados em modelos matemáticos no âmbito da investigação operacional. Apesar disso, as obras continuam a exceder o prazo previsto e os custos aumentam na proporção.
Tal não aconteceu certamente com o Palácio de Diocleciano, uma enorme estrutura com 215 metros de comprimento, e 180 metros de largura, um dos lados dando para o mar, ocupando uma área de cerca de quatro hectares. Espantoso é que esta obra imensa tenha demorado apenas onze anos a construir e pronta a ser habitada, para mais com pedra que tinha que ser trazida da ilha adjacente de Brac, célebre pela qualidade das suas pedreiras. Comparemos com o tempo de construção do Centro Cultural de Belém, obra mais simples e de muito menor envergadura.
Poderá imaginar-se a logística do projecto, que englobou a exploração de pedreiras, a construção de meios de transporte para o mar, de cais acostáveis, de inúmeras barcaças de transporte, de engenhos de içar as pedras. E que incluiu os trabalhos de arquitectura e escultura, as enormes colunatas, as estátuas, os bustos, as cerâmicas, e todos os adornos de um palácio imperial. Com legiões de pedreiros, canteiros, escultores, carpinteiros, artistas, cerâmicos, trabalhadores do ferro e do ouro, decoradores e o que mais se possa imaginar. Split tornou-se efectivamente num enorme centro empresarial, industrial e comercial de 294 ao ano 305 da nossa era.
Facto histórico e também original é que Diocleciano foi o único Imperador que tomou para si, e com antecipação, a decisão de resignar e fez construir o Palácio para viver após a entrega do poder, que aconteceu logo que findas as obras. Diocleciano viveu aí por mais uns seis anos, até ao fim dos seus dias. Perante as convulsões que se seguiram à sua resignação, ainda se tornou cônsul por um período curto, de forma a pacificar o Império, logo voltando ao Palácio para não mais regressar à política, embora para tal muito instado. Em vez do poder, dizia preferir dedicar--se a “cultivar os seus repolhos dálmatas…”.
Outra faceta de Diocleciano foi a perseguição feroz aos cristãos. Tal explica que não tenha sido encontrado em Split, região em que nasceu, viveu e morreu, qualquer vestígio de estátua ou busto que perpetuasse a memórias do Imperador. Tudo foi destruído, após o imperador Constantino ter adoptado o cristianismo como a religião do Império.

2 comentários:

Suzana Toscano disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Suzana Toscano disse...

São as vinganças da História. Ficam os palácios mas apaga-se tudo o que possa lembrar o homem e o sofrimento que causou...