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sexta-feira, 15 de março de 2013

Meteoro


Há dias, enquanto esperava pelo comboio, numa manhã bela e inundada de um frio glacial, li a notícia de que um meteorito invadiu o espaço aéreo do planeta para as bandas do norte da Rússia. Um susto que traduz a apreensão de um dia podermos ter um contacto muito mais violento com algum calhau perdido no espaço. Os astrónomos, profissionais e amadores, vasculham incessantemente o cosmos à sua procura, e são unânimes em afirmar que mais tarde ou mais cedo vai cair algo pesadote em cima dos nossos iluminados crânios, a relembrar um outro fenómeno ocorrido há 65 milhões e que provocou o desaparecimento de muitas espécies, entre as quais os famosos dinossauros. Se não fosse esse meteoro, descomandado, ou talvez não, deus pode ter acordado naquele dia mal disposto e para se entreter lembrou-se de andar à pedrada, não teria havido condições para que os pequenos mamíferos tivessem vingado e ocupado o espaço deixado vazio por outras espécies. Claro, em consequência, a espécie humana acabou por aparecer no topo dessa classe, graças a um fenómeno de extinção em massa, presumo que foi a sexta. Agora andamos por aqui, armados ao pingarelho, arrogantes e infelizes para permitir que alguns gozem a vida com hedonismo a que se acham com direito. E do que é que nos lembrámos? Fazer aquilo que a natureza consegue fazer com muito mais eficiência e rapidez, entrar num processo de extinção, a sétima, a de origem humana, lenta, absurda, irreal e até estapafúrdia. As ameaças não se põem só em termos ambientais, mas também são comportamentais, com consequências a diferentes níveis. Até hoje já desapareceram 99,9% de todas as espécies que se lembraram de surgir e de tentar a sua sorte, mas apesar disso ainda existem milhões, muitas delas desconhecidas. Sendo assim, então podemos continuar nesta senda, perfeitamente à-vontade, porque quando deixarmos de existir outras nos substituirão com mais eficiência, ou talvez não. O problema está no tempo de autodestruição, que, à nossa escala, é demasiado longo, o que faz com que muitos acreditem na possibilidade de um futuro melhor. Mesmo que tudo isto dê para o torto, o que é mais provável, quem sabe se uma pobre espécie de formiga não desencadeie uma cadeia de acontecimentos evolutivos que dê origem a uma espécie mais adequada, e se não for uma formiga, uma barata nojenta também pode ser a mãe sublime de uma qualquer “vontade” superior, já que qualquer animal encerra esse potencial. Foi pena aquela cena do meteoro de há 65 milhões de anos, hoje teríamos políticos, profissionais e religiosos tipos dinossauros, não aqueles que "abusam" desse termo, porque é insultuoso para os verdadeiros, os dignos desse nome, e, com alguma probabilidade, muito melhores do que os representantes da nossa espécie. Se um dia desaparecermos, que é o mais certo, só tenho pena de uma coisa, a arte com que expressamos os nossos melhores sentimentos não terá leitores e nunca será apreciada, o que é uma pena, quanto ao restante não vale nada, é para esquecer, e ainda bem...

1 comentário:

Catarina disse...

O texto fez-me pensar que é triste sermos esquecidos – quando estivermos naquele “sono mais profundo que a vida pode proporcionar”- pelas pessoas que nos conheceram, que gostaram de nós, que nos amaram…