"O futuro atormenta-nos e o passado retém-nos. É por isso que o presente nos foge"
Gustave Flaubert
.
Quem assistiu ao debate de ontem entre José Sócrates e Paulo Portas, apercebeu-se da estratégia que o PM vai seguir no seu confronto com os líderes do CDS e da PSD: chamar exaustivamente à colação a governação destes dois partidos entre 2002 e 2005, esperando com isso conseguir desviar a discussão dos temas da governação pela qual o PM responde nestas eleições.
Compreende-se esta estratégia. É o canal de fuga cavado por José Sócrates às muitas questões incómodas com que sabe que vai ser confrontado, num formato de debates que o desfavorecem à partida. Neste "um-contra-um", Sócrates tem de se defender de todos os seus críticos, o que convenhamos não é tarefa fácil, mesmo para quem tem a combatividade do actual PM.
Mas esta ideia de que a melhor defesa é o ataque arremessando o passado aos outros para tentar esconder as fraquezas do mandato, não me parece que venha a ser bem sucedida. Portas recordou-o e todos os outros o vão fazer também: nos últimos 17 anos, o PS esteve no poder 14, com maioria absoluta ou muito próximo da maioria, enquanto o PSD e o CDS 3. Pretender fazer crer que esses 3 anos são responsáveis pelos insucessos do presente e pelas sérias incertezas do futuro, nem o mais ingénuo convence.
Os eleitores entendem bem que o que vai ser julgado nestas eleições não são os governos ou os falhanços, de Durão Barroso e de Santana Lopes e daqueles que os acompanharam. Esses foram julgados em 2005 e é por causa desse julgamento que José Sócrates é PM, com a acrescida responsabilidade de governar em condições de excepcional estabilidade. Quem vai ser avaliado nestas eleições, é o governo do PS e a capacidade demonstrada pelo PM para resolver os problemas do País em confronto com as propostas dos restantes partidos.
O que se deixa escrito é uma evidência. Mas a clareza das evidências é por vezes ofuscada pela demagogia. Importa por isso ajudar a afastar a poeira e a repor a realidade.
15 comentários:
Bem, caro JMFA, essa é uma visão bipolar. Aquilo que as pessoas deviam verdadeiramente fazer era olhar para os demais 10 ou 20 partidos que têm propostas diferentes. Porque a questão não é se o Sócrates tem razão sobre as culpas do PSD e do CDS, porque tem; nem se o Portas tem razão sobre as culpas do PS, porque tem. Na verdade, PS, PSD e CDS têm culpas e, pegando nos argumentos de ambos e nos seus, são todos más escolhas.
Admito que em teoria possa o Tonibler ter razão. Só que os outros 10 ou 20 outros partidos não são parte da solução governativa nesta conjuntura. Ou se o são - e então estaremos a falar em coligações à esquerda, essas sim nunca exprimentadas - que o PS assuma como hipótese uma coligação com o PC ou o BE. Se o fizer, evidentemente que olharemos todos com mais atenção para as propostas destes partidos (não para as culpas dos seus dirigentes, porque também não é o passado de Jerónimo de Sousa ou Louçã que estão em causa), até para se perceber em que compromissos assentará essa solução de governo.
Caro Tonibler,
O seu argumento é absurdo. É obvio que todos os partidos são más escolhas porque não são perfeitos.
Em democracia escolhe-se o mal menor. Por isso cabe ao eleitor comparar e votar em conformidade.
Vir dizer que somos todos pecadores, com o qual estamos todos de acordo, é um truismo que falha o cerne da questão e é no fundo anti-democrático. Esse argumento tem sido utilizado ao longo dos tempos para atacar a democracia.
Cumprimentos,
Paulo
Mas, caro JMFA, os outros 10 ou 20 partidos não são solução porque as pessoas não votam neles porque acham que não são solução. Existe, aliás, uma explicação matemática para isso e graves consequências para o país que acaba, como se vê, por ser governado alternadamente por Dupond e Dupont
Pualo,
Talvez o meu último comentário lhe explique melhor
Essa propalada ideia de que todos são iguais é um chavão, meu caro Tonibler. Há diferenças, e grandes, entre os projectos das principais forças políticas em matérias relevantes. Só não os vê quem não quer.
