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sexta-feira, 1 de março de 2013

Discurso surrealista, em ambiente político de "TWILIGHT ZONE"...

1. A política portuguesa aparenta ter entrado naquilo que é hábito designar-se por “twilight zone”: um estado de alma ou social em que as coisas/comportamentos se apresentam com um carácter estranho e misterioso, ou são mantidas/determinados num/por um secretismo que faz com que pareçam não fazer parte do mundo real...
2. ...assim decorreu o debate político desta manhã no Parlamento, que exibiu contornos de elevado surrealismo, a começar pelo “duríssimo” discurso do líder da oposição, exigindo aumentos do salário mínimo e das pensões e acrescentando, vibrantemente, que o seu partido estaria a dar “a última oportunidade” ao Governo...
3. Não consigo entender, de todo, como é que uma pessoa que tenho na conta de bastante sensata em condições normais de pressão e de temperatura, para além da sua reconhecida afabilidade, consegue enveredar por um discurso tão disparatado face aos dados conhecidos do desempenho da economia e das finanças públicas...
4. ...será que o SG/PS acredita mesmo, face (i) ao aperto orçamental em que continuamos mergulhados e para cuja solução necessitamos desesperadamente da compreensão dos nossos credores externos, bem como (ii) à elevadíssima taxa de desemprego que se vai acumulando mês a mês, que faz algum sentido aumentar o salário mínimo nacional bem como as pensões a cargo do Estado (CGA ou SS)?...
5. ...ou será que de tão acossado por elementos do seu partido que não lhe são afectos bem como por um discurso radical e solidamente irresponsável das forças políticas à sua “esquerda”, decidiu alienar completamente o que ainda restava de bom senso e enveredar por um discurso quase tão radical como o dessas forças políticas?
6. Com discursos surrealistas como este, a repetirem-se, o SG/PS arrisca-se a ter de dar, para além desta “última”, mais N últimas oportunidades ao Governo, com N a tender para infinito (até 2015, obviamente)...
7. Do lado do Governo, embora compreendendo que a estrutura física dos seus membros não é revestida a aço temperado, e que há limites para tudo, começam a notar-se sinais de alguma tergiversação em relação ao projecto de reforma do Estado/Despesa Pública, sem o qual as reduções da despesa pública até agora efectuadas se arriscam a voltar para trás (como já se percebeu pela execução orçamental de Janeiro) e a forçar-nos a repetir o exercício feito até agora...
8. A atracção pelo paradigma grego de reforma económica e de programa de ajustamento parece ser cada vez mais intensa, a Irlanda já desapareceu da nossa vista...

29 comentários:

Tonibler disse...

Coitado do homem. Está a assumir a herança do Sócrates como prometeu ao Costa. Agora, acho que se devem ser reconhecidos os méritos do grande Manuel João Vieira por ter sido ele a criar este tipo de discurso. As campanhas "Um Ferrari para cada português" e "Vamos alcatifar o país de norte a sul" deveriam ser reconhecidas como bíblias crescimentistas e não usadas em discursos sem citar o autor.

Floribundus disse...

'o prec continua'

'abaixo os telhados que a chuva é do povo'

o sg do ps comporta-se como a raposa em tempo de crise 'até os grilos são comestíveis'

há muito que deixei de levar esta gente a sério.
além de ter sido roubado por Irmãos do GOL vinha de lá 'triste' de ouvir tanta imbecilidade

não vai ser fácil a reindustrialização depois de dada a prioridade aos serviços com o 'sucesso' verificado

Bartolomeu disse...

http://www.youtube.com/watch?v=Xgu4qtQGTw0

The perfect crime... if it exists somewere...

Carlos Sério disse...

Posts "surrealistas", voltemos à realidade.
17,6% de taxa de desemprego!

Tonibler disse...

Nop, continuam a ser 16,9.

Tavares Moreira disse...

Caro Tonibler,

Manuel João Vieira ou Arthur Baptista da Silva? Não estará a fazer confusão com outro autor (de discursos) tb muito reputado e ilustre?

Unknown disse...

Ainda o outro dia ouvi um socialista dizer a propósito da austeridade custe o que custar: "o PS há mais de ano e meio que vem combatendo esta política"... ainda se vai chegar ao ponto de dizer que Passos governa desde 2005.

Mais sinais de que este país não merece salvação… amanhã, na manif, ver a malta da JS, os adoradores de Socrates, a cantarem “Grândola vila morena…”
http://jornalismoassim.blogspot.pt/2013/03/justica-portuguesa.html

Tonibler disse...

Manuel João Vieira, Artur Batista da Silva, Boaventura Sousa Santos, Nel Monteiro, João Vale e Azevedo,Zezé Camarinha ... Este país é pequeno para tanto ilustre intelectual, a qualquer um se pode ir buscar um grande "pitch".

Oscar Maximo disse...

Há aqui um engano nas contas: o N tende para zero. É que os eleitores não fazem contas fora de portas, logo não se enganam.
É tomar como exemplo as eleições italianas.

Oscar Maximo disse...

Há aqui um engano nas contas: o N tende para zero. É que os eleitores não fazem contas fora de portas, logo não se enganam.
É tomar como exemplo as eleições italianas.

Tavares Moreira disse...

Oscar Maximo,

Um engano de contas? Como é possível, se o que se apresenta é simplesmente um vaticínio?
Vaticínio que pode vir a revelar-se certo ou errado, no final, mas enquanto for apenas um vaticínio só pode ser mais ou menos optimista ou pessimista...
Essa faz-me lembrar a história do erro na previsão económica antes de se conhecerem os resultados...

Paulo Pereira disse...

Caro Tavares Moreira,

O SG tem razão em querer alargar o prazo dos empréstimos da troika e o aumento do deficit para 2013 e 2014.

Já toda a gente sabe disto há 6 meses excepto o PM e o MF, aparentemente !

Tonibler disse...

Eu também tenho razão quando digo que o Seguro vai morrer um dia. Isso nao quer dizer que o matemos já. Ou quer?

Tavares Moreira disse...

Caro Paulo Pereira,

Está certo que o SG quer mesmo alguma coisa?
E já agora, querer "o aumento do défice" para 2013 e 2014 significa exactamente o quê, na sua opinião (não consigo entender ebm, confesso)?
Significará uma redução suavizada do défice em relação à que se encontra prevista no PAEF?
Mas isso não sucedeu já em 2012, com o limite de 5,0% em vez de 4,5% e em 2013, com o novo limite de 4,5% em vez de 3%?
Sendo assim, qual a novidade nessa (suposta) tomada de posição do SG?

Paulo Pereira disse...

Caro Tavares Moreira,

Não estou certo do Seguro querer alguma coisa, até porque temos o exemplo do Holland que não augura nada de bom.

O deficit publico deve ser tal que resulte num crescimento do PIB nulo ou positivo.

Esse valor deve andar pelos 6,5%.

Continuar a reduzir o PIB tem efeitos muito perniciosos no desemprego e no ânimo dos empresários, e também destroi muito capital privado e dos bancos.

Este ultimo efeito provocará uma estagnação durante muito tempo.

Tavares Moreira disse...

Caro Paulo Pereira,

Mas quem será esse agente perverso que anda por aí a reduzir o PIB?
E ninguém apresenta queixa no Ministério Público, nem que seja contra desconhecidos?
No caso de não houver dinheiro para financiar um défice público definido nos termos do seu comentário (gerar um PIB maior ou = a zero), como se resolve o problema? Invadimos a Alemanha?

Paulo Pereira disse...

Caro Tavares Moreira,

existem três agentes principais que andam por aí a reduzir o PIB há uns 20 anos :

a) uma moeda sobrevalorizada em 20% pelo menos

b) a queda de quase todas as tarifas alfandegárias sem critérios de reciprocidade.

c) a criação do monstro estatal

A subida do deficit de 5% para 7% (valor de Espanha e Irlanda)seria financiado por divida de curto prazo de 1 a 2 anos, que está a pagar entre 1,25% a 3%.

Provavelmente no retalho seria possivel colocar 200 milhões por mês sem grande dificuldade, face ao valor dos depositos existentes.

Tavares Moreira disse...

Caro Paulo Pereira,

Até há 20 anos a sobrevalorização do Escudo era de 0%, a balança de transacções correntes era confortavelmente excedentária, mesmo com uma política que teve características expansionistas...

Paulo Pereira disse...

caro Tavares Moreira,

O grave erro de fixação da taxa de câmbio em 1992 só é sentido alguns anos mais tarde, há medida que a globalização avança.

Como disse antes, os três erros já de si são maus, mas os três juntos são um desastre em potencia.

O fraco crescimento economico entre 1991 e 1995 é uma das razões principais para o relativo equibrio da BTC nesse periodo

Tavares Moreira disse...

Caro Paulo Pereira,

A decisão de fixar a taxa de câmbio em Maio de 1992 - de forma não irrevogável, note-se, como se comprovou por duas desvalorizações subsequentes - não foi errada.
Erradas (e estúpidas) foram as opções de política económica e financeira seguidas a partir de 1997 e sobretudo de 1999 em diante, que deitaram tudo a perder.
Com políticas financeiras adequadas e uma orientação bancária consequente, a taxa de câmbio estaria certa e nunca nos teria causado quaisquer problemas.
Essa visão de taxa de câmbio errada é muito comum entre crescimentistas de esquerda e de direita, custa-me perceber como uma mente tão esclarecida como a sua ainda "compre" essa história, que não passa de um embuste, uma desculpa para os tremendos erros cometidos...
Aliás, basta ler os relatótios Brugel sobre a experiência portuguesa de participação na UEM, para se entender esta novela.

Paulo Pereira disse...

Caro Tavares Moreira,

O fraco crescimento económico entre 1991 e 1995 são uma prova do erro na fixação de uma taxa de cambio em 1992 inviável face ao historico do país e face às ameaças da concorrência do leste e da ásia e à queda das poucas tarifas e quotas alfandegárias.

E depois no decorrer da década de 90, muitos paises desvalorizaram as suas moedas de 20 a 30%, o que afectou a competitividade das nossas empresas nos mercados globais.

A pequena desvalorização seguinte do escudo foi sempre inferior á da peseta , o que resultou em mais desequilíbrios comerciais com a Espanha.

A visão de que a taxa de cãmbio não tem um grande impacto na competitividades dos paises menos industrializados é um mito sem qualquer base factual.

Todos os paises desse tipo que optaram como Portugal , por moedas fortes tiveram crescimentos baixos e aumentos enormes do deficit externo.

Isto acontece porque os empresários e consumidores tomam decisões individuais.


Paulo Pereira disse...

Continuação :

O problema inicial residiu numa decisão mal reflectida em 1990/1991 de fixar taxas de cambio uma inflação ainda elevada face ao centro !

Porque o tal feitiço neoliberal era fortissimo nessa altura e assim a inflação é o inimigo a abater assim como a desvalorização da moeda !

Tudo o resto é irrelevante desde que se destrua a inflação , o maior inimigo da humanidade !

Tavares Moreira disse...

Curiosamente, caro Paulo Pereira, quando refere a relação comercial com a Espanha e o suposto efeito negativo da evolução Escudo/Peseta (mais pesetas pelos mesmos escudos)...a realidade dessas relações, com uma evolução crescente do racio Exportações para Espanha/Importações de Espanha, ao longo dos anos 90, evidencia precisamente o contrário...
Se quer números, aqui os tem: em 1997, as nossas exportações para Espanha representavam 42,2% das nossas importações desse País, em 2002 o racio subia para 47,9%...
O que fazer, então: acreditar na sua teoria ou na realidade que a ela se opõe? Para mim tanto faz, é só dizer da sua preferência...

Paulo Pereira disse...

caro Tavares Moreira, gostaria de ter acesso a esses dados , mas existem outras análises que validam a tese de um câmbio desajsutado :

"4. 1992 -... Terminada a fase de transição, as empresas exportadoras portuguesas parecem ter esgotado o potencial do mercado espanhol. Mas isso não se verificou relativamente ao aproveitamento do mercado nacional por parte dos exportadores de Espanha. A partir de 1991/92 há uma quebra brusca na evolução das exportações para Espanha pelo que, até 1998, o peso deste país nas exportações portuguesas estabilizou nos 15%. Todavia, o seu peso nas importações continuou a processar-se a um ritmo semelhante ao observado no período de transição, pelo que a Espanha ocupa já o primeiro lugar destacado nas importações nacionais, com cerca de um quarto do total em 1998. Naturalmente, como consequência da evolução divergente das exportações e das importações a taxa de cobertura degradou-se, caindo para 43% em 1998, elevando também para mais de 40% o peso da Espanha no défice global da balança comercial portuguesa."

Paulo Pereira disse...

Peso da Espanha no comércio esterno de Portugal

http://janusonline.pt/popups9900/9900_3_2_5_graf_b.html

Paulo Pereira disse...

http://janusonline.pt/portugal_mundo/port_1999_2000_3_2_5_a.html#1

As relações comerciais com Espanha

João Dias *

Tavares Moreira disse...

Caro Paulo Pereira,

Os dados que citei constam de um opúsculo intitulado "Finalmente juntos: como será no futuro", da autoria de um desconhecido e editado em 2004 pelo Instituto de Cultura e Estudos Sociais da C. M. Cascais, no âmbito dos X Cursos Internacionais de Verão, sob coordenação de José Manuel Tengarrinha, que terei muito gosto em enviar-lhe se me der um endereço para o efeito (pode ser o do seu cartão profissional?).
Quanto ao tema que refere, de a Espanha se ter tornado o principal parceiro comercial de Portugal, não vislumbro a relação com a questão do câmbio.
Aliás também poderá encontrar no mesmo opúsculo uma digressão sobre esse tema.

Paulo Pereira disse...

Caro Tavares Moreira,

Agradeço imenso se me poder enviar para o meu endereço profissional essa publicação.

Tavares Moreira disse...

Caro Paulo Pereira,

Só para confirmar o envio, hoje, por via postal, para o endereço profissional. Cumprimentos.