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sexta-feira, 21 de julho de 2006

O descanso semanal

O meu hábito em cumprir horários tem algumas vantagens. Às vezes até julgo que já raia o foro da patologia, porque as malditas reuniões começam sempre com atrasos substanciais. Trata-se de um fenómeno tipicamente nacional para o qual não se prevê grandes alterações, sobretudo nos próximos 100 anos.
Desta feita, tive que ir ao Porto para integrar um júri de um concurso. Habitualmente, as reuniões costumavam ser no velho edifício de um quartel adaptado que, na minha opinião, era incompatível com a dignidade da Universidade do Porto. Agora, quase ao fim de 30 anos, a Reitoria regressa ao belo edifício da praça Gomes Teixeira cuja arquitectura, monumentalidade e localização honra a prestigiada instituição.
Para “matar” o tempo, fui ver vários painéis e expositores, distribuídos ao longo dos corredores, traduzindo uma interessante forma de divulgação cultural, com cópias de jornais e vários documentos, ilustrando curiosos aspectos de outras épocas e vivências.
Um gigantesco painel representava a primeira página do Jornal de Notícias de 18 de Julho de 1911. Pequenas notícias davam conta de acidentes de trabalho, da queimadura de uma criança, de acontecimentos sociais, da apresentação de livros científicos, do pedido de ajuda monetária por parte de gazomistas, presos na cadeia de Relação por terem ligado a canalização do gás à da água, entre muitas outras. Mas houve uma que me chamou a atenção, além da dos gazomistas, como é evidente, que foi a seguinte:

O descanço semanal
Transgressão –
A policia comunicou hontem para juízo que Maria Amélia, da rua de Cima de Villa nº7, transgredira a lei do descanço semanal.

É certo que a legislação do trabalho dos nossos dias contempla o merecido descanso semanal. Só que neste caso, em 1911, o não cumprimento da lei de descanso semanal levava o prevaricador a juízo. Mas afinal o que é que a Amélia andaria a fazer?
Aqui está uma boa ideia. Fazer uma lei de descanso semanal e quem não a cumprisse, zás, tribunal com o dito. O juiz decretaria que o réu passasse na prisão o seu dia de descanso semanal. Descansas ou não descansas? Nos dias que correm a loucura em trabalhar (os que trabalham mesmo) está num crescendo diabólico, originando o aparecimento de uma nova doença, o workaholism. Penso que alguns só parariam se houvesse uma lei que os obrigasse a tal. Uma lei muito saudável! Às tantas ainda está em vigor e nem sabemos!
Coitada da Amélia! Fiquei com uma curiosidade dos diabos sobre o que deverá ter feito, provavelmente, num pacato e quente domingo, esta cidadã que, presumo, não deverá ter sido nenhuma workaholic

1 comentário:

Massano Cardoso disse...

Cara JardimdasMargaridas

No meio desta história toda o que eu gostava mesmo saber é o que a Amélia fez!
Quanto ao descanso semanal penso (tirando os aspectos caricatos do post) que deve ser inculcado e explicitado a sua importância junto dos cidadãos como medida bastante saudável. E falo por mim…