Depois de descrever o perfil dos Congressistas, irei dar uma breve nota sobre a estrutura dos discursos, de acordo com a casta em que os militantes se inserem.
Nos Congressos, o tempo de discurso é inversamente proporcional à nobreza da casta. O que é natural, dado que os espécimens das castas mais baixas devem guardar a voz essencialmente para aplaudir o líder, enquanto os espécimens das castas mais nobres têm que propor de novo todas aquelas ideias brilhantes já ouvidas em Congressos anteriores, mas que não conseguiram realizar nas múltiplas vezes que estiveram no Governo.
O discurso do Militante de Base não iniciado em Congressos, que integra a casta inferior, articula-se nas seguintes três partes:
-a primeira, que consiste na evocação. O bom militante de base começa por evocar pausadamente as pessoas a quem se vai dirigir: o Presidente da Mesa do Congresso, o Presidente da Comissão Política Nacional, o Presidente do Conselho de Jurisdição Nacional. A seguir saúda a JSD e os TSD,s e logo depois os Companheiros.
-a segunda, que consiste em situar o discurso no tempo social-democrata. Nesta parte, o militante salienta então que este é o primeiro Congresso após as eleições directas, em que todos os militantes puderam livremente escolher o seu líder. Seguem-se profundos elogios ao carácter, seriedade e capacidade do líder e às qualidades que tem para se opor ao Governo do Eng. José Sócrates, que está a desgraçar este nosso Portugal.
Nos Congressos, o tempo de discurso é inversamente proporcional à nobreza da casta. O que é natural, dado que os espécimens das castas mais baixas devem guardar a voz essencialmente para aplaudir o líder, enquanto os espécimens das castas mais nobres têm que propor de novo todas aquelas ideias brilhantes já ouvidas em Congressos anteriores, mas que não conseguiram realizar nas múltiplas vezes que estiveram no Governo.
O discurso do Militante de Base não iniciado em Congressos, que integra a casta inferior, articula-se nas seguintes três partes:
-a primeira, que consiste na evocação. O bom militante de base começa por evocar pausadamente as pessoas a quem se vai dirigir: o Presidente da Mesa do Congresso, o Presidente da Comissão Política Nacional, o Presidente do Conselho de Jurisdição Nacional. A seguir saúda a JSD e os TSD,s e logo depois os Companheiros.
-a segunda, que consiste em situar o discurso no tempo social-democrata. Nesta parte, o militante salienta então que este é o primeiro Congresso após as eleições directas, em que todos os militantes puderam livremente escolher o seu líder. Seguem-se profundos elogios ao carácter, seriedade e capacidade do líder e às qualidades que tem para se opor ao Governo do Eng. José Sócrates, que está a desgraçar este nosso Portugal.
Neste momento, contudo, a Presidente do Congresso, Dra. Manuela Ferreira Leite, bate duas vezes no microfone, fazendo um ruído cavo e assustador, a avisar o orador que terminou o seu tempo.
-a terceira, em que o orador, disciplinado e cordato, lamenta não ter tempo para explanar as suas ideias e termina com o grito patriótico Viva o PSD. Os Companheiros correspondem e envolvem o orador numa salva de palmas.
Este é o tipo de discurso de que francamente mais gostei, porque tem princípio, meio e fim e sobretudo porque percebi integralmente tudo o que o orador pretendeu dizer: saudou os presentes, situou o Congresso na vida do PSD, louvou o líder, iniciou uma crítica ao Governo e disse Viva o PSD. Tudo em três minutos.
-a terceira, em que o orador, disciplinado e cordato, lamenta não ter tempo para explanar as suas ideias e termina com o grito patriótico Viva o PSD. Os Companheiros correspondem e envolvem o orador numa salva de palmas.
