1. Os simpáticos e sempre afáveis Crescimentistas (modalidade soft), anunciaram ontem uma posição de inesperado optimismo: pretendem que Portugal saia do Programa de Assistência Financeira (em que por gentileza nos meteram, convém recordar) sem recurso a um “segundo resgate” nem, tampouco, um “programa cautelar”...ou ”à Irlandesa”, como agora se diz...
2. Regista-se esta súbita mudança de estado de espírito no discurso Crescimentista, tão inesperada quanto auspiciosa; e não deixa de ser curioso verificar que esta mudança ocorre quase em simultâneo com a informação esta manhã divulgada pelo Eurostat segundo a qual Portugal terá sido o País da Europa com melhor registo, em termos de criação de emprego, no 3º trimestre de 2013, um crescimento de 1,2% (já no 2º trimestre havia sido registado um crescimento de 0,8%).
3. Quem sabe se esta saudável mudança no estado de espírito não terá sido influenciada pelo conhecimento antecipado desta notícia bem como pelas outras que vão dando nota de uma retoma, moderada mas consistente, da actividade económica?
4. Resta saber, quanto a esta proposta de saída do Programa de Assistência na modalidade “à Irlandesa”, como é que os amáveis Crescimentistas a tencionam fundamentar, sendo certo que as suas receitas de política apontam, invariavelmente, no sentido de mais despesa pública e de menos receita fiscal...
5. É possível – temos sempre de dar o benefício da dúvida – que tenham encontrado uma fórmula mágica para oferecer ao país e convencer os credores internacionais, mas a verdade é que existe um risco elevado de, com o seu “track record” e aquele tipo de receitas, uma saída “à Irlandesa” vir a transformar-se rapidamente em “negócio furado”, atirando-nos de novo para uma sessão de austeridade com todos os contornos de um enorme pesadelo...
6. Aguardemos pois uma clarificação destas propostas, não sendo de excluir que estejamos em face de uma bem pensada estratégia de “retraite”, um reconhecimento implícito (explícito, nunca) de que as políticas neo-liberais não serão assim tão maléficas quanto têm sido pintadas – tanto, que até poderão permitir-nos sair do desconchavo financeiro para que um keynesianismo saloio nos atirou...
16 comentários:
Eles dizem que tudo isto é incompreensível...
A fórmula mágica deles:
http://youtu.be/1qG2A9EN5T4
Vejam o vídeo. É engraçado!
Julgo que está na hora é de confrontar os apocalípticos com o que disseram sobre este orçamento.
Nicolau Santos, o keynesiano orgulhoso, sobre o orçamento de 2013: “É estúpido porque insiste no caminho de um fortissimo aumento de impostos para tentar alcançar o défice quando o resultado final será a devastação da economia e a correspondente quebra de receitas fiscais, gerando a necessidade de voltar a aumentar impostos para atingir o défice e aprofundando ainda mais a recessão.”
Ainda mais outra pérola do mesmo autor:
“Este orçamento é um nado-morto, que será alvo de remendos ao longo do ano. É um orçamento contra os contribuintes, que estimula a economia paralela, a fuga e a evasão fiscal devido à injustissima carga fiscal que lança sobre os contribuintes. É um orçamento contra a economia. E é um orçamento estúpido porque nos conduz a um abismo económico – mas apesar dos avisos e dos alertas, insiste em caminhar nesse sentido”
Enfim, um visionário
Mas volto a insistir, " até ao lavar dos cestos é vindima". Um chumbo generalizado do TC ( nada improvável),a meu ver, dará um outro ânimo aos crescementistas que se apressarão novamente a sacar das suas folhas de excel - sim, não é só o Victor Gaspar que tem folhas de excel - que lnos dirão que o crescimento só é possível se aplicarmos as fórmulas que nos fizeram chegar à pré-bancarrota!...
