Olhei para a televisão no momento em que dava a notícia de uma menina que tinha fugido e pedido auxílio à polícia. A menina, muçulmana, de dez anos, explicava de forma serena o que lhe tinham pedido para fazer. O pai queria que fosse uma bomba suicida. Parei o que estava a fazer e dispus-me a ver com outros olhos o que se tinha passado. Uma manifestação de um comportamento ditado por regras e princípios alicerçados em fundamentalismos, não propriamente culturais, porque não fazem parte de nada a que se possa chamar cultura, mas de fontes de religiosidade extremamente duvidosas. A menina de dez anos, muito calma, explicou o que queriam fazer da sua vida, matar os outros a pedido, a pedido não, mandatada pelo próprio pai. Poder-se-á afirmar que o pai é um louco. Sim, louco sem dúvida, mas deverá haver muitos mais por aquelas bandas. Basta ver o número de suicidas que têm como único objetivo matar e fazer sofrer o próximo à custa da sua própria vida, "legitimados" com a certeza de virem a ser "premiados" no seu além, um além tão louco ou ainda mais do que o mundo em que nasceram. A jovem fugiu e pediu proteção contra o seu próprio pai. Estará a salvo? Duvido. Naquele mundo de insanidade quase que permanentemente nada garante que a menina não seja alvo de retaliação, pagando sempre com a vida a vida que outros queriam que perdesse levando consigo os inimigos dos seus.
Mas a vida por aqueles lados também apresenta sinais de humanidade e de superioridade que merecem ser realçados. Temos sempre a tendência para falar do mal, da desgraça, da miséria da condição humana e esquecemo-nos de valorizar o que de belo e superior ainda vai acontecendo. A história de um jovem muçulmano de quinze anos que fez frente a um suicida à entrada da sua escola onde frequentam cerca de dois mil anos merece ser contada. O rapaz chegou tarde à escola e não lhe foi permitido entrar na sala de aula. Ficou à porta da escola. Surgiu um indivíduo que pediu para entrar. Entretanto um colega viu que tinha um detonador e alertou para fugirem. O jovem recusou-se e enfrentou o homem suicida. Morreram. Com a sua atitude salvou a vida de muitos colegas. Chamava-se Aitizaz Hasan. Um herói que soube o que lhe ia acontecer. Deu a vida para salvar outras. Não me recordo do nome da menina que se recusou a suicidar-se, salvando assim a vida de muitos outros. Também é uma heroína. São histórias que merecem ser contadas e que dão algum alento e esperança à humanidade. Não foi longe daqui. Hoje, o longe desapareceu.
2 comentários:
É verdade, caro Professor Massano Cardoso, hoje, o longe, é um lugar que não existe.
Efetivamente são culturas que fazem crer que a passagem por esta vida é efémera, é expiação...
Mais do que o caso, o que me impressionou foi o ar da pequena, não lhe vi esse ar inocente que aponta, vi um ar de sofrimento de quem cresce à pressa...
Vai demorar muito mais tempo do que devia a eliminar estas crendices que até assustam se pensarmos como pais/filhos. a abordagem dos poderes tambem não deve ajudar -verem entrar umas tropas fandangas pelo país adentro com uma cultura tão diferente e arrogante deixa qualquer um revoltado e pouco colaborante.
Já a religiao catolica quando fez os 1500 anos teve um periodo bem carniceiro/selvagem . Os muçulmanos estão agora na sua idade media.
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