Foi anunciado pela RTP para hoje um debate sobre as maternidades no programa de Fátima Campos Ferreira, Prós e Contras. Este, de facto, é um tema que merece debate profundo.
Creio bem que esta matéria de encerramento e “deslocalização” de maternidades irá constituir para o actual Governo o que o “buzinão” foi para o Governo de Cavaco Silva.
E isto por três motivos: a carga emotiva ligada ao tema, o elemento afectivo que a “terra” sempre constitui e o abandono de que o interior se sente vítima.
A sensibilidade do tema tem a ver com o momento primordial do ser humano, o nascimento. Para a família, para o pai e sobretudo para a mãe, o acto de dar à luz é o acto mais vivido, mais simbólico, mais significativo, mais perdurável da vida de uma mulher. Se há algo de misterioso e “sagrado” na existência humana é esse momento. Nele se misturam a preocupação e a esperança, a ansiedade e o alívio, a dor e a alegria e aí que as emoções atingem o paroxismo.
O acto de dar à luz, que para os mais velhos ainda foi sobretudo em casa, tem que ser ali, perto de onde mora a mãe, onde ela se sente bem e acompanhada.
Por mais racional e científica que seja a explicação, o nascimento está envolto num manto de mistério e bule com o mais profundo das emoções. Todos querem estar ali ao lado, para delas partilhar no momento.
Por isso, qualquer abordagem mais racional não consegue ir de encontro ao profundo sentir das pessoas.
Por outro lado, os pais querem que o filho também seja filho da sua terra, já que a "terra", lugar em que se nasceu, constitui um elemento fundamental de identificação e até de identidade. A terra é um imaginário tão forte que é para lá que muitos gostam de voltar, ao morrer, selando na sua "terra" o último elo da vida.
Por isso, o ter que nascer noutro lugar ou, por absurdo, num país estrangeiro, é para os pais sempre uma enorme violência.
Em terceiro lugar, as gentes do interior estão sistematicamente a ver-se desapossadas de tudo: as pessoas saem, a mão-de-obra falta, as indústrias rareiam e, para cúmulo, até os serviços públicos fogem.
Neste ambiente, as maternidades de cada terra, sentidas como uma aquisição irreversível, são vistas como o último “direito” de que as populações podem prescindir. Acabar com elas é como que amputar um pouco da sua própria vida.
Pretender justificar o fecho das maternidades, argumentando com o desprezível inconveniente de uns minutos a mais ou a menos de auto-estradas ou de uns quilómetros a mais para cá ou para lá, é menosprezar todo o mundo de sentimentos e emoções ligados ao nascimento.
E o homem, se é razão, também é emoção, como tão bem explicou António Damásio.
Por todas estas razões, que o Governo devia compreender, as coisas não irão acabar bem… penso eu!...
Creio bem que esta matéria de encerramento e “deslocalização” de maternidades irá constituir para o actual Governo o que o “buzinão” foi para o Governo de Cavaco Silva.
E isto por três motivos: a carga emotiva ligada ao tema, o elemento afectivo que a “terra” sempre constitui e o abandono de que o interior se sente vítima.
A sensibilidade do tema tem a ver com o momento primordial do ser humano, o nascimento. Para a família, para o pai e sobretudo para a mãe, o acto de dar à luz é o acto mais vivido, mais simbólico, mais significativo, mais perdurável da vida de uma mulher. Se há algo de misterioso e “sagrado” na existência humana é esse momento. Nele se misturam a preocupação e a esperança, a ansiedade e o alívio, a dor e a alegria e aí que as emoções atingem o paroxismo.
O acto de dar à luz, que para os mais velhos ainda foi sobretudo em casa, tem que ser ali, perto de onde mora a mãe, onde ela se sente bem e acompanhada.
Por mais racional e científica que seja a explicação, o nascimento está envolto num manto de mistério e bule com o mais profundo das emoções. Todos querem estar ali ao lado, para delas partilhar no momento.
Por isso, qualquer abordagem mais racional não consegue ir de encontro ao profundo sentir das pessoas.
Por outro lado, os pais querem que o filho também seja filho da sua terra, já que a "terra", lugar em que se nasceu, constitui um elemento fundamental de identificação e até de identidade. A terra é um imaginário tão forte que é para lá que muitos gostam de voltar, ao morrer, selando na sua "terra" o último elo da vida.
Por isso, o ter que nascer noutro lugar ou, por absurdo, num país estrangeiro, é para os pais sempre uma enorme violência.
Em terceiro lugar, as gentes do interior estão sistematicamente a ver-se desapossadas de tudo: as pessoas saem, a mão-de-obra falta, as indústrias rareiam e, para cúmulo, até os serviços públicos fogem.
Neste ambiente, as maternidades de cada terra, sentidas como uma aquisição irreversível, são vistas como o último “direito” de que as populações podem prescindir. Acabar com elas é como que amputar um pouco da sua própria vida.
Pretender justificar o fecho das maternidades, argumentando com o desprezível inconveniente de uns minutos a mais ou a menos de auto-estradas ou de uns quilómetros a mais para cá ou para lá, é menosprezar todo o mundo de sentimentos e emoções ligados ao nascimento.
E o homem, se é razão, também é emoção, como tão bem explicou António Damásio.
Por todas estas razões, que o Governo devia compreender, as coisas não irão acabar bem… penso eu!...
5 comentários:
Boas,
acho que sobre a questão do fecho das maternidades ainda se vai falar bastante. Mas se para mim até me parecem pacificos os fechos de algumas maternidades por imperativos de melhoria dos cuidados prestados, acho incrivel e inaceitável que não haja uma revolta contra um ministro que argumente que as crianças podem ir nascer a Espanha, no caso da maternidade de Elvas! Mas que raio de país é este em que nem as nossas mães podem ter os filhos em Portugal?
Há aspectos técnicos e há aspectos sociais. Quando não se conciliam geram conflitos, como é fácil de ver.
Eu já tenho a solução aqui:
http://tonibler.blogspot.com/2006/05/mega-maternidade-de-sines.html
Uma Mega Maternidade em Sines e fecham-se as outras todas! Mais eficiente que isto?
Não mafr. A proposta é a inversa. Acabam-se com TODAS as maternidades e constrói-se uma única em Sines. Assim evita-se a dispersão de salas de parto, maquinaria, aparelhagem, etc...
Brilhante, meu caro Tonibler, brilhante.
Com uma vantagem adicional, à boleia da localização proposta: teremos portugueses mais refinados! Aptos a participarem em qualquer "gala dos pequenos cantores" ou outro evento de igual calibre.
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