1. Recordo-me, como se fosse hoje, da imensa vaga de simpatia e emoção que se apoderou do nosso País, de norte a sul, quando em Setembro de 1999, Timor-Leste (Lorosae como era moda dizer) viveu um período dramático, por força da perseguição violenta que partidários da integração na Indonésia, com a cumplicidade do exército indonésio no território, exerceram contra os nacionalistas e o Povo em geral.
2. Recordo-me, como se fosse hoje, da recepção triunfal que Lisboa ofereceu nessa altura ao Bispo de Dili, D. Ximenes Belo – que é feito de D. Ximenes?
Recordo-me, como se fosse hoje, de ter assistido na Av. da República em Lisboa, à passagem do cortejo com D. Ximenes acenando à imensa multidão que o aplaudia em verdadeiro “delírio”.
3. Recordo-me, como se fosse hoje, do imenso aproveitamento político que o Governo PS da época retirou da situação em Timor, podendo bem dizer-se que não houve praticamente campanha eleitoral para as eleições legislativas de Outubro, de tal modo os portugueses, sujeitos a uma campanha mediática intensíssima, tinham as atenções exclusivamente concentradas no drama vivido pelos timorenses.
4. Recordo-me, como se fosse hoje, de algumas irracionalidades que esse momento proporcionou, ao ponto de ser advogada – e admitida como possível pelo 1º Ministro da altura – a adesão de Timor ao Euro.
Cheguei a participar num debate radiofónico sobre esse absurdo tema, promovido pela TSF como se estivesse a lançar uma grande ideia... Depois de ter ouvido os outros três participantes nesse debate, entre eles o Dr. Paulo Portas, sustentando a tese de que talvez isso fosse possível para além de certamente desejável (à época ninguém se atrevia a negar qualquer coisa que parecesse ser sugerida para benefício dos timorenses...), eu ter “partido a louça” dizendo que tal ideia não tinha “pés nem cabeça”, não fazia o menor sentido que Timor - um País (acabava de ser reconhecido) (i) com um grau de desenvolvimento baixíssimo, (ii) sem infraestruturas, (iii) não dispondo de uma economia organizada, (iv) tendo que viver basicamente da ajuda internacional, (v) situado numa zona do Mundo que nada tinha a ver com a zona do Euro – alguma vez pudesse ser ou vir a ser membro do Euro.
É claro que o programa em causa acabou ali mesmo. Parece que subitamente todos se deram conta do disparate que estavam a discutir...
5. Passaram já 7 anos e qualquer coisa sobre esses episódios e o que aconteceu entretanto?
A Austrália negociou com Timor os direitos de exploração do petróleo na zona “off-shore” do território.
O negócio do café está, como já estava antes, nas mãos de cooperativas americanas.
O regime político sobrevive à custa do apoio da Austrália. Não fora a presença de um importante contingente militar australiano no País, a noção que se tem é que se tornava ingovernável e provavelmente acabaria mergulhado numa sangrenta guerra civil.
6. Todos os condimentos para que, ainda que não de direito, Timor tenha na prática um estatuto de protectorado australiano.
Um Estado poderoso (Austrália) que ajuda e protege um Estado mais fraco (Timor), não é isso que se passa?
4 comentários:
Uns vão de mãos cheias de sonhos, outros com ideias bem concretas...
Mas estavam à espera de outra coisa?
Caro Dr. Tavares Moreira,
Pelo conhecimento vasto que têm sobre os paises do PALOP,neste caso,Timor tambem segue o mesmo caminho negativo.Mas haja quem esteja interessado.
Um abraço
Pedro Sérgio (Palmela)
Caro Pedro Sérgio,
Seja bem regressado. E atenão aos próximos episódios sobre Timor Lorosae.
Caro Pedro Sérgio,
Seja bem regressado. E atenção aos próximos episódios sobre Timor Lorosae.
Enviar um comentário