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terça-feira, 10 de dezembro de 2013

Situação e perspectivas económicas melhoram, ou será que a realidade está errada?

1. O BdeP divulgou hoje o seu Boletim Económico de Inverno, com melhorias da actividade económica tanto na estimativa para 2013 como sobretudo nas projecções para 2014 e 2015.

2. Para 2013, a estimativa continua a ser de queda do PIB, mas revista em baixa, de -2% na versão do Verão e de -1,6% na versão do Outono, para -1,5% agora.

3. Para 2014 a projecção é agora de um crescimento do PIB de 0,8% - em linha aliás com as previsões mais recentes do FMI - enquanto na projecção anterior (do Verão) se limitava a 0,3%.

4. Mais expressivamente, são avançados significativos superavits para as contas com o exterior, não obstante a retoma prevista da procura interna (cujo contributo para o crescimento do PIB passa a ser positivo de 2014 em diante) – o saldo conjunto das Balanças Corrente e de Capital deverá atingir 2,5% do PIB em 2013 e 3,8% em 2014, enquanto que o saldo das Balanças de Bens e de Serviços chegará a 1,7% do PIB em 2013 e a 2,7% em 2014.

5. Olha-se para estas estimativas e projecções e fica-se incrédulo: então vai ser (vai sendo) mesmo possível, com sujeição a políticas neo-liberais, a economia portuguesa recuperar do atoleiro em que foi deixada pelas políticas parvo-keynesianas que a conduziram até á fronteira da insolvência?

6. Convém recordar, neste ponto, que a economia começou a afundar – com quedas trimestrais sucessivas do nível de actividade - a partir do 2º trimestre de 2010, praticamente no auge das políticas parvo-keynesianas, e que a recuperação foi encetada no 2º trimestre de 2013, em pleno domínio das políticas neo-liberais...

7. Pior ainda, esta recuperação, iniciada no 1º semestre de 2013, promete continuar e mesmo intensificar-se em 2014 e seguintes!...

8. Tudo isto está em total desacerto com o discurso ainda largamente dominante neste País, segundo o qual, com políticas neo-liberais como aquela que nos tem sido imposta pelos credores internacionais e pelos especuladores do mercado de capitais, a economia só tem um caminho: uma recessão cada vez mais profunda (“em espiral”, diz-se a cada passo), o País e os Portugueses cada vez mais pobres...

9. Das duas, uma: ou está errado o discurso dominante ou está errada a realidade! Como o discurso dominante exprime uma verdade axiomática, indiscutível, forçoso é concluir que a realidade é que está errada!



13 comentários:

Carlos Sério disse...

“então vai ser (vai sendo) mesmo possível, com sujeição a políticas neo-liberais, a economia portuguesa recuperar do atoleiro em que foi deixada pelas políticas parvo-keynesianas que a conduziram até á fronteira da insolvência?”
Falemos então do atoleiro e de quem por ele é responsável.
CRESCIMENTO
De Março de 2005 a Junho de 2011 a média anual de crescimento foi de 0,33p.p. De Junho de 20011 a 2013, na governação Passos/Portas o crescimento deu lugar à recessão e foi de menos 2p.p. ao ano.
INVESTIMENTO
Segundo dados do INE e dados constantes do orçamento rectificativo, o investimento em Portugal começou a diminuir a partir de 2007, tendo-se registada uma quebra muito mais acentuada a partir de 2010, ou seja, após a entrada da “troika” e do governo PSD/CDS.
Assim, enquanto entre 2005 e 2010, portanto num período de 5 anos, o investimento caiu em 10,9%, entre 2010 e 2013, portanto num período de apenas 3 anos com a “troika e o governo PSD/CDS, a redução do investimento atinge 38%. Entre 2010 e 2013, o investimento total em Portugal a preços constantes, ou seja eliminando o efeito do aumento de preços, diminui de 33.232 milhões € para 22.984 milhões €, o que significa um corte de 10.248 milhões € (menos 30,8%).
DESEMPREGO
Quanto ao desemprego ele subiu de 7,6% em 2005 para 12,6%em Junho de 2011 e 16,4% em 2013. Subiu a uma taxa de 1p.p. ao ano na governação Sócrates para uma média de 2p.p. (mais do dobro) na governação Passos/Portas.
DÍVIDA PÙBLICA
De Março de 2005 a Junho de 2011 a dívida passou de 67,7% para cerca de 100% (Junho de 2011) enquanto de Junho de 2011 a 2013 a dívida aumentou em 31,3p.p. (de 100% para 127%).
A subida da dívida pública tem uma média de 5,4p.p. ao ano no tempo de Sócrates enquanto na governação de Passos Coelho e Portas o aumento da dívida de Junho de 2011 a 2013 é de 31,3p.p., isto é, uma média anual de 12,5p.p..
O neoliberal-cretinismo é cego e insuportável.

Tonibler disse...

O que este país não faria sem esta república de Cavacos, Jaquinzinhos e outras iguarias regionais...

Brytto disse...

Aí que saudades que eu tenho dos boletins do Banco de Portugal que cada vez que surgiam pioravam o cenário macroeconómico para os próximos meses e anos vindouros! Isso é que eram tempos gloriosos que provavam inequivocamente que estas políticas ultra-neo-liberais só nos poderiam levar até ao fim dos mundos, infelizmente, temo que estejam a terminar, mas ainda estou com esperança no Tribunal Constitucional, mas, confesso, já estive mais tranquilo!

opjj disse...

Caro Dr.T.M. Volto ao tema. O que me incomoda são os 118.000 carros importados até Outubro(creio).Que bom seria saber marcas e quantidades e o fim a que se destinam.SE SOUBER, publique.O dinheiro entra com empréstimos e sai com dívida.Quem será que tem tão bons salários em Portugal?
Noto que tem aqui amigos Á PERNA. Eu que sou um leigo, à anos que esperava batermos na parede.Se me permitir para os amigos de Sócrates, opinadores acima, informo;
Em 2008, meu PAI tinha 102 anos e uma pensão (obtida com 71 anos de idade)de França de 290€ e de cá
uma pensão de 232€ tb com 71a. Chamado a confirmar a pensão de França, em Fevereiro de 2008, Sócrates corta-lhe 51€.
cumprimentos

Pedro disse...

entretanto...os perigosos Crescimentistas continuam a manifestar-se desavergonhadamente:

http://diariodigital.sapo.pt/news.asp?id_news=673864

José Couto Nogueira disse...

Quem sou eu, ignorante de economia, para comentar, no entanto uma coisa parece-me evidente: as belas políticas neo-liberais tiram o país da recessão (talvez, espera-se) à custa de salários mais baixos e, em geral, pior qualidade de vida durante os próximos xx anos. Então a pergunta é: queremos uma balança comercial saudável, ou queremos ter qualidade de vida, assistência e ensino gratuitos, etc?

Oscar Maximo disse...

Segundo Couto Nogueira, querer é poder, era bom que fosse assim.

Luis Moreira disse...

Carlos Sério, olhe como é simples :PARA OS SIMPLÓRIOS PERCEBEREM, EXPLICAÇÃO SIMPLES:
«Tal como numa viatura pesada carregada, quando se trava em 2011 só se pára em finais 2012 e quando chega o momento de se começar a acelerar só se atinge uma velocidade animadora em 2015». (Carlos Carvalho, aqui no fb)

Tavares Moreira disse...

Caro Tonibler,

Não quer avançar uma agenda para desrepublicanização do País (com menos Observatórios e menor número especialistas em vários ramos científicos na CML, por exemplo), a partir dessa inspirada "boutade"?

Caro Brytto,

Seja bem-vindo a este Blog, e logo com uma bem humorada nota de comentário...bem humorada e bem a propósito, também...

Caro opjj,

A informação que pretende poderá ser-lhe fornecida pela ACAP, certamente, que tem uma base de dados com toda essa informação - eu não tenho.
Quanto à sua preocupação, compreendo-a, mas note que as projecções do BdeP já incorporam esse factor e, mesmo assim, apontam uma folga crescente nas contas com o exterior...oxalá se não enganem...
Quanto aos "amigos" à perna, não constituem motivo de preocupação: prefiro os que manifestam a sua hostilidade, mesmo que por vezes de forma rude ou (muito) inconveniente, àqueles que mordem pela calada...

Caro Pedro,

Sempre bem-humorado, apraz-me registar!

Caro Couto Nogueira,

Bem-vindo a este Post! Se me permite, eu atrevia-me a querer as duas coisas, dede que (ou na medida em que) sejam compatíveis...
Quanto à saída da recessão com salários mais baixos, permito.me solicitar a sua atenção para o facto de o BdeP prever subida de salários nos anos mais próximos,ainda que moderada.

Caro Óscar Máximo,

"Sol na eira e chuva no nabal", também se dizia há umas boas dezenas de anos...

Carlos Sério disse...

Depois do verdadeiro desastre económico e social a que nos levaram as políticas neoliberais, nestes últimos quatro anos:
Recessão total de 8,6% em menos de quatro anos (-2,9% em 2009; -1,5% em 2010; -3,2% em 2012; -1,0% em 2013);
Destruição de milhares de empregos e falências de milhares de empresas;
Aumento do desemprego (que subiu de 9,5% para 15,7%);
Emigração de jovens qualificados da ordem dos 200.000/ano;
Aumento das desigualdades sociais (uma minoria duplicou a riqueza enquanto a esmagadora maioria viu diminuíram drasticamente os seus rendimentos);
Aumento da pobreza e do risco da pobreza;
Aumento em escalada da falta de pagamentos das famílias da água, electricidade, gás e prestação das casas;
Deterioração dos cuidados de Saúde, da Educação e Protecção Social;
Redução de salários e pensões e aumento de impostos sobre o trabalho;
Venda ao desbarato do património de todos nós em especial das empresas que davam mais lucros;
Depois de tudo isto, causado pela aplicação das medidas neoliberais, vêem agora os cegos e obstinados ortodoxos dizerem-nos que o crescimento do terceiro trimestre de 0,2% de 2013 (que compara com um crescimento de 1,1% no segundo trimestre de 2013), é sinal de mudança e fruto das tais medidas neoliberais que arruinaram o país nestes últimos quatro anos. Eu não sei se o país já bateu ou não no fundo, mas tudo leva a crer que este débil crescimento não é sustentável (1,1% no segundo trimestre e apenas 0,2% no terceiro) e que a avançarem as propostas orçamentais para 2014, teremos novamente a recessão à porta.
Depois da ruina que causaram ao país gabam-se agora os nossos ortodoxos ultra liberais que agora é que a coisa está bem e que se espera um futuro radioso de recuperação. Será que isto fará algum sentido?

Tonibler disse...

Caro Tavares Moreira,

A desrepublicanização não precisa de mim, o trabalho que está a ser feito pelo PR deverá surtir os seus frutos muito em breve e cumprirá com o seu propósito de tomar um lugar de destaque na história. Senão igual ao de D. Carlos como o Soares tanto reclama, pelo menos o de D. Manuel II parece razoavelmente garantido.

Tavares Moreira disse...

Caro Tonibler,

Tenho a noção de que, especialmente depois de rompida a "Plataforma de Estocolmo", o Senhor deve mesmo avançar com uma agenda própria (que bonito...) para lançar as bases da desrepublicanização do País!
Começando onde muito bem entender -Belém, S. Bento, Observatórios, CML, Fundações, PPP, etc - embora com a preocupação de não concorrenciar o projecto da Reforma do Estado, agora que foi registada a respectiva patente.
Não me parece que seja pessoa para fugir ás suas responsabilidades históricas...e não lhe faltarão apoios, estou "seguro"!

Tonibler disse...

Isso de "seguro" é coisa de que nos podemos todos gabar de ser. Menos que isso é que não.

Quanto à agenda própria, de facto tenho notado uma enorme escassez de propostas políticas consistentes, que defendam a independência nacional contra os vis ataques da ditadura austeritarista da sra. Merkel e do imperialismo capitalista dos especuladores da economia de casino e que mandem daqui a troika embora. Nesse sentido estou tentado a formar um partido completamente original na área da esquerda moderada, ocupando uma espaço do espectro político completamente deserto: o da esquerda democrática de inspiração socialista, algo entre o partido do Rui Tavares e o Bloco, tocando assuntos caros ao PH, ao MMS e ao PDA. Já penso, aliás, que o partido apoie de forma incondicional a candidatura do sr. Manuel Almeida à presidência (do qual subscrevo inteiramente a sua mensagem à família de Mandela: http://www.youtube.com/watch?v=rzqDBBkkA7Y) para substituir a sinistra figura que a ocupa.

Se há responsabilidade a que não fujo é a minha responsabilidade histórica!