Como a comunicação social, seguindo o politicamente correcto, optou por ignorar o fundamento primeiro do Natal e, culturalmente ignorante, nem sabe nem sonha que o acontecimento serviu de inspiração aos grandes poetas portugueses, cristãos ou de outros credos, ateus ou agnósticos, aqui irei deixar, nos próximos dias, alguns poemas sobre o Natal verdadeiro.
Começo por Guerra Junqueiro
Sobre a palha loura / Dorme a rir, Jesus
Tudo a rir se doura / De inocente luz.
Há no olhar etéreo / Do boizinho bento
Sonhos de mistério / Num deslumbramento…
Chegam pegureiros / Chegam-se ao redor
Tal e qual cordeiros/ Para o seu pastor
Anhos que vêm vindo / Põem-se a meditar
Que zagal tão lindo / Para nos guiar!
Ajoelham magos, / Êxtase profundo!…
Com os olhos vagos / No senhor do mundo…
E banhada em pranto / Mãe se transfigura
Por divino encanto, /Numa virgem pura.
Guerra Junqueiro
Publicada, por primeira vez, em O Comércio do Porto Ilustrado (Natal 1893), com ilustração de Roque Gameiro, esta composição foi depois retomada em Poesias Dispersas (1920).
5 comentários:
Bonito. Não conhecia. Feliz Natal, também
Muito bonito. Festas felizes.
Era-me difícil imaginar que do coração de um revolucionário republicano, pudesse brotar poesia tão doce.
:D :D :D
O natal faz esses milagres, caro Bartolomeu. Mas há-de ver mais!
Quanto a G. Junqueira, a sua poesia e geralmente muitoterna e doce. Lembro-me da Moleirinha
Bela evocação, caro Dr. Pinho Cardão. Recordo-me de recitar-mos os versos da Moleirinha, na escola primária. Estávamos em pleno regime Salazarista mas, ou os sensores não "toparam" ou fingiram não perceber o sentido de alguns versos, como por exemplo:
Vai sem cabeçada, em liberdade franca,
O jerico ruço duma linda cor;
Nunca foi ferrado, nunca usou retranca,
Tange-o, toque, toque, a moleirinha branca
Com o galho verde duma giesta em flor.
;)
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