A senhora ministra Assunção Cristas anunciou a intenção de o Estado finalmente liquidar a Parque Expo. A razão para esta decisão é óbvia: trata-se de uma empresa criada com finalidade muito precisa e determinada que se esgotou há muito. Porém, sobreviveu mais de uma década além do prazo razoável para o desmantelamento do Expo 98, fase final da existência social da empresa atento o seu escopo.
A verdadeira razão pela qual sobreviveu dá que pensar e deve constituir uma lição tal o preço hoje a pagar. Oficialmente a Parque Expo manteve-se no universo do sector empresarial público porque era necessária uma entidade gestora de tudo quanto sobrou da Expo 98. Imobiliário, pavilhões, oceanário, marina, infra-estruturas e alguns equipamentos que os municípios de Lisboa e Loures não quiseram assumir. Um acervo heterogéneo constituído sobretudo por bens de rendimento negativo (como é o caso dos pavilhões, com excepção do pavilhão atlântico) cuja manutenção gerou e acumulou dívida. Outra razão para a manter activa foi o aproveitamento do know how adquirido no plano da reabilitação de amplas zonas degradadas. Mas na realidade foi a dimensão da dívida a verdadeira razão para o prolongamento da vida da Parque Expo. É que a liquidação tinha e tem por efeito incontornável a assumpção pelo Tesouro do imenso passivo da Parque Expo. E todos os governos, confrontados com este efeito, foram "empurrando o problema com a barriga" à espera de melhor oportunidade para decretar o óbito (ainda que com pena do desaparecimento dos lugares de administração e não só, que sempre deram um jeitão para satisfazer algumas clientelas mais exigentes). O ponto de chegada é este: em Dezembro de 2010, o endividamento da Parque Expo atingia 224,9 milhões de euros. Os juros suportados nesse ano foram de 4,8 milhões de euros, registando-se 4,98 milhões de euros de prejuízos. Este caso é, pois, paradigmático e - espera-se -, uma lição para todos os que têm o poder de decidir sobre a conformação do sector público a qualquer nível de administração (central, regional, local).
Falta perceber como vai o accionista Estado resolver, nesta particular conjuntura, o impacto da liquidação efectiva da empresa. Seja como for, já se percebeu que o pior é fazer agora o que os outros fizeram, isto é, deixar que se agigante o que já se revelou absolutamente insustentável. Resolvido o imbróglio da liquidação, fica a consciência do tremendo erro que é manter uma empresa deficitária à espera que surjam melhores condições ou um negócio milagroso, capazes de fazer desaparecer ou diminuir o passivo entretanto acumulado. Estas ilusões espalhadas por gestores iluminados, mas sobretudo interessados num conveniente status quo, termina, sempre mais tarde do que mais cedo, pelo inevitável pagamento de uma factura que ninguém deixa de considerar indecente.
4 comentários:
Onde é que estão os pareceres e os estudos que davam a Expo98 como o ponto de viragem da economia portuguesa que daria lucros inimagináveis?
Assim, de repente, lembro-me de uns quantos assinados por vários professores do Técnico, de uns quantos economistas da Nova e alguns estrangeiros. Certamente estão arquivados em local bem guardado e prontos para sofrer o seu escrutínio. Onde andam? Como é que podemos aceitar novos estudos se não houver este escrutínio?
Só noticias horríveis ..não era o banana do Cavaco quem mandou fazer aquela despesa alucinante ..para subir o pib ?
Quem se aproveitou de tudo aquilo ? claro ..como sempre o mega ligado merceeiro gigante e os retardados da FIL..que assim fizeram concorrência desleal à Exponor ..herdaram tudo de graça ..
Simplesmente pornográfico .
Não tem uma jaula para esses animais que não fazem nada direito? ..desperdiçam tudo e depois vêm dizer que não há dinheiro ..e toca de arrancar mais couro do povo ..
Vão-se catar ..filhos de um chifre.
Assim não admira que apareçam mais ..hitlers..estalines ..maos ..salazares ..mussolinis ..breiviks..otelos/cunhais... um bocado de tarados que só chegam ao poder depois de muito descalabro .
Ao ler este post, lembrei-me de um outro, colocado recentemente pela nossa Amiga Catarina no seu blog, em que nos reporta (com direito a excelentes fotos) uma visita à cidade de Leiria e onde alude (dando lugar a um comentário mais promenorizado de as-nunes) às alterações exigidas a Lagoa Henriques, autor da escultura do Lis e do Lena. A alteração teve a ver com um "exagero" anatómico na figura de Lis, que o escultor entendeu de uma forma e a população mais conservadora, que o comentador classifica de «provinciana/pacóvia» entendeu de outra. O resultado final, foi que: Lis, perdeu uma parte do seu pénis, mas, a estátua salvou-se.
Será que, com a Parque Expo, vai acontecer o mesmo?
Ou seja; cortam-lhe a extenção peniana, mas o corpo mantem-se?!
Bom, se assim for, ao menos, deixará de poder... prejudicar tanto...
Caro Ferreira de Almeida:
Excelente e oportuno post sobre a situação da Parque Expo, coisa que nenhuma comunicação social fez ou se esforçou por fazer. Aliás, os comentários que ouvi nas televisões têm sido de total ignorância e de um primarismo absolutamente rasteiro.
Tem-se perpetuado uma situação por não haver coragem para as resolver, argumentando-se que um dia chegará em que as coisas irão melhorar. É mentira. Há casos em que só pioram. De modo que haverá que defrontá-los e resolvê-los, evitando sucessivas perdas de dinheiro.
Quanto à história da Expo, aflorada nalguns comentários ao post, claro que há, e eu tenho, opinião muito oposta. E sempre tenho dito, neste e em todos os casos de empresas públicas, que é necessário cindir a esfera empresarial da esfera do serviço público. O serviço público deve ser contratado com a empresa, definido com clareza o seu nível e ser objecto de indemnizações compensatórias, pelo défice que produzir. Como isto nunca é feito, nunca há responsabilidades: as empresas empurram para o Estado e este para as empresas, num círculo vicioso sem fim. Que leva a uma má gestão, mrelhor dizendo, a uma não gestão, porque ninguém é responsável. Como o serviço público (reabilitação dos terrenos e realização da Expo) terminou, não se vê por que persiste uma empresa na esfera pública, como alguns ainda defendem.
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