Este é o tipo de discurso de que francamente mais gostei, porque tem princípio, meio e fim e sobretudo porque percebi integralmente tudo o que o orador pretendeu dizer: saudou os presentes, situou o Congresso na vida do PSD, louvou o líder, iniciou uma crítica ao Governo e disse Viva o PSD. Tudo em três minutos.
A casta seguinte, a que pertence o Militante de Base experimentado em Congressos já dispõe de 6 minutos e o discurso é mais sofisticado. A sofisticação consiste em três pequenos aditamentos nada dispiciendos.
Na evocação inicial, e após se ter dirigido aos órgãos do Partido, o Militante, olha solenemente para as galerias e saúda também os Ilustres Convidados, Observadores e Participantes, algo que passou despercebido ao Militante não iniciado, assim como distingue claramente as Companheiras dos Companheiros, procedimento essencial para concitar especialmente as atenções de um dos géneros. O último “aperfeiçoamento” consiste em ser mais incisivo na crítica ao Governo, embrenhando-se em explicitar a má governação, com exemplos factuais, como o fecho das maternidades. Mas ainda mal acabou o primeiro exemplo, já a Presidente do Congresso bate assustadoramente no microfone, a avisar o orador que terminou o seu tempo. Disciplinadamente, o orador lamenta não ter tempo para mais, dá um Viva o PSD e sai sob aplausos.
Confesso também que gostei deste discurso, basicamente pelas mesmas razões do primeiro, já que teve princípio, meio e fim e ideias assentes e totalmente perceptíveis: saudação, louvor ao líder, crítica ao Governo, cortesia extrema perante todos os circunstantes, disciplina na obediência à Drª Manuela e a vibração sentida do Viva o PSD!...
Na próxima Nota dissecarei os restantes discursos, nomeadamente os dos Aspirantes a Notáveis e dos Notáveis, os quais todos têm princípio, quase todos se perdem no meio, e a maioria não tem fim!...
Na evocação inicial, e após se ter dirigido aos órgãos do Partido, o Militante, olha solenemente para as galerias e saúda também os Ilustres Convidados, Observadores e Participantes, algo que passou despercebido ao Militante não iniciado, assim como distingue claramente as Companheiras dos Companheiros, procedimento essencial para concitar especialmente as atenções de um dos géneros. O último “aperfeiçoamento” consiste em ser mais incisivo na crítica ao Governo, embrenhando-se em explicitar a má governação, com exemplos factuais, como o fecho das maternidades. Mas ainda mal acabou o primeiro exemplo, já a Presidente do Congresso bate assustadoramente no microfone, a avisar o orador que terminou o seu tempo. Disciplinadamente, o orador lamenta não ter tempo para mais, dá um Viva o PSD e sai sob aplausos.
Confesso também que gostei deste discurso, basicamente pelas mesmas razões do primeiro, já que teve princípio, meio e fim e ideias assentes e totalmente perceptíveis: saudação, louvor ao líder, crítica ao Governo, cortesia extrema perante todos os circunstantes, disciplina na obediência à Drª Manuela e a vibração sentida do Viva o PSD!...
Na próxima Nota dissecarei os restantes discursos, nomeadamente os dos Aspirantes a Notáveis e dos Notáveis, os quais todos têm princípio, quase todos se perdem no meio, e a maioria não tem fim!...
11 comentários:
ehehehe! Nunca mais o deixam entrar! Mas isto dá um tratado...
Não consigo parar de rir! Do melhor, Pinho Cardão, do melhor...
O melhor está para vir, não é Pinho Cardão? Estou à espera dos notáveis, das prima donnas, para ver se consigo compreender os seus discursos. Veja lá se me consegue explicar, como se fosse mesmo muito... distraído!
Como diria o Pinho Cardão, esta série "está de antologia"!Notável!
Verdadeiramente, a série está interessante e ameaça tornar-se um sucesso da blogosfera, ainda que algo belisque a seriedade desses conclaves partidários...
Esta imersão congressional revelou em si, caro Pinho Cardão, talentos como cronista. Os seus relatos são de uma ironia terna e indulgente perante os vícios do “Homo politicus”. Admirável caricatura.
Depois de ler os seus “posts” apoderaram-se de mim dois sentimentos contraditórios. A deleitação pelas farpas certeiras e impressivas, por um lado. A dolência pela patologia sistémica do funcionamento político-partidário, por outro.
Esta crónica, sobre o Congresso do PSD, é perfeitamente extensível às demais organizações partidárias e, penso mesmo, à organização social em geral.
Porém, adaptando livremente um discurso de Bill Clinton direi, com optimismo, que “não há nada de errado com Portugal que não possa ser curado com o que há de certo em Portugal”.
O busílis da questão é que faltam mais portugueses capazes de nos ajudar a revelar os nossos talentos. As pessoas e os talentos existem. Falta, talvez, mais qualidade nos que se chegam à frente. Mas, “a contrario”, sobra também alguma tibieza naqueles que se deixam ficar para trás (ou, pior ainda, nos que desistem).
As suas narrativas são, amigo Pinho Cardão, um excepcional estímulo para os gelatologistas (aprendi com o Prof. Salvador). Para nós, os leitores da 4R, um saboroso enredo “queirosiano”.
anda inspirado o meu amigo...sugeria que fizesse uma nota "sociológica" que analizasse como estes congressos mostram as fraquezas e forças do psd.um partido muito peculiar, muito emocional ,muito efervescente.que tem uma relação de amor ódio com os portugueses.estes adoram odiar o psd e odeiam amorar o psd.à sua consideração..
Meu Caro Pinho Cardão :
Muitos parabens pelo Seu espectacular post, aliás de acordo com o seu temperamento - objectivo,rigoroso e tambem de um humor incontronável.
Um abraço
Dr. PC :)))... eu gostaria muito de dizer qualquer coisa séria :))), mas... Não consigo parar de rir!
O texto é retirado do blogue de Luís Humberto:
"Vi no Clube de Jornalistas a seguinte informação:"O Millennium-BCP é o principal accionista do semanário cujo lançamento José António Saraiva está a preparar.O banco pôs à disposição do ex-director do «Expresso» e de um pequeno grupo de colaboradores, entre os quais José António Lima, um espaço provisório num dos seus edifícios.O BCP tem sido, geralmente, conotado com o Opus Dei e há quem sugira que o lançamento do semanário poderá representar um salto significativo na relação da «Obra» com os media."
A notícia prossegue, referindo os planos da Opus Dei para a comunicação social brasileira. Seguindo os links indicados, chegamos a algumas pessoas e entidades empenhadas em aumentar a influência da «Obra». Entre elas está a consultora Innovation, que de imediato reconheci, pois recebi formação da mesma em 1999, num curso para descoberta de Novos Valores na área do jornalismo promovido pelo semanário Expresso, então dirigido por José António Saraiva.
A par da informação que foi avançada pelo Clube de Jornalistas, este dado poderá contribuir para fortalecer a teoria de eventuais ligações de José António Saraiva à Opus Dei.
Em princípio, essas ligações nada têm de mal. Cada qual é livre de escolher a quem se associa e de tentar difundir os valores que defende através de um meio de comunicação.
De tudo isto, só há uma coisa que me deixa com a pulga atrás da orelha: porque é que há tanto secretismo em torno de entidades como a Opus Dei
Ou seja, porque é que só 7 anos depois é que fiquei a saber - quase por mero acaso - que estive num curso ministrado por uma consultora directamente ligada à Opus Dei? Não podiam ter aberto logo o jogo?
E porque é que ainda hoje me lembro claramente da frase "La mamá tiene siempre razón...", que foi repetida até à exaustão nessa formação dada pela Innovation a estudantes que aspiravam a ser jornalistas do Expresso?"
Pergunto-me se o Pinho Cardão, para orar no Congresso também teve que adquirir direitos de emissão a algum broker disponível...
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