Já existiram momentos eleitorais em que foram muito menos cavadas as distâncias entre as propostas dos partidos. Não é o caso destas.
Há pontos de convergência? Formas comuns de agir perante os mesmos fenómenos? Pois há, e ainda bem que existem.
Devo aliás dizer-lhe que por vezes há clivagens onde deveriam existir consensos; e também divergências artificiais que não são racionais e só servem para proclamar uma falsa diferença ou para ajudar a valorizar um ou outro político.
Quanto aos restantes partidos, deixe-me por-lhe a questão ao contrário que é como ela deve ser encarada: se os restantes partidos do arco parlamentar não concentram a maioria dos votos e não são em si mesmos solução alternativa a PSD e PS é porque simplesmente o eleitor não quer. Ou, dito pela positiva, o eleitor confia mais na alternância entre os dois maiores partidos. É mau? É a vontade do Povo. E devo dizer-lhe que é menos mau, muito menos, do que ter o PCP ou o BE a governar. Como aliás o Tonibler bem sabe.
Caro Dr. J A. Ferreira de Almeida ... eu acredito mais na Vontade do Povo quando o voto fôr obrigatório .... (e mesmo assim ...) ou quando as pessoas (todas) se consciencializarem de que Votar é um Dever. Um Dever importante ...
Entre os projectos, caro JMFA? Tenha dó de mim. Aquilo a que chama projectos são inventários de verbos no infinitivo, não são projectos. No resto, na prática, naquilo que interessa ao fim do dia, são duas faces da mesma moeda. Os financiadores são os mesmos, os interesses são os mesmos, as políticas executadas são as mesmas, a forma abusiva de utilização dos bens públicos é igual....podia estar aqui o dia todo, mas se me lembrar de uma "terrível" medida de um governo que tenha sido revogada pelo governo seguinte, eu até posso concordar. Ora deixa cá ver....nop, nada!
Quanto aos restantes partidos, claro que é a vontade de povo, ninguém disse o contrário. Como a utilização do windows, do Google, dos blogues, dos contactos sexuais, das ligações do aeroportos, da cooperação cientifica, do Facebook, do Twiter,.... A esmagadora maioria da redes humanas funciona exactamente assim. Quanto mais votos tem um partido, mais provável é obter um novo voto . Só que nada disto tem a ver com ideias, interesses nacionais, ou vontade colectiva, esses são factores secundários. E quando as coisas se passam assim, tem que se provocar um desiquilíbrio que altere a forma das coisas se passarem, que retire a unanimidade. Por isso falava de "fazer" as pessoas votar noutros partidos.
Eu não estava a falar de PCP ou BE, até poderia estar a falar de um JMFA que resolvesse ser PM.
Com o presente a fugir
e um passado retido,
há quem faça por mugir
um futuro incontido.
A clareza das evidências
sensatamente explicada,
destaca as clarividências
pela demagogia ofuscada.
Livra, Tonibler! Já vi que o meu Amigo não gosta mesmo de mim...
Não me consigo lembrar de nenhum que tenha saído de lá pior do que entrou, caro JMFA.
Talvez...todos ;)
Por acaso, vendo bem, meu caro amigo Ferreira de Almeida.... Ora vá lá pensando no assunto.
Não querendo tirar mérito à substãncia (que me parece sólida), apenas julgo de alertar para um erro, certamente involuntário.
Não são 17 anos, são 14 (de Outubro de 1995 a Outubro de 2009), o que perfaz cerca de 11 anos de governos do PS (de Outubro de 1995 a Abril de 2002 e de Março de 2005 a Outubro de 2009) e cerca de 3 do PSD (de Abril de 2002 a Março de 2005).
www.odivademaquiavel.blogspot.com
Tem toda a razão, Núncio. Fica a correcção e o agradecimento.
Enviar um comentário