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quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

Despertar eleitoral

Há poucos meses, a comissária europeia para os Assuntos Internos alertou em Atenas para os perigos dos extremismos políticos na Europa, o sucesso das ideias da extrema direita, sobretudo entre os mais jovens, ou dos grupos de extrema esquerda, ambos conduzindo, disse, ao perigar dos "valores" da Europa, do que nos uniu e permitiu a construção da União Europeia como referência para outros países e culturas. A comissária disse então que cada cidadão era responsável por lutar contra essa ameaça, que não eram só os governos, enfim, uma catilinária inflamada empunhando a bandeira das nossas vantagens sociais e económicas. Há poucos dias, a mesma comissária alertou para o recrutamento de jovens europeus pela Al Qaeda e há noticia de muitos jovens que aceitam ir combater para a Síria. 
Em período de eleições europeias, estas preocupações assumem uma agudização patente. Custa a crer que tais perigos não tenham inquietado os responsáveis europeus antes que tomassem proporções preocupantes, custa a crer que os responsáveis europeus não suspeitassem que os anos de pesada austeridade, perda de expectativas, sofrimento e ausência de oportunidades para os mais jovens, que são em alguns países um exército de desempregados, os levasse a mandar às urtigas os tais valores por não lhes encontrarem qualquer vantagem para a sua vida. É certo que as forças extremistas vivem exclusivamente desse desencanto e dessa revolta, não propõem nada de melhor, bem pelo contrário, aterrorizam sobretudo os que sabem o que vale o que hoje ainda temos, mas as eleições à porta podem trazer uma crua realidade ao seio das instituições, em particular do Parlamento Europeu. Dai o pânico, a reviravolta apressada que deixou de falar na insustentabilidade do Estado Social europeu para exibir progresso económico, crescimento, fim do calvário, acenos aos jovens, medidas para os jovens, pressa em acudir aos jovens. Antes assim, pelos bons ou pelos maus motivos, antes assim, e que tenham muito sucesso, esperemos que não seja tarde demais e que os sensíveis mercados descubram agora que afinal os países europeus, renascidos, são um bom investimento.

6 comentários:

Luis Moreira disse...

É bem verdade. O discurso mudou porque o medo instalou-se!

Margarida Corrêa de Aguiar disse...

Suzana
Partilho da sua perplexidade. Uma mudança de atitude é bem-vinda, mas o que preocupa é que são os mesmos responsáveis que lançaram vagas de desânimo e desesperança, que foram assistindo, fiéis às suas agendas políticas, às consequências terríveis de uma Europa que afinal não foi capaz de em tempos difíceis de um olhar crítico sobre a escalada do desemprego, da pobreza e das desigualdades sociais e das suas ondas de choque. Lembrei-me do ditado "Depois de casa roubada tranças às portas". Tenho dúvidas sobre como se reganhará a confiança e como e quando a normalidade será restabelecida...

Anónimo disse...

Por vários motivos, mormente ligados à criminalidade e imigração, os movimentos de extrema direita já vinham crescendo em boa parte da Europa há mais de 10 anos. Agora com a crise, pois o esperado. Crescimento acelerado. A melhor forma de evitar estas situações é não cair nelas.

Suzana Toscano disse...

Alguém me dizia hoje que devíamos agradecer a Marine
Le Pen e ao holandês Wielder terem feito um acordo para as eleições europeias porque foi essa ameaça que mudou o discurso (já não ē mau) da Europa. Pelo menos até às eleições, depois se verá se os mercados voltaram a usar óculos ou não.

MM disse...

O problema é que, há já muito tempo, não há verdadeiros políticos, i.e., aqueles que vêem mais longe que o comum dos mortais, antecipando as situações e as políticas mais adequadas para as resolver. Aliás, em Portugal, os poucos verdadeiros políticos que anteciparam situações quase foram ridicularizados e desprezados por isso. Muitos anos depois verificaram que as previsões estavam correctas, mas, não só já era tarde, como já se tinham afastado da política...

Suzana Toscano disse...

Caro MM, em cada momento só ouvimos o que nos convém e quem diz o contrário é um incómodo.