1.Foram hoje divulgadas pelo BdeP as contas externas para o 1º semestre de 2011, verificando-se uma redução de quase 18% do défice da balança corrente em relação ao mesmo período de 2010, de € 9.760 milhões para € 8.003 milhões.
2.A correcção de maior amplitude regista-se na balança comercial (ou de bens), cujo défice se reduziu de € 9.081 milhões no 1º semestre de 2010 para € 7.492 no semestre terminado em Junho, ou seja – 17,5%, graças a um crescimento das exportações (+17,7%) a ritmo muito superior ao das importações (+5,8%).
3.Mas em termos relativos a melhoria mais significativa foi registada nas transferências correntes, onde se apura um superavit de € 1.766 milhões, mais de duas vezes (+105,6%) o registado em idêntico período de 2010 (+ € 859 milhões).
4.Note-se, no entanto, que a melhoria nas transferências foi devida sobretudo às transferências públicas, + € 713 milhões, pelo que não é de esperar a repetição deste cenário no 2º semestre.
5.O maior problema do desequilíbrio externo está agora no défice dos rendimentos, a que aqui já aludi por mais de uma vez e que resulta do enorme endividamento externo que acumulamos ao longo dos últimos anos: no 1º semestre deste ano este défice agravou-se cerca de 30%, ascendendo a € 5.172 milhões, contra € 3.980 milhões na 1ª metade de 2010.
6.Como é fácil concluir, este agravamento do défice dos rendimentos, de € 1.192 milhões, “ESTRAGA” em boa parte (75%) a melhoria registada no défice comercial, que foi de € 1.589 milhões...
7....E, por este andar, arriscamo-nos a chegar ao final do ano com um défice dos rendimentos superior a € 10 mil milhões, ou seja qualquer coisa como 6% do PIB...
8.Quer isto dizer que os sacrifícios que os portugueses estão a fazer para contrair as suas despesas e com isso contribuir para uma redução do endividamento do País, acabam por ser neutralizados pelo aumento dos custos do endividamento externo que consome uma fatia cada vez mais elevada daquilo que conseguimos produzir.
9.E isto também significa que a tarefa de reduzir a dívida externa se torna quase impossível, uma vez que é indispensável contrair nova dívida para financiar uma parte dos juros, além da totalidade dos reembolsos...
10.Não quero ser excessivamente pessimista, mas não sei como é que nos vamos livrar deste pesadelo...
11.Ou será que ainda poderemos dar crédito à famosa tese - muito popular há 11 anos e que até há pouco nos manteve embalados nas delícias de um despesismo tresloucado - de que o endividamento externo era tema irrelevante numa União Monetária?
7 comentários:
Caro Dr. Tavares Moreira,
O default é inevitável e quando mais tarde reconhecermos esta realidade pior será.
Caro Tavares Moreira,
Sem querer fugir ao facto de estas contas da dívida serem perfeitamente irrelevantes neste ambiente de resistência insular em que vivemos contra o colonialismo cubano da Sra. Merkel e do Sarkozy (que não tem direito a Sr.), não me parece que as contas resultem nas conclusões que tira.
O crescimento do custo do endividamento(2ª derivada do stock) registou-se, fazendo crescer o fluxo de dinheiro para pagar essa dívida (1ª derivada do stock) e vai levar a mais dívida (stock). Por isso é que vamos vender uns anéis, vamos meter uma rolha no Álvaro e vamos convencer o ministro das finanças a cortar nas despesas para que o stock decresça. Por isso é que temos dívida da troika a preço de amigo para que a 2ª derivada fique constante (3ª derivada nula...ok, esta era dispensável, mas foi só para armar confusão...) e assim reduzamos a 1ª derivada. No fim do ano, com o Álvaro calado, o ministro das finanças a ministrar e uns quantos anéis vendidos, a primeira derivada do stock já deve estar negativa.
Isto, claro, num exercício perfeitamente abstracto que esta região autónoma da República Federal Alemã estará dispensada de fazer.
O melhor era termos uma atitude inteligente seguir o exemplo da Terra Nova em 1936...
Caro Eduardo F,
Não serei tão definitivo nessa premonição, mas que estamos numa situação bastante esdrúxula, lá isso estamos...
Caro Tonibler,
O seu exercício mental, em que ocupam lugar destacado o stock da dívida ao exterior e as suas derivadas bem como um certo silêncio ministerial, tem uma virtude manifesta: é tão vertiginoso que escapa a qq crítica...
Provavelmente fundada em raciocínios desse estilo foi gerada a famosa teoria da irrelevância do endividamento externo, que tão bons frutos proporcionou...
Magistral resposta!...
Caro Tavares Moreira,
Se o meu raciocínio não leva a um aumento monótono da dívida, o seu também não. A que não vai interessar para nada, claro. Por isso é que as contas não levam às conclusões, a não ser que já esteja a contar com a aquilo que vai sair do orçamento de estado, tipo um TGV ou um reforçado serviço público de televisão...
Caro Pinho Cardão,
Generosidade de V. Exa, quiçà maior do que a dívida externa do País!
Caro Tonibler,
O meu raciocínio não leva a um aumento da dívida, certamente...mas também não a diminui, infelizmente.
Quanto às suas derivadas e ao silêncio de "Alvariño", se tiverem o condão de a reduzir, pois que sejam benvindos!
Caro Wegie,
Quererá ser um pouco mais explícito, em relação ao exemplo da Terra Nova?
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