Insistem os nossos impagáveis dinossauros ortodoxos, em defender as políticas de austeridade impostas aos Estados. Nem os erros confessados de Carmen Reinhart e Kenneth Rogoff, que foram o principal instrumento da elaboração dos planos de austeridade, nem os erros no cálculo dos “multiplicadores fiscais” igualmente confessados pelo FMI, nem a confissão de Christine Lagarde ao admitir os erros quanto aos efeitos da austeridade, nada, mesmo nada faz mudar a opinião dos nossos impagáveis dinossauros ortodoxos. Não é uma questão de lógica, é uma questão de fé.
Então agora que viram a melhoria de alguns indicadores, ainda que um crescimento no terceiro trimestre de 0,2% quando no segundo foi de 1,1% não augure nada de bom para o quarto trimestre, é vê-los a dançarem de contentes, aos beijos e abraços entre si, louvando a sagrada e abençoada austeridade.
Infelizmente a esmagadora maioria dos portugueses não comunga com tal euforia. Eles que sofrem injustamente os sacrifícios impostos pela austeridade, têm consciência que “as políticas do governo tiveram e têm como objectivo atirar do afundanço a banca privada e dar mais poder às grandes empresas. Para que banqueiros e grandes proprietários recuperem os lucros de antes da crise, ou mais ainda. Por isso a situação actual, a dita recuperação, o tal “milagre económico”, lhes parece fantástico. Mas não a milhões de cidadãos que vivem pior.
Quem tenha dúvidas sobre que saída da crise quer a minoria rica e os dóceis governos ao seu serviço verá que a pretendida recuperação revela o que é que procuram de verdade. Não uma economia sólida ao serviço da maioria dos cidadãos, senão aumentar mais os seus lucros. E, de passagem, que as classes trabalhadoras regressem ao primeiro terço do siglo XX que é de onde devem estar segundo eles. Sem direitos”.
Com que então, Carlos Sério, você queria que os nossos governantes não tirassem "do afundanço a banca privada", que, antes, a deviam atirar para falência? Entendi bem?
Caro Luís Moreira,
Temos de admitir que dizerem isso, combinado com a declaração destacada neste Post, é um notável progresso...
Caro Pedro de Almeida,
Tem mesmo graça, são impagáveis! Mas tb sempre simpáticos, não podemos negar-lhes essa qualidade!
Caro Brytto,
Convém não esquecer que o fabuloso "analista" que cita no seu comentário, é o mesmo que glorificou o conhecido Doutor Arthur Baptista da Silva - entretanto caído em desgraça, depois de se descobrir que se trava de um charlatão embora talentoso - escrevendo rasgadíssimos elogios e vociferando contra o Governo por não dar ouvidos a Arthur, num conhecido (embora pouco credível) semanário da praça.
Chegando mesmo ao cúmulo do ridículo de o entrevistar na SIC Notícias, dedicando-lhe programa inteiro!
Nada surpreende, pois, o que for originário de tal talento.
Tiro ao alvo,
Preferia seguramente uma solução à Islândia.
“Assim, ao contrário das outras nações da União Europeia na mesma situação, que aplicaram escrupulosamente as recomendações do FMI que exigiam medidas de austeridade severas, como na Grécia, Irlanda, Portugal, Itália ou Espanha, a Islândia escolheu uma via alternativa.
Quando, em 2008, os três principais bancos do país – Glitnir, Landsbankinn e Kaupthing – desmoronaram, o Estado islandês se negou a injectar neles fundos públicos, tal como havia feito o resto da Europa. Em vez disso, realizou sua nacionalização.
Quanto aos responsáveis pelo desastre – os banqueiros especuladores que provocaram o desmoronamento do sistema financeiro islandês –, não se beneficiaram da mansidão que se mostrou diante deles no resto da Europa, onde foram sistematicamente absolvidos. Com efeito, Olafur Thor Hauksson, Procurador Especial nomeado pelo Parlamento, os perseguiu e prendeu, inclusive ao ex-primeiro-ministro Geir Haarde.
Os resultados da política económica e social islandesa têm sido espectaculares. Enquanto a União Europeia se encontra em plena recessão, a Islândia se beneficiou de uma taxa de crescimento de 2,1% em 2011 e prevê uma taxa de 2,7% para 2012, além de uma taxa de desemprego de 6%. O país até se deu ao luxo de realizar o reembolso antecipado de suas dívidas ao FMI.
Obrigado Carlos Sério, por ter respondido à questão que lhe apresentei.
Sabe o Carlos quantos habitantes tem a Islândia? Para o caso de não saber, eu digo-lhe: 320.000 habitantes, assim tanto como uma pequena cidade da Europa. Com isto quero dizer que não me parece razoável a sua comparação.
Quanto à solução adoptada naquele país, para fazerem frente à crise (quase nada comparável com a nossa), ela não teve só virtudes, como parece querer-nos dizer. Ela teve também inconvenientes, muitos deles ainda por resolver. A ver vamos como acaba a história.
Quanto a meter os responsáveis na cadeia, eu também penso que alguns dos nossos também deveriam estar lá, mas, infelizmente, assim não aconteceu e nem parece que vá acontecer. Ao contrário, é frequente encontrar quem defenda essa gente, muitas vezes até com desculpas esfarrapadas do género: rouba mas faz.
Passe bem.
A Islândia cumpriu com sucesso o plano do FMI. As coisas que esta gente inventa....
“Não se pode continuar com um sistema financeiro que funciona para tão poucos à custa do sacrifício de tantos. A banca privada perdeu a sua função social, que é a de dar crédito. Se não oferece crédito, não tem lógica a sua existência. Hoje, a sua actividade principal consiste em especular nos mercados, desviando assim dinheiro da economia produtiva e visando obter lucros especulativos aos seus accionistas.
O tamanho do sector financeiro numa economia deve portanto reduzir-se substancialmente mediante uma série de medidas, que incluem desde impostos muito mais elevados (sem afectar os depósitos do cidadão normal e corrente), agravando principalmente os grandes depósitos, as elevadas transacções e as actividades especulativas. Outras medidas deveriam incluir a sua socialização, com plena intervenção do Estado para garantir a disponibilidade de crédito acessível”.
E se atendermos à ameaça que paira sobre a economia mundial, crescimentos nulos ou muito débeis nos próximos 30 anos, como profetiza agora nada menos que o economista por excelência do “establishment”, Larry Summers (antigo ministro de finanças norte americano), só serão válidas soluções radicais como a estatização de todos os bancos.
Caro Tiro ao alvo,
Aqui, como noutras coisas, o tamanho não conta.
Mas fico-lhe muito grato pelo esclarecimento quanto ao número de habitantes da Islândia.
Poder-se-ia aludir também à brutal desvalorização de mais de 60% da Coroa Islandesa. Mas isso é, certamente, irrelevante.
Gosto também desta parte "agravando principalmente os grandes depósitos, as elevadas transacções e as actividades especulativas". Perguntem aos suecos porque é que eles recusam visceralmente qualquer destas coisas. Talvez se chama "saber da experiência". Mas só talvez, claro...
Caro Zuricher,
O ilustre Comentador já deverá ter percebido que, quando se parte de posições puramente dogmáticas, qualquer factor explicativo, por mais relevante que seja, torna-se dispensável...
As próprias realidades estatísticas, caso se mostrem divergentes daquilo que as posições dogmáticas asssumem, não podem senão ser tidas como equívocos...
A opinião dominante em Portugal, de formação dogmática, não admite nenhuma realidade a não ser "a" da ficção em que labora...
Le Figaro, «A Islândia já reembolsou o FMI», 16 de maço de 2012.
Zuricher,
A dívida da Islândia representou 900% do PIB e a moeda nacional se desvalorizou 80% em relação ao euro. O país caiu em uma profunda recessão, com uma diminuição do PIB em 11% em dois anos.
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