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quarta-feira, 17 de maio de 2006

“Capela da Casa Grande”



O estudo “Combate ao tráfico de seres humanos e trabalho forçado na Europa – o caso de Portugal” teve pouca, ou quase nenhuma repercussão. Trata-se de um relatório, onde os autores concluem pela existência de várias formas de exploração laboral, inclusive coacção física, a que os emigrantes portugueses estão sujeitos por esse mundo. Espanha e Holanda constituem dois países, onde os nossos compatriotas são vítimas de graves atentados contra a dignidade humana.
Atendendo às circunstâncias do nosso país, observa-se uma tendência para uma nova diáspora e, sendo assim, mais pessoas irão ser alvo de exploração desumana.
Quando tenho conhecimento de situações, tais como as descritas, não deixo de sentir uma sensação de náusea perturbadora.
Há muitos anos, tive a oportunidade de visitar o museu da escravatura em Luanda. Num pequeno morro, a “Capela da Casa Grande” encerrava com muita simplicidade vários testemunhos daqueles tempos. Gravuras, utensílios diversos, instrumentos de tortura, haveres de velhos escravos, preenchiam aquele espaço, sobranceiro a uma planície de águas tranquilas onde os barcos negreiros iam colher os negros. Era naquele ponto que os concentravam antes de embarcarem para a América, nomeadamente, o Brasil. Foram dezenas, ou melhor, centenas de milhar, os que viram pela última vez a sua terra. A zona, bela e silenciosa, não era suficiente para limpar as alvas paredes do edifício, impregnadas de dores e sofrimentos, facto que eu interpretei como responsável por um crescendo mal-estar que ia sentindo. Roubavam os corpos à África, mas também, antes de os despejarem nos porões dos navios, os despojavam da sua essência ao baptizarem-nos à força. Escravos sim, mas cristãos!
A segunda vez que senti algo semelhante ocorreu no decurso de uma exposição itinerante sobre instrumentos de tortura utilizados pela Inquisição. Em Coimbra, escolheram o Pátio da Inquisição e o edifício onde funcionou esta tenebrosa instituição. Os instrumentos não eram réplicas, eram originais e foram mesmo utilizados em seres humanos a quem se procuravam roubar e escravizar a alma. Sinceramente, não consegui chegar ao fim. A sensação de mal-estar foi tão forte que demorei muito tempo a recuperar.
Hoje, não há escravatura, nem Inquisição, mas os atentados contra a dignidade humana continuam a verificar-se. Na área laboral, e não só, continuamos a verificar fenómenos pouco dignificantes. É preciso que os responsáveis tomem iniciativas, que divulguem os estudos, que debatam até à exaustão toda esta problemática, que sacrifiquem a obscenidade da informação desportiva, da propaganda política, da saloiada de eventos sociais, e foquem mais atenção nas formas modernas de “escravatura” e de “inquisição”. E não me venham dizer que tudo isto sempre existiu e que há-de continuar a existir, ou que não há mecanismos de controlo ou de fiscalização, porque não aceito. Investiguem e punem como verdadeiros criminosos todos aqueles que atentem contra a dignidade humana, a qual se expressa de muitas maneiras, não esquecendo que o trabalho é o seu expoente máximo.

3 comentários:

João Soares disse...

(off-topic- mas respondendo à questão do post sobre ano lectivo 2005-2006 Florestas....pretendia enviar por mail, mas os senhores não deixaram mail de contacto, o que não me resta outra opção colocar aqui a mensagem)

Estimada Dra. Clara Carneiro

O estimado Dr.Pedro Bingre publicou hoje um post que vai de encontro a algumas das suas dúvidas.
Contudo, permita-me relembrar que aos particulares não é exigido taxação do uso do solo, prática mais corrente nos outros países ocidentais.Relembro também mais de 97% da floresta nacional é privada.
A ZIF torna-se portanto uma medida paralisante...a não ser que os protugueses (algum dia) saibam negociar....as partes podem perder um pouco mas ganhavamos um ouro verde que podíamos ter, amar e cuidar.
http://ambio.blogspot.com/2006/05/quem-paga-factura-do-combate-aos-fogos.html

Cumprimentos cordiais
João Saores, biólogo
editor do blogue BioTerra
http://bioterra.blogspot.com
bioterra@iol.pt

João Soares disse...

Errata
portugueses
João Soares

Massano Cardoso disse...

Europeus, negros, asiáticos, polinésios, verdes, vermelhos, que interessa?
Fardo? Sim! De seres humanos.