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quinta-feira, 7 de março de 2013

Imaginação


Os miúdos quando chegam a determinadas idades gostam de se transformar em super-heróis, talvez por se aperceberem da pobreza e limitação da realidade. Agora, graças às novas tecnologias, iniciam-se mais cedo nesta arte de transformação. Inicio esta reflexão em consequência de um pequeno relato que ouvi ao chegar a casa. Um miúdo, que deve ter cinco anos de vida, gosta de acariciar as pernas da minha filha do meio sempre que vai ao colégio buscar a neta. Surpreendida por este comportamento repetitivo, acabou por o interpelar perguntando as razões daquele ritual. O miúdo explicou-lhe que gostava das meias, que são habitualmente garridas, coloridas ao cubo, com desenhos capazes de chamar a atenção dos mais novos aos mais velhos. Mas, ao mesmo tempo que lhe ia dando as explicações, contra-atacou dizendo-lhe: - Sabes que eu tenho muitos poderes? - Poderes? - Sim, muitos, eu sou um super-herói. Estás a ver? Eu não preciso de me vestir de super-herói, imagino que estou vestido. Eu consigo transformar-me num super-herói sempre que quero. Eu tenho o mais poderoso de todos os poderes! - O mais poderoso? - Sim, o mais poderoso de todos. - Mas qual é esse poder? - Não sabes? Perguntou muito surpreendido pela pergunta do adulto. Então vou-te dizer qual é o maior de todos os poderes, é o poder da imaginação. Eu tenho esse poder, o maior poder de todos. A minha filha abriu a boca, calou-se e ficou a remoer na conversa com o miúdo, que continuou a dissertar, ouvindo-o a falar sobre a alma, o seu percurso e o destino, tudo misturado com intensos jactos de perdigotos próprios de uma criança ávida em expor as suas ideias. 
À noite, com a filha, perguntou-lhe se gostava do coleguinha da escola. - Gosto, pois, tem o mesmo poder que tu. - O quê?! Tem o mesmo poder que eu? Mas qual poder? - O poder da imaginação! 
Não resisto a transcrever esta pequena história ilustrativa da sabedoria das crianças. Apesar de não saberem ler nem escrever denotam algo que poderíamos afirmar como a necessidade de viver no mundo da imaginação. 
Afinal, "ter poderes poderosos" é a coisa mais fácil do mundo, só é preciso ter imaginação. Uma ótima justificação para procurar a arte nas suas múltiplas manifestações. Tão pequeninos e já sabem o que é o melhor da vida. Simples, fácil, fugir à realidade da mesma usando a imaginação... 

2 comentários:

Pinho Cardão disse...

Fantástico!

Suzana Toscano disse...

Vai longe, esse miúdo,é afastá-lo da neta, parecem-me dois espíritos muito parecidos e o gosto pela Imaginação, se bem cultivado, traz a doença do sofrimento com a realidade :)a capacidade de olhar o mundo com outros olhos, os da imaginação, é um dom precioso, infelizmente com baixa cotação no mercado moderno.