Há dias, enquanto esperava
pelo comboio, numa manhã bela e inundada de um frio glacial, li a notícia de
que um meteorito invadiu o espaço aéreo do planeta para as bandas do norte da
Rússia. Um susto que traduz a apreensão de um dia podermos ter um contacto
muito mais violento com algum calhau perdido no espaço. Os astrónomos,
profissionais e amadores, vasculham incessantemente o cosmos à sua procura, e
são unânimes em afirmar que mais tarde ou mais cedo vai cair algo pesadote em
cima dos nossos iluminados crânios, a relembrar um outro fenómeno ocorrido há
65 milhões e que provocou o desaparecimento de muitas espécies, entre as quais
os famosos dinossauros. Se não fosse esse meteoro, descomandado, ou talvez não,
deus pode ter acordado naquele dia mal disposto e para se entreter lembrou-se
de andar à pedrada, não teria havido condições para que os pequenos mamíferos
tivessem vingado e ocupado o espaço deixado vazio por outras espécies. Claro,
em consequência, a espécie humana acabou por aparecer no topo dessa classe,
graças a um fenómeno de extinção em massa, presumo que foi a sexta. Agora
andamos por aqui, armados ao pingarelho, arrogantes e infelizes para permitir
que alguns gozem a vida com hedonismo a que se acham com direito. E do que é que
nos lembrámos? Fazer aquilo que a natureza consegue fazer com muito mais
eficiência e rapidez, entrar num processo de extinção, a sétima, a de origem
humana, lenta, absurda, irreal e até estapafúrdia. As ameaças não se põem só em
termos ambientais, mas também são comportamentais, com consequências a
diferentes níveis. Até hoje já desapareceram 99,9% de todas as espécies que se
lembraram de surgir e de tentar a sua sorte, mas apesar disso ainda existem
milhões, muitas delas desconhecidas. Sendo assim, então podemos continuar nesta
senda, perfeitamente à-vontade, porque quando deixarmos de existir outras nos
substituirão com mais eficiência, ou talvez não. O problema está no tempo
de autodestruição, que, à nossa escala, é demasiado longo, o que faz com que
muitos acreditem na possibilidade de um futuro melhor. Mesmo que tudo isto dê
para o torto, o que é mais provável, quem sabe se uma pobre espécie de formiga
não desencadeie uma cadeia de acontecimentos evolutivos que dê origem a uma
espécie mais adequada, e se não for uma formiga, uma barata nojenta também pode
ser a mãe sublime de uma qualquer “vontade” superior, já que qualquer animal
encerra esse potencial. Foi pena aquela cena do meteoro de há 65 milhões de
anos, hoje teríamos políticos, profissionais e religiosos tipos dinossauros,
não aqueles que "abusam" desse termo, porque é insultuoso para os
verdadeiros, os dignos desse nome, e, com alguma probabilidade, muito melhores do
que os representantes da nossa espécie. Se um dia desaparecermos, que é o mais
certo, só tenho pena de uma coisa, a arte com que expressamos os nossos
melhores sentimentos não terá leitores e nunca será apreciada, o que é uma
pena, quanto ao restante não vale nada, é para esquecer, e ainda bem...
1 comentário:
O texto fez-me pensar que é triste sermos esquecidos – quando estivermos naquele “sono mais profundo que a vida pode proporcionar”- pelas pessoas que nos conheceram, que gostaram de nós, que nos amaram